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sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

DOCE VENTURA


Estava pronto para soltar uma gargalhada quando viu dois olhos castanho-escuros muito próximo dos seus. A gargalhada nem se fez, mas o olhar que amiúde era expansivo procurando gente no farfalhar da festa, colou naqueles olhos castanho-escuros que se aproximavam levando consigo o rosto de pele lisa e clara, sobrancelha desenhada, cabelos loiros levemente erguidos pelo vento.

Nenhuma palavra, enquanto a mão esquerda tocava com os dedos médio e anelar suavemente a nuca, o dedo indicador e o polegar pegavam levemente na ponta da orelha. Logo sentiu o ar aquecido da respiração e a boca foi tomada por um beijo. Não tinha gosto de mel, tinha gosto de beijo. Fechou os olhos e ficou embebecido pelo beijo. O beijo entrou pela corrente sanguínea tomou conta da respiração, do sistema nervoso, assumiu o controle do cérebro e nada mais havia além desse beijo.

Aos poucos foi percebendo que não havia mais chão, suavemente iam subindo às alturas aproximando-se das nuvens. Atravessaram-na e saíram molhados para em seguida secarem pelo calor do beijo. Olhos fechados e o mundo girando lentamente ao redor. Flutuando, girando como se rolassem sobre as nuvens, às vezes pareciam estar de ponta-cabeça. E o mundo continua girando lentamente. Aí se soltam e cada um começa a dar cambalhotas para traz, para os lados, para frente. É incrível como um beijo pode anular a força da gravidade! Anula também a força do preconceito, da timidez, E o mundo que era exterior, agora está dentro dele.

De mãos dadas vão andando um pouco acima das nuvens até sua borda, então olham para baixo, o mundo iluminado está lá. Não dá para ver conflitos, nem confusão, nem trânsito. Só luzes, como estrelas. Um céu estrelado em cima, outro céu estrelado embaixo. Deram impulso e voaram como dois pássaros que flutuam na corrente de ar quente. Então ficaram de pé no meio do vácuo infinito e se beijaram. Aos poucos, como que vindo de muito longe, ouviu uma voz que o chamava: João! João! A voz foi se tornando audível e ele abriu os olhos, assustado. Que foi, João? Você está bem? Estou, respondeu. Estou tão bem como nunca poderia imaginar que algum dia pudesse estar! Eu te amo!

 

Elairton Paulo Gehlen

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