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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O ESPETÁCULO DAS RUAS, O DIA DAS CRIANÇAS.

             Estou passando uns dias no Paraná, cumprindo minha tarefa de cuidador de idosa! De verdade são os dias que estão passando por mim, em altíssima velocidade, fecho os olhos e quando abro tem uma criança esperando os dias da gravidez se cumprirem para ver a luz do mundo. Os dias são de um tempo em que as matas deveriam ser derrubadas para o desenvolvimento mostrar sua face mais brutal. Dias em que a pobreza alimenta mais de fome e desesperança do que as compras fiado no Empório da Colonizadora, junto com meio litro de leite por dia.

Três dias na Ala Covid do Hospital Rondon, onde a morte se anuncia em tubos de oxigênio e bolsas de sangue e aquela placa: SUSPEITO escrita na porta. Enfermeiros gentis que entram e saem constantemente trocando roupas e higienizando as mãos em álcool gel. Você não pode sair do quarto, nem ao corredor, agora você é um contaminado em potencial! Não posso sair, não posso nascer! Exames, muitos exames. A doente convalesce, o dia do parto se anuncia, a luz das ruas espera pela alta hospitalar.

Me perco nos pensamentos com as histórias repetidas que de vez em quando acrescentam uma informação nova, daquelas que vale a pena ter tido paciência para ouvir pela n-ézima vez. Quando fiquei grávida de ti, senti tristeza, não queria mais um, já estava difícil demais com três! Se pudesse parava o tempo. Em três dias uma informação de sessenta e um anos atrás.

Sessenta e um anos e o tempo volta a passar de segundo em segundo. A criança, oitenta e seis anos de idade não sabe mais se cuidar, teve alta hospitalar e viu a luz do dia, volta para casa no aconchego da ambulância, numa cadeira de rodas reaprende a andar, tem a comidinha no prato e toma banho com ajuda de um adulto, já consegue dar alguns passinhos!

Doze de outubro chegou, o Dia das Crianças. Que felicidade! É um dia especial, a criança que não era esperada cuida da criança que não esperava! O comércio se debate entre a necessidade de aumentar o lucro e a obrigação de proteger os clientes. O capitalismo é o adulto de uma criança indesejada. Meio litro de leite e as compras fiado no Empório da Colonizadora; O desmatamento nas terras da empresa. A pobreza; A riqueza. Quem é a criança?

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