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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

MELHOR JEITO DE DEIXAR SEU CACHORRO AMARRADO


Anoiteceu, mas o calor não dava trégua. Bem que poderia chover, mas o céu estrelado denunciava tempo ‘bom’. Bom se chovesse! Consultou a previsão do tempo: ‘tempo bom, com muito calor e baixa umidade do ar’. E isso é tempo bom? Andou de um lado para outro pela casa, carregando pensamentos aquecidos de preocupação. O cachorro amarrado no quintal, com todos aqueles pelos, e esse tempo que não chove, por nada!

Ligou a TV e viu dois homens se beijando. Seu homem já não a beija faz um tempão! Mudou o canal, talvez devesse mudar de homem. Vinte anos nesse relacionamento, virou uma espécie de prisão. O cachorro amarrado e o calor sufocante. Abriu a porta da cozinha, soltou a corrente mas segurou-o pela coleira, queria deixa-lo ir. A coleira era bonitinha, mas estava puída, melhor comprar outra, amanhã. Ia soltar, mas ficou com medo da liberdade.

Voltou para dentro com a firme promessa de fazer uns ajustes na casa, arejar um pouco, mudar os móveis de lugar, quadros na parede, um colchão novo. No dia seguinte comprou uma coleira da moda que viu no programa Dogs and the new fashion. Trocou a coleira e prendeu firme a corrente. Fiscalizou até onde iria, então decidiu que não tinha perigo. Pegou o celular do marido para ver as mensagens, pode ser que a corrente tenha se rompido sem que ela percebesse.

Nos últimos tempos andava com a pulga atrás da orelha. Comprou um antipulgas, fechou o WhatsApp e prometeu que teria mais cuidado para não se contaminar outra vez. O cachorro até que gostou do tratamento. As coisas pareciam estar melhorando, mas aquela sensação de que a corrente estava ficando fraca com o tempo e o uso!...

 Ligou a TV, estava passando a novela das oito. Detesto essas correntes do WhatsApp!, berrou o marido, do sofá, com o celular na mão. Não dava mesmo para segurar. Quanto mais se prende mais se solta. Decidiu não olhar mais o celular dele. Saiu ao quintal, tirou a corrente que prendia a coleira nova. Pensou: ‘a melhor maneira de se prender um cachorro é solta-lo’. O cachorro se foi e ela estava livre!

 

Elairton Pulo Gehlen

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

POESIA: HOJE É NATAL!


Mataram os meninos na minha infância,
Roubaram das meninas o prazer.
Regras são cadeias,
Onde os sonhos vão morrer!


É mais um dia qualquer,
O tempo que passa,
A vida, assim, sem graça,
E seja o que der e vier!


Os hormônios do adolescente
Foram roubados na euforia,
Negociados em valores inúteis,
Nas bolsas de mercadorias.


Já nem mais se sente
A idade que avança,
O objetivo que não se alcança
E o passado, agora é o presente.


Lucraram com minhas energias,
Me largaram aposentado,
Meio traste, meio triste,
Meio estranho, meio abandonado!


O futuro não existe,
Dele nada se espera.
Não importam as primaveras,
Nem tudo o que se disse.


De que me serve o natal,
Se nasci para ser explorado!
Dos meus dias, afinal,
É pouco o que me resta.


São migalhas que caem
Da mesa da abastança,
Dos que fazem festa de caridade,
Para enganar adultos e crianças.


E ENTÃO? É NATAL!!!!!!!!


Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

DESERTO


 Andava de cá para lá e de lá para cá descontando os dias que ainda lhe faltava. Não tinha celular, mas se comunicava o tempo todo com o mentor desse projeto em que se engajara totalmente.

A solidão, ah!, a solidão às vezes faz tão bem que desejamos estar sós por um tempo. Quarenta dias talvez seja um tempo razoável para quem precisa estar preparado para executar um projeto onde o erro máximo permitido é zero.

Comida boa, quem não quer? Há quem a tenha na mesa, posta de manhã, à tarde e à noite, com fartura! Também há quem a tenha na míngua e muitas vezes sem a mesa para pô-la. Não havia mesa, por quarenta dias não tinha comida e nem água para beber.

Uma boa companhia, faz tão bem que enche nossas horas de prazer! Gente que vai: até logo! Gente que vem: bom dia! Gente que passa: “e ae?’ Uma conversa para jogar fora, andar nas ruas, ver o movimento das cidades... No deserto não tem cidades, nem gente.

Quarenta dias, trinta e nove, trinta e oito,..., dez, nove, oito, ... sem alimento, sem água, sem amigos, nem gente, nem trânsito.

Quarenta dias em oração e vem o capeta para atentar oferecendo pão. O Príncipe deste mundo se põe em Sua presença e oferece poder e glória, promove um espetáculo no pináculo.

Depois de quarenta dias no deserto, seria o momento da glória. Reinar sobre o povo e transformar pedras em pães!

Mas a palavra, ah, a palavra: “Retira-te Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele prestarás culto”.

Elairton Paulo Gehlen

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

POESIA: BOAS NOVAS QUE VEM


Nasceu em Belém,
Mas de lá não era.
Veio de Nazaré,
Onde fica Sua Terra.


Não teve acolhida
Para vir a este mundo.
E continua sem guarida
No coração de muitos.


De boas novas,
O coração está cheio.
Fala com sabedoria,
Ao povo que lhe veio.


No primeiro milagre,
Transformou água em vinho.
Não para beberagem,
Mas para mostrar o caminho.


Caminho de sangue e glória,
Só compreendido no final.
Que o acompanhou na trajetória,
Neste mundo desigual.


Na Sua Terra não creram,
Nem em muitos outros lugares.
Mas para salvação de todos,
Deu a vida em pesares.


Dono de toda glória,
Era filho do Rei.
Viveu com humildade,
E obedeceu toda a Lei.


É o nosso salvador!
Nasceu da Virgem.
Viveu sem ser pecador,
Ai de mim que preciso
Ser Seu imitador!





Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A CARROÇA


Está vendo filho, nem é preciso andar muito para se chegar a cem anos atrás, é só voltar uns sessenta e tudo se parece! É pai, essa carroça parece que levou a gente para o século passado. Sim, século passado, talvez até mais. Rodas de madeira raiada com uma proteção de ferro no perímetro da circunferência para não quebrar com os choques das pedras e a dureza do chão. Duas juntas de bois puxando uma carga pesada, uma tora tirada do mato que deve ser levada para a serraria.

Veja, meu filho, somos os proprietários e esses escravos aí do lado e atrás da carroça são nossa propriedade! Eles fazem nosso serviço e tudo o mais que mandamos, esses negros não pensam, só obedecem.   Os bois são muito fortes, hem, pai! É só bater que eles puxam essa carroça pesadíssima. Se eles soubessem a força que tem não fariam tanta força! São animais irracionais, por isso a gente pode bater neles e fazer eles trabalhar.

Bater até sangrar o lombo quando não obedecem, o corpo amolece, mas o tronco está firme e a argola de ferro não cede. Sabe por que? O tronco e a argola são o patrão!    E o relho também, vai boi, toma! Essa canga do pescoço e o cabeçalho da carroça é de quem manda!

O carro anda lentamente como o tempo, cinco passos do boi para dar uma volta na roda da carroça. Trezentos e oitenta giros da roda para andar um quilômetro. E muitos anos até o caminhão descarregar a tora na serraria!

Agora sim, é só soltar as catracas e deixar as toras rolar da carroceria. No lugar dos quarenta escravos, agora só preciso de dez trabalhadores com motosserras! E um caminhão com um motor muito forte, pai. Isso, quanto menos pagar de salário, mais eles trabalham porque tem que viver. Quanto mais pagar pelo caminhão mais ele produz, o caminhão é o patrão!

Estou pensando, pai, e... e... e, se nós fossemos os bois e os bois fossem nós, lá na carroça do século passado? Ai, era nós pendurados naquele tronco e amarrado naquela argola, levando pancada nas costas até sangrar!... N Ó S ?!?!?!?!?!?!

 

Elairton Paulo Gehlen

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

POESIA: I AM THE BEST

Não, a poesia não é em inglês,
Mas bem que poderia,
Já que o estrangeirismo
É boa parte do nosso português.


Eles até que se acham os melhores,
Nos dizem o que vestir e o que comer.
Cantam músicas para a gente ouvir
E fazem filmes para a gente ver.


Falam com superioridade,
Como se o melhor do mundo fosse
E a gente bate continência
Até para o iracundo deles!


Hi-tech é a palavra da moda,
Pop star é o que no cinema se vê.
Sex-appeal é o principal da cultura
Que a internet traz para você.


Superman, Incrível Hulk ou o Pateta
Fique livre para escolher.
Qualquer um vai salvar o mundo deles
E o nosso cada vez mais empobrecer.


Dominam o mundo com alta tecnologia
E tem gente que baba no seu poder!
Estuda inglês todos os dias
Para melhor servir ao seu querer.


Nos obrigam a dizer ferry boat
Em vez de barco de passagem,
Mas é no happy end
Que nos deixam na vassalagem.






Elairton Paulo Gehlen

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

PATRICINHA


Aproximou-se do espelho para ver detalhes da sobrancelha que fizera no salão, mas afastou-se rapidamente. Melhor olhar de mais longe! A sobrancelha ficara maravilhosa. Lavou o rosto com o sabonete facial e limpou a pele com água micelar, passou o creme hidratante, o creme antirrugas e o filtro solar. Aproximou-se novamente do espelho. Melhor olhar de longe!

Virou para o lado onde estava o espelho de corpo inteiro. Passou as mãos pelo cabelo, viu-os em câmera lenta esvoaçando pelo ar. Nada como uma tinta para rejuvenescer! Abriu um sorriso e foi abrindo o roupão. Lentamente soltou o cordão que o prendia pela cintura, as cortinas se abriram e surgiram dois seios, firmes, redondos, a barriga de tanquinho recebeu um elogio e os seios um acolhimento com as mãos. Com o indicador e o polegar seguros, a cortina se abriu por completo e a estrela mostrou seu espetáculo! Olhos fixos na musa, percorreu todo o perímetro para conferir as curvas e as ondas. É muito sacrifício: academia, lojas, salão de beleza! Mas vale a pena. Se eu fosse homem, me apaixonava imediatamente!

Como bom psicólogo, o terapeuta aguardava tranquilamente que o tempo do atraso fosse vencido. Ela paga para me fazer esperar. Catorze minutos desperdiçados e a porta se abriu. Hoje eu quero deitar no divã! Não tinha divã, mas tinha uma poltrona reclinável e um apoio para os pés. Sentou-se quase deitada e fechou os olhos. Desde o banho da manhã vinha flutuando em sua própria admiração. Eu me acho uma mulher muito bonita! Isso é narcisismo?

- Hum...

Hum... significa... não sei o que significa. Não queria mesmo saber a opinião dele, estava vendo sua própria imagem flutuando nas nuvens. Imagem em HD, 3D. 360 graus. Tinha todo o céu ao seu redor.

- Hum...

Então narrou, sem nem saber que estava narrando, tudo o que via, e tudo o que via, era o que tinha visto no espelho. Fazia caretas, mexia com as mãos, esfregava as pernas uma na outra. Por vinte e cinco minutos teceu todos os elogios possíveis e imaginários ao seu próprio corpo.

- Hum... – disse o terapeuta pela terceira vez e emendou – você está vendo o que tem por fora, mas.... e por dentro, quando é que você vai olhar?

Despencou das nuvens com aceleração muito superior à da gravidade, estatelou no chão e ergueu-se da poltrona esperneando e com os olhos arregalados, o coração aos solavancos, o apoio dos pés voou para longe.

- Dentro! – ela disse – dentro não tem nada!

 

Elairton Paulo Gehlen

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

POESIA: INFINITO


O que faz a liberdade
Que ainda não me libertou
Será ela verdade
Ou foi só um caso de amor.


Infinito é o espaço,
Muito restrito meu caminho.
O que não quero eu faço,
A não ser só um pouquinho.


Infinito é o tempo,
Mas dele só tenho um pedaço.
De perde-lo muito me arrependo,
Vem daí o meu fracasso.


Infinita é a sabedoria,
E eu a busquei tão pouco.
O saber a outro plano releguei,
Meus ouvidos fiz de mouco.


Infinita é a tristeza,
Tal qual é a alegria.
Quem me dera tivesse eu escolhido
Viver bem a cada dia.


Infinita é a compaixão
Mas eu sou muito egoísta.
Se tivesse aberto mais meu coração
Do amor teria sido um expansionista.


Infinito é o amor,
Dele não podemos prescindir.
Seja lá por que motivo for,
Não amei como deveria agir.


Infinita é a liberdade,
Mas eu vivo numa prisão.
De preconceitos e ativismo
Que limitam minha ação.


Infinita é a ilusão
Que me faz pensar
Que no capitalismo
Algum dia vou me realizar.


Infinito é Deus,
Que no mundo existe sua crença.
E eu só me liberto
Se estiver em Sua presença!







Elairton Paulo Gehlen

CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

  Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que ...