Quando a morte veio avisar que seu avô fora levado ele não
acreditou. A morte pode mesmo tirar a vida de uma pessoa? Perguntou. Pode viver
uma pessoa que está morta? Ouviu de resposta. Tinha doze anos quando pela
primeira vez experimentou a dúvida da morte e a incerteza da vida. Apesar do
reverbério, mantinha sempre em vida o avô. Ia para a escola em sua bicicleta e
passava em frente da casa com as mãos soltas do guidão. Olha vô! Cuidado,
menino, eitaa!
A morte pode mesmo ser a única coisa absolutamente certa nesta
vida. Dizem que é o sinal de igualdade, com ela ninguém é mais rico ou mais
pobre, tudo igual. Isso para quem acredita na morte, claro. Não acreditava. A
lei da gravidade quem descreveu? Isaac Newton, que viveu entre 1642 e 1727. Se
tivesse morrido mesmo em 1727, jamais teríamos sua memória até os dias de hoje.
Quando se morre, morre também a memória. A memória do avô está absolutamente
viva, cada palavra de ensinamento, cada risada, cada ‘eitaa!’ que ainda escuta
quando passa em frente da casa com as mãos soltas do guidão.
Mas a vida, sim a vida pode muito bem ser levada
pela morte. Nisso eu acredito, dizia. Tem muitos que estão mortos andando por
aí, sem vida, sem memória, falando coisa sem coisa. O Juca mesmo, até já
dividiu a herança e comprou terra no cemitério, só falta entrar no caixão e desaparecer
para nunca mais ser lembrado. E Jacinta, acha defeito em tudo que vê e até no
que não vê. Não tem uma palavra que se possa aproveitar. Já morreu!
Estava
vivo? Está vivo. Há uma vida que a morte não é capaz de matar. A plenitude da
vida! Quando se casou, confidenciou à esposa o desejo de ser avô. Ele é a
pessoa com quem mais me relaciono na vida! Mas, ele não morreu? As pessoas só
morrem de tanto falarem que ela morreu. Se você não der importância para a
morte, ela será incapaz de tirar a vida de quem quer que seja. Conheço gente
que anda por aí ansioso pela hora da morte, fazendo planos de como será a
herança, alguns fazem até testamento, documentando em cartório a certeza de que
já morreram. Outros continuam vivos eternamente. Meu avô nunca morrerá. Todos
os dias eu percebo que tem algo a me ensinar. Suas poesias são vida para nosso
casamento. Lembra do verso das coisas e dos coisos? Claro: ‘Coisas são coisas
porque os coisos coisam elas’. Coisas viram gente na poesia do vô.
Abriu o livro para ler, e
leu: Quem crê em mim terá vida eterna!
Elairton Paulo Gehlen
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