O inverno de Santa Catarina é frio e
a cidade de São Joaquim é uma espécie de símbolo desse inverno, é considerada a
cidade mais fria do Brasil e onde tem a maior ocorrência de neve. Por lá se diz
que o frio é cortante! Sim o frio de
São Joaquim é muito intenso e o vento que corre livremente pelo planalto a uma
altitude de 1.360 metros acima do nível do mar, é congelante, especialmente em
dias de baixa temperatura, que pedem chegar a negativos 10°C, e alta umidade
como nos dias 12 e 13 de julho, quando estive por lá e havia previsão de neve
que, infelizmente não deu o ar da graça.
São Joaquim é uma cidade pequena, sua
população mal passa dos 27 mil habitantes, um décimo da população de Dourados e
a economia não tem nada a ver com nossos campos de soja e milho cheios de
agrotóxicos. Por lá se produz muita maçã, do qual é o primeiro produtor do
estado e do Brasil, outro produto
regional com forte impacto econômico são os vinhos finos de altitude preparados
por pessoas apaixonadas pelo que fazem em suas lindas vinícolas, cada uma com
um estilo e história particular. Se
produz, também, cachaça artesanal e é com ela que as Marias juntam pinhão ou
maçã e temos uma bebida deliciosa que as Marias preparam artesanalmente em seu
apartamento, onde alugam quartos para turistas que, eventualmente, se perdem ou
se acham por São Joaquim. Me perdi na cidade e me achei no apartamento delas,
experimentei a mistura e fomos apresentados à outra receita com vinho e pinhão.
Delícias das Marias, e tinha mais.
São Joaquim é um belo lugar de se
visitar. Muita natureza, montanhas, na safra da maçã se pode colher a fruta
direto do pé e consumir no local. O turismo se profissionalizou nas vinícolas
onde, pela bagatela de uns R$ 130,00
por pessoa se pode degustar uma carta de até cinco ou seis vinhos ou comprar
uma garrafa que custa entre R$ 70,00 e R$ 300,00, ou até mais se o vinho foi um
dos premiados em concursos internacionais. Nos supermercados, em cidades
próximas dali se compra vinho chileno ou argentino de boa qualidade pela metade
do preço, mas quem gasta quase uma fortuna para ir até o planalto catarinense
não vai deixar de degustar um D’alture ou um Vivalti.
Não se pode esperar uma vida cultural
muito intensa num dia frio e úmido de uma cidade pequena. Quando chegamos,
fomos direto para a praça da cidade, o que foi, claro, fácil de achar, basta
seguir a rua que dá acesso ao centro e pronto. Lá, na praça, tem um centro de
informações ao turista, bonecos que se protegem contra o frio e logo do outro
lado da rua um dos atrativos, a Igreja Católica, construída em pedra ferro
pelos primeiros moradores da cidade, onde as pedras eram carregadas em couros
de boi e puxadas por homens ou até mesmo por bois, uma construção muito bonita
que estava em reforma, deve ficar ainda mais bela quando terminarem as obras.
Tínhamos reservado uma casa pelo Airbnb, mas ao final da tarde descobrimos que a tal da casa não estava mesmo disponível, então fomos procurar alternativa urgente pois o dia já anoitecia e o frio, que marcava 6 graus às quatro da tarde já devia estar perto dos três ou quatro. Encontramos As Marias, que ofereciam o aluguel em quarto compartilhado dentro do apartamento onde moram. Pelo sim, pelo não, fizemos a reserva e fomos ao endereço.
O viajante perdido que se acha numa
reserva desse apartamento com certeza vai sair de lá considerando que esse, ou
melhor, essas, As Marias, são também,
digamos, um ponto turístico da cidade. A recepção é direto para a cozinha. Com
as malas ainda no corredor, nos aconchegamos próximo do fogão à lenha para um
cafezinho com muita, muita, muita conversa. Há uma empolgação das Marias em receber pessoas que nem
conhecem, em menos de um minuto já parecia que éramos amigos de longa data.
Elas fazem questão de contar a história da cidade e suas próprias vivências.
Uma das Marias se chama mesmo Maria, é a mãe. Nascida e criada em São Joaquim, mora no mesmo apartamento há mais de quarenta anos, onde criou a filha e, agora viúva, compartilha o lugar com ela e com todos os viajantes que quiserem se hospedar nesse lugar, tomar café cozinha perto do fogão à lenha e comer das gostosuras que elas varam a noite preparando para oferecer e vender.
A outra Maria não se chama Maria, mas Thais. Formada em Nutrição, Thais
trabalha em pelo menos dois empregos antes de cumprir outra jornada com a mãe.
A cozinha é uma verdadeira indústria de gostosuras. Ali se preparam bebidas
como as que citei acima com vinho e pinhão ou maçã, bolos, tortas, palitos de
queijo, pão de queijo, rosca de coalhada, compotas, ... , mas tudo para
imediatamente por horas quando chegam hóspedes totalmente estranhos que entram
pela porta, largam as malas no corredor e adentram para a cozinha para um ‘cafezinho’.
Eu sou um cronista, gosto de escrever
sobre experiências que vivo, especialmente se são boas! Ultimamente quase não
tenho publicado, por circunstância ligadas aos remédios que ando carregando por
onde vou, mas estou voltando e As Marias
parecem ser um bom motivo para essa volta. Quando voltar à São Joaquim, ainda
voltarei a ver As Marias, tomar café
na cozinha aquecida pelo fogão à lenha e aquecer a alma com histórias
riquíssimas das Marias.
Amamos cada palavra, e foi como reviver a visita de vocês aqui em casa.
ResponderExcluirJá estamos ansiosas pela próxima visita.
Muito obrigada por todo carinho.
Grande abraço da "Maria que não é Maria e sim Thais".
Novamente muito obrigada por tudo!!!