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quarta-feira, 23 de julho de 2025

O QUE PABLO NERUDA DIRIA SE ESTIVESSE AQUI?

 




Há poucos dias eu assisti, de novo, o belíssimo filme O Carteiro e o Poeta, história ficcional que narra a amizade entre o poeta chileno Pablo Neruda e o carteiro Mario Jimenez durante um eventual exílio do poeta em uma vila de pescadores da Itália. A vida romântica no exílio, a amizade com o carteiro semianalfabeto, a admiração do povo e o ambiente litorâneo são um prato cheio para quem gosta de poesia.

Eu gosto do Neruda, da sua poesia, seu compromisso social e até do Stalinismo e do espanto com as denúncias do XX Congresso do PCUS.  É um desses caras fáceis de se gostar, você o encontra por inteiro em Confesso que Vivi, rejuvenesce em Rio Invisível, viaja com o poeta em sua Antologia Poética e desvenda toda sua vida e obra na tese de doutorado da estudante de letras Vera Lígia Mojaes Migliano Gonzaga, pela UNESP (https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/ecee3236-2417-4394-820c-cc1ac2cc775b/content).

Quando vi o filme pela primeira vez, em 1994, eu ainda estudava matemática na UFMS e tinha lançado minhas primeiras dez páginas de poesia em um livro com outros autores locais, também já tinha pago alguns alugueres com meu jornalzinho Poesia Verde, de 1988 e conquistado pelo menos um coração fazendo poesia na rua durante o trote cultural com os calouros daquele ano. Agora vejo outra vez o filme, já aposentado e viajando de férias em Imbituba, Santa Catarina, junto da bela Cléo que só me chama de Poeta!

Sentado na varanda do primeiro andar do nosso airbnb, tomando meu chimarrão e olhando a paisagem ao redor me perguntei inocentemente: O que diria Pablo Neruda se estivesse aqui? Antes de dizer qualquer coisa que fosse, ele apreciaria o lago que enchia nossos olhos por sobre a copa das árvores. Pelo outro lado da varanda, ainda o lago e depois um vilarejo e mais adiante o mar. Se ele aceitasse uma cuia do chimarrão, do meio da prosa descobriria meus tempos de luta social, de militância comunista, as milhares de publicações em jornais e panfletos, talvez até se interessasse por uma poesia do livro de 1993: Mais Uma Casa Que Nasce. Se o Neruda estivesse em nossa casa, tomando chimarrão nesse dia, um dia depois de assistirmos O Carteiro e o Poeta, certamente se riria ao me ver ligar uma música na caixinha JBL e tirar a Cléo para dançar. Então se levantaria e, olhando a paisagem, usaria de tantas metáforas quanto fossem necessárias e, com os olhos verdes das copas das árvores, cheios das águas dos lagos e encantados com as ondas do mar, faria uma linda poesia para sua Matilde.

Neruda nos deixou em 1973, poucos meses depois que os Estados Unidos patrocinaram um golpe militar que assassinou o presidente do Chile, Salvador Allende, e instaurou naquele país uma ditadura militar comandada pelo famigerado General Augusto Pinochet. A truculência dos militares não foi capaz de matar a poesia desse comunista. Ainda que, em nossa viagem, o Neruda tenha sido só uma miragem, viajar para Imbituba e rever esse filme foi um belo poema!

2 comentários:

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