Há poucos dias eu assisti, de novo, o belíssimo filme O Carteiro e o Poeta, história ficcional que narra a amizade entre o poeta chileno Pablo Neruda e o carteiro Mario Jimenez durante um eventual exílio do poeta em uma vila de pescadores da Itália. A vida romântica no exílio, a amizade com o carteiro semianalfabeto, a admiração do povo e o ambiente litorâneo são um prato cheio para quem gosta de poesia.
Eu gosto do Neruda, da sua poesia,
seu compromisso social e até do Stalinismo e do espanto com as denúncias do XX Congresso do PCUS. É um desses caras fáceis de se gostar, você o
encontra por inteiro em Confesso que
Vivi, rejuvenesce em Rio Invisível,
viaja com o poeta em sua Antologia
Poética e desvenda toda sua vida e obra na tese de doutorado da estudante
de letras Vera Lígia Mojaes Migliano Gonzaga, pela UNESP (https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/ecee3236-2417-4394-820c-cc1ac2cc775b/content).
Quando vi o filme pela primeira vez,
em 1994, eu ainda estudava matemática na UFMS e tinha lançado minhas primeiras
dez páginas de poesia em um livro com outros autores locais, também já tinha
pago alguns alugueres com meu jornalzinho Poesia
Verde, de 1988 e conquistado pelo menos um coração fazendo poesia na rua
durante o trote cultural com os calouros daquele ano. Agora vejo outra vez o
filme, já aposentado e viajando de férias em Imbituba, Santa Catarina, junto da
bela Cléo que só me chama de Poeta!
Sentado na varanda do primeiro andar
do nosso airbnb, tomando meu
chimarrão e olhando a paisagem ao redor me perguntei inocentemente: O que diria
Pablo Neruda se estivesse aqui? Antes de dizer qualquer coisa que fosse, ele
apreciaria o lago que enchia nossos olhos por sobre a copa das árvores. Pelo
outro lado da varanda, ainda o lago e depois um vilarejo e mais adiante o mar.
Se ele aceitasse uma cuia do chimarrão, do meio da prosa descobriria meus
tempos de luta social, de militância comunista, as milhares de publicações em
jornais e panfletos, talvez até se interessasse por uma poesia do livro de
1993: Mais Uma Casa Que Nasce. Se o
Neruda estivesse em nossa casa, tomando chimarrão nesse dia, um dia depois de
assistirmos O Carteiro e o Poeta,
certamente se riria ao me ver ligar uma música na caixinha JBL e tirar a Cléo para dançar. Então se levantaria e, olhando a
paisagem, usaria de tantas metáforas quanto fossem necessárias e, com os olhos
verdes das copas das árvores, cheios das águas dos lagos e encantados com as
ondas do mar, faria uma linda poesia para sua Matilde.
Neruda nos deixou em 1973, poucos
meses depois que os Estados Unidos patrocinaram um golpe militar que assassinou
o presidente do Chile, Salvador Allende, e instaurou naquele país uma ditadura
militar comandada pelo famigerado General Augusto Pinochet. A truculência dos
militares não foi capaz de matar a poesia desse comunista. Ainda que, em nossa
viagem, o Neruda tenha sido só uma miragem, viajar para Imbituba e rever esse
filme foi um belo poema!
👏👏👏
ResponderExcluirNa sua companhia Poeta, todos os dias são uma nova poesia!♡
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