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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

MORTE E VIDA


Quando a morte veio avisar que seu avô fora levado ele não acreditou. A morte pode mesmo tirar a vida de uma pessoa? Perguntou. Pode viver uma pessoa que está morta? Ouviu de resposta. Tinha doze anos quando pela primeira vez experimentou a dúvida da morte e a incerteza da vida. Apesar do reverbério, mantinha sempre em vida o avô. Ia para a escola em sua bicicleta e passava em frente da casa com as mãos soltas do guidão. Olha vô! Cuidado, menino, eitaa!

A morte pode mesmo ser a única coisa absolutamente certa nesta vida. Dizem que é o sinal de igualdade, com ela ninguém é mais rico ou mais pobre, tudo igual. Isso para quem acredita na morte, claro. Não acreditava. A lei da gravidade quem descreveu? Isaac Newton, que viveu entre 1642 e 1727. Se tivesse morrido mesmo em 1727, jamais teríamos sua memória até os dias de hoje. Quando se morre, morre também a memória. A memória do avô está absolutamente viva, cada palavra de ensinamento, cada risada, cada ‘eitaa!’ que ainda escuta quando passa em frente da casa com as mãos soltas do guidão.
 Mas a vida, sim a vida pode muito bem ser levada pela morte. Nisso eu acredito, dizia. Tem muitos que estão mortos andando por aí, sem vida, sem memória, falando coisa sem coisa. O Juca mesmo, até já dividiu a herança e comprou terra no cemitério, só falta entrar no caixão e desaparecer para nunca mais ser lembrado. E Jacinta, acha defeito em tudo que vê e até no que não vê. Não tem uma palavra que se possa aproveitar. Já morreu!

        Estava vivo? Está vivo. Há uma vida que a morte não é capaz de matar. A plenitude da vida! Quando se casou, confidenciou à esposa o desejo de ser avô. Ele é a pessoa com quem mais me relaciono na vida! Mas, ele não morreu? As pessoas só morrem de tanto falarem que ela morreu. Se você não der importância para a morte, ela será incapaz de tirar a vida de quem quer que seja. Conheço gente que anda por aí ansioso pela hora da morte, fazendo planos de como será a herança, alguns fazem até testamento, documentando em cartório a certeza de que já morreram. Outros continuam vivos eternamente. Meu avô nunca morrerá. Todos os dias eu percebo que tem algo a me ensinar. Suas poesias são vida para nosso casamento. Lembra do verso das coisas e dos coisos? Claro: ‘Coisas são coisas porque os coisos coisam elas’. Coisas viram gente na poesia do vô.

 Abriu o livro para ler, e leu: Quem crê em mim terá vida eterna!

 

Elairton Paulo Gehlen

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