(OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O texto abaixo é a terceira e última parte de um conto que será publicado no próximo final de semana no jornal Folha de Dourados folhadedourados.com.br. Comente se quiser)
Juscelino andou pela Rua Aurora sem
nenhuma pressa. Olhou os jardins das casas e prédios, acenou aos passantes e se
interessou quando alguém lhe pediu uma ajuda por favor. Na padaria Pão Gostoso
comprou o pão integral que gostava, dois litros de leite de saquinho e umas
bolachas de maisena. Ia saindo e a moça do caixa pensou conhecê-lo, quis
lembrar seu nome, deu de ombros. Seguiu pelo corredor público até alcançar a
Rua Fortaleza, virou à direita e seguiu até o número 3.564 onde parou e olhou
cuidadosamente os detalhes da porta antes de girar a maçaneta e entrar.
- Papai, papai...
- Oi filho.
- O vovô já tá dormindo!
- Amor, a janta está na mesa.
Crianças já para o banheiro lavar as mãos.
- Vamos filho, coma tudo que hoje
vocês brincaram bastante.
- Lá no parque tinha um homem bem
legal, ele jogou bola com a gente...
- Depois veio a polícia, queria sabem
que era...
- É filho, vocês precisam ter cuidado
com estranhos...
- E o vovô quando que ele vai jantar?
- É verdade que o vovô vai viver mil
e trezentos anos? Foi a mamãe que falou...
O “Vovô” estava sentado
confortavelmente em uma cadeira de balanço, tão confortável que já dormia há
mais de meia hora, mas acordou de repente quando o netinho disse que viveria
essa infinidade de tempo, quis levantar-se para contestar o garoto, mas sentiu uma
presença como se encontrasse consigo mesmo, então recostou-se outra vez na
cadeira para mais um sono, mais tarde jantaria seu refogado de abóbora com
carne moída.
- Amor, gritou Juliana da cozinha,
você comprou pão integral?
- Não, querida, respondeu João. Ia
comprar, mas acho que esqueci...
- Mamãe, posso comer um pouco
daquelas bolachas de maisena?
O Sol foi descansar o dia, o banco
descansa Juscelino enquanto o parque ilumina o caminho percorrido. O parque não
descansa, o parque tem vida, o parque é o Jardim, Juscelino está no parque, a
Ciência está perdida nela mesma, não tem descanso. A Ciência ilumina o caminho
do parque, têm muitos caminhos, muitas luzes. Juscelino está no parque.
Juscelino morreu. Vovô morreu. As luzes do parque mostram o caminho para a Ciência.
Segue o caminho, tem muitas luzes no Iluminismo. A ciência prolonga os dias de
sofrimento, mas não impede a morte. Vovô morreu e a Ciência continua seu
caminho.
- Bom dia Juscelino, me fale do teu
pai.
- Eu tinha setenta e dois anos... –
Juscelino pôs as mãos nos bolsos e os olhos nos pés, uma árvore cruzou seus
passos e outra tocou-lhe as costas levemente. Um bolso deixou a mão direita
sair e mostrar ao longe um bando de garças boeiras voando em bando. – Eu tinha
setenta e dois anos quando me lembrei, pela última vez, do meu pai. Ele ficou
hospitalizado, a Ciência prolongando o seu sofrimento por vinte e cinco dias, e
morreu.
- E depois, de que mais você se
lembra?
- Daí ouvi meu filho dizer que se eu
morresse logo seria um alívio para todos.
- Isso foi ontem, Juscelino. O
sofrimento acabou.
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