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terça-feira, 25 de setembro de 2018

O BAILE


O BAILE

 

 

Passou como uma flecha! Um raio! Não sei, passou, agora não tenho mais saudades. Um gato vive até vinte anos e eu já tenho sessenta. Quando ele, o gato, estava velhinho eu ainda bebia demais e me entorpecia em baforadas que hiperinflaram meus pulmões. A teoria da relatividade geral já tinha sessenta anos quando eu ainda tinha vinte. Einstein só tinha trinta e seis quando escreveu a teoria, mas já tinha morrido enquanto eu bebia e fumava. Tudo relativo.

 

        Eros se deleita com a imortalidade da endeusada Psyqué! O dia amanhece e eu vou tratar os ferimentos pelo corpo. A moto não parou no trevo. Psyqué é mais linda que Afrodite. A cabeça pensa pelos hormônios. A testosterona gera eletricidade emocional. A moto não anda mais, o braço está todo ralado e o coração partido. Quando se tem vinte, tudo é relativo.

 

Bem que o Cupido poderia estar disponível nesse dia. Ela era muito linda e tinha dois anos menos que eu. O palco se esparrama em ondas deliciosas feitas monção encharcando o espírito. Da alma proliferam sentimentos que o coração sente, mas a razão duvida. Um turbilhão de pessoas rodando feito estrelas cintilantes num céu azulado e brilhante. Uma estrela brilha mais que as outras. Sirius estava mesmo a oito bilhões de anos-luz. Só Eros para lançar a flecha. Estava muito ocupado endeusando Psyqué!

 

O dia já irradiava seus primeiros raios, insinuando uma claridade a qualquer momento. A estrela mais brilhante guarda sua luminosidade para outra noite. Vou transportando uma carga imensa de nicotina nos pulmões, os olhos mal identificam a sinalização da rodovia. Tem uma placa informando... O dia não deveria amanhecer nunca mais. Se Hesíodo contasse, minha história seria diferente!

 

A música não para e o salão dando voltas e voltas arrastado por pares que se seguram e se soltam. Tomo meu arcabuz e vou lutar. Mais um copo, só mais um. E um cigarro. Derrogadas as leis de trânsito eu guio a moto. O ronco do motor acelera o coração. Tem uma luminosidade piscando ao redor do capacete. Sirius inalcançável. Sentimentos mortos. Fogo fátuo.

 

 

Elairton Paulo Gehlen

Um comentário:

  1. Parabéns amigo!!!! E onde eu estava esse tempo todo que não sabia que tinha um amigo poeta/escritor?
    Amei.

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