Esta semana eu estava andando a pé
por uma rua da cidade quando, num cruzamento, um ciclista quase foi atropelado
por um automóvel; o motorista brecou o carro, buzinou fortemente, daí abaixou o
vidro da janela e xingou o coitado do ciclista assustado que caíra da
bicicleta. “Isso é mesmo o fim do mundo!” Exclamou uma senhora que andava quase
ao meu lado na calçada. Sim, isso é o fim! O mundo não resiste mais à tanta
ignorância.
Esse motorista é uma bela metáfora da
sociedade. O mundo está cheio de ‘motoristas’ de carro atropelando ciclistas e
se achando na razão, afinal, eles estão andando num carro que custa pelo menos
umas cem vezes mais que uma bicicleta. Como pode um ciclista reivindicar
qualquer direito diante de tamanha discrepância financeira?
Por séculos motoristas brancos
atropelaram ciclistas negros e ainda hoje se prendem os pretos pelo simples
fato de serem pretos e pobres. Não só pretos, mas pobres em geral são
atropelados socialmente porque os que tem, ou pensam ter, dinheiro se acham
nesse direito.
É certo que os pobres lutam, mas a
luta parece ser inglória; é bíblico, até Jesus teria dito: ‘Os pobres sempre os tereis’. Desde que a sociedade se ‘organizou’, os mais pobres sempre foram
atropelados porque o poder não está na moral e nem na ética, mas no dinheiro e
no capital.
Bem na minha cara, na parede acima do
meu computador, está um quadro do saudoso Sebastião Salgado mostrando o momento
exato da ocupação de uma fazenda pelo Movimento Sem Terra. O MST é o maior
produtor de alimentos orgânicos do Brasil, ainda assim é tido, por muitos, como
um grupo terrorista!
Mais de setenta por cento dos alimentos
são produzidos em áreas de agricultura familiar, mas o glamour é dado aos grandes produtores de commodities cheias de veneno e que vão diretamente para os portos
de exportação. O grande capital vive atropelando os trabalhadores nas esquinas
e ainda os xingando de vagabundos e baderneiros.
Talvez tenhamos que voltar ao texto
bíblico de Romanos 12:2, que diz: “E não
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vossa
mente, ...”
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