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terça-feira, 10 de junho de 2025

LISTA DE DESEJOS




Uma lista de desejos, quem não tem? Um carro novo, sim esse é o primeiro da lista dos desejos de qualquer que não tenha a menor condição de comprar um carro novo! Uma casa com uma bela garagem para o carro novo também entra na lista, e daí logo pensamos na Caixa Econômica Federal e imediatamente nos lembramos do Lula e do Minha Casa Minha Vida e sonhamos com uma dívida que durará trinta anos e só vai acabar quando realizamos outro sonho da lista dos desejos: aposentadoria. Mas, daí nos lembramos do Temer e da reforma da previdência que nos tirou o direito de aposentadoria em vida e vamos trabalhar até morrer. Não posso dizer que morrer seja um item da lista dos desejos, mas que possamos viver dignamente até morrer, isso é seguro, está em todas as listas, ainda que os liberais façam de tudo para que não nos lembremos nunca deste item.

Essa lista desesperadora de desejos simples e impossíveis às vezes nos faz desistir de ter uma lista de desejos, pelo simples fato de o impossível ser impossível. Semana passada eu estava conversando com um amigo meu chamado Júlio, ele é um desses desistentes, disse ter feito a lista e depois de muito chorar achou por bem jogar a lista no fogo que não se apaga e, de joelhos em terra, levantou as mãos para o Céu e clamou ao Supremo pelo impossível, e foi nesse exato momento que eu cheguei. “Você ganhou na loteria e veio me dar um carro novo!” Ele olhava para mim e eu pude perceber uma auréola luminosa ao redor da sua cabeça. Foi nessa hora que eu percebi o quanto a fé é capaz de mover montanhas, e a realidade que é mais dura que as rochas que seguram a montanha, é capaz de mover a fé!

Eu disse que sim e ele imediatamente confirmou o milagre e ajoelhado outra vez pediu que o Supremo fosse benévolo o bastante para completar a lista que agora ardia no fogo eterno. Daí eu me obriguei à mais dura tarefa que um homem sem condições de dar um carro novo de presente pode se obrigar e disse-lhe que não, eu não ganhei na loteria e não vim para dar-lhe um carro de presente. “DROGA”, ele disse, “Eu mandei a lista dos desejos para o inferno e as minhas orações para o Céu, agora já não tenho nada”.

Não posso dizer que a minha visita ao amigo Júlio foi aprazível, não pude consolá-lo em sua aflição, também não fui irresponsável de dar-lhe a esperança de milagres dessa natureza. Por pouco que não o mandei dar uma oferta vultosa à uma dessas igrejas que prometem o milagre da prosperidade, mas achei melhor me calar, ele já tinha se decepcionado o bastante, não precisava de mais uma decepção.

Em casa, depois de estacionar meu carro usado, na garagem da casa financiada pela CAIXA, inevitavelmente fiz a minha lista dos desejos. Considerei os três primeiros itens cumpridos e tomei a primeira cerveja para comemorar que já tenho um carro, uma casa e estou aposentado. Pensei corajosamente em acrescentar MORRER na lista e me dar por satisfeito, mas daí lembrei-me que antes, talvez eu pudesse ainda realizar alguma coisa útil, pensei de novo, e de novo e, depois de pegar a segunda cerveja escrevi: “Ter sempre cerveja em casa”. “Ótimo”, pensei, “agora só falta... não, morrer ainda não, se eu vou ter sempre cerveja em casa, então melhor viver bastante”.

Escrevi na lista: “Férias”, mas pensei: como pode um aposentado que não trabalha tirar férias? Não me dei por vencido e pensei em o que contém as férias, logo me veio à mente uma viagem, e esta contém passeios, e estes contêm praia e trilhas, estes contêm companhia, esta contém amizade e esta finalmente contém o desejo das férias: Amor! Sim, mesmo sendo aposentado eu desejo tirar umas férias!

Grifei cuidadosamente esse item da lista e me lembrei do Júlio, ele á professor, certamente estará de férias em julho. Liguei para ele, minha voz estava meio embargada depois da quinta cerveja, mesmo assim acho que me fiz entender, pois ele disse: “Agora entendi, todos os itens da lista parecem conter subitens que sempre levam ao amor. Vou ligar para a Mariele e convidá-la para viajar comigo em julho, daí vou pedir ela em casamento. O que eu boto na lista: Férias, viagem ou casamento?”

Não sei o que ele fez, eu por mim deixei só férias, por enquanto.

sábado, 17 de maio de 2025

MUNDOS PARALELOS

 



            Tem pelo menos um louco que é lúcido neste nosso universo, mas que fala umas coisas que parecem umas loucuras, todavia, essas coisas que parecem loucura talvez tenham algum fundamento científico, que é o que ele diz, só que não havendo comprovação, são apenas teorias especulativas da ciência que, por não ter outra atribuição para os cientistas, deixa-os fazer elucubrações acerca de universos paralelos.

O cara se chama: Max Tegmark, ele é um cosmólogo sueco e desconfia, confiando muito, que existam pelo menos quatro níveis de universos paralelos onde a realidade pode ter diferentes formas de existência. Tem um outro carinha que também desconfiava confiando isso, ele se chamava Stephen Hawking. Quem sou eu para duvidar?

Para dizer bem a verdade, eu acredito piamente na existência desses mundos paralelos. E eles são bem visíveis aqui no Brasil, veja o caso da CBF-Confederação Brasileira de Futebol, que acabou de contratar um treinador pelo salário de R$ 5.000.000,00 de reais por mês, mais alguns penduricalhos como uma mansão no Rio de Janeiro, diversas passagens aéreas para a família ir o voltar da Europa, e outras coisas mais. O futebol brasileiro é mesmo um universo paralelo, aqui as casas de apostas são as patrocinadoras dos times de futebol e pagam prêmios para quem acertar o resultado do jogo. Para mim, isso não tem o menor sentido!

Supondo que futebol seja só uma tese, então seria bom outro caso parecido para confirmar ou negar a tese. Vamos pensar na política, é ou não é um universo paralelo? O Lula governa o Brasil no terceiro mandato e jura que o Partido a que pertence é socialista, mas foi nos governos petistas que os bancos registraram os maiores lucros da história do sistema financeiro nacional! Os bolsonaristas juram pelo deus do Malafaia que a Terra é plana e os Deputados da estrema direita estão propondo uma Lei que garanta, por via legal, que os criminosos que invadiram e destruíram o patrimônio público, são inocentes, tornando a ilegalidade legal. O que seria um absurdo, se não existissem universos paralelos!

Às vezes eu penso que estou vivendo em um desses universos paralelos. Tenho sentimento tão diferentes e percebo a vida de uma forma tão estranha que parece que a realidade à minha volta não faz nenhum sentido. Daí lembro-me dos existencialistas, mas o existencialismo de Sartre, Camus, ou ainda, Heidegger, Kierkegaard ou até mesmo Nietzsche não dão respostas, porque o não-sentido da vida é para a realidade do meio onde vivo, mas não para o meio onde existo, esse paralelismo da existência da vida e da alma.

Hoje é sábado, um dia comum, e o meu universo é Dourados. Fazer o quê?

domingo, 11 de maio de 2025

TEM VALOR O ESCRITOR LOCAL?

 



Parte da minha pequena biblioteca é dedicada aos escritores locais, e quando digo ‘locais’ isto inclui os de outras cidades ou estados, desde que sejam meus amigos, irmãos, netos, etc. Esses escritores estão próximos demais para que eu os imagine como super-heróis ou de uma inteligência inalcançável. São, também, humanos demais, eu os vejo de tempos em tempos, e isso os torna reais demais para que eu os imagine como sobrenaturais, dotados de poderes divinos ou donos de uma cultura só acessível aos deuses do olimpo.

Escritores assim costumam ser relegados a um segundo plano quando pensamos em adquiri um bom livro para ler ou até mesmo para deixar sobre a mesa da sala como propaganda de nossa cultura inexistente. O imaginário popular parece considerar mais importante o que foi escrito na Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Rússia ou em algum estado brasileiro onde os famosos publicaram suas obras e a indústria fez o papel de as divulgar e distribuir. Esse processo industrial é parecido com o que nos faz comprar Bombril, Brahma, vinho do porto. As grandes editoras lançam e comercializam poucos autores para faturar muito, é o mesmo processo dos supermercados onde um pouco mais de uma dezena de conglomerados controlam o comércio de quase todos os produtos, e nós na maioria da vezes, os preferimos aos dos micro produtores locais.

É certo que às vezes, nós mesmos, os escritores, decepcionamos o nosso público. Esquecemos que eles não têm nenhuma obrigação de saber que o que estamos produzindo é diferente daquilo que eles imaginam que vamos escrever, e eles não tem nenhuma obrigação de saber que nós temos a liberdade de escrever sobre o que estamos pensando. Essa liberdade de produzir um texto é para os deuses da literatura que estão escondidos atrás das mídias, não para as pessoas reais que encontramos nas ruas e que nos cumprimentam com um bom dia. Para eles temos que ser como Vinícius que bebia cerveja no Bar Veloso, em Ipanema, no Rio de Janeiro, quando escreveu Garota de Ipanema vendo Helô Pinheiro passar pela rua em direção à praia.

Todos que conheciam Vinícius compravam seus livros porque sabiam que ele iria escrever poesias falando de amor. As suas poesias e as suas crônicas estavam estampadas nos jornais. O que publicam as mídias hoje? Fake News, sensacionalismo, publicidade enganosa, notícias comerciais, matérias pagas, jogos de azar e, de vez em quando, literatura! “Ah, mas eu vejo muita literatura!” Sim, de autores estrangeiros ou nacionais vinculados a empresas de marketing.

Escrevi esse texto porque estou revoltado ou por que bebi muita cerveja? Às vezes quando tomo umas a mais os pensamentos voam direto para o futuro ou para o passado ou ambos ao mesmo tempo e eu fico sem controle. Me apaixono e desapaixono em uma fração de segundos. Penso na vida e na morte e nos autores locais que se esforçam inutilmente por vender suas obras e, por fim, faço planos de passar as férias de inverno na praia com as minhas reticências.

Aproveito a deixa do autor deste texto, que sou eu mesmo, para fazer a minha autocrítica. Mesmo tendo lido com frequência os autores locais, que são meus amigos, quando faço referência a algum autor em meus textos, tenho dado preferência aos ‘estrangeiros’. Mas, agora, não tenho outra opção que não seja confessar: Dourados tem grandes escritores. A começar pelo Nicanor Coelho, que pessoalmente eu não gostava, mas ‘Vida Cachoeirinha’ é uma obra a ser lida! As poesias da Heleninha de Oliveira, da Odila Lange e do Marcos Coelho, só para citar alguns, não podem passar em branco. Em junho tem a quinta FELIT- Feira da Literatura de Dourados e umas dezenas de autores locais estarão por lá para provar que nossa literatura é tão ou mais agradável que os produtos industrializados pelas grandes editoras.

Eu fico feliz que o computador tem um ícone que salva o que já se escreveu, assim eu posso deixar para continuar o texto amanhã. Agora estou tomado por muitas reticências, meus pensamentos estão em Bombinhas e eu vou abrir mais uma cerveja.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

É POP!

 




O Papa é um leão, o décimo quarto da história da Igreja Católica e eu estou aqui preocupado com o Ronaldo, o gatinho que sumiu daqui de casa há uns três dias, menos tempo que isso foi necessário para que os Cardeais trancados à chave escolhessem o Leão que os guiará até que a morte os separe. O Ronaldo só comia, bebia e dormia, agora sumiu. Morreu?

Tem coisas, ou pessoas, que somem porque morrem, como o Papa Francisco, outras simplesmente somem, como o Ronaldo, mas também tem aquelas que deixam de falar com a gente como se a vida tivesse pedido um intervalo de tempo para o descanso. Há uma semana que a saudades é uma reticência em minha vida.

Os Papas são todos POP! Até o Bento XVI, aquele que comandou uma igreja manchada pela corrupção e pedofilia e não foi capaz de tomar providências para confissão dos pecados, sim, até Bento XVI era ovacionado na Praça São Pedro em cada suntuosa aparição dominical. O Ronaldo, nosso gatinho, não é castrado e de vez em quando some daqui de casa, certamente para comer umas gatinhas no cio, depois ele volta como se nada tivesse acontecido, come a ração, toma água e dorme o dia todo com a mesma cara de santo que uma leva de padres católicos faziam depois de comer os coroinhas. Até quando a Igreja Católica vai proibir os Padre de se casarem? Pedro, que a Igreja tem orgulho de apresentar como o primeiro e mais exemplar Papa, era casado. Enquanto escrevo esta crônica, a saudades, em forma de reticência, grita um silêncio ensurdecedor no meu WattsApp.

A eleição de um Papa é um show! Parece Copa do Mundo.  Transmissão ao vivo, expectativa pelo gol, quer dizer, pela fumaça da chaminé da Capela Sistina, torcida organizada em várias partes do mundo, banca de apostas e, claro, o jogo, este sem a presença da torcida e nem da imprensa. É no Conclave, com chave, em total segredo e com votos de confidencialidade, que os cardeais, cento e trinta e três juízes, decidem o resultado do jogo não jogado. É tudo no tapetão! Não tem Superior Tribunal do Papado para julgar o processo eleitoral, não tem fiscais de urna, não tem imprensa para denunciar casos de corrupção, as cédulas são todas queimadas, não sobra nada. A torcida fica sabendo que o jogo acabou quando a fumaça branca sai da chaminé. Acho que o Ronaldo ainda não sabe quem é o Papa porque ele está sumido há três dias e eu estou aqui escrevendo esta crônica pensando nas reticências que a saudades vem deixando desde domingo passado.

À minha frente, na parede, está um Drummond que comprei na Feria de Literatura de Dourados ano passado. O quadro foi pintado ao vivo durante a feira, pela artista venezuelana Sthefhanny, e eu fico aqui me perguntando: O que o Drummond escreveria sobre o sumiço do Ronaldo, exatamente durante o Conclave que elegeu um Leão para o Papado? E a minha cabeça só pensa nas reticências que a saudades produz desde domingo passado. Eu não sei quais são os planos do Leão para a Igreja Católica, só sei que eu tenho planos para as férias de julho, eu quero ir para Bombinhas, em Santa Catarina, mas tudo depende das reticências...

quarta-feira, 7 de maio de 2025

RAQUEL DE BOA E A SANTA COMPADECIDA

 



Quando cheguei na Praça o dia se vestia de noite e o céu espionava o palco de concreto com os olhos de lua. Os olhos brilhavam as luzes e o palco estava iluminado de arte em potencial. A negritude se vestia de muitas cores anunciando espetáculo de fé! Uma pequena multidão já bebia a negritude musical e o relógio dizia que sim, daqui a pouco vai ter teatro.

Era teatro aquela história contada por verdade ou era verdade aquela história contada num teatro? Era arte! Se a história era verdadeira não sei, falava de morrer e viver, de coroar a Santa. Nem todo mundo acredita que Santa é Santa mesmo. Tem quem garanta que a Santa que já morreu voltou a viver, mas ninguém garante que depois de morrer já viu a Santa lá do outro lado da vida. Ah, desculpe! Tem alguém sim, a Raquel de Boa, ela morreu e viveu e viu a Santa, eu vi, ela morreu na peça de teatro e foi coroar a Santa lá do outro lado da vida.

Pensei em morrer também quando a Raquel de Boa reviveu, mas daí lembrei-me que já morri algumas vezes no teatro da vida real. Quatro dias depois da peça ainda faço as contas de quantas vezes morri e ressuscitei. Quase morro só de pensar em cada morte! Melhor não fazer as contas. Corro com a coroa corroída em busca da morte definitiva esperando os aplausos de quem sempre me ridicularizou.

Fechei os olhos por um instante, o suficiente para ver uma multidão de Santos: homens, mulheres e crianças sendo assassinadas na Terra Santa! Mais de cinquenta mil, mortos por um povo que se diz Povo de Deus: Israel! O inferno acrescentou combustível às suas labaredas de um fogo que não se apaga na Palestina. Uma fábrica de Beatos! Quis perguntar para a Raquel de Boa, ela que já morreu e foi pro Céu coroar a Santa, o que ela acha que seria se todos os assassinados por Israel revivessem no Céu, como ela, e fossem diante da Santa contar o acontecido, mas não pude porque já faz quatro dias que ela voltou para São Paulo. Então, alguém me ajuda, por favor: Se mais de cinquenta mil pessoas assassinadas no genocídio promovido por Israel se apresentassem diante da Santa, o que ela diria?

Cansei de pensar, agora vou dormir e sonhar com a Raquel de Boa coroando a Santa Compadecida!

 

quarta-feira, 23 de abril de 2025

AIRBNB .......

 



Estou de férias, ah, que delícia! Não estou em um resort, mas ando assim, de airb em bnb, matando saudades e construindo sonhos. Viagens eternas que duram o quanto que tem que durar, que eternidade não é a infinitude do tempo, mas o tempo infinito do momento onde se quer estar. E vão-se os passados, cada vez mais distantes, afundando-se nos buracos escuros da alma. Em seu lugar fazemos um novo caminho, cheio de vida e calor, deixamos rastros de felicidades onde sonhos buscam alimentos futuros e o presente se espelha no olhar quase distraído que repousa confortavelmente sobre a beleza do amor.

Choquei filhotes de filhota em São Bento do Sul onde se construiu um ninho acolhedor de patinhos feios, todos muito lindos e queridos. Ah, quisera o Supremo que eu pudesse ficar chocando uma eternidade a mais que a eternidade chocada! Mas era preciso que os sonhos continuassem se alimentando dos rastros deixados no asfalto, então buscamos refúgio na belíssima Curitiba. Quatro dias sedimentando caminhos e regando sonhos de família e Chopp em dobro e terapia do medo. Não tenho mais medo a não ser do medo do medo. Ainda tenho medo de ter medo outra vez de algo que agora não tenho, medo de criar novas cicatrizes na alma. Mas tudo se acalma quando um abraço se enlaça em meus pesadelos e faz o coração derreter saudades.

O tempo e o espaço já não existem, o presente é uma fração infinitesimal tendendo a zero, não há passado, não há futuro, é a eternidade em infinitas frações de bilionésimos de segundos, e o espaço, quem pode explicar que mil quilômetros agora são uma distância absolutamente inexistente? Sim, milagres existem, um abraço anula o tempo e o espaço para se tornar eterno enquanto dure. No nada da existência racional, o sonho ocupa todos os espaços e faz do tempo a eternidade que quiser.

O sonho enche as malas porque amanhã tem alimento em rastros de saudades, mais um bnb. Em Morretes tem uma árvore da vida plantada há exatos dois anos, a primeira de muitas esparramadas pelo Sul do Brasil. Agora vamos colher os frutos, certamente seus galhos se estendem até o Chalé que alugamos para acomodar sentimentos e sonhos. Não vamos levar os medos, não há lugar para eles, nem no bagageiro, nem no banco do passageiro, o medo que espere até que a eternidade o consuma no fogo que não se apaga.

Quatro dias para uma eternidade. Mas, e depois? Depois? Não há nada depois da eternidade! A vida é uma eterna fração infinitesimal.

sábado, 12 de abril de 2025

Eu..................

 



 

Nasci num dia de outubro

Nem sei se era noite ou se era dia

Nasci e já quase morria

Era de dia? estava tudo escuro.

 

Nasci de novo quando mal sabia

Que a vida podia ser de verdade

Naquela tenra e inocente idade

Não tinha lugar, nem tempo, que a vida valia

 

Nasci outra vez quando me escondia

Os grandes me davam muito medo

E os pequenos eram grandes demais

Para conhecer os meus segredos

 

Queria ser gente quando nasci terceira vez

Mas gente tem identidade e eu não tinha

O mundo me via, mas não enxergava

Eu via o mundo, mas nele eu não estava

 

Nascer e renascer parece o destino

Nele a gente sonha que vai ser feliz

Mas a felicidade passa quase por um triz

E o sonho vira um longo e lento desatino!

domingo, 6 de abril de 2025

NÃO ERA LIBERDADE?

 





Nos meus tempos de estudante universitário (faz tempo, hem!), eu queria escrever uma tese sobre liberdade, e eu tinha algumas referências bem importantes para isso, uma delas era a experiência de Summerhill da Inglaterra descrita no livro de A. S. Neill, Liberdade Sem Medo. Outra foi o filme Sociedade dos Poetas Mortos. Eu já era professor nessa época, e também militante do Partido Comunista Brasileiro, alguns anos depois me tornei sindicalista, em todos esses ambientes lutávamos por uma única causa: Justiça Social. Para nós, liberdade viria como consequência da justiça social e da igualdade de oportunidades para todos.

Na década de noventa eu fiz muitas palestras onde analisava a conjuntura política e econômica do nosso país, para isso tinha como referência, além dos dados oficiais da economia e da política, o estudo dos clássicos de economia. Um deles, talvez o mais importante livro sobre esse assunto, escrito ainda no século dezoito (1776), foi A Riqueza das Nações, de Adam Smith. Para Smith, o mercado deveria funcionar sem a intervenção do Estado, pois era guiado por leis naturais dadas pela livre concorrência que estabilizaria os preços pelo equilíbrio entre a oferta e a procura dos produtos disponíveis no mercado. Foi dali que surgiu o termo Liberalismo.

Agora estou aposentado e já quase não leio mais os clássicos de economia, prefiro literatura e poesia, e troquei a luta política partidária e sindical por relacionamentos mais fraternos. Não me importo mais se meus amigos são de direita ou de esquerda, eu os quero como amigos, aos poucos vamos compreendendo que nem direita e nem esquerda foram capazes de promover a justiça social e a igualdade de oportunidades pela qual lutávamos. Pela televisão assistimos, ambos embasbacados, os “liberais”, liderados pelo presidente dos Estados Unidos, afrontar o liberalismo com a mais bruta intervenção do Estado na economia que já se viu desde a quebra da Bolsa Internacional de Mercadorias de Nova York em 1929.

Eu diria que nestes tempos atuais eu sou livre. Faço escolhas para minha vida como faziam os jovens de Summerhill, posso ver o mundo como via o professor John Keating (Robin Williams) e seus alunos quando ficavam em pé sobre as carteiras ou quando recitavam poesias nas cavernas. “Carpe Diem. Aproveitem o dia garotos. Façam suas vidas extraordinárias.”  O capitalismo nunca foi o que jura ser!

Talvez Albert Camus estivesse certo! A existência não tem nenhum sentido. Os Hippies já nos deram a mais bela lição de vida, mas nós somos mesmo homens de dura cerviz!  Buscamos no capitalismo uma estabilidade financeira que nunca vem, acreditamos numa meritocracia que dá vantagem aos ricos e seguimos fielmente a cartilha dos liberais que nos sufocam com protecionismo quando lhes convêm. E, para finalizar, somos capazes de odiar aqueles que lutam por nossos direitos enquanto declaramos amor aos que nos exploram e nos excluem.

Estou assistindo uma série na amazona intitulada The Chosen (Os Escolhidos). Faz algum sentido?

quinta-feira, 27 de março de 2025

O COMBUSTÍVEL QUE QUEIMA O DESTINO

 



Quando minha mãe era ainda uma adolescente, uma Cigana leu o seu destino e vaticinou que ela morreria antes de completar setenta e oito anos de idade. Quando Dona Helga celebrou o septuagésimo oitavo aniversário e a morte não veio, pensou que talvez tivesse se enganado e, invertendo os algarismos, em vez de setenta e oito, a data fatídica seria, então, oitenta e sete. Por mais de setenta anos o fogo desse vaticínio queimou a vida de uma mulher religiosa. Como pode uma superstição ser mais ardente que uma fé em um Deus todo poderoso? Isso eu não sei, o que eu sei é que no dia 18 de novembro de 2021 nós celebramos como bolo e cerveja a vitória da vida sobre a estupidez.

A vida sempre vence, até que a morte lacra o destino final. Até lá, há sempre um fogo queimando o combustível do destino. E não importa por quanto tempo ou quão rápido queima o combustível, importa mesmo é quanto de combustível temos e, principalmente quanto dele vamos queimar até descobrir uma nova fonte de energia que nos mova para uma nova direção. O Sol que nos queima a pele a cada dia está a aproximadamente 150 bilhões de quilômetros de distância, queima tão forte que a luz solar demora menos de dez minutos para percorrer essa distância e iluminar nossos passos em rumo ao destino que nos espera enquanto queimamos uma energia que não sabemos muito bem de onde vem.

Às vezes o combustível é feito de esperança.  Enquanto temos combustível, vemos aquilo que esperamos ou desejamos. Esperança é um combustível poderoso que nos leva a distâncias incríveis, mas às vezes acaba antes de alcançarmos o ponto de chegada e ficamos derrotados pelo meio do caminho estorvando outros que desejam correr a mesma corrida e ora um ora outro se enrosca em nossa desfortuna e desperdiça, por nossa conta, o precioso elemento impulsionador da vida.

 Às vezes é a fé que enche o tanque da alma, delineando caminhos de salvação ou perdição. Movidos pela fé podemos mover montanhas ou alimentar demônios. Pela fé ouvimos a voz do Senhor num cicio do vento ou a do pastor ganancioso em ensurdecedores alto-falantes. Lá nos postos de combustíveis dizemos que o combustível batizado gera lucros para os donos e atemoriza os consumidores, em muitas instituições os fiéis são batizados para gerar lucros pelo terror do inferno, em outras são abastecidos do mais precioso combustível que leva ao Céu.

Que vasta variedade de combustíveis nos abastecem a cada dia! Amor, ódio, poder, ganância, humildade, desejos, paixões, medos, ansiedade, ... . Em 66 anos me abasteci de quase todos esses tipos de substâncias que queimamos para produzir calor emocional, cada um me conduzia para um destino e eu acabei no meio do caminho olhando para os lados na esperança de achar um atalho que possa me levar a um porto seguro. Que tamanha multidão se encontra comigo!

Um minuto-luz é a distância que a luz do Sol percorre em 60 segundos e equivale a aproximadamente 18 milhões de quilômetros. Já não tenho mais muito tempo, mas se eu tiver pelo menos um minuto-luz do combustível da fé verdadeira eu posso chegar ao Céu da minha existência. Quem vem comigo?

quarta-feira, 19 de março de 2025

SEM VONTADE DE ESCREVER

 



Às vezes perco totalmente a vontade de escrever. Para que servem as palavras? Elas são ditas ao vento e colhidas de um modo esdrúxulo, quase incompreensíveis e transformadas em textos supostamente bíblicos nas bocas de um sacerdócio estapafúrdio.

As palavras tinham valor quando eram seletivas e dominadas por intelectuais que se davam ao respeito. Mas, desde os tempos Pré-Socráticos elas se degeneram em falsas composições textuais a serviço de uma galera prostituta em busca de poder, riqueza e reconhecimento. Bastou à Sócrates questionar os Sofistas, os Teólogos e os valores gregos e darem-lhe uma dose mortal de Cicuta. O maior filósofo da história da humanidade não escreveu uma única palavra que fosse editada em um livro, tudo que se tem são as anotações do seu pupilo Platão.

A religiosidade que mata por causa da palavra já existia, como se vê, há cinco séculos antes de outro filósofo ser morto cruelmente pela interpretação distorcida da palavra que deveria salvar. Só o que se tem das suas palavras são referência a alguns rabiscos que fazia na areia da praia quando intercedeu pela vida de uma prostituta que talvez nem soubesse ler e seria apedrejada pelos conhecedores das falsas interpretações do texto bíblico. O filósofo da paz e do amor ao próximo tornou-se presidiário e foi torturado até a morte, morte de cruz, numa condenação pública patrocinada pelos líderes religiosos.

Daqui a pouco vamos celebrar a Páscoa e as ruas estão cheias de líderes religiosos gritando por anistia para um Barrabás tupiniquim. Sim, Barrabás, o original, era um salteador, ladrão e assassino, em seu favor gritaram os religiosos, aqueles que tinham conhecimento da palavra escrita. Há mais de quatrocentos anos antes de Cristo, um jovem ‘corropmpido’ pelas ideias do mestre Sócrates fundou a Academia mais importante de estudos universais, a Academia Platônica, considerada a primeira universidade ocidental. O pensamento mais famoso de Platão refere-se ao Mito da Caverna’, nela, as pessoas acreditavam que a sombra projetada na parede era a realidade da vida delas. Essas mesmas sombras são as Fake News atuais.

Para que servem as palavras? O Trump acabou de apresentar um projeto maravilhoso de construção de um RESORT na orla do mar mediterrâneo, um lugar paradisíaco para os milionários terem laser e luxúria à custa dos miseráveis. E por falar em miseráveis, para viabilizar o projeto é preciso expulsar daquele lugar todo um povo a quem se recusa historicamente o direito a uma pátria. Fundamentado na palavra de que Jerusalém será restaurada sob o domínio de Israel, acredita-se que não há nenhum problema como o genocídio promovido sobre um povo miserável e indefeso. Mas, tem só um problema, a Palavra diz que Jerusalém não será a mesma, a nova Jerusalém, descrita na Palavra, será realmente nova e descerá do Céu. O propósito dessa guerra esdrúxula é destruir o povo palestino e dar lugar à construção de um Resort para milionários e bilionários que nada tem a ver com as profecias bíblicas.

Mas, para que servem essas palavras que escrevo? Nada! São completamente inúteis.

domingo, 12 de janeiro de 2025

ACAMPAMENTO É UMA DOIDEIRA!!!

 


 


A ideia de acampar, por si só já é uma coisa boa, montar a barraca num lugar bonito, entre árvores frondosas, perto de uma grande represa com vista para uma praia tranquila, curtir o pôr do sol e esperar o amanhecer tomando uma cervejinha em boa companhia...



... Um verdadeiro Paraíso! Damos nomes a todos os animais que circulam pelo bosque ou se banhando nas águas mornas do lago de Itaipu. Os animais são domesticados, as aves são cantoras e as árvores fazem a harmonia das músicas toda vez que o vento balança os galhos e derruba as folhas num eterno desfile de papel picado imaginário. De manhã, quando se bota a cara amassada pela porta da barraca os olhos brilham com as mangas que caíram madurinhas durante a madrugada, vêm como vinha o maná dos hebreus, a cada dia, e não adianta guardar para o dia seguinte porque elas caem com data de validade para o mesmo dia, no dia seguinte só servem para atrair as moscas varejeiras. Senão guardar, tudo bem, o maná amanhece em frente da barraca outra vez!



Enquanto o chá espera o desjejum de frutas e cereais, a porta da barraca se abre para o bom dia que vem descabelado e sorrindo. Não tem nenhuma necessidade de pentear os cabelos, é a natureza me devolvendo o que era meu há pouco quando não tínhamos nenhuma necessidade das coisas comerciais, nem mesmo das roupas ou calçados, a natureza nos bastava e, agora que temos necessidade de roupas por causa dos vizinhos de acampamento, nos olhamos agradecidos por mais um dia feito só para nós dois. Ainda que os outros insistam em nos ver, eles não têm a menor importância, convivemos com eles como convivemos pacificamente com os pássaros e os outros animais que usufruem da natureza maravilhosa da Praia de Porto Mendes.



Desejamos estar no Paraíso e ali permanecer para toda a eternidade, mas é só procurar pelas coisas compradas nalgum comércio e que consideramos necessário para o dia que se nos apresenta gratuitamente pela providência divina, que começa o perrengue. Acampamento não é uma casa organizada, por mais que cuidemos para deixar tudo em algum lugar conhecido, ao procura-lo não encontramos nem por nada deste mundo, daí viramos todas as malas e caixas desarrumando ainda mais o que já era, digamos, uma bagunça organizada. No Jardim do Edem não havia nenhuma necessidade de malas e caixas e as coisas nunca estavam desorganizadas, simplesmente porque não havia coisas, só a natureza. Ah, quem dera o Jardim não estivesse fechado e o anjo que guarda a entrada nos permitisse ficar por lá por uma temporada eterna!

Nem só de manga vive o homem, então vamos almoçar num restaurante onde encontramos frutas e verduras produzidas com uma abundância de agrotóxicos, e uma grande variedade de comida gordurosa e frituras em óleo de soja reutilizado. Uma delícia de comida temperada! Faz mal, mas é muito bom!!! De lanche comemos deliciosos pães de queijo feitos sem nenhuma grama de queijo e bebemos cervejas feitas com milho em vez de cevada. Mas não reclamamos, decidimos que, se estamos acampados em meio à natureza, então todos os produtos são naturais, inclusive as verduras e os demais alimentos, tudo absolutamente orgânicos e, se algum mal nos sobrevier, vamos ao médico e ele que lute para nos curar, ele ganha bem para isso.

As águas da praia do lago estão aquecidas pelo sol escaldante do dia e mergulhamos nela como se usássemos óculos de realidade virtual, as nuvens refletidas na água nos fazem flutuar no espaço, nadamos de costas em nuvens de algodão e rodamos nossos corpos num espaço sem gravidade. Quando os pés tocam as pedras no fundo do rio, percebemos o lago e olhamos para o horizonte infinito onde o sol se põe, daí saímos apressados para fazer pose e guardar para posteridade esse sentimento de pertencimento às belezas incomparáveis da natureza. As imagens no celular nos fazem perceber que estamos entre dois mundos, basta uma mordida no fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e seremos expulsos do paraíso.



Voltamos felizes para nossa barraca e percebemos uns carros estacionando por perto, uma fogueira foi acessa anunciando churrasco e o capô se abriu para a música sertaneja universitária que nada tem de sertaneja e muito menos de universitária, o timbre da voz nunca muda e as notas parecem gotas torturadas saindo do alto falante. Pegamos nossas cervejas geladas, duas cadeiras de praia e fomos apreciar o anoitecer na beira do lago. Duas horas de sofrência e eles se foram satisfeitos de tanta carne e cerveja temperados com a mais triste música do universo! A natureza agradecida nos recebeu de volta para mais uma noite de paz. Quando amanheceu, um maná de mangas amarelas com data de validade de um dia forrava o chão do nosso pátio.

Três dias vivendo as maravilhas do paraíso e já não sabíamos onde encontrar as mais simples coisas sem ter que revirar o acampamento. Foi nesse terceiro dia que descobrimos que o pior ainda estava por ser encontrado no meio dessa bagunça de vida. Tinha algo que nos incomodava e não era o carregador do celular que se escondera embaixo da mala na caçamba da saveiro, também não era a cantoria da galera do churrasco, menos ainda as moscas varejeiras que se deliciavam com os restos das mangas com prazo de validade vencidos. Não era chuva e nem tempestade. Haveria algo pior num acampamento à beira lago de Itaipu?



Pois havia, inacreditavelmente fatídico, o destino nos fez permanecer isolados no paraíso por mais uma semana. Os alimentos cultivados com agrotóxicos e gordurosos que comemos estavam aos nossos olhos e podíamos ter evitado, a triste música sertanoja estava aos nossos ouvidos e podíamos ter evitado, as mangas com data de validade podíamos jogar para longe, mas o que não se vê, não se ouve, não se sente, como evitar? Em algum lugar entre Dourados, Ponta Porã e Porto Mendes fomos contaminados com o vírus da COVID. Pois, no terceiro dia de acampamento sentimos um leve, mas persistente, sintoma de gripe, fizemos os exames e: POSITIVO!

Agora estamos condenados a viver no paraíso por mais uma semana, graças a Deus com sintomas muito suaves o que nos dá condições de fazer aquilo que lá no fundo do coração mais desejávamos: Ter um tempo só para nós!



LISTA DE DESEJOS

Uma lista de desejos, quem não tem? Um carro novo, sim esse é o primeiro da lista dos desejos de qualquer que não tenha a menor condição d...