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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

ANO NOVO: INVESTIR PARA O FUTURO!?!?!?

             Eu já fui tachado de Chato por escrever crônicas muito verdadeiras!  Chato é aquela pediculose pubiana que incomoda e causa constrangimento e irritação, no caso o Pthirus púbis, que irrita a pele, mas, se for um escritor... Já estou numa idade em que não tenho mais nenhuma necessidade de muitas curtidas em minhas publicações, também não espero reconhecimento público pelo meu trabalho, então estou ‘de boa’, como dizem os jovens, para escrever sem rodeios. Se meus textos alcançarem um ou dois leitores interessados, já me dou por satisfeito!

E, se por acaso, pelo menos um estiver pensando em poupar para o futuro, que tal um plano de aposentadoria? Quando chega o ano novo todo mundo canta aquela música que fala de muito dinheiro no bolso e saúde para dar e vender. Não desejo estragar a festa de ninguém, então vamos lá, falar de dinheiro no banco e saúde no hospital, que é de onde a gente tira esses produtos para o consumo, especialmente quando se está aposentado. Mas, se esses planos de aposentadoria propostos pelos bancos e planos de saúde são tão bons para seus contribuintes, qual a vantagem dos operadores? Pela propaganda, eles devem ser muito bonzinhos!!

Andei fazendo umas contas, que matemático é assim, faz conta até para saber se vale a pena ter um amor! Não sou contra planos de aposentadoria, mas só queria entender o porquê de os bancos e as financeiras apostarem tanto no “seu bem-estar futuro” com planos tão “maravilhosos” de aposentadoria, em que você investe “um pouco” a cada mês e “garante” seu bem-estar na velhice. O texto a seguir não é uma recomendação para que você invista ou deixe de investir num plano qualquer.

Eu fui empregado da Caixa Econômica Federal por 28 anos e, como todo mundo sabe, economiários podem contribuir para um plano de previdência complementar onde o empregado paga uma parte durante o tempo em que trabalha na empresa e o empregador, no caso a CEF, paga a outra e quando o trabalhador se aposenta recebe um valor complementar. Eu optei por não contribuir e hoje vivo da aposentadoria do INSS, enquanto meus colegas tem um belo adicional em seus proventos, por outro lado, eu pude usufruir do dinheiro que daria para o fundo durante os vinte e oito anos que fui empregado na empresa! Foi uma escolha.

Previdência privada não é bem assim, o montante gerador do benefício é feito exclusivamente pelo contribuinte e o operador ainda cobra uma taxa para administrar o dinheiro e no fim o governo ainda cobra pelo menos dez por cento de Imposto de Renda sobre o valor total do benefício. Ainda assim pode ser bom, se você se dispõe a contribuir por um longo período, tipo uns trinta anos. Só não se esqueça que, se tiver uma crise generalizada no mercado financeiro, a empresa pode quebrar e o contribuinte ficar sem nada.

Eu disse, lá encima, que ia fazer uma conta, afinal sou matemático! Então vamos lá. Só para facilitar, vamos imaginar que uma operadora consiga atrair mil participantes que se disponham a pagar mensalmente o valor de R$ 1.000,00 por mês para ter uma aposentadoria de aproximadamente R$ 5.000,00 por mês depois de trinta anos de contribuição. O benefício está claro, R$ 5.000,00 por mês, mas qual é mesmo a conta do operador?

Simples, com mil participantes, o operador arrecada mensalmente a bagatela de R$ 1.000.000,00. Isso mesmo, um milhão de reais, e sabe do melhor? Só vai pagar a primeira parcela para o contribuinte depois de trinta anos quando já tiver arrecadado nada menos que R$ 360.000.000,00. Entendeu? Primeiro o operador do plano de previdência retira R$ 360 milhões de reais do mercado para só então devolver R$ 5.000,00 para cada participante!!

Nem todo participante paga R$ 1.000,00 por mês, mas existem, no Brasil, mais de 13 milhões de participantes, e arrecadação mensal supera a casa de R$ 8 bilhões mensais, aí já fica fácil de imaginar que o valor destinado aos bancos e financeiras é bilionário, e eu não estou nem aí se eles ficam ricos. O que me preocupa é como a sociedade empobrece. Esse dinheiro deveria estar no mercado, gerando empregos e bem-estar para todos.

Previdência privada é só um rabinho neste monstro chamado capitalismo financeiro. A verdadeira mensagem dos bancos e financistas é: deus é o dinheiro!! Adore o teu deus e danem-se os teus irmãos!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

ESCOLA DE MENINOS E MENINAS

Uma escola é sempre uma escola, esse lugar onde a educação se dá por professores miseravelmente assalariados trabalhando na esperança da libertação intelectual de seus pupilos. Me perdoem a expressão, mas alunos parecem tão abandonados pelas famílias que, ao adentrarem pelos corredores das escolas, em regra, cabe-lhes perfeitamente pensar que estão em um orfanato, tutelados por professores inquietos e sofridos, vigiados pelos Bedéis de plantão, alimentados por cozinheiras famintas e dirigidos por algum orgulhoso diretor que se acha o Rei da Cocada Preta!

Uma das coisas mais impressionantes nas escolas, é a de que os alunos nunca crescem, entra ano, sai ano, mudam professores, elegem-se novos diretores e os alunos tem sempre a mesma idade. Estou passando este ano de 2.021 na mesma localidade onde estudei as séries iniciais a mais de cinquenta anos, esta semana passei em frente da mesma escola onde fiz o quinto ano escolar e lá estavam os mesmos alunos, seus uniformes e a idade que eu tinha a mais de meio século atrás. O curioso é que quando mudam os políticos, parece que o sistema educacional vai mudar; não muda, educação continua sendo uma forma de preparação para o mercado, onde os ricos exploram os pobres.

É dessas escolas, desse sistema educacional que saem a maioria dos professores, políticos, líderes espirituais, profissionais liberais, trabalhadores, e até escritores! que vão se distribuindo proporcionalmente entre explorados, a maioria, e exploradores, ambos bitolados num sistema capitalista reprodutor de miséria e hedonismo.

Não se pode esperar muito mais do que isso que temos, de uma sociedade onde quem deveria educar já sai deseducado da escola, ou políticos que aprendem logo cedo pelo exemplo dos pais que quanto menos qualidade tiver o ensino mais fácil iludir o eleitor, ou o líder espiritual que, de bíblia na mão apoia político fascista, ou o profissional liberal que cobra pelo serviço que não fez e até pelos erros que cometeu; todos simples mortais. E os escritores? Ah, estes têm a Academia!

Quando escrevi meu primeiro livro, ainda na década de 1.980, já me achava um imortal, até guardava rascunhos para futuros pesquisadores que desejassem publicar minha biografia. Mal sabia eu que era de leite que me alimentava, alimento sólido não podia suportar, era ainda uma criança brincando de intelectual. O livro nunca ganhou uma publicação e foi parar na churrasqueira onde se queimou junto com meu passado infantil. Quatro décadas depois, estou publicando meu terceiro livro e fui convidado para ocupar uma cadeira na nascitura Academia de Letras do Brasil de Dourados, um orgulho!

Academias de Letras são instituições sólidas onde o saber, a cultura e a pesquisa acadêmica são consolidadas e a produção intelectual se dá constantemente por escritores pesquisadores, intelectuais comprometidos com desenvolvimento da escrita, que divulgam suas produções literárias e as tornam acessíveis à população, sem bajulação deste ou daquele poderoso de plantão, mas transformando em letras sensíveis os sentimentos do povo, fazendo do rude o suave, da tristeza a esperança e da ignorância o saber revolucionário que empodera o fraco e sensibiliza o forte...

Me perdoem ter sonhado! Não, as Academias não são isso, em geral não vão além de Escolas de Meninos e Meninas que se alimentas de leite e brincam de Super-homem e Mulher-Maravilha. 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

E ERA PARA SER NATAL...

   O carro de som passa na rua em frente de casa drapejando música natalina a flamular no vento quente e traz o inverno que se pendura nas árvores enfeitadas de gélidos cristais de algodão. Luzes piscam o colorido nos umbrais das portas sangrando a certeza da incerteza da salvação, nesta noite não haverá a morte do primogênito, todos estarão a adorar o deus da luxúria. Não há uma única informação de que o dia seja 25 de dezembro, mas sem ele, a que haveríamos de nos apegar para o milagre da multiplicação dos lucros?

    É quente esta tarde de verão dezembrino, o sol se põe, mas se esquece de retirar o calor que dorme a noite toda até que volte o sol no dia seguinte para acrescentar ainda mais quentura a esse dias de espera pela salvação das commodities numa chuva que, prometida pelos homens, não vem, nem mesmo triplicando os preços internacionais, se chovesse, a lavoura produziria e seria vendida para outros países, pelo menos teríamos dinheiro, enquanto isso, o Salvador descansa o sono dos justos.

  Jingle Bells flutuam na névoa poeirenta do tempo seco, brilhando notas pelo alto-falante musical que chama consumidores para aproveitar as ofertas imperdíveis do comércio. O amor é demonstrado em notas de dez, vinte, cinquenta, cem reais, mas se não tiver não se preocupe, aceitamos todos os cartões. Presentear é um gesto de amor, amor maior é presentear quem vai te presentear. Ainda que isso seja uma verdade mentirosa, é muito verdadeira a adoração que se faz ao verdadeiro Senhor do natal: Momo!

 O espírito natalino põe em liberdade delinquentes de bom comportamento que já estavam em liberdade mesmo antes do espírito natalino. Agora, o espírito lhes dá poder de persuasão e o dinheiro se aglomera em grandes cultos onde são ofertados aos ministros e dali carreados ao altar da hipocrisia para distribuição em partes diretamente proporcionais à capacidade de cada comerciante em ludibriar o consumidor com ofertas ilusórias de salvação hedonista. O leão é de ouro!

   Jingle Bells, Jingle Bells... ouro, incenso e mirra flutuam os Reis Magos no estábulo, a Glória foge apressada, o Egito cavalga a mula até o Rei, enquanto a morte domina o delinquente de bom comportamento assentado no trono. Jingle Bells, Jingle Bells, os comerciantes do Templo fora expulsos e as bancas derribadas! Jingle Bells, Jingle Bells, eu sei que Jesus talvez se alegre contigo, mas você, alegra-se com a vida de Jesus?

         Ele era um revolucionário!!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

UMA CARTA DO CÉU

(Carta de um advogado que morreu e está no Céu, onde cada profissional deve passar um longo período de tempo convivendo exclusivamente com seus colegas de profissão)

Caros colegas advogados, aliás, doutores advogados, que é assim que gostais de ser tratados, mesmo que a maioria de nós jamais tenha sentado nossas doutas bundas num curso de mestrado, quiçá doutorado. Me desculpem o palavreado um pouco chulo, mas aqui onde me encontro agora, de nada adiantam expressões em latim ou palavras difíceis de serem compreendidas, o Juiz, Justo Juiz, diga-se de passagem, coisa rara por aí também, prefere a verdade demonstrada com simplicidade e pratica sempre a justiça, outra coisa rara nesse mundo dos vivos. Não quero me alongar nas iniciais, mas dizer que esse mundo onde estais agora é dos vivos chega a beirar o ridículo, daqui se pode ver a morte sempre presente em vosso meio, aqui, sim a vida é plena!

Vos escrevo esta missiva para dizer que estou bem aqui e para que tenhais esperança, pois mesmo sendo pouquíssimos os que passam pela porta estreita, não é impossível que um camelo passe pelo fundo de uma agulha. Mas, não se iludam, mesmo tendo o privilégio dos poucos que advogam no Reino, aqui ainda não é o Céu dos Céus. Neste lugar, cada categoria deve passar um longo tempo de purificação, convivendo exclusivamente com seus colegas de profissão, então, desde que cheguei, exatamente no dia 2 de abril de 2005, tenho me relacionado somente com advogados, todos salvos, claro, mesmo assim não tem sido fácil. Parece que nossa profissão é a essência da vaidade. Aqui, ninguém pode ser chamado de doutor e isso é um choque até para os mais Santos dos jurisconsultos.

Há uma história que até aqui chegou, trazida pelos anjos correspondentes vindos daí da Terra, que diz que quando o Papa João Paulo II morreu e se apresentou na entrada celestial, São Pedro pediu-lhe um pouco de paciência, pois havia acabado de chegar ao Céu um advogado que teria a preferência. O Papa teria argumentado que fora chefe da igreja e que mesmo em vida era considerado Santo. São Pedro teria dado duas leves batidas no ombro e informado que Papas já haviam vários no Céu, mas advogados, bem, este que ali estava às portas do Paraíso, este seria o primeiro! De fato, o ocorrido se deu e, coincidentemente o advogado era eu mesmo. Mas, necessário se faz uma pequena correção, mesmo tendo a preferência sobre o Santo Padre, não é bem verdade que eu tenha sido o primeiro advogado aqui onde se vive eternamente, mal entrei e um anjo me encaminhou para o escritório de advocacia do Céu, onde haviam poucas pessoas, trajes celestiais e uma auréola sobre a cabeça,  “estes são todos os advogados” disse e foi embora.

Me desculpem ter tomado vosso precioso tempo com essa história do Papa, mas é que aqui temos tanto tempo disponível que vocês nem conseguem imaginar! Os prazos dos processos são determinados pela data da morte do réu. Não há outro prazo, até essa data o réu pode receber o perdão gratuita e voluntariamente, não se fazem apelações, não há recursos, nada. Eu sei, muitos de vocês diriam: Então, como vamos ganhar dinheiro? Lamento informar, mas esse jeito de fazer com que o processo se prolongue infinitamente, é um jeito estúpido de ganhar dinheiro. Cada vez que você faz isso, você está produzindo prova contra ti mesmo. Daqui se pode ver tudo, agora mesmo estou vendo um conluio entre um advogado do exequente e outro do executado, combinando como fazer para prorrogar o prazo do julgamento e tirar o máximo de dinheiro de ambas as partes!

Eu morri em 2 de abril de 2005. Nestes dezesseis anos em que estou advogando pelas causas celestiais não achei um justo sequer. Então, caros colegas militantes do direito, chega de se arvorar pelos tribunais cheios de razão e superioridade, a grande verdade é que os que mais se orgulham, mais serão humilhados! Nesta década e meia pude fazer uma pesquisa que talvez ajude a compreender os fatos. Escolhi uma cidade, aleatoriamente e verifiquei o julgamento final, esse do Justo Juiz, em duzentos processos em que o advogado e o cliente já haviam morrido. Acreditem, apenas um advogado foi admitido ao escritório celestial e aqui está trabalhando há trinta e dois anos.

Não posso dar detalhes sobre nosso trabalho no Céu, mas, se talvez quereis um conselho, só um que seja, eu diria: Deixem de ser arrogantes, pois isso não tem valor nenhum perante o Justo Juiz! E não se esqueçam, aqui sois réus e o prazo final do processo é o dia de vossa morte.

Eternamente...

 

Advogado.

domingo, 12 de dezembro de 2021

NAMORAR COMO ANTIGAMENTE

             - A gente podia namorar como antigamente...

João Pequeno queria namorar, e namorar como antigamente, sentar na sala e ver televisão, tomar chimarrão na área da frente e conversar, passear na praça, ir à igreja.

- Acho que não, antigamente não foi muito bom, aliás nada...

Maria Júlia queria ter namorado na sala escutando programas de rádio, tomado chimarrão no quintal, trocando a cuia por uma conversa boa, ir à igreja colher os frutos do espírito e até passear de mãos dadas. Mas, antigamente, seu sonho virou pesadelo, o brutamontes com quem se casou queria vencer na vida e ganhar dinheiro, cada vez mais, até que ficou muito rico e morreu enfartado depois de ter bebido muito numa festa com investidores.

- Eu acho que a gente podia...

João Pequeno estava determinado a recuperar um tempo que se perdera quando teve que trabalhar doze a catorze horas por dia, serviço bruto no campo, derrubando mato, fazendo poço. Se casara, antigamente, não dava para pensar em namoro, tinha muitas necessidades, todas urgentes.

- Talvez a gente podia, se agora ainda fosse antigamente...

Maria Júlia estava determinada a não recuperar o sofrimento de antigamente quando esperava, esperava e o que recebia era a notícia auspiciosa de um futuro maravilhoso quando tivessem ganho tanto dinheiro que não haveria mais necessidade de ganha-lo pois o dinheiro se ganharia por conta própria.

- Eu não quero o teu dinheiro, tenho o suficiente para nós dois...

 Antigamente, haviam as fotonovelas, uma sequência de fotos com as falas em ‘balõezinhos’ que contavam certamente a história do amor verdadeiro. As telenovelas começaram representando isso. Desde as novelas da Rocord, nos anos setenta, até os dias atuais muitas coisas mudaram. Quem almeja um ‘amor verdadeiro’ certamente fará referência ao namoro de antigamente. João Pequeno, que já conta seus setenta anos de idade, quer esse amor de fotonovela.

- O dinheiro nunca foi suficiente...

Maria Júlia, quase setenta, carrega as marcas do amor de fotonovela, não perdia uma edição de Fascinação, chorava lendo Capricho e sonhava com o príncipe encantado lendo Grande Hotel. O Príncipe apareceu, prometeu toda a riqueza do mundo e foi conquista-la. Quando, finalmente achou que tinha o bastante, fez uma festa para celebrar a aposentadoria, morreu no meio das comemorações.

- Maria Júlia! – ainda suplicou, pela última vez João Pequeno – não podemos deixar que o absurdo da existência nos roube a existência, ainda que ela seja absurda!

- João Pequeno – respondeu Maria Júlia, lágrimas nos olhos – ainda que pareça absurdo, eu quero namorar com você, mas não como antigamente, não temos mais tempo para isso!

sábado, 11 de dezembro de 2021

PORQUE HOJR É SÁBADO

 ... E eu encontrei

            o amor da minha vida

desencontrei...

                                    um minuto

 

Sábado

            o amor

talvez o amor

                                    da vida

talvez

                        desamor

talvez...

                                    talvez.

domingo, 5 de dezembro de 2021

DE VOLTA AO COMEÇO

Bisogna prestare poca fede a quelli che parlano molto” (Deve-se dar pouco crédito a quem muito fala). Esta frase, atribuída a Catão, o Velho, a mais de dois mil anos atrás, parece ser daquelas incômodas frases que nunca perdem o sentido, mesmo em tempos pós-modernos onde nada parece mesmo fazer sentido, nem mesmo a existência. Como Censor, Catão se destacou por sua defesa conservadora das tradições romanas contra o luxo e a frivolidade da corrente helenística. A história se encarregou de vencer o conservadorismo de Catão e até Roma se rendeu à filosofia da escola de Platão, incorporando na tradição católica alguns conceitos doutrinários do filósofo na constituição da doutrina básica da igreja, hoje conhecida como Tradição Católica, desenvolvida por mais de um milênio por padres, num processo que passou a ser conhecido com a Patrística.

Deixemos Catão e os padres cada um no seu tempo e, ainda que Platão perdure até o nosso, não morro de amores, nem mesmo o platônico, pelos personagens da história que se segue, mas que meus olhos se voltam para eles, isso sim, e com desejo, um grande desejo, eu diria, de poder compreender os absurdos do comportamento humano.

Talvez você não goste de política ou de políticos. Nem eu! Quem dera voltássemos ao começo, nos tempos primitivos, onde as lideranças eram exclusivamente locais e com o intuito de dar proteção ao grupo que se formava em torno. Para isso teríamos que destruir toda forma de governo e toda estrutura social que permite a apropriação privada dos bens da natureza. Se chegássemos a isso, teríamos, então, fechado um grande círculo por onde percorre a humanidade e só daí seria possível se ver a miséria desse tempo e todas as mentiras que são contadas parecendo verdades.

Quando eu era aluno do último ano do curso de matemática, tinha um professor que dizia que quando um problema é muito difícil, devemos transformá-lo em vários problemas menores e mais fáceis, daí poderemos resolvê-lo. Pois bem, esse grande círculo de mentiras entre os tempos primitivos e a volta ao começo é formado por “pequenos” círculos de mentiras. Olhemos para um deles e, com esse mesmo olhar talvez consigamos ver outros e outros até entendermos a falácia que se tornou a sociedade humana.

Há poucos anos atrás, num pobre e vasto país da região Sul das Américas, o povo foi conclamado a acabar com a corrupção, acreditavam que um grupo de políticos conhecido como Centrão seria expurgado definitivamente do cenário nacional, exatamente por serem ‘mentirosos e corruptos’. Acontece, que quem liderava essa campanha, já teria feito fileiras com o mesmo grupo, de onde dera início a sua carreira política. Depois de muitas falações disso e daquilo e não sendo capaz de combater quem jurava combateria, e ainda por cima, sendo pressionado pelos tais, seguiu a máxima que diz: “Se você no pode com o inimigo, alie-se a ele, mesmo que ele seja toda a mentira”. E filiou-se a um partido do Centão.

É bem provável que o legado de Catão não seja tão importante para nossa cultura ocidental, mas que ele tinha razão, isso ele tinha!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

APAGUEI

 

 A luz que

                    brilha

A sombra

    segue o caminho

 

 

Acordo

a luz

sombra,

desacordo

 

Um grito

                 no escuro

A luz

O caminho

                        sem fim.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

ACADEMIA DE LETRAS, PARA QUÊ?

            Vou começar este texto admitindo que posso estar totalmente equivocado, nem por isso me furto a esse questionamento, quem sabe um acadêmico experiente possa me responder.

Em 1.991 eu não tinha nenhum livro publicado quando um dos pretensos fundadores me procurou para que eu fosse um dos membros da virtual academia. Você só precisa publicar um livro, ele disse, fazendo referência às minhas publicações no jornal e minha dedicação, ou empolgação, com as letras. Hoje, o saudoso Nicanor Coelho é homenageado e tem até prédio público com seu nome. Nicanor é, sim, o grande responsável pela existência da Academia Douradense de Letras. Eu não publiquei o meu livro naquela época.

Em 1.993 fiz minha primeira publicação em livros, uma modesta participação de dez páginas de poesia numa publicação coletiva de novos escritores douradenses e, só em 2.017 lancei para o público “JOSAFÁ”, um conto urbano de 120 páginas. Nessa época, a ADL já fizera seu vigésimo sexto aniversário e lá estavam seus imortais em seus fardões e eu me perguntando: De onde vem mesmo a imortalidade de um acadêmico?

Não gostaria de fazer nenhuma comparação maliciosa, mas não vejo como abordar o assunto sem tal comparação, ainda que maliciosa, se me permite a redundância, mas escritores que se candidatam à imortalidade se parecem um pouco com jornalistas que juram imparcialidade no trabalho jornalístico. Há jornalista pelos quais eu tenho profundo respeito, pois não se dobram ao brilho do vil metal corruptível promovendo falsas verdades ou escondendo as mentiras entre falsos elogios bajuladores. Imortais não são diferentes. Assim como no jornalismo, na Academia existem valiosos imortais que militam pela cultura com espírito comunista, se dedicando a que a cultura esteja disponível ao cidadão comum. Todavia, também como no jornalismo, há uma leva de seres humanos sensíveis a honrarias, muitos deles se encantam com o título e dele fazem um belo trampolim para um belo salto ornamental na piscina das vaidades.

Se a Academia deve ser o lugar onde se reúnem intelectuais, poderíamos dizer, os melhores entre os escritores, já que uma das exigências é que tenha pelo menos uma publicação de reconhecido mérito, por que há tanta vaidade e tão pouca produção cultural, de mérito, entre os acadêmicos? Me perdoem a falta de sensibilidade, mas, para que serve a Academia mesmo?

domingo, 28 de novembro de 2021

TALVEZ

Talvez na segunda-feira

Eu possa estar de volta

Ao lugar do meu destino

 

Talvez segunda-feira

Eu possa ser feliz.

 

Talvez segunda-feira

 

Talvez

 

segunda-feira.

 

Se não for segunda-feira,

Então talvez terça.

Assim eu me animo.

 

Se não for terça-feira,

O que me diz?

 

Talvez terça-feira.

 

Talvez

 

O destino.

 

Mas, se não for...

 

Se não

 

Eu vou.

 

Eu...

 

...não.

 

Sem data marcada,

A qualquer hora

A qualquer momento.

 

Neste momento!

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

“DOCE VENTURA”, novo Livro do escritor Elairton Gehlen

 

“DOCE VENTURA”, novo Livro do escritor Elairton Gehlen

 

O escritor Elairton Gehlen acaba de lançar seu novo livro que traz, com bom humor, reflexões sobre o amor, relacionamento e pitadas de críticas à política em tempos da pandemia do novo coronavírus.

“Falar sobre amor e relacionamento num ano como o de dois mil e vinte, quando os eventos sociais estavam simplesmente proibidos, é um desafio a que me propus”, disse o autor. Boa parte dos textos dessa coletânea foram publicados no Jornal de Dourados desde junho do ano passado, mas alguns textos também foram escritos antes da pandemia do novo coronavírus.

“DOCE VENTURA”, que tem 184 páginas de Contos, Crônicas e Poesias, é o terceiro livro do escritor e deve ser comprado pela internet no endereço da editora: https://clubedeautores.com.br/livro/doce-ventura, ao custo de R$ 37,39 a versão impressa. A versão E-book sai pelo valor de R$ 16,58.

“DOCE VENTURA” não vai ter um evento de lançamento e também não será vendido em livrarias físicas, quem estiver interessado em adquirir o livro deve fazê-lo pela internet, diretamente no endereço da editora. O livro também estará disponível para leitores nos Estados Unidos e União Europeia pelo sito da Amazon.com. No Brasil, somente pelo Clube de autores.

Em 2.017 o escritor lançou seu primeiro livro “JOSAFÁ”, um conto urbano que relata as transformações que ocorrem na vida dos principais personagens, Josafá, um executivo de um conglomerado empresarial, e Janaina, uma garota que, após tomar decisões erradas, se transforma numa pedinte de rua com seus dois filhos pequenos.

Em 2.019 lançou “HISTÓRIAS DE ANA MARIA E SEU AVÔ”, que relata, em 17 minicontos as férias de Ana Maria, garota totalmente urbana, no sítio do avô Júlio. Esse livro tem até historinha para criança dormir e uma bela receita de queijo.

Agora vem “DOCE VENTURA”, para quem gosta de uma leitura agradável! Se comprar nesta semana da Black Friday o livro impresso sai por R$ 31,32.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

 

PALAVRA DE CIGANA!

                                                    Helga Gehlen

 

Quem nunca consultou uma cigana para “ver la suerte?”  Elas sempre tomam das mãos, franzem o cenho e, de alguma maneira que não entendo bem, predizem o futuro em troca de um dinheirinho qualquer. Às vezes não recebem o dinheiro e às vezes, ainda, não fazem nenhuma cobrança, é quando acreditam estar mesmo ‘prevendo’ o destino de alguém. Tamanha é a convicção com que predizem os acontecimentos que não deixam nenhuma dúvida na mente de quem quer que tenha buscado na vidente um alento ou, quiçá, uma esperança no meio do desespero ou, ainda, um algo em que se agarrar para um projeto de vida ou de relacionamento.

Que as palavras têm poder, não há dúvida. Até crentes amadurecidos na fé acreditaram que Bolsonaro não ia se aliar ao Centrão! Imagina, então, jovens adolescentes em busca de revelações sobre o amor e, de gorjeta, a data determinada para a morte, no meio tempo os filhos, os bens e se o marido (ou a esposa) há de amá-la, ou amá-lo, para o resto da vida. É esse fervor dos hormônios da juventude o segredo do sucesso dessas videntes de rua que se autodenominam ‘Ciganas’.

A maioria das vezes o destino se encarrega rapidamente de desiludir jovens ansiosos e contabilizar o prejuízo financeiro na conta das bobeiras onde se gasta dinheiro comprando ilusões. Não só dinheiro, mas o tempo precioso e a energia, tão necessários para a realização de tarefas mais úteis no desenvolvimento pessoal e profissional. Crendices como “la suerte”, ferradura, pé de coelho, e tantas outras, são limitantes e, às vezes matam pessoas inocentes ou tiram-lhes a perspectiva de vida, ainda que, aos olhos deste mundo, a existência humana, seja como for, é totalmente absurda.

Há setenta anos uma cigana fez isso com minha mãe! Pediu para ver  “a suerte”, e viu, isto é, previu que ela teria um casamento com um homem com as características do meu pai, teria quatro filhos, eu sou o quarto e último, previu mais algumas coisas que se concretizaram, fazendo minha mãe acreditar que essa cigana sabia mesmo prever o futuro. Católica de carteirinha, não via problemas entre a fé e as crendices. Católicos são assim mesmo, não veem problemas em buscar benzedeiras quando a igreja não é capaz de dar as respostas e os médicos não encontram a cura ou simplesmente não atendem os mais pobres. Se os umbandistas podem fazer culto nas igrejas e os humanos santificados podem se tornar algum deus a quem se presta culto de adoração, por que não uma cigana poderia ser uma profetisa?

Esta semana minha mãe completou oitenta e oito anos de idade. Pela profecia da cigana, não chegaria aos setenta e oito, talvez por um mau entendimento pudesse ser invertido e então, a idade máxima seria oitenta e sete. Crente de que realmente morreria antes do aniversário, fazia planos para o velório, encomendando isso e aquilo que desejava para a cerimônia, pela fé, pedia uma morte sem sofrimento. Mas, com a aproximação do aniversário, a ansiedade gerou um processo de angústia. Entre a certeza da profecia e a incerteza da morte que parecia não cumprir a profecia, uma senhora de oitenta e sete anos quase morreu mesmo, de ansiedade!

Festejamos seu aniversário no último dia 18. Só o que quero agora, é que ela viva com alegria cada um  dos dias que Deus tem para sua vida, e que se danem as crendices limitantes.

domingo, 14 de novembro de 2021

MEU FILHO PREDILETO



Confesso que esse é um tema bastante melindroso e escrever sobre ele é quase um desafio. Eu tenho quatro filhos, que eu saiba, e não há pai ou mãe que não se afeiçoe por um mais que os outros. Nos tempos bíblicos era quase uma Lei, o primogênito herdava a maior parte dos bens e se tornava chefe dos demais.

Nessa nossa modernidade liberal, só alguns recantos mais tradicionais ainda cultivam este entendimento, atribuindo ao filho mais velho também a responsabilidade pelo cuidado com os pais em sua velhice. De resto, só a sorte para que pelo menos um dos corações juvenis se deitem ao lado da sabedoria dos anciãos para escutar-lhes as repetidas histórias.

Eu ando fazendo as minhas escolhas já há algum tempo. Minha carteira para estacionamento em vaga preferencial já está no terceiro aniversário, antes disso já me ocupava com um plano infalível para os tempos em que as pernas deixarem de se equilibrar em cima do skate e os pés não tenham mais a comodidade dos pedais da bicicleta. Vai demorar, eu sei, mas como diz o ditado: é melhor prevenir do que ‘murmurar’!

Meus quatro rebentos andam fazendo seus planos pessoais, bem pessoais, como deve ser quando avançam pela idade adulta e vão formando suas próprias famílias. Mesmo amando incondicionalmente cada um deles e, ainda que cada um deles jure me amar incondicionalmente, sempre fica um ponto de interrogação no horizonte onde o Sol se põe.

Pelo sim, pelo não, fiz, como já disse acima, um plano infalível: Adotei filhos! Isso, filhos adotivos geralmente são mais atenciosos e costumam adotar seus pais quando estes viram criança. Há mais de trinta anos adotei a Escrita, a primogênita, esta certamente herdará minha maior riqueza, para ela deixarei todo meu talento; tem já uns três anos que adotei o Curso de Inglês, este será meu companheiro nas horas de lazer em frente da televisão assistindo filmes com som original; meu relacionamento com a Fé tem sido tumultuado, mas eu tenho fé... acredito, que esta jamais me abandonará, principalmente nos tempos difíceis.

A Escrita já me deu netos que eu tenho muito orgulho de apresentar: O primeiro, irmão siamês de muitos outros foi uma participação de dez páginas num livro de poesia, o pai, certamente é o Carlos Drummond de Andrade, talvez Vinícius de Moraes, sei lá. Depois veio o livro Josafá, este certamente é filho da Fé, concebido sem pecado original.

Agora vos apresento, com um parágrafo exclusivamente para ele, o filho mais novo, ainda nascituro, mas já totalmente formado: DOCE VENTURA! Que me perdoem os outros quatro filhos naturais, mas este é a cara do Pai. Não preciso educa-lo com o rigor social, pois não o quero adequado às regras da sociedade; também não espero nenhum retorno afetivo, este é o filho da liberdade e como tal, talvez seja o mais importante, nele o tempo deixa de existir para existir o não-tempo! Este é o meu filho amado que, muito provavelmente, não há de me amar!

Filhos, quando nascem são assim, sempre são os prediletos. DOCE VENTURA é o meu terceiro livro que estará disponível na próxima semana!

domingo, 7 de novembro de 2021

UM LUGAR NO MUNDO: NATAL

             Eu estava resistindo a escrever sobre a viagem que fiz em outubro, já me bastavam os três ou quatro textos que publiquei antes de voltar, mas, afora a caipininha bebida pela vozinha de oitenta anos no restaurante Caranguejo e as Loucuras do Mercado Imobiliário que busca convencer turistas comuns a fazer investimentos em Resorts que não existem, acho que nenhuma referência a mais eu fiz, então, aqui vão algumas curiosidades que julgo úteis de alguma maneira para a literatura.

Fundada há mais de quatrocentos anos, é de se esperar que os políticos tenham conhecimento e sabedoria suficientes para planejar adequadamente os projetos importantes para a cidade. Começando por onde se chega, o aeroporto, que ficava em Natal, relativamente próximo do centro urbano, foi substituído, por ocasião dos jogos da Copa do Mundo de Futebol, por um novinho que fica no município de São Gonçalo do Amarantes, a quarenta quilômetros de Natal! Excelente localização, para as empresas de turismo que fazem o transfer dos passageiros e aproveitam para vender pacotes de passeios.

Embarquei numa dessas Vans e fui ouvindo as histórias do guia por quase uma hora até chegar no hotel onde ficaria hospedado por catorze dias. Não demorou e as gracinhas começaram. Guias parecem ser treinados para fazer graça e animar os turistas, o de plantão, de nome Tiago, na Van do transfer, não fugiu à regra. Moreno, cabelos pretos e olhos escuros, dizia ter sido loiro, branco e olhos verdes antes de ser guia de turismo em Natal. O motivo? O Sol! Por estar muito próximo da linha do equador, o sol de Natal é mais intenso que nas demais regiões do Brasil. Taí, para quem ama a negritude, Natal é um bom lugar para a alemoada descontente!

Talvez eu ainda diga por quê, mas demorei uns três dias até fazer o primeiro passeio turístico. O porquê não tem tanta importância, o passeio, talvez. O Rio Potangi, que significa rio de camarão, é por onde os portugueses adentraram o território brasileiro no século XV. Os Potyguares, denominação dada aos cidadãos do Rio Grande do Norte, juram que o descobrimento do Brasil se deu lá, nos arredores de Natal. Esse mesmo rio, o acesso ao mar e o porto, foram entregues à Marinha dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, foi ali que os Norte Americanos instalaram a primeira base militar na América Latina. Os natalenses tem um certo orgulho disso, cá entre nós, não consigo entender o orgulho de se ter uma base das Forças Armadas gringas em nosso país, sei lá!

A praia mais famosa é a Dos Artistas, imprópria para o banho, muito poluída, quem se hospeda por ali deve procurar outras praias mais próximas, e têm! Fiquei na praia de Ponta Negra, onde o principal atrativo é o Morro do Careca, lá não se pode subir, é proibido! Me disseram que o local mais bonito para se visitar em Natal eram as praias de Pipa, eu fui. Assim como o aeroporto, Pipa também não fica em Natal, mas em Tibuaçu a oitenta e cinco quilômetros de distância. Fora esse, acho que o que mais me chamou a atenção foi São Miguel do Gostoso. Antes de chegar lá fizemos uma parada charmosa onde a BR 101 inicia, no meio do nada, ali tem um arco em homenagem a obra, desenhado por ninguém menos que Oscar Niemayer!

 Por ter permanecido isolado por muito tempo e frequentado principalmente por turistas estrangeiros, o comércio de São Miguel do Gostoso teve grande dificuldade de vender produtos para os turistas por falta de moeda corrente, daí surgiu a ideia de inventar uma moeda própria para o comércio local, o “Gostoso”, até hoje aceito no comércio local, apesar de estar em desuso, não há quem não queira tirar uma foto de uma nota valendo dez gostosos, quem não quer?

Se este texto serve de alguma maneira para a literatura, os “três dias” que demorei para fazer o primeiro passeio, e mais alguns dos catorze da viagem, gastei com três motivos em especial: Finalizar meu livro de Contos, Crônicas e Poesias que desejo publicar em breve, vagabundear pelas praias e encontrar um sujeito meio louco chamado Elairton Gehlen, que se intitula ‘escritor’. Fiz quase tudo!

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

FLORES INÚTEIS

             Hoje é dia de finados. Ontem fui ao cemitério e ele estava lindo! Era dia de Todos os Santos, uma data totalmente fora da razão humana que busca no imaginário um consolo para suas culpas e atribui aos mortos algum poder inexistente na esperança de soluções fáceis para problemas difíceis. Todos os Santos da igreja católica não são nada mais que uma tentativa de racionalizar a fé, ainda que em paradoxo com o texto básico da mesma fé que afirma não haver um sequer que seja justo, portanto Santo.

As flores do cemitério eram belas e enfeitavam cada túmulo. Eu estava lá, assentei um vaso de flores no túmulo de meu pai e outros dois para homenagear meus avós. Flores de plástico, as naturais não duram dentro de vasos e ainda acumulam água onde proliferam mosquitos transmissores de doenças. Levei minha mãe, ela sentou-se à sombra de árvores plantadas ao longo do corredor que vai da entrada até o centro, caminho percorrido por cada féretro antes de ser depositado na cova eterna. O cemitério é esse lugar, onde os mortos parecem estar eternamente vivos. Há quem tenha verdadeiro pavor de entrar ali, especialmente se for noite e mais ainda se for lua cheia!

Nenhum Santo havia ali, nem vivo, nem morto. Os melhores, claro, já haviam morrido e os piores limpavam os túmulos e depositavam flores. Ainda que Todos os Santos não sejam capazes de aliviar a culpa dos vivos, estes voltam aos bandos no dia de finados para rezar pela alma dos mortos para livra-los das agruras do Purgatório e quiçá enganar o diabo, roubando-lhe a alma do ente querido. Quem dera os mortos pudessem revirar-se no caixão e estender o braço para fora da cova com a verdade bíblica de que não existe purgatório e é totalmente inútil qualquer cerimônia após a data fatídica.

Dona Helga estava lá, aos oitenta e sete anos de idade sua principal oração é para ter uma boa morte! Não tem medo, sua fé garante que será salva, e isso parece anular todo o absurdo da existência humana. Acabei de limpar a lápide onde estão os ossos de meu saudoso pai e ela, a Dona Helga, minha mãe, me diz pela n-ézima vez que, quando ela morrer eu não vou precisar me preocupar, ela já providenciou tudo, a vaga no cemitério está garantida. Dona Helga, e todos que já não tem mais histórias novas para contar e, por isso repetem inúmeras vezes as mesmas antigas histórias, quando as contam, além de irritar as pessoas que tem a obrigação de as cuidar, dizem, mesmo nas repetidas histórias, que já viveram e tinham esperança em cada projeto de vida, em cada atitude, cada palavra de fé ou consolo, em cada trabalho voluntário, em cada tarefa comprida, cada filho criado ou produto posto no mercado, que a vida poderia fazer algum sentido. No fim, parecem ter orgulho de já ter providenciado seu próprio velório. Olho para minha mãe e me pergunto: Qual é o sentido desta vida?

Bem no meio do cemitério, a prefeitura deixou uma grande caçamba para recolher as flores inúteis, quase todas de plástico, sem vida, artificiais como a vida de quem as leva ao cemitério.

domingo, 31 de outubro de 2021

CHUVA MENSAGEIRA

Está chovendo

Esta chuva há de chegar até aí

Quando chegar

Molha tua mão

Hei de mandar com a chuva um beijo

Toma-o para ti

Põe em teus lábios

E hás de sentir minha presença

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

RUBEM BRAGA E O PREFEITO DE DOURADOS

             Não sei de onde tirei essa ideia de ler Rubem Braga, mas certo é que pedi uns livros na Amazon e tenho gasto um tempo especialmente com suas crônicas. Algumas delas, escritas há setenta anos, parecem ser destinadas ao momento atual da política em Dourados, talvez ao próprio prefeito Alan Guedes. Teria ele, o Braga, uma bola de cristal ou, sendo um imortal da Academia, esteja ainda vivo e em sua imortalidade transite por tempos futuros para escrever no passado coisas do porvir!!! Ando pensando em me candidatar a uma vaga pela imortalidade. Será o presidente da ADL me aceitaria? Assim poderíamos deixar de lado coisas como a Farra da publicidade e focar em crônicas futuristas onde, quiçá, essa dinheirama toda seja destinada aos produtores rurais familiares e o povo tenha alimentos mais saudáveis.

A crônica ‘Bilhete a um Candidato’ parece ter sido escrita pessoalmente para o Barbosinha, em 1.960!!! Atualíssima! Se o Candidato do DEM tivesse lido, talvez não perdesse a eleição. Na época da eleição eu era presidente da Associação dos Produtores Rurais da Agricultura Familiar do Alto Café, provavelmente a Entidade que mais tenha se dedicado na construção de um projeto viável para o desenvolvimento da piscicultura neste município. Queríamos discutir o projeto com o candidato, mas ele lá não foi e seus representantes diziam que já estava sobrando votos, a eleição estava ganha. Alan Guedes, foi pessoalmente, acreditando na virada. Virou!

Virou Prefeito e rapidamente levou para seu gabinete o cara que fazia a farra, da publicidade, quando o agora alcaide ainda era presidente da Câmara de Vereadores. Talvez o mestre Rubem Braga, com toda a ironia de que era capaz, dissesse ao Alan Guedes que, não sendo tão sábio quanto o prefeito, seria incapaz de apontar todas as maracutaias, mas que elas existem, sim, existem. Eu não sei, mas tem um ditado que onde tem fumaça tem fogo! O Ministério Público, se mexer nessa fumaceira, há de encontrar o braseiro ainda em chamas.

Me permita, Rubem Braga, revolver no teu passado, tão presente, e dele copiar umas ideias críticas. Certamente não hás de revirar-te no túmulo, afinal és um imortal da Academia e as tuas críticas aos poderosos permanecem atualíssimas! Como dirias, não sou tão sábio quanto nosso Excelentíssimo Prefeito, mas em meu humilde entendimento, um milhão de reais, gastos sem nenhum benefício à sociedade, seriam suficientes para custear todo o projeto da tão sonhada piscicultura em Dourados, com produção de, no mínimo, cem toneladas de peixe por ano, processados e embalados com selo do SIM- Serviço de Inspeção Municipal, para o comércio, gerando emprego e renda a dezenas de produtores rurais da agricultura familiar, além de proporcionar a proteína a preços mais acessíveis aos consumidores e ainda girar o dinheiro dentro do município, desenvolvendo o comércio local.

Pois bem, Rubem Braga, não posso dizer que a sabedoria das prioridades seja exclusividade ao Alan Guedes. Herdeiro do Tal, o atual presidente da Câmara de Vereadores, estava animado para contratar uma empresa para transmitir as sessões do legislativo e outras notícias em redes sociais que ninguém, ou quase ninguém vê, pela bagatela de uns oitocentos e cinquenta mil reais por ano, valor suficiente para instalar pelo menos quatro abatedouros de peixe, o suficiente para atender toda a demanda dos agricultores familiares do município.

Bem, não estando eu em cargo algum dessa ou daquela gestão, talvez eu não consiga mesmo entender a importância de se gastar aí uns dois milhões de reais em publicidade. Se fosse na produção de peixe, então teríamos uma crise de superprodução, é isso???

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

AS LOUCURAS NO NEGÓCIO IMOBILIÁRIO

             Já pensou em comprar um apartamento de trinta metros quadrados, num resort de luxo, por um milhão e quinhentos mil reais? Pois é, tem quem compra, e não são poucos. Esse negócio é gigantesco e já se espalha pelo Brasil à fora com a promessa de um excelente investimento financeiro! Afinal, o que um cronista tem a ver com isso?

Às vezes as crônicas servem para se fazer uma denúncia grave de um jeito bem-humorado. Rubem Braga era mestre, escrevia críticas ácidas aos governos em forma de crônica, talvez na próxima eu faça uma referência a ele. Hoje vou relatar o acontecido comigo, já pela segunda vez, quando me fizeram essa proposta imperdível de investimento financeiro. Não que eu tenha um milhão e meio de reais, se tivesse comprava uma fazenda em vez de um apartamento.

As autoridades não ligam nenhum pouquinho para esse negócio, afinal, estamos num país capitalista e liberal, nada mais justo que tirar o dinheiro das pessoas, desavergonhadamente, e receber medalhas de mérito pelo sucesso alcançado nos negócios! Funciona mais ou menos assim: As moças bonitas fazem o papel delas, ficam pela orla, atraem visitantes, oferecem prêmios se algum desavisado concordar em entrar e ver a proposta. O prêmio é real, que me perdoem os malandros milionários, mas sabendo que ia mesmo ganhar o brinde, aceitei gastar uma hora de meu tempo inútil e conhecer o projeto.

Há uns três ou quatro anos atrás quando estive em Caldas Novas, ganhei um almoço, agora o brinde foi de oitenta reais para fazer um passeio turístico. Nada mal para quem tem consciência que não vai mesmo fechar negócio milionário em uma hora de conversa. Por questão moral, antes de entrar avisei que não faria qualquer negócio, a moça deu um sorriso amigável e disse que se eu entrasse, além de ganhar o brinde, ainda a ajudaria a cumprir sua meta, o seu salário depende de quantas pessoas ela é capaz de enganar, quer dizer, convencer a ser iludido, digo, ouvir o que os representantes da empresas tem a dizer. O salário deles também depende de quantos eles conseguem enganar, quis dizer convencer a assinar imediatamente o contrato de compra e venda de pelo menos uma parte de cinquenta e duas de um apartamento de trinta metros quadrados.

A proposta não diz que tu estás comprando um apartamento por um milhão e meio. Também não diz que tu tens que assinar imediatamente o contrato. Mas, se concordares em assinar imediatamente irás pagar a bagatela de trinta mil reais, mais alguma coisa, por uma de cinquenta e duas partes, isso significa que o mesmo apartamento terá cinquenta e dois donos, cada um podendo utilizá-lo por, no máximo, sete dias por ano!

           Bendita hora que fiz o vestibular para matemática: Cinquenta e dois donos, cada um pagando trinta mil reais para ter direito a sete dias de utilização por ano, o apartamento, no fim das contas será vendido por nada menos que um milhão quinhentos e sessenta mil reais! E, ainda, o comprador terá que pagar sessenta reais por mês de condomínio, que, lógico, multiplicados por cinquenta e dois donos, dará para a empresa, a bagatela de três mil cento e vinte reais por mês em cada apartamento. É um negócio da China, quer dizer, do Brasil! E viva o liberalismo!!!!!!

CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

  Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que ...