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quinta-feira, 2 de abril de 2020

O PÃO


Enquanto o pão que amassei cresce para ser levado ao forno, o mundo vive uma espécie de pão-que-o-diabo-amassou e não é o corona-vírus. Nesses tempos em que não se pode ver televisão sem ser levado ao desespero da contaminação iminente, espero pacientemente que o pão, que eu amassei, cresça para ser assado enquanto o mundo se alimenta do pão do capeta.
Estou na desagradável companhia da ausência de companhia.
- O pão cresce sozinho, pai?
É a pergunta que imagino que meu filho faria se estivesse aqui. Claro que cresce sozinho! Do mesmo jeito que crescem as plantas, os animais e a ganância. Quando falei em ganância, fui imediatamente interrompido pelo André, fazendeiro que vende um boi por três mil reais e paga salário mínimo para o caseiro. Ganância, ele disse, é quando o trabalhador faz greve!
Fui ver se o pão estava crescido. Ainda não. Pensei algo novo, completamente novo, nunca havia pensado nisso. Meu pensamento cresceu! Pensei em achar uma razão. Crescera sozinho? Achei ideias antigas associadas a outras mais recentes e um misturado de informações que foram crescendo quase aleatoriamente. Então abri uma cerveja e cada gole acrescentou novos pensamentos e o novo foi crescendo mais que o pão.
Fui dar água para as plantas da varanda pois elas não crescem sem água. Adubo também! Mas não crescem sozinhas? Sim. Os animais crescem sozinhos se dermos a ração adequada.
- Pai, você falou que as plantas e os animais crescem sozinhos, mas temos que alimentar eles. E a ganância, quem dá alimento para ela?
Lembrei do André!

Elairton Paulo Gehlen

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