Quero falar com o gerente! Ela falou confiante de que desta
vez afrontaria o caixa do banco que recusara liberar o dinheiro. Entrou no
banco com passos firmes, olhar altivo, embraçando papéis clipsados pela mão esquerda enquanto que a direita ia adiante do
corpo com o dedo indicador um pouco acima dos demais como se estivesse pedindo
a palavra. O vestido até o meio da canela, desta vez não era colorido com
estampa de cor predominantemente vermelha, donde seu apelido: melancia.
Pois não, senhora, disse o caixa, na mesa do gerente, com
olhar sério e um sorriso contido saltitando entre as bochechas forçando os
lábios a se abrirem para os dentes. ‘A
melancia’, pensou ironicamente com o olhar firme sobre a advogada que ainda
guardava a esperança de que o gerente aparecesse.
Eu quero falar com o gerente, insistiu a douta advogada.
Ainda há pouco havia ligado para a agência para se certificar da presença dele,
viera confiante de que desta vez encontraria um aliado para seu pleito. Os
olhos quase incrédulos percorreram toda a agência bancária. Mas eu liguei há
pouco e o gerente disse que estava aqui!
Sim, respondeu o caixa, confortavelmente sentado à mesa do
gerente. Fui eu que atendi o telefone, em que posso ajuda-la? De soslaio viu os
colegas segurando o riso. Não podia rir, estava diante de uma cliente
desconcertada, olhos marejando, rosto vermelho de raiva. Da última vez que
viera, quisera sacar dinheiro de um seu cliente sem a devida documentação,
ameaçara o caixa dizendo que era advogada e que ia falar com o juiz, e
etecetera e tal. Apelou para outra atendente, nada. Agora, pelo telefone,
entendera que havia um novo gerente na agência.
Largou os papeis que trazia em cima da mesa, pensou uns
arabescos e murmurou alguma coisa como se fosse um padrão infinito que vai
muito além do mundo real. Ajuntou os papeis, deu uma volta completa sobre si,
olhou para o nada muito próximo do teto e foi embora. Não que ela fosse
islâmica ou entendesse minimamente que fosse do arabesco. Também advogava sem
conhecer minimamente da legislação e ainda assim tinha pelo menos um cliente, o
qual tentava representar, ainda que sem a documentação devida.
Mas, e o gerente? Estava em viagem e no momento era
substituído pelo caixa, seu eventual.
Elairton Paulo Gehlen