(OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O texto abaixo é a primeira parte de um conto que será publicado assim que estiver concluído. Esta parte é exclusiva para quem lê o blog. Comente se quiser)
JUSCELINO MORREU E FOI PRO CÉU
Havia chovido por toda aquela noite e
a terra estava encharcada, as árvores ainda pingavam água das folhas enquanto
os pássaros acordavam o dia com seus cantos pulando de galho em galho, poças de
água se formavam no chão refletindo um céu claro que amanhecera sem uma nuvem
se quer! A janela do quarto se abriu no primeiro andar e ainda uma última gota
de chuva, vindo do telhado, passou pelos olhos de Juscelino e foi prender-se ao
chão onde plantas ornamentais olhavam distraidamente para o bosque de árvores centenárias.
“Âghhhh”, fez Juscelino enquanto se
espreguiçava abrindo os braços para o mundo e os olhos para o céu. Mal sabia
onde estava, tão bem dormira aquela noite molhada. Dormira sono profundo,
acordara quase anestesiado. “Ârghhhh”, flexionou o corpo até o chão e voltou,
abriu outra vez os braços. O Sol está um dia lindo! Virou-se e andou até
encontrar um “Olá” quase sorridente, depositou sobre o banco do jardim a
confiança de que precisava para falar e sorriu: A vida é o infinito no
denominador, tende a zero, mas você sempre acha que pode acrescentar mais um!
- Como se sente no teu primeiro dia?
- Meu pai morreu, ele disse e olhou
para si mesmo. Ficou em pé para se ver melhor, a roupa estava bem em seu corpo,
fechou a mão e puxou o antebraço até próximo do ombro, sentiu os bíceps
apertando a manga da camisa, ergueu também o outro braço e sentiu a musculatura
do peito. Sim, era jovem ainda, deu dois passos adiante e olhou na poça d´água limpa, viu nela a figura de Narciso.
- Me fale do teu pai...
- A morte é o infinito da vida. -
Juscelino deixou essa frase flutuando até o horizonte, foi fechando os olhos
aos poucos até que a última letra desaparecesse no infinito. – Desapareceu, ele
disse, mas se eu tivesse mais um grau de lente, então poderia vê-la ainda um
pouco, e depois mais um grau... Ele não era rico, nem pobre, chamava-se
Elpídio, passou a vida inteira esperando pelo dia da morte e, quando ela
finalmente chegou, tinha ainda a esperança de acrescentar mais um dia ao seu
sofrimento.
- Ah, morte! É quando o tempo que
queremos infinito se mostra finito para finalmente ser o que é: infinito!
Infinito.
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