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terça-feira, 2 de outubro de 2018

BIBLIOTECA


BIBLIOTECA

 

         Diante da biblioteca abarrotada de livros, olha vagamente para cada um, lentamente estende a mão sobre a aldrava como a pedir licença. A luz do sol clareia a sala e um raio de sol se debate em um quadro na parede e atravessa o vidro da estante como a indicar um título em especial. “Minha irmã é a Guilhermina”. Metade dos livros viera com a faculdade. Encapelado, continuou acumulando conhecimento.  

A porta aberta da sala se associa à janela e um ar fresco renova constantemente o ambiente. O conhecimento fica estagnado na estante. Da parede, a televisão traz notícias de um mundo hostil. Um ataque terrorista faz o preço do petróleo disparar. O ar entra gratuitamente pela janela. Os livros se calam na estante e a luz do sol insiste na capa do livro. Desligou a televisão. Caixa de Pandora! 

        Por muitos anos cultivou acres de conhecimento com sementes escolhidas na biblioteca. Comparou cultivares especiais com autores divergentes. Terreno preparado na história da filosofia. Paradigmas cercando quadrados de conhecimento para depois serem revolvidos pelo iluminismo e finalmente contaminados por ideologias pouco tolerantes. A praga do radicalismo. 

        Aposentado há quase dois anos, livre das metas do trabalho, quase esqueceu-se de estabelecer metas pessoais para a vida. ‘Fiz o que tinha que ser feito! ’ Carreira brilhante, entrou na empresa como office boy e saiu quarenta anos depois no mais alto cargo da diretoria. Os filhos estudados em escola particular, casa boa, carro do ano, investimento em ações e imóveis... 

        Na cobertura do seu próprio prédio de quatro andares, dois alugados, dois para sua moradia, olha há vinte minutos para a biblioteca, sem coragem de abrir as portas de vidro que prendem o conhecimento. Aos poucos move a mão deslocando o ferrolho, o ar renovado da sala invade os livros, o raio do sol agora está um pouco abaixo. Os olhos, que andaram por toda estante, voltam para a claridade: “Minha irmã é a Guilhermina”. Encheu-se de coragem e tomou o livro nas mãos, já nem se lembra de algum dia tê-lo adquirido. Folheou as páginas uma a uma e foi descobrindo algo absolutamente novo: Solidariedade!

 

Elairton Paulo Gehlen

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