PALAVRA DE CIGANA!
Helga Gehlen
Quem nunca consultou uma cigana para
“ver la suerte?” Elas sempre tomam das mãos, franzem o cenho e,
de alguma maneira que não entendo bem, predizem o futuro em troca de um
dinheirinho qualquer. Às vezes não recebem o dinheiro e às vezes, ainda, não
fazem nenhuma cobrança, é quando acreditam estar mesmo ‘prevendo’ o destino de
alguém. Tamanha é a convicção com que predizem os acontecimentos que não deixam
nenhuma dúvida na mente de quem quer que tenha buscado na vidente um alento ou,
quiçá, uma esperança no meio do desespero ou, ainda, um algo em que se agarrar
para um projeto de vida ou de relacionamento.
Que as palavras têm poder, não há
dúvida. Até crentes amadurecidos na fé acreditaram que Bolsonaro não ia se
aliar ao Centrão! Imagina, então, jovens adolescentes em busca de revelações
sobre o amor e, de gorjeta, a data determinada para a morte, no meio tempo os
filhos, os bens e se o marido (ou a esposa) há de amá-la, ou amá-lo, para o
resto da vida. É esse fervor dos hormônios da juventude o segredo do sucesso dessas
videntes de rua que se autodenominam ‘Ciganas’.
A maioria das vezes o destino se
encarrega rapidamente de desiludir jovens ansiosos e contabilizar o prejuízo
financeiro na conta das bobeiras onde se gasta dinheiro comprando ilusões. Não
só dinheiro, mas o tempo precioso e a energia, tão necessários para a
realização de tarefas mais úteis no desenvolvimento pessoal e profissional.
Crendices como “la suerte”, ferradura, pé de coelho, e tantas outras, são
limitantes e, às vezes matam pessoas inocentes ou tiram-lhes a perspectiva de
vida, ainda que, aos olhos deste mundo, a existência humana, seja como for, é
totalmente absurda.
Há setenta anos uma cigana fez isso
com minha mãe! Pediu para ver “a
suerte”, e viu, isto é, previu que ela teria um casamento com um homem com as
características do meu pai, teria quatro filhos, eu sou o quarto e último,
previu mais algumas coisas que se concretizaram, fazendo minha mãe acreditar
que essa cigana sabia mesmo prever o futuro. Católica de carteirinha, não via
problemas entre a fé e as crendices. Católicos são assim mesmo, não veem
problemas em buscar benzedeiras quando a igreja não é capaz de dar as respostas
e os médicos não encontram a cura ou simplesmente não atendem os mais pobres. Se
os umbandistas podem fazer culto nas igrejas e os humanos santificados podem se
tornar algum deus a quem se presta culto de adoração, por que não uma cigana
poderia ser uma profetisa?
Esta semana minha mãe completou
oitenta e oito anos de idade. Pela profecia da cigana, não chegaria aos setenta
e oito, talvez por um mau entendimento pudesse ser invertido e então, a idade
máxima seria oitenta e sete. Crente de que realmente morreria antes do
aniversário, fazia planos para o velório, encomendando isso e aquilo que
desejava para a cerimônia, pela fé, pedia uma morte sem sofrimento. Mas, com a
aproximação do aniversário, a ansiedade gerou um processo de angústia. Entre a
certeza da profecia e a incerteza da morte que parecia não cumprir a profecia,
uma senhora de oitenta e sete anos quase morreu mesmo, de ansiedade!
Festejamos seu aniversário no último
dia 18. Só o que quero agora, é que ela viva com alegria cada um dos dias que Deus tem para sua vida, e que se
danem as crendices limitantes.
Gostei.
ResponderExcluirParabéns