O BAILE
Passou como uma
flecha! Um raio! Não sei, passou, agora não tenho mais saudades. Um gato vive
até vinte anos e eu já tenho sessenta. Quando ele, o gato, estava velhinho eu
ainda bebia demais e me entorpecia em baforadas que hiperinflaram meus pulmões.
A teoria da relatividade geral já tinha sessenta anos quando eu ainda tinha
vinte. Einstein só tinha trinta e seis quando escreveu a teoria, mas já tinha
morrido enquanto eu bebia e fumava. Tudo relativo.
Eros se deleita com a imortalidade da
endeusada Psyqué! O dia amanhece e eu vou tratar os ferimentos pelo corpo. A
moto não parou no trevo. Psyqué é mais linda que Afrodite. A cabeça pensa pelos
hormônios. A testosterona gera eletricidade emocional. A moto não anda mais, o
braço está todo ralado e o coração partido. Quando se tem vinte, tudo é
relativo.
Bem que o Cupido
poderia estar disponível nesse dia. Ela era muito linda e tinha dois anos menos
que eu. O palco se esparrama em ondas deliciosas feitas monção encharcando o
espírito. Da alma proliferam sentimentos que o coração sente, mas a razão
duvida. Um turbilhão de pessoas rodando feito estrelas cintilantes num céu
azulado e brilhante. Uma estrela brilha mais que as outras. Sirius estava mesmo
a oito bilhões de anos-luz. Só Eros para lançar a flecha. Estava muito ocupado
endeusando Psyqué!
O dia já irradiava
seus primeiros raios, insinuando uma claridade a qualquer momento. A estrela
mais brilhante guarda sua luminosidade para outra noite. Vou transportando uma
carga imensa de nicotina nos pulmões, os olhos mal identificam a sinalização da
rodovia. Tem uma placa informando... O dia não deveria amanhecer nunca mais. Se
Hesíodo contasse, minha história seria diferente!
A música não para e o
salão dando voltas e voltas arrastado por pares que se seguram e se soltam. Tomo
meu arcabuz e vou lutar. Mais um copo, só mais um. E um cigarro. Derrogadas as
leis de trânsito eu guio a moto. O ronco do motor acelera o coração. Tem uma luminosidade
piscando ao redor do capacete. Sirius inalcançável. Sentimentos mortos. Fogo
fátuo.
Elairton Paulo Gehlen
Parabéns amigo!!!! E onde eu estava esse tempo todo que não sabia que tinha um amigo poeta/escritor?
ResponderExcluirAmei.