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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

O MAR DE BRUMADINHO

   


Hoje eu não tenho uma história para contar. A história que eu tinha acabou, assim num de repente daqueles que vem sem nenhuma explicação e vai findando quase de um tudo como se um tudo fosse mesmo um quase nada! E o dia ainda estava no meio do dia e esse lugar que é belo, Belo Horizonte, ia ganhando mais um almoço na mina do feijão.

As riquezas continuam ricas, os ricos, ricos e os minérios ainda fazem os ricos ricos. Eu anotava o último almoço no meu diário quando pedi feijão. A mina do feijão jogou molho no meu prato. Achei um desacato, veio mais do que eu pedi, levou meu prato, a mesa, os amigos, e eu. E eu! Comi o molho da mina do feijão até minha alma separar do corpo, enlameado, perdido para nunca mais ser achado, para nunca mais ser lembrado, só mais um número, até agora acharam noventa e seis!

Não sei vocês, mas eu só vejo meus colegas de trabalho da mina, mina do feijão. Mortos, isso: mortos! Acharam noventa e seis, mas eu não estou nessa conta. Me encontro no rio, no meio da poluição, contaminando tudo, já passei pela cidade, destruí casas e ruas, destruí praças e matei mais gente inocente. Saí da cidade e destruí lavouras e fazendas, sítios e gado. Fui eu! Eu meus amigos e tudo que vinha junto com a lama da barragem malfeita da mina, mina do feijão.

Minha alma voa para longe! Tem promessa de Salvação. Tem uma revoada de almas sobre Brumadinho, mais que noventa e seis. Dá para ver os helicópteros sobrevoando o mar de lama, só uma alma pode ver o tanto de lama que tem dentro do helicóptero, é outro mar, mas de lama, não é lama da barragem da mina do feijão, é lama que vem do inferno e tem cheiro de enxofre! É onde está o seu coração.

 

Elairton Paulo Gehlen

Um comentário:

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