BIBLIOTECA
Diante da biblioteca
abarrotada de livros, olha vagamente para cada um, lentamente estende a mão
sobre a aldrava como a pedir licença. A luz do sol clareia a sala e um raio de
sol se debate em um quadro na parede e atravessa o vidro da estante como a
indicar um título em especial. “Minha
irmã é a Guilhermina”. Metade dos livros viera com a faculdade. Encapelado,
continuou acumulando conhecimento.
A porta aberta
da sala se associa à janela e um ar fresco renova constantemente o ambiente. O
conhecimento fica estagnado na estante. Da parede, a televisão traz notícias de
um mundo hostil. Um ataque terrorista faz o preço do petróleo disparar. O ar
entra gratuitamente pela janela. Os livros se calam na estante e a luz do sol
insiste na capa do livro. Desligou a televisão. Caixa de Pandora!
Por muitos anos cultivou acres de conhecimento com sementes
escolhidas na biblioteca. Comparou cultivares especiais com autores divergentes.
Terreno preparado na história da filosofia. Paradigmas cercando quadrados de
conhecimento para depois serem revolvidos pelo iluminismo e finalmente
contaminados por ideologias pouco tolerantes. A praga do radicalismo.
Aposentado há quase dois anos, livre das metas do trabalho,
quase esqueceu-se de estabelecer metas pessoais para a vida. ‘Fiz o que tinha
que ser feito! ’ Carreira brilhante, entrou na empresa como office boy e saiu quarenta anos depois
no mais alto cargo da diretoria. Os filhos estudados em escola particular, casa
boa, carro do ano, investimento em ações e imóveis...
Na cobertura do seu próprio prédio de quatro andares, dois
alugados, dois para sua moradia, olha há vinte minutos para a biblioteca, sem
coragem de abrir as portas de vidro que prendem o conhecimento. Aos poucos move
a mão deslocando o ferrolho, o ar renovado da sala invade os livros, o raio do
sol agora está um pouco abaixo. Os olhos, que andaram por toda estante,
voltam para a claridade: “Minha irmã é
a Guilhermina”. Encheu-se de coragem e tomou o livro nas mãos, já nem se
lembra de algum dia tê-lo adquirido. Folheou as páginas uma a uma e foi
descobrindo algo absolutamente novo: Solidariedade!
Elairton Paulo Gehlen
Excelente!!!!
ResponderExcluir