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sábado, 5 de fevereiro de 2022

JUSCELINO MORREU E FOI PRO CÉU - (I)

 (OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O texto abaixo é a primeira parte de um conto que será publicado assim que estiver concluído. Esta parte é exclusiva para quem lê o blog. Comente se quiser)

JUSCELINO MORREU E FOI PRO CÉU

Havia chovido por toda aquela noite e a terra estava encharcada, as árvores ainda pingavam água das folhas enquanto os pássaros acordavam o dia com seus cantos pulando de galho em galho, poças de água se formavam no chão refletindo um céu claro que amanhecera sem uma nuvem se quer! A janela do quarto se abriu no primeiro andar e ainda uma última gota de chuva, vindo do telhado, passou pelos olhos de Juscelino e foi prender-se ao chão onde plantas ornamentais olhavam distraidamente para o bosque de árvores centenárias.

“Âghhhh”, fez Juscelino enquanto se espreguiçava abrindo os braços para o mundo e os olhos para o céu. Mal sabia onde estava, tão bem dormira aquela noite molhada. Dormira sono profundo, acordara quase anestesiado. “Ârghhhh”, flexionou o corpo até o chão e voltou, abriu outra vez os braços. O Sol está um dia lindo! Virou-se e andou até encontrar um “Olá” quase sorridente, depositou sobre o banco do jardim a confiança de que precisava para falar e sorriu: A vida é o infinito no denominador, tende a zero, mas você sempre acha que pode acrescentar mais um!

- Como se sente no teu primeiro dia?

- Meu pai morreu, ele disse e olhou para si mesmo. Ficou em pé para se ver melhor, a roupa estava bem em seu corpo, fechou a mão e puxou o antebraço até próximo do ombro, sentiu os bíceps apertando a manga da camisa, ergueu também o outro braço e sentiu a musculatura do peito. Sim, era jovem ainda, deu dois passos adiante e olhou na poça d´água limpa, viu nela a figura de Narciso.

- Me fale do teu pai...

- A morte é o infinito da vida. - Juscelino deixou essa frase flutuando até o horizonte, foi fechando os olhos aos poucos até que a última letra desaparecesse no infinito. – Desapareceu, ele disse, mas se eu tivesse mais um grau de lente, então poderia vê-la ainda um pouco, e depois mais um grau... Ele não era rico, nem pobre, chamava-se Elpídio, passou a vida inteira esperando pelo dia da morte e, quando ela finalmente chegou, tinha ainda a esperança de acrescentar mais um dia ao seu sofrimento.

- Ah, morte! É quando o tempo que queremos infinito se mostra finito para finalmente ser o que é: infinito!

Um comentário:

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