Enquanto empurrava meu carrinho, distraidamente pelos corredores
do supermercado e ia colocando alguns produtos dentro dele, inclusive um pacote
de arroz, apesar do preço totalmente inovador, e já ia em direção ao caixa
preferencial para idosos, ouvi aquela voz que me conhecia perguntando pelo meu
bem estar e arrastando um sorriso, forçado? era aquele sorriso que as pessoas
tem quando estão em público e encontram pessoas conhecidas, como se fosse
obrigatório estar feliz nessas ocasiões. Oi, tudo bem?
(Não, não está tudo bem!) Claro, tudo bem, e você? Considerei
que seria uma total indelicadeza falar a verdade para quem claramente mentia
com a boca, mas deixava a verdade expressa nos olhos com o indefectível
testemunho das olheiras. Talvez estivesse precisando de um ombro amigo, estão
tomei sua cesta de compras e passei junto com as minhas para facilitar, e do
outro lado do caixa a convidei para um refrigerante no Subway, que no
Brasil não é metrô mas uma lanchonete num lugar qualquer, esta que fomos era
dentro do supermercado mesmo.
Minha amiga sentou-se do outro lado da mesa, em minha frente.
Observei-a enquanto ela ajeitava as sacolas de compras na cadeira vazia de um
lado e do outro, gastou um longo minuto olhando tristemente para as sacolas,
ergueu a cabeça e disfarçou um sorriso mentiroso e me perguntou como estava a
vida de aposentado. Não tenho do que reclamar! É, ela disse, você se aposentou
na hora certa, agora está difícil, parece que ninguém mais vai aposentar!
A lanchonete estava quase vazia. E o nome subway era nome
próprio, mais próprio do que o de batismo. Minha amiga parecia estar num metrô,
num buraco sem fim embaixo da terra, numa direção sem escolha sobre os únicos
trilhos disponíveis, olhando o nada à frente e deixando lágrimas sobre a mão
que apoiava o queixo. A tristeza tinha que ser muita para uma mulher de meia
idade se permitir ao choro em público diante de um amigo esporádico. Chamei o
Garção e pedi água. Um longo silêncio que não constava no cardápio foi servido
à mesa, daí veio a água mineral sem gás, só então as palavras para traduzir a
linguagem do silêncio e da tristeza: Agora eles não precisam mais de mim!
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