Enquanto
o pão que amassei cresce para ser levado ao forno, o mundo vive uma espécie de
pão-que-o-diabo-amassou e não é o corona-vírus. Nesses tempos em que não se
pode ver televisão sem ser levado ao desespero da contaminação iminente, espero
pacientemente que o pão, que eu amassei, cresça para ser assado enquanto o
mundo se alimenta do pão do capeta.
Estou
na desagradável companhia da ausência de companhia.
-
O pão cresce sozinho, pai?
É
a pergunta que imagino que meu filho faria se estivesse aqui. Claro que cresce
sozinho! Do mesmo jeito que crescem as plantas, os animais e a ganância. Quando
falei em ganância, fui imediatamente interrompido pelo André, fazendeiro que
vende um boi por três mil reais e paga salário mínimo para o caseiro. Ganância,
ele disse, é quando o trabalhador faz greve!
Fui
ver se o pão estava crescido. Ainda não. Pensei algo novo, completamente novo,
nunca havia pensado nisso. Meu pensamento cresceu! Pensei em achar uma razão.
Crescera sozinho? Achei ideias antigas associadas a outras mais recentes e um
misturado de informações que foram crescendo quase aleatoriamente. Então abri
uma cerveja e cada gole acrescentou novos pensamentos e o novo foi crescendo
mais que o pão.
Fui
dar água para as plantas da varanda pois elas não crescem sem água. Adubo também!
Mas não crescem sozinhas? Sim. Os animais crescem sozinhos se dermos a ração
adequada.
-
Pai, você falou que as plantas e os animais crescem sozinhos, mas temos que
alimentar eles. E a ganância, quem dá alimento para ela?
Lembrei
do André!
Elairton
Paulo Gehlen
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