É uma delícia de se ver como existem datas comemorativas, eu até já escrevi uma crônica sobre esse assunto, mas agora volto ao tema porque não consigo me conter diante de tanta criatividade, hoje mesmo é Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados. Teve comemoração na mídia, patrocinado por grandes empresas comerciais? Claro que não, isso não dá lucro, danem-se as vítimas! Logo, logo, teremos dia das crianças, finados e Papai Noel, aí sim! Até os mortos são capazes de movimentar a economia!
Fico pensando que data poderia ser
comemorada se eu fosse instituir alguma. Pensei em “O dia do Ócio”, não Dia do ócio criativo, como propõe a
Universidade Metodista de São Paulo, onde se fazem muitas atividades, mas ócio
mesmo, uma data para ser comemorada sem nenhuma comemoração, um dia para que
não tenhamos nenhuma atividade, um dia exclusivamente dedicado à preguiça!
Poderia ser uma data mundial e todas as nações seriam obrigadas a comemorar
esse dia sem fazer absolutamente nenhuma comemoração, nem mesmo motociatas!
Tipo aquela música do Raul: O dia em que
a terra parou! Claro que seria numa segunda-feira, de preferência chuvosa e
fria.
Não vamos fazer elucubrações sobre o
que faria o presidente da república neste dia, não faria nada e isso seria
muito bom para o país, qualquer país, até aqueles onde o presidente trabalha
honestamente, o que não parece ser o nosso caso! A televisão não funcionaria,
nem os jornais, nem o transporte público ou privado, nem os restaurantes, nem
os hospitais e nem se faria comida nas casas e assim todos seríamos igualmente
miseráveis a ponto de não termos o que comer e aprenderíamos como vivem os mais
desgraçados da nação, e o que é ainda melhor: ninguém seria capaz de fazer uma Selfie para publicar nas redes sociais
porque o telefone celular também não funcionaria! Ai! isso ia ser duro demais!
Isso seria como se estivéssemos todos desaparecidos.
O que aconteceria com a Guerra na
Ucrânia? Nada! Absolutamente nada, os soldados de ambos os lados ficariam o dia
todo sentados à toa, sem disparar um único tiro e buscariam em suas mochilas
livros de literatura, quem sabe um Dostoiewski ou um Tolstói. Eu sei, os
fabricantes de armamentos tentariam uma grande mobilização de protesto, um dia
sem guerra significa um grande prejuízo econômico, mas de nada adiantaria, pois
neste dia nem mesmo protestos seriam possíveis. As bolsas de valores e de
mercadorias também não funcionariam e nem os mercados, a inflação seria zero e
a paz estaria em todos os lugares.
Nesse dia, eu iria trabalhar,
escolheria cada palavra cuidadosamente e escreveria uma crônica que seria
publicada no dia seguinte e nela eu descreveria todo o silêncio dos automóveis,
dos rádios, da televisão, dos celulares e computadores e como esse silêncio
permitiu que o ser humano se tornasse original, autêntico, livre de influências
externas e assim, despido de qualquer pudor, olhando para o céu e para a
natureza se sentisse parte dela. Depois desse dia, talvez não houvesse mais
capitalismo.
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