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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

JUSCELINO MORREU E FOI PRO CÉU (Parte III)

 (OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O texto abaixo é a terceira e última parte de um conto que será publicado no próximo final de semana no jornal Folha de Dourados folhadedourados.com.br. Comente se quiser)

Juscelino andou pela Rua Aurora sem nenhuma pressa. Olhou os jardins das casas e prédios, acenou aos passantes e se interessou quando alguém lhe pediu uma ajuda por favor. Na padaria Pão Gostoso comprou o pão integral que gostava, dois litros de leite de saquinho e umas bolachas de maisena. Ia saindo e a moça do caixa pensou conhecê-lo, quis lembrar seu nome, deu de ombros. Seguiu pelo corredor público até alcançar a Rua Fortaleza, virou à direita e seguiu até o número 3.564 onde parou e olhou cuidadosamente os detalhes da porta antes de girar a maçaneta e entrar.

- Papai, papai...

- Oi filho.

- O vovô já tá dormindo!

- Amor, a janta está na mesa. Crianças já para o banheiro lavar as mãos.

- Vamos filho, coma tudo que hoje vocês brincaram bastante.

- Lá no parque tinha um homem bem legal, ele jogou bola com a gente...

- Depois veio a polícia, queria sabem que era...

- É filho, vocês precisam ter cuidado com estranhos...

- E o vovô quando que ele vai jantar?

- É verdade que o vovô vai viver mil e trezentos anos? Foi a mamãe que falou...

O “Vovô” estava sentado confortavelmente em uma cadeira de balanço, tão confortável que já dormia há mais de meia hora, mas acordou de repente quando o netinho disse que viveria essa infinidade de tempo, quis levantar-se para contestar o garoto, mas sentiu uma presença como se encontrasse consigo mesmo, então recostou-se outra vez na cadeira para mais um sono, mais tarde jantaria seu refogado de abóbora com carne moída.

- Amor, gritou Juliana da cozinha, você comprou pão integral?

- Não, querida, respondeu João. Ia comprar, mas acho que esqueci...

- Mamãe, posso comer um pouco daquelas bolachas de maisena?

 

 

O Sol foi descansar o dia, o banco descansa Juscelino enquanto o parque ilumina o caminho percorrido. O parque não descansa, o parque tem vida, o parque é o Jardim, Juscelino está no parque, a Ciência está perdida nela mesma, não tem descanso. A Ciência ilumina o caminho do parque, têm muitos caminhos, muitas luzes. Juscelino está no parque. Juscelino morreu. Vovô morreu. As luzes do parque mostram o caminho para a Ciência. Segue o caminho, tem muitas luzes no Iluminismo. A ciência prolonga os dias de sofrimento, mas não impede a morte. Vovô morreu e a Ciência continua seu caminho.

- Bom dia Juscelino, me fale do teu pai.

- Eu tinha setenta e dois anos... – Juscelino pôs as mãos nos bolsos e os olhos nos pés, uma árvore cruzou seus passos e outra tocou-lhe as costas levemente. Um bolso deixou a mão direita sair e mostrar ao longe um bando de garças boeiras voando em bando. – Eu tinha setenta e dois anos quando me lembrei, pela última vez, do meu pai. Ele ficou hospitalizado, a Ciência prolongando o seu sofrimento por vinte e cinco dias, e morreu.

- E depois, de que mais você se lembra?

- Daí ouvi meu filho dizer que se eu morresse logo seria um alívio para todos.

- Isso foi ontem, Juscelino. O sofrimento acabou.

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ESQUERDOPATA!

  Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamen...