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sábado, 11 de abril de 2020

NADA


Pode ser no almoço
Se tiver comida
Se tiver gente viva
Se a gente sobreviver!

Estão falando em ir
Não tenho vontade de sair
Não tenho vontade de voltar
O dia está lindo!

Agora já vou indo
Vou alegre, sorrindo
Já fiz o meu dever
Não tenho mais o que fazer.

Já podem almoçar
Não há mais vida
Nem dor nem ferida
Para trás tudo ficou.

A comida está na mesa
Não sobrou ninguém
Nada mais convém
Não sou mais eu.


Elairton Paulo Gehlen

domingo, 5 de abril de 2020

E SE SÓ EU SOBRAR?


- Cumpadre, diz que essa virose vai matar gente demais que as contas consegue contabilizar, não é?
- É cumpadre, muito mais gente do que muito mais gente que a gente pensa que tem, vai morrer, diz que vai!
- Então...
E os compadres foram fazendo as contas enquanto tomavam uma caipirinha. A televisão ligada ia enumerando mortes pelo mundo a fora. Na soma dos vivos e dos mortos, pela limitada visão dos caipiras, dava que os mortos ultrapassavam a soma dos vivos em grande quantidade.
- Não é possível que tenha tantos vivos nesse mundo, já que morreram tantos que eu pensava que nem existiam!
- Mas ainda restam alguns, nós por exemplo.
- É, e se só sobrar nós dois, cumpadre?
- Aí nós vamos ser muito ricos!
- E vamos comprar carro de luxo, fazenda, casa com piscina...
- E fazer uma festona com show do Gustavo Lima.
- E levar as muié mais gostosas para lá!
- Não vai faltar cerveja...
- whisky cumpadre.
- Isso, e churrasco, muito churrasco.
- Mas cumpadre, e se você morrer desse vírus e ficar só eu, com quem que eu vou dividir as despesas da festa?
Elairton Paulo Gehlen

quinta-feira, 2 de abril de 2020

O PÃO


Enquanto o pão que amassei cresce para ser levado ao forno, o mundo vive uma espécie de pão-que-o-diabo-amassou e não é o corona-vírus. Nesses tempos em que não se pode ver televisão sem ser levado ao desespero da contaminação iminente, espero pacientemente que o pão, que eu amassei, cresça para ser assado enquanto o mundo se alimenta do pão do capeta.
Estou na desagradável companhia da ausência de companhia.
- O pão cresce sozinho, pai?
É a pergunta que imagino que meu filho faria se estivesse aqui. Claro que cresce sozinho! Do mesmo jeito que crescem as plantas, os animais e a ganância. Quando falei em ganância, fui imediatamente interrompido pelo André, fazendeiro que vende um boi por três mil reais e paga salário mínimo para o caseiro. Ganância, ele disse, é quando o trabalhador faz greve!
Fui ver se o pão estava crescido. Ainda não. Pensei algo novo, completamente novo, nunca havia pensado nisso. Meu pensamento cresceu! Pensei em achar uma razão. Crescera sozinho? Achei ideias antigas associadas a outras mais recentes e um misturado de informações que foram crescendo quase aleatoriamente. Então abri uma cerveja e cada gole acrescentou novos pensamentos e o novo foi crescendo mais que o pão.
Fui dar água para as plantas da varanda pois elas não crescem sem água. Adubo também! Mas não crescem sozinhas? Sim. Os animais crescem sozinhos se dermos a ração adequada.
- Pai, você falou que as plantas e os animais crescem sozinhos, mas temos que alimentar eles. E a ganância, quem dá alimento para ela?
Lembrei do André!

Elairton Paulo Gehlen

domingo, 29 de março de 2020

EU JÁ TENHO O MEU QUINHÃO


Lá, ou cá, se vão os dias dessa quarentena. Muitas coisas se descobrem nesses tempos, tipo, um monte de gente que nem era tão bonzinho quanto parecia. Foi só dizer que tinha que ficar em casa e a vontade de ficar em casa sumiu! O Zé, é o José mesmo! Ele agora deu de querer ir trabalhar de qualquer jeito. E o jeito que o Zé deu, foi o de dizer que esse viruszinho era só um viruszinho e ele ia era ganhar dinheiro enquanto todo mundo estava perdendo. Ganhou. Um viruszinho. Tá no hospital e a cabeça tá doendo que nem de um jeito que nunca sentiu, então não sabe de que jeito é.
O Mané, isso mesmo, o Manoel, aquele que tem uma lojinha e ela cresceu porque o Mané investiu e fez uma loja novinha, ele tá desesperado porque os empregados dele não podem trabalhar, quer dizer, porque ele não pode abrir a loja porque a prefeitura disse que não pode. O Mané acha que é mais forte que o vírus e faz campanha contra a quarentena. Disse que vai proteger os clientes que pelo amor de Deus venham comprar. Os empregados também, dentro da loja, serão protegidos. Aqui o vírus não entra! Quem estiver na rua antes de chegar na loja ou depois que sair que se vire, o que interessa é que aqui dentro o lucro seja protegido contra o vírus!
O Véio, ele mesmo, o Luciano, ele tem certeza, por dito e repetido, que o dinheiro vale mais que qualquer quarentena! Depois que comprou um jatinho por, não vou afirmar, só sei que dizem que foi, por R$ 250 milhões! Ele está desesperado com essa ideia de salvar vidas em vez de salvar a economia. Economia, bem entendido, o dinheiro para pagar o jatinho ‘dele’!
Se eu for contar todas as histórias que já vi nesses poucos dias da quarentena ia ficar aqui contanto tanta história que não ia sobrar tempo para saber se a quarentena é boa ou ruim. Pelo não, ou pelo sim, eu já tenho o meu quinhão e vou levando cada dia. Se você ainda não tem, cuidado para que o teu não esteja te esperando na conversa fiada de quem não se importa com o teu próximo dia!
Elairton Paulo Gehlen

segunda-feira, 23 de março de 2020

O BOLO E A VIDA


Quando o bolo chegou, único, exclusivo, feito por encomenda a uma franquia nos Jardins, transportado na van refrigerada para que nada se perdesse da aparência, os familiares e os convidados puderam finalmente erguer as mãos ao alto e levantar as vozes em uníssono, ritmadas pelas palmas, e cantar os parabéns ao ilustre aniversariante que se encontrava tristemente bebendo uísque num canto da sala.
- Faça seu pedido, doutor!
Depois de gaguejar algo que não podia ser entendido pelos demais e de ser orientado sobre o absoluto segredo de seu pedido, olhou através dos milhares de milhas que pensava estar daquela realidade e pediu aos deuses do capitalismo que encontrassem um jeito de permitir que a festa fosse aberta aos muitos amigos em quarentena, que a banda pudesse tocar e as pessoas dançar livremente sem o incômodo medo desse vírus.
- Brindemos ao aniversariante!
Dez familiares e quinze convidados. Foi o máximo possível reunir sem a desconfortável visita dos representantes da ordem pública em tempos de quarentena obrigatória. Se pelo menos tivesse liberdade de cuidar de seu próprio quintal!
Já perdera dez milhões investidos na bolsa de valores, já perdera outro tanto pelas medidas restritivas do governo e ainda iria perder mais com essa paralisação quase total da economia. De que me serve um governo liberal? De que me serve o capitalismo se o Estado intervém para salvas as pessoas?
De madrugada, quase dia clareando, as duas garotas de programa que encomendara ouviam vozes sonolentas que falavam de algo como que um pedido aos deuses: “Eu quero um lugar, dizia o sonâmbulo entre lençóis e agarrado ao travesseiro como se agarrasse a última chance de ser feliz, eu quero um lugar onde eu possa gastar meu dinheiro livremente”. Daí suspirou, deu um salto na cama e olhou em redor: “Quem são vocês? Ah, claro, acho que tive um pesadelo. Dá para ir até a geladeira e pegar um pedaço de bolo para mim? ”.

Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 20 de março de 2020

TRINTA DIAS


Hoje é dezesseis
Faz trinta ou nem sei
Fiquei longe demais
Apartamento onze
Muito perto, muito longe
O andar é o número um
Sonhos não tenho mais nenhum
Ou tenho? Ainda não sei.

Subi as escadas
Deixei sonhos para trás
Desci e fui buscar
Não encontrei
Voltei decidi ficar.
Primeiro andar...
Da janela vejo o sonho
Andando na rua
Quase nua.

Lá adiante vai um pensamento
Dentro do carro
Fora da rota
Primeiro andar
O carro anda de pressa
O caminho se alarga
O pensamento voa
Voa para muito longe
Nunca mais volta.


Elairton Paulo Gehlen

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

OS DIAS


De manhã, os dias são sempre os mesmos, tão mesmos que parece que são sempre o mesmo dia. Fazemos tantas coisas, mas as coisas não nos pertencem, apenas fazemos. As coisas nos ensinam, elas lidam conosco porque o seu jeito é o jeito certo e nós praticamos para aprender e aprendemos o máximo das coisas porque não questionamos. As coisas são as coisas certas e isso basta.
De tarde são os anos o nosso terror! Um século inteiro se passa, mas nunca chegamos aso dezoito anos. Lidamos com as coisas como se elas tivessem que nos obedecer, elas até que tentam, mas somos tão indesejáveis para as coisas que acabamos sendo deixados de lado. Ficamos sempre procurando pessoas para substituir as coisas, mas as pessoas nunca estão certas, então acabamos olhando para frente como se além da nossa visão estivesse nos esperando alguma coisa que nos preencha o vazio. E quando o ano finalmente passa e nós não passamos de ano parece que nenhuma coisa se encaixa na nossa existência.
Ao entardecer, lidamos com tantas coisas que parece que as coisas que lidavam conosco de manhã se multiplicaram. Ensinamos as coisas e competimos com as pessoas. No meio das coisas selecionamos uma delas para ser o nosso deus. Esse deus ocupa toda a nossa mente e o nosso coração, damos adoração a ele e nos prostramos diante dele. Acumulamos o máximo de objetos sagrados na esperança de que nos valham na dificuldade e nos rendemos ao espírito do capitalismo. E os dias passam mais rápido do que conseguimos ver.
Quando a noite chega, gostaríamos de voltar para a manhã e refazer tudo de um jeito diferente. Não dá mais, as coisas já não nos querem mais e não nos aceitam como ao amanhecer. Ainda que a cabeça esteja na hora do almoço, os dias estão mais lentos do que as pessoas que passam pela rua. Já não há mais coisas e a noite virá e nós ficaremos com o deus ou o Deus que escolhemos quando nos foi dado o direito de escolher.
A noite vem....

E então....

É NATAL!

Elairton Paulo Gehlen

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

SÃO GRANDES AS CHANCES DE ME RECUPERAR


Eram oito da noite quando reuniu a família para explicar o quase inexplicável caso de loucura programada. O mal que me acomete, ele disse como se falasse de um carro novo que tivesse comprado, parece não ter nenhuma possibilidade de cura. Tal afirmativa soava meio como se o carro tivesse apresentado um problema mecânico e devesse ser devolvido à concessionária.  E, para dizer a verdade, prosseguiu, nem imagino que alguém em sã consciência queira mesmo ser curado do mal de sonhar com o infinito da liberdade!
Quando fui internado pela primeira vez, continuou, aos seis anos de idade, me disseram que o tratamento era necessário. Hoje, aos sessenta, não tenho dúvida que o remédio, ainda que amargo, foi bom. Claro que os métodos eram discutíveis, mas adquiri conhecimento e um mundo novo de possibilidades se abriu. Eu não sabia que junto vinha a doença da alma. Um processo de escravidão que se instala indelével, aprisionando a liberdade num modelo de sociedade hierarquizado e confuso.
Outra vez fiquei internado e mais outra e depois ainda outras vezes. É certo que os medicamentos alopáticos produzem efeitos rápidos contra as doenças visíveis. Uma surra aqui, um castigo ali e fui criando uma crosta contra os desejos. Mas esses remédios, depois produzem outras doenças como consequência de seus efeitos colaterais. Fiquei tímido e, mal sabia eu, revoltado! Não podia expressar minha revolta, então enchi o porta-malas da memória com algo que parecia um explosivo.
Acabaram-se as internações. Deram-me um diploma e fui levado para o mercado de trabalho. O mercado bem que tentou comprar minha mão-de-obra, mas ela invariavelmente dependia dos comandos mentais e a mente, cruelmente castigada pelas prisões em série, davam comandos não muito bem aceitos pelo mercado. Os professores tinham agora o nome de chefes, as listas de chamadas agora eram folhas de ponto e as notas se transformaram em moedas.
Por sessenta anos me disseram que eu ia ser livre. Era só obedecer!  O corpo escravizado foi incapaz de prender a mente. Não preciso mais do mercado, agora deixo minha loucura se livre. Acendi o estopim do porta-malas, vou explodir a hierarquia e nadar no mar da liberdade!

Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

HISTORINHA (Do livro Histórias de Ana Maria e seu avô - capítulo 4)


Depois que a mãe se foi para casa, Aninha foi ‘convidada’ a tomar banho, depois foi o vô Júlio e só então a vó foi para o banheiro. Enquanto a vó tomava banho e se arrumava, Ana ficou no quarto arrumando suas roupas.  O vô queria ajuda-la na arrumação, mas ela disse que não precisava.
- Eu já sou grande – ela disse – já sei arrumar as minhas coisas, pode deixar que eu me viro.
 Então colocou as roupas que estavam na mala sobre uma cômoda e foi guardando as peças uma a uma nas gavetas. Quando concluiu, estava cansada da arrumação e das andanças com o avô e o sono ficou maior do que a vontade de assistir televisão, então deitou-se na cama e pediu para o vô contar uma historinha que ela queria dormir.
- Historinha? – Perguntou o vô como se isso fosse algo totalmente absurdo. - Isso é para crianças pequenas.
- Mas, será que meu vô não vê que eu ainda sou pequena? – Questionou Ana mostrando seu corpo ainda juvenil.
- Bem, – disse o vô – ainda agorinha você falou que não precisava de ajuda porque já era grande...
- Eu era grande para arrumar as minhas roupas porque eu queria arrumar elas sozinha, mas para contar historinha quem é grande é o vô, eu sou pequena.
- Ah, sim. Nesse caso eu vou contar. Pode ser a do gato de botas?
- Não, dessa eu já estou enjoada, meu pai contou ela um milhão de vezes, acho que ele só sabe essa.
- Então a da menina do chapeuzinho vermelho.
- Essa também não. Meu pai sempre conta essa também.
- Eu quero ouvir aquela que os macacos encontram uma plantação de chocolate.
- Ué, mas essa, teu pai, que só conhece a história do gato de botas, já não contou um milhão de vez para você?
- Não, vô. Essa, meu pai nunca me contou, mas a mãe disse que você sabe essa história e que é muito legal.
- Bom, para essa eu preciso da ajuda do autor. Vamos ver: Era uma vez, está ouvindo?
- Estou, vô. Era uma vez.
- Isso, era uma vez numa floresta que tinha aqui no sítio, lá perto do lago dos peixes onde fomos pescar hoje. Para baixo, tinha uma floresta grande e tinha muitos bichos do mato por lá. No meio da bicharada e morando na copa das árvores tinha um bando de macacos com cara de gente.
- Os macacos são gente? - Perguntou Aninha.
- Não – disse o vô – eles não são gente, são animais da floresta.
- Mas tem cara de gente. – Observou a neta.
- É, mas tem rabo como os outros animais. – Disse o vô estabelecendo uma diferença inquestionável.
- Às vezes a mãe faz um rabo de cavalo com meu cabelo. - Disse a neta e riu.
O vô riu e continuou:
-Então, aqueles macacos com rabo de animais da floresta estavam com fome, daí se reuniram e o chefe deles falou:
-Eu estou com fome e parece que não temos comida suficiente por aqui, então vamos empreender uma jornada para o interior da floresta para procurar alimentos. Vamos chamar essa jornada de Entradas e Bandeiras.
- Entradas eu entendi – disse um macaco – mas, bandeira? – Falou meio perguntando.
- Eu também não sei o que significa, - disse o chefe - mas eu sei que os bandeirantes quando foram caçar índios para serem escravos e procurar muitas riquezas minerais para Portugal eles entraram no mato e chamaram de Entradas e Bandeiras. Então vai se chamar assim.
- Nós vamos caçar índios? - Perguntou outro macaco.
- Não, seu burro, nós só vamos procurar alimentos.
- Eu não sou burro, sou macaco. – Disse o macaco.
- Deixa prá lá. – Disse o chefe. - Agora vamos enfrentar todos os perigos da floresta e trazer os alimentos de que precisamos. Todos em forma, podem ir que eu fico e espero vocês em dois dias.
Depois de perguntarem uns para os outros se não era o líder que deveria liderar a expedição, e depois de uns para os outros não saberem responder, foram em busca dos alimentos que estariam escondidos em algum lugar daquela floresta atrás de todos os perigos que a floresta oferecia.
Sem um líder que pudessem chamar de chefe, foram pulando de árvore em árvore até que de repente viram muitas árvores com frutas penduradas. Os que estavam na frente esperaram a chegada dos demais para perguntar se alguém conhecia aqueles frutos. Após alguns minutos de indecisão resolveram verificar mais de perto o que seriam aqueles frutos e logo um macaco gritou a todo pulmão: CHO-CO-LA-TE!
- Chocolate? – Perguntou um macaco faminto.
- Isso. Isso aqui é uma plantação de cacau e chocolate é feito de cacau.
- Oba, vamos comer chocolate no pé!
E assim os macacos atacaram a plantação de cacau que ficou totalmente destruída. No dia seguinte os macacos estavam comemorando a fartura de alimentos enquanto que o fazendeiro que plantava cacau chorava de raiva, doido para saber quem é que tinha destruído sua safra de cacau.

Elairton Pulo Gehlen

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

SIMPLES COMO O INGLÊS


Sabe! Claro que sabe, João sabe todas as coisas. Estudou inglês durante três meses e foi o suficiente para entender que se o caso é difícil, é só botar a língua entre os dentes ou não dizer a letra que atrapalha a fala. Simples assim! That é com a língua entre os dentes, thought é só por a língua entre os dentes e falar thót, pronto.
Foi simplificando na vida que João resolveu dar conselhos para os netos adolescentes. Cansado de esperar, ficou esperando só mais um minutinho, aí ergueu a tela do computador e escreveu todas as coisas que queira falar, mas não podia porque os meninos moravam muito longe e o telefone não tinha ligações infinity.
O primeiro conselho foi sobre o inglês que estudara com afinco nos últimos três meses. Olha, ele disse, vocês têm que ser como o inglês, não o sujeito que mora na Inglaterra, mas como a língua inglesa, é conhecida e reconhecida no mundo todo e tem muito valor para quem a conhece. Todas as línguas são muito importantes, assim também as pessoas, mas a língua inglesa é universal, seja um cosmopolita você também.
Depois aconselhou olhar no espelho pelo menos uma vez a cada manhã e repetir a assertiva de Steve Jobs: “Se hoje fosse o último dia da minha vida, eu iria querer fazer o que eu estou prestes a fazer hoje? ”. Isso, muitas coisas perdem o sentido se pensarmos que estamos vivendo o nosso último dia de vida e você pode ter certeza de que algum dia isso será mesmo verdade!
Então pensou que talvez já tivesse dado conselhos suficientes para toda a vida, mas lhe ocorreu que uma pequena comunidade que vivia feliz isolada do resto do mundo e falando um idioma próprio, então deu um último conselho: Se o inglês te parece grande demais, encha o teu coração com palavras simples de sabedoria.
Fechou o computador com a firme decisão de mandar por e-mail no dia seguinte. Não foi possível, “hoje” fora o seu último e, talvez ele devesse ter lembrado de seu segundo conselho.
Elairton Paulo Gehlen

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

(Do livro Histórias de Ana Mara e seu Avô, Capítulo 3) DESPEDIDA


Eram quatro horas da tarde quando Nanci levantou-se da cadeira dizendo que estava na hora de ir para casa. Chegara às nove horas da manhã na casa dos sogros somente para deixar a filha que veio passar as férias na casa dos avós e ficou só mais um pouquinho porque a sogra pediu.
Às dez da manhã disse ia para casa porque o marido ia chegar para o almoço e ela ainda não tinha preparado nada e tinha uma rodovia pela frente, ou para trás, já que viera de lá e agora ia gastar pelo menos uns cinquenta minutos no caminho de volta.
Ficou mais alguns minutos porque a sogra disse que ia passar uma receita na televisão que ela estava esperando fazia bem uns dois dias.
- Vi a propaganda – ela falou – você precisa ficar mais um pouquinho.
Às onze da manhã terminou de passar a receita e a sogra disse que ela deveria ficar para ajudar no almoço.
- Você viu que fácil! – Exclamou Nanci. – Vou para casa preparar para o almoço!
- Fica – disse a sogra – vamos fazer juntas, aí você chama o João e a gente almoça todo mundo junto.
João é o marido de Nanci.
Fizeram a receita que às onze e meia foi ao forno alto por trinta minutos.
Quinze minutos depois de colocar a forma no forno o celular chamou, era João dizendo que não ia almoçar em casa, tinha um compromisso com o pessoal da empresa onde trabalhava e só voltaria mais tarde. Com a notícia, Nanci ficou despreocupada e chamou a sogra para irem ao pomar colher algumas frutas da época.
Andaram pelo pomar cada uma com uma faca na mão. Primeiro chuparam laranja, depois uns poncãs, daí viram umas canas caiana e resolveram colher e se sentar perto do curral para chupar. Chuparam cana e falaram muito mal da vizinha que é uma fofoqueira. Decerto a orelha do vizinho estava pegando fogo porque ele também entrou na conversa por mais de meia hora. Não só ele, mas também as três amantes que ele tem. E se não tinha, agora tem. Tem porque tem! Tem gente que não tem vergonha da cara!
Lá pela uma da tarde chegaram os boiadeiros Ana Maria e o vô Júlio com as vacas e os bezerros. Quando viram eles chegando de longe, a sogra lembrou da comida no forno e gritou: Jesus Amado! A essa hora o forno já pegou fogo!
Correram para a cozinha, tiraram os restos queimados do forno para jogar bem longe e recomeçaram o almoço, agora com receitas conhecidas feitas na panela na boca do fogão sob os olhos vigilantes de duas atentas mulheres prendadas.
Das duas até às três da tarde foi a hora do sono e não dava para sair sem tomar um chimarrão até às quatro. Pronto, agora estava na hora de ir. Nanci já estava em pé decidida.
A sogra ofereceu mais um chimarrão que foi prontamente aceito. Enquanto tomava o chimarrão, a sogra disse que ia preparar algo para ela levar para a janta.
- Não é justo que o João fique sem experimentar essa comida deliciosa que fizemos para o almoço.
Nanci foi também para a cozinha. Na marmita entrou o arroz à grega, a mandioca bem cozidinha, o macarrão ao alho e óleo e um generoso pedaço de carne de porco frito.
- Pronto. Cadê a Aninha para eu me despedir? – Disse Nanci procurando pela filha.
- Ué - disse a sogra – estavam ali agora mesmo!
- Aninha – chamou a mãe.
Nada, Aninha já tinha ido com o vô para longe da casa. Não dava para ir sem se despedir da filha, então ficou mais um pouquinho.
- Quem sabe voltam logo.
Às seis da tarde, já escurecendo o dia, chegaram Aninha e o vô arrastando as varas de pescar e um balde com peixes que pegaram no lago.
-Aninha do céu – disse a mãe – estou esperando você para me despedir. Já está ficando de noite.
- Espera um pouco mãe que nós vamos limpar os peixes. Eu quero que você leve pelo menos um desses que eu pesquei para o papai.
Limparam os peixes e quase seis e mia da noite Nanci pegou as chaves do carro para sair. Aninha parou em sua frente e dedo em riste falou:
- Vai levar os peixes cru, é? O pai não vai gostar.
- Mas filha...
- Mas filha digo eu – Seu Júlio entrou na conversa – ficou até agora fica mais um pouco, vamos fritar os peixes.
- Às sete da noite estavam jantando e às oito da noite, depois de se explicar longamente no celular, Nanci entrou no carro meio chateada com a bronca do marido que não entendia como ela tinha ficado tanto tempo sem voltar para casa.
- Não saiu de manhã só para deixar a Aninha e voltar?

Elairton Paulo Gehlen

sábado, 6 de julho de 2019

(Do Livro: Histórias de Ana Maria e seu avô. Capítulo 2) - MODELO


(HOJE PUBLICO O SEGUNDO CAPÍTULO DO MEU LIVRO INTITULADO HISTÓRIAS DE ANA MARIA E SEU AVÔ,  QUE SERÁ LANÇADO EM OUTUBRO. 

Ana e o vô Júlio andaram com seus cavalos pelo pasto e o petiço que nunca fora bravo, era manso devido a autoridade da menina no controle absoluto desse animal.
- Tem que ser bom para controlar um cavalo como esse que eu estou, hem vô? – Disse Ana muito segura de si.
- É, minha neta, eu fico tranquilo quando você está por perto. – Disse o vô.
- Deixa que eu vou na frente, é mais seguro. – Disse Ana e conduziu seu cavalo adiante da montaria de Júlio.
Assim foram até o lago onde pararam para tomar água da bica. Ali ficaram descansando e conversando enquanto os cavalos comiam grama.
- Sabe, vô... – Ana começou a falar da escola. Contava detalhes das aulas, dos colegas, dos professores e de como ela era boa nos estudos. Parece que queria falar tudo de uma só vez, emendava um assunto no outro e o vô ia escutando pacientemente. Quando ela parava para respirar, o que era raro, o vô tentava em vão falar alguma coisa. Ana não deixava e já ia falando outra vez. Até que de repente ela parou e ficou olhando para o vô e disse:
- Ué, vô e você não vai falar nada?
Aí o vô aproveitou a deixa e perguntou como estavam as notas.
- Estão ótimas, fiquei de recuperação em cinco matérias, mas passei em todas!
Com o assunto ainda pela metade, resolveram montar seus cavalos pois já estava na hora de recolher o gado para depois ir almoçar. Foram tocando as vacas com os bezerros para o cercado do curral, daí separaram as vacas dos bezerros e orgulhosamente consideraram o serviço concluído para essa manhã que encostava nas 13 horas do dia. Tiraram os arreios dos cavalos e foram se gabar na cozinha onde estavam a mãe e a avó fazendo o almoço.
- Cheguei na hora, vó. Acho que o vô não ia conseguir separar os bezerros das vacas se eu não ajudasse. – Disse Ana orgulhosa da contribuição que dera na labuta do campo.
Depois do almoço o vô e a vó foram dormir que ninguém é de ferro, enquanto que Ana foi assistir televisão que ninguém é de ferro mesmo e a mãe repassou as mensagens do WhatsApp que ninguém é de ferro mesmo, mesmo.
- Como a Aninha está linda! – Disse a vó para a nora enquanto tomavam chimarrão no meio da tarde.
Ana não ouviu esse elogio porque estava com o vô arrumando o cercado das galinhas que se estragou quando um boi fugiu há dois dias e acuado foi de encontro a cerca e derrubou um palanque arrebentando a cerca de bambus.
- Essa minha neta está muito linda! Disse o vô intuitivamente quando terminaram de consertar o cercado. Bonita e eficiente, agora as galinhas não vão mais fugir.
Ana era mesmo bonita. Aos dez anos de idade ainda lembrava que da última vez que passara as férias no sítio a boca tinha uma janelinha que agora estava fechada por dentes bem cuidados. A pele jovial, os olhos azuis e cabelos loiros bem tratados. Dava para confundir com uma boneca bem grande.
- A mãe diz que eu vou ser modelo quando eu crescer. Por isso que eu não gosto de estudar. Para ser modelo a gente não precisa estudar.
- Quem não estuda fica burrinho. – Observou o vô.
- Burrinha, mas bonita e cheia da grana! – Justificou Ana, e emendou: - As modelos... – parou por um instante, ia dizer algo depreciativo sobre as modelos... – as modelos – repetiu - também não são lá muito inteligentes..., mas são ricas... - parou a frase como se fosse prosseguir, mas só riu olhando para o vô com uma expressão de dúvida, os olhos bem abertos e as mãos meio abertas na frente do peito, uma mais próxima do queixo a outra um pouco abaixo.
O vô riu e pegou na mão da neta para irem até onde estavam as modelos, quer dizer as mulheres tomando chimarrão. Ele queria tomar umas cuiadas.

Elairton Paulo Gehlen

segunda-feira, 1 de julho de 2019

FELICIDADE


Sai da murmúria do tempo, o próprio tempo de que se murmura. Tem uma felicidade chegando no horizonte às seis da manhã e traz o raiar do sol num colorido quase indescritível de tantas cores que precedem o dia cheio de oportunidades e possibilidades que até me atrapalho. É balbúrdia nos meus pensamentos e por uns instantes fico a admirar tanta beleza disponível justamente para mim, pobre coitado despido de capacidade para interpreta-la. Me sinto seduzido, por pouco que o horizonte não me abduzia, não fosse a louça suja em cima da pia a despertar a indignação da minha mulher que acaba de entrar na cozinha sem entender porque eu ainda não pusera o leite para ferver e o café no coador.
Ainda ouço as vozes, mas não decifro seu significado. São vozes do tempo que se fez e desfez. O café da manhã estava com jeito de felicidade, farto na mesa, esbanjando sabor no prato e aroma na xícara. O pão caseiro falando aos sentidos sobre relacionamento de um dia inteiro desde o preparo do fermento natural até sair quentinho do forno. O melado traz histórias que remontam ao ano passado quando a cana foi plantada até a semana passada quando foi feito no tacho. A nata é do leite que fui buscar no curral do fornecedor acompanhado de pelo menos meia hora de sonhos de uma vida melhor que vem com o aumento na produção. Essa felicidade me invadia por osmose quando de repente sofro um solavanco nas ideias: ‘Está ouvindo? Depois reclama que eu falo muito, mas você fica aí calado! ’ É uma voz conhecida, mas totalmente estranha aos momentos de felicidade.
Quando dou por mim, o sol está a pino e as garças-boieiras dançam livremente junto aos bois no pasto. Não foi preciso pensar para me escorar no cabo da enxada, num repente minha mente ficou livre, livremente. Os tucanos que logo de manhã pulavam nas árvores exibindo seu enorme bico colorido, agora voam pelos pensamentos caçando insetos e se alimentando de frutas, a fruta proibida da árvore do conhecimento do bem e do mal!
Larguei a enxada e fui pescar. Não foi necessário dar palavra porque a natureza ocupou todos os segundos para mostrar o tanto de felicidade disponível. O lago formado nas nascentes liberou água em cascata entre as pedras com uma música plenamente compreendida pelos sentidos. Seguindo a correnteza fui parar à beira do lago. Ah, o lago! Espelho da natureza refletindo a graça divina. O céu ao meu alcance na lâmina d’água! Joguei o anzol e pesquei uma patinga no meio de uma belíssima nuvem de algodão.
O entardecer descortina no horizonte o privilegio da beleza, trazendo após si um mar de estrelas e a lua nova. Lua nova... vida nova... nova....nova....
- Que foi, homem, acorda. A vida é dura!
Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 14 de junho de 2019

AS FOLHAS FICAM VERMELHAS NO OUTONO.


E numa dessas tardes friazinhas do outono, o sol a pino e as nuvens desaparecidas, até o cheiro do frio irrita as narinas e o aroma do relacionamento ocupa um bom espaço nos pensamentos alimentando a ideia de que o calor vai voltar para compor o cobertor do entendimento enquanto as mãos tecem as roupas de dormir.
Não é frio quando os ventos do Sul trazem um chimarrão rodeado de amigos para uma conversa calorosa.  A prosa e os versos, no verso e no reverso da conversa que atravessa os muros da discriminação põe por terra a ignorância que impera e emperra, esfria e congela a humanidade em tempos de cura e libertação.
Encostado ao muro, sol na cara, chapéu por sobre os olhos. Tem coisas que é difícil de ver, entender então, quase impossível, O frio da espinha dorsal do preconceito não tem sol que aquente. Quase dormia quando ouviu um grito do outro lado do muro: Negro filho da puta! Era domingo, tinha mal chegado da igreja. Não o negro. Este ficara trabalhando.
Não é frio quando o que aquece são os corações. Orações são necessárias, mas quando o friozinho do outono vem e as folhas ficam avermelhadas buscamos refúgio onde há uma bela palhada, o aconchego de corações que palpitam e compartilham uma bela poesia para aquecer o dia e uma vida inteira de amizade.
Bateu forte no peito: Era um filho da puta! Não o negro, ele mesmo. Nascido na zona do meretrício, agora tem que ouvir as baixarias de quem talvez seja mesmo seu pai. Não o negro, o que voltara da igreja. De reza em reza busca arrependimento e confessa os pecados, depois peca para encher o vazio da alma que não se alimenta. Tem nada não, domingo que vem confessa de novo!
Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 7 de junho de 2019

(Do Livro: Histórias de Ana Maria e seu avô. Capítulo 1) O CAVALO METUSALÉM


Quando Ana Maria abriu os olhos e viu a mãe que sorria e acariciava seus cabelos, foi logo perguntando:
- É hoje que eu vou para casa do vô passar as férias com ele?
A mãe, na esperança de que a filha acordasse animada para ir à escola, parou as carícias por um instante e ficou pensativa. Ainda não era o primeiro dia das férias, então disse que estava na hora de levantar, lavar o rosto, se vestir e tomar café que ainda tinha uma semana de aulas.
- Uma semana! – Disse Aninha e ergueu as mãos para o alto para demonstrar o tamanho do tempo que isso era. Abriu também os olhos bem abertos para reforçar a medida do tempo. - É muito tempo e eu aprendo mais com o meu avô do que na escola. Bem que as férias podiam começar hoje. Você não acha?
- Acho. Acho que estamos em cima da hora. Pula da cama que o café está na mesa e vai ficar muito triste se você não der atenção a ele.
Aninha levantou-se, foi ao banheiro e disse ao espelho que no próximo final de semana ela teria que o abandonar por uns tempos pois tinha que dar atenção ao vô Júlio. “Ele está muito ansioso e se eu não for talvez ele fique doente, então é melhor eu ir. ” O espelho se conformou. Para essas frases tristes ele não dava nenhuma resposta, mas quando Aninha se arrumava e perguntava se estava bonita, então o espelho devolvia um sorriso largo de confirmação. 
Aquela semana passou lentamente e os cadernos de Aninha voltaram para casa cheios de desenhos do sítio. Uma casa grande, o galinheiro, o curral, a horta, galinhas pelo quintal comendo o milho que a vó tratava. Tinha árvores, bois pastando, um cachorro e o vô com o laço na mão querendo pegar um bezerro.
Quando finalmente chegou o dia, chegando no sítio, foi correndo para perto do vô e parou estática à uns três metros de distância com as mãos na cintura, a perna esquerda um pouco à frente da outra, a cabeça levemente inclinada para a direita e um sorriso incontido no rosto. O vô olhou e ela estava linda, vestindo calças jeans, camisa quadriculada, chapéu de cowboy e botinas nos pés.
- Ouhhh!! Finalmente chegou a minha boiadeira! – Disse o vô com um sorrisão no rosto.
- E aí, vô. Cadê o meu cavalo, eu vim ajudar a separar o gado. – Disse a neta com a segurança de um peão de boiadeiro.
- O cavalo está encilhado, mas antes vem cá que meu pescoço está doendo e só um abraço de Ana Maria consegue curar. Também estou sentindo uma dor aqui nessa bochecha...
- Oh, vô, eu dou um beijo e vai sarar!
Então pulou no pescoço do vô e ficou rodando no ar, abraçou o vô com os braços ao redor do pescoço para tirar a dor e com as pernas ao redor do tronco para ficar mais firme. Deu um beijo bem carinhoso e a dor sumiu das bochechas. E assim, cavalgando firme no peito do vô foram em direção ao curral onde o petiço já estava encilhado para Ana Maria enquanto que ao seu lado estava prontinho para ser montado pelo vô, o cavalo Metusalém.
- Ma-tu-sa-lém - disse a neta querendo corrigir o avô.
- Fui eu que batizei ele e dei o nome de metusalém, então ele se chama me-tu-sa-lém.
- Então tá. É como a mãe sempre diz: manda quem pode, obedece quem tem prejuízo.
Na verdade, nenhum dos dois sabia quem fora ou o que significava Metusalém ou Matusalém. Isso também não tinha a menor importância. O vô dissera que havia colocado esse nome no cavalo depois que alguém o havia xingado desse nome quando, meio desengonçado, saiu da loja da CERGRAND e atravessou a rua sem prestar atenção ao trânsito.
- Ô velho Matusalém – gritou um sujeito de dentro de um carro bacana – saí daí seu velho gá-gá – emendou.
- Metusalém é o cavalo que te criou. – Respondeu Júlio num acesso de raiva.
No dia seguinte comprou o cavalo num negócio que fez com um vizinho. Chegando em casa lembrou-se do cavalo que criara o motorista e, para nunca mais esquecer do episódio, deu nome de metusalém ao cavalo que comprou dizendo que talvez ele crie também um dono de um carro daqueles de luxo que o outro irmão estava guiando.

QUANTO É MESMO ETERNAMENTE?

  Num sábado à noite não sei como mensurar o quanto é eternamente, o próprio sábado já me parece eterno, então, se somo a esse eterno a an...