Cada vez mais parece fazer sentido a frase atribuída a Sócrates:
Só sei que nada sei! Não sou um tão grande questionador, mas sempre que uma
situação me aparece faço perguntas para descobrir coisas que ainda não sei, e
elas já são tantas que decididamente parece que nada sei.
Depois de alguns dias de isolamento, chegou pelo telefone a
notícia que não questionei, o resultado do teste para COVID-19 deu negativo!
Não foi esse o mal que causou grande transtorno pulmonar em minha mãe. Também
não questionei o médico do porquê de ele ter colocado uma idosa de oitenta e
seis anos acompanhada de outro idoso de sessenta e um anos na ala reservada a
pacientes infectados pela pandemia. Não sabia ele dos riscos a que estávamos
expostos? Ah, sim. Essa pergunta já não me serve para nada.
Fora do isolamento, posso voltar às ruas onde encontro respostas
que me trazem informações de um país muito distante. O Haiti é aqui! A
negritude embeleza as ruas de uma cidade que já foi denominada a Nova Alemanha.
Hospedados em um hotel de acomodações muito simples um grupo de imigrantes anda
de bicicleta na rua e riem em suas brincadeiras de criança, no Dia das
Crianças. A saudades dos que ficaram para trás não é maior que a esperança de
um dia trazê-los para cá. Riem os negros haitianos com seus dentes brancos
porque preto e branco já não são mais cores distintas na cidade dos alemães!
O preconceito foi vencido? Ainda não, mas a página vai sendo
virada. Tenho vergonha de ter vivido com naturalidade um tempo em que se dizia
que havia alguns negros que tinham alma de branco! Nem era naturalidade e nem
era alma de branco, era preconceito. E ainda é! Negros ainda são suspeitos pelo
simples fato de serem negros como minha mãe se tornou suspeita de covid pelo
simples fato de estar com dificuldade respiratória. Negros vão para a cadeia
porque são negros, como minha mãe foi internada na ala covid, sem que se faça a
devida verificação, condena-se para depois investigar.
Na frente do hotel, negros haitianos riem e vão escrevendo uma
nova página no livro da vida. Por alguns anos o Brasil desenvolveu uma boa
política de inclusão social. Eles riem para disfarçar a saudades e brincam para
disfarçar a tristeza, e olham para mim. Que será que esse alemão tanto observa?
Este alemão está vendo uma nova cidade, miscigenada, bela, inclusiva. É
possível? Ainda não sei!
Nenhum comentário:
Postar um comentário