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segunda-feira, 12 de agosto de 2024

FELICIDADE

 


Hoje me arrisco a escrever qualquer coisa sobre um assunto que não entendo bem. Já ouvi tanto falar em felicidade que fui buscar na internet o conceito. Apareceram 280 resultados para a pesquisa. Olhei um, outro e mais outro e descobri que cada um tem seu conceito para a felicidade que não alcançou, mas que de alguma forma gostaria que alguém alcançasse para, então, ser feliz com a comprovação do seu próprio conceito. Olhei para o espelho e perguntei para a imagem refletida por detrás do vidro: Você já foi feliz?

Um silêncio brutal me olhou através do espelho e quando eu quis me mover ouvi uma voz absolutamente silenciosa que gritava aos meus pensamentos: “Se o que eu vou te dizer pode, de alguma maneira, trazer-te, ainda que seja uma pequena dose de felicidade, sim, já fomos felizes”. Quando? Eu quis perguntar. Meus lábios tremeram sem balbuciar palavra.

É claro que eu já fui feliz, quer dizer, devo ter sido feliz algum dia. Talvez eu tenha mesmo sido feliz. Se eu fui feliz, então eu quero me lembrar. Andei pela casa arrastando pensamentos idosos de uma infância infeliz e fui até o portão que se abriu e fechou estalando contra a parede. A rua me levou até a praça onde as crianças brincavam felizes no parquinho que eu nunca tive. Talvez eu tenha sido feliz na infância, não me lembro.

Um vento repentino levou meus pensamentos para um lugar florido. Era a primavera cheia de música em discotecas. Corpos balançando de um lado para outro ao som das guitarras e baterias, a cabeça jogando a bola da felicidade para os lados. Uma cuba livre e o sonho de rebeldia, isso era a felicidade! Dancei todos os Rock And Roll que pude e acordei ralado num tombo de motocicleta. O mundo real não perdoa quem quer ser feliz.

Um carro estacionou no meio fio e tinha música tocando. Não dá para negar, o som era de boa qualidade, amplificava para se ouvir a uma grande distância. Seu Jorge cantava dentro do carro para dizer que a felicidade é viver na sua companhia e estar junto todo dia. Lá, dentro do carro, Seu Jorge se calou e um modão balançou o carro com uma bebedeira, uma multidão gritava a felicidade pelos alto-falantes.

Fiz um filme da minha vida estrelando Júlia Roberts, ela é uma mulher linda. Por mais que eu estivesse apaixonado por mim mesmo, era necessário que eu amasse uma mulher. Mulheres lindas trazem felicidade. Depositei meu tesouro em vasos carnosos enquanto o amor dormia e o desejo vigiava. O maior desejo era trabalhar para conquistar todas as alegrias do mundo e transforma-las em um único instante de felicidade. Quem tem um instante de felicidade tem todas as alegrias porque a felicidade é para onde tendem todas as alegrias.

O amor é a felicidade, quem ama é feliz! Tá lá na internet, é o centésimo octogésimo terceiro resultado da pesquisa. E o amor tem pernas roliças, corpo de academia, cabelos de salão, cheiro de boticário, é cliente do JPMorgan Chase Bank N.A. e anda de Rolls-Royce Limited. Eu queria me banhar na piscina olímpica do amor. Entre as pernas roliças e o cheiro de perfume me casei quatro vezes. O amor ainda estava no futuro, era preciso trabalhar. Trinta e cinco anos de carteira assinada, 420 holerites com promessa de felicidade e quando me aposentei e pensei que seria feliz percebi que a felicidade tinha ficado no passado.

Onde mesmo?

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