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sábado, 31 de agosto de 2024

E SE EU APOSTASSE EM VOCÊ

 



Uma aposta é uma aposta. Já apostei na Mega-Sena umas dezenas de vezes, apostei também que seria Padre, mas enquanto estudava no seminário me vieram os hormônios e perdi a aposta me distraindo nas matinês, até que finalmente fui parar noutro colégio interno, num jogo quase ao contrário daquele do espaço intemporal.

À Mega-Sena fui quase fiel, outros jogos aos quais me entreguei esporadicamente foram de menor valor sentimental, um bingo aqui, uma rifa ali, coisas que só dão prazer momentâneo. Até ganhei alguns prêmios, mas ainda espero confiante na Mega! Ela é especial, tem muito valor!

O valor da Mega nem pode ser medido, e se for da Virada, então! Quanto é trezentos milhões de reais? Minha vida inteira parece ter passado muito ao largo de qualquer valor sentimental que se pareça com um prêmio desses. Nas matinês da minha adolescência o Silvio Santos distribuía dinheiro e as garotas dançavam o carnaval no salão e eu ia fazendo minhas apostas. A natureza punha as cartas todas na mesa, mas o medo de perder o jogo me fazia corar de vergonha só de pensar num insucesso e eu ia pro canto lamentar minha derrota sofrida por mim mesmo.

Ainda imberbe, pensei ter ganho o primeiro prêmio. Estava lá o troféu, ele brilhava e eu acreditei ter vencido. As regras não me eram conhecidas, eu só sabia que tinha apostado depois de ter apostado. A roleta girava ao som de Os Vikings. Entre o sobrenatural e a legião, os olhos falavam uma língua só compreendida pelos anjos. Enquanto o Internacional ganhava o campeonato brasileiro de futebol eu parecia ter feito os treze pontos da loteria esportiva. O campeonato acabou com a vitória do Inter e olhos não mais viram o prêmio.

Às vezes o jogo é sujo. Ainda que as luzes sejam coloridas e as caras pareçam amigáveis, uma aposta pode ser alta demais para um jovem amador. Essa palavra: amador, ou ama dor, parece resumir todo o desencanto de uma ilusão que vem das cores. A inocência enfrentando o colorido das casas e o amor, que não é do Céu, que não é do Inferno, penetra nas veias e inflama a vida. O remédio é amargo, absinto. Dor! A escuridão vem, mas ela termina exatamente quando a luz acende.

Trezentos milhões de reais! Dá para comprar o amor e aniquilar a dor. Com muito menos esbarrei em sentimentos que navegavam por águas mansas. Até que uma tranqueira aqui, uma pedreira ali e sempre tem uma corredeira que leva à cachoeira, muita emoção e um afogamento seguro no fim.

Se eu ganhasse na Mega-Sena, eu apostaria em você?

Se eu apostasse em você, ganharia na Mega-Sena?

domingo, 25 de agosto de 2024

EU QUERIA SABER

 


Quando deixei de querer saber só das coisas de casa e me interessei por conhecer o mundo, a primeira fonte de conhecimento foi a Enciclopédia Trópico que meus pais tinham adquirido. O mundo estava ali, dentro daqueles livros coloridos e interessantes. Tudo que eu lia era absolutamente verdadeiro, as outras verdades sobre o mesmo assunto ainda se encontravam escondidas alhures. Não se sabia da existência desses outros lugares, a verdade era única, absoluta, indiscutível, bíblica.

Daí vieram outros lugares, eles eram muito agradáveis, eu sabia, mas eram totalmente desconhecidos. As amizades não eram como as descritas nos Trópicos e a escola era um lugar muito estranho onde o conhecimento vinha das varas de vime e das bordoadas dadas pelo professor. Esse lugar era pavoroso e, mesmo assim, diziam que eu era inteligente. Talvez porque a escola me era totalmente estranha.

Eu só queria saber onde eu estava, mas ninguém me dava essa resposta. Três anos num seminário buscando a Deus e mais três num Colégio Agrícola encontrado o inferno. A paternidade dos padres e um diretor furibundo foram o bastante para me habilitar a muitos anos no purgatório. Eu só queria saber onde eu estava. Um dia li Dante Alighieri. A minha vida era uma Divina Comédia!

Nos bailes da vida eu via o Sol iluminando as noites de música e prazer. O mundo rodando aos meus pés arrastava complexas garotas que sorriam e dançavam. Uma cuba-livre e um Minister. A onda eram os filmes de Hollywood, dançar nas discotecas e ter uma Honda, com ela eu me agarrei até parar na farmácia. Eu só queria saber o que era a vida e os relacionamentos. Ninguém nunca me ensinou que o mundo não ensina, o mundo só aprende e rápido demais.

Me perdi nos lugares mais amáveis, onde pensei que iria me encontrar. O amor custa caro e o preço do pecado é a morte. Entre a Auréola e as luzes coloridas a pureza do amor desbota e o amor fica puído. Eu não sabia, mas o amor delirava. Como manter a pureza se o amor pede o pecado? Isso eu queria saber! O amor que era puro não me dava o amor que o pecado me dava. O pecado me dava o amor que o mundo conhecia, o mundo aprende rápido demais! O amor são as luzes coloridas?

Quando pensei já saber o bastante fui ser professor. Eu só queria saber se já sabia mesmo o bastante. Por vinte anos apliquei provas aos meus alunos. Quando descobri que todos os meus colegas, professores de outras disciplinas, reprovariam em qualquer das minhas provas e eu nas deles, descobri que meus alunos não tinham mais nada para me provar e desisti de lecionar. Eu queria saber por que as escolas cobram dos alunos o que os professores não sabem.

Por trinta e cindo anos trabalhei para alimentar um sistema que não concordo e agora já estou velho demais para lutar contra. Eu queria saber por que, por que eu tenho que ser a favor de um sistema que é contra mim? O mundo aprende rápido demais. O mundo contrata os pobres para trabalhar para os ricos e os filhos dos pobres para defender uma elite que rouba os trabalhadores, os filhos dos pobres são policiais, os filhos dos ricos são empresários. Os policiais defendem os empresários.

Eu queria sabe por que eu ainda escrevo.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

É PRA HOJE!

 


Eu quero para hoje porque estou com pressa. Ontem já não tive e nem a semana passada, não posso esperar mais uma semana. Estou ansioso, talvez necessitado. O tempo, tão precioso para ganhar dinheiro, permite tantas alegrias aos nossos olhos, mas depõe contra nossa felicidade.

Se não houvera o tempo, então tudo seria sempre hoje! Nada teria acontecido no passado que gerasse os traumas do presente, simplesmente porque o passado não existiria. Também não existiria o futuro e seríamos livres da ansiedade, esse mal que atormenta a alma. As contas não venceriam e ninguém seria condenado à prisão por ter cometido algum delito, não se pode atribuir uma pena sem definir o prazo de tempo e não podemos definir um prazo de tempo se o tempo não existe. E eu não estaria tão ansioso...

O Drummond sorri para mim da parede onde o tempo já não conta mais. Despejei sobre ele minha cara carrancuda e recebi de volta aquele mesmo sorriso de alguém que não se importa. Um dia, quando o tempo deixar de existir, nada mais será importante. Ficarei preso até lá? É essa a minha pena? Quem foi mesmo que me condenou? A culpa é da Eva, foi ela que comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e o deu a Adão. Se eu não conhecesse o mal, não ficaria tão apreensivo pela sua existência. Eu espero pelo bem, mas até quando? Se o tempo não existisse, o mal e o bem estariam diante de mim e eu poderia escolher.

O bem e o mal estão na razão, mas o amor está no coração. O coração não conta o tempo, apenas ama! O coração vaga por momentos que estão sempre no presente. O sentimento circula pelas veias e não tem prazo para chegar outra vez ao coração, está sempre circulando poesias e alimentando a alma que é eterna. Na eternidade o tempo não existe. O amor é eterno!

Eu amo eternamente a vida, estou acampado no meio do deserto da humanidade vivendo de Oásis em Oásis. Em cada um deixo um pouco do infinito do amor. Se sou acossado pelas asperezas da humanidade, entre uma eternidade e outra, deixo o coração eternamente sepultado no isolamento da vida. Penduro as delícias do amor na linha do horizonte para onde vou, ainda que ela recue enquanto me aproximo e tenha que demorar uma eternidade par alcançar. O que é a eternidade se o tempo não existe?

Eu não existo de fato, sou apenas uma representação da vida humana que não deveria existir, uma casa temporária para os sentimentos eternos. Afinal, quem sou eu? Essa matéria humana desagradável que destrói a natureza ou o sobrenatural que extrapola a matéria e se faz amor?

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

EU QUEIRA NÃO SENTIR SAUDADES

 



Saudades é uma daquelas coisas ruins que são boas de sentir. É uma ausência que se faz presente para trazer uma tristeza da alegria que se foi, mas ficou para ser lembrada quando a saudade sente um desejo incontido de atenção. É como a esposa quando quer que o marido perceba que ela cortou o cabelo, ela penteia-os enquanto olha para ele, ajeita de um lado, depois do outro, então vira de costas e joga os cabelos para trás. Se o marido não diz nada ela vai embora e ele fica na saudade, o que ele queria não eram só os cabelos, mas o corpo todo que acaba de se ir. A saudade é assim, o desejo de um todo que se foi.

Eu tenho muita saudades das coisas que não fiz. É um incômodo que traz imagens tão generosas das coisas que poderia ter feito! Ah, que saudades! Eu podia ter escolhido morar numa cidade litorânea e, lá escolher ver o pôr do sol junto da pessoa amada. Aliás, eu poderia mesmo ter escolhido a pessoa amada. Tenho saudades do pôr do sol que não vi com a pessoa amada que não amei. E o pôr do sol estava ali, só para me provocar, como uma mulher que penteia os cabelos e depois ajeita de um lado e de outro, daí joga os cabelos para as costas e se vai porque eu não fui ver o pôr do sol.

Quisera eu nunca sentir saudades do futuro do passado. Esse tempo verbal da gramática parece existir só para alimentar a dor da saudade daquilo que poderíamos ter feito e não fizemos. Não posso ter saudades do futuro. Se bem que já ando tendo esse sentimento de que as coisas que ando planejando vão se distanciando das possibilidades, de um tanto, que só de pensar em quão bom seriam se se realizassem já ando tendo aqueles sentimentos que apertam o coração e nos fazem chorar por dentro fazendo rugas no rosto e misturando a alegria do que deveria ser com a tristeza do que não será, e isso me faz ter saudade de um futuro incerto.

Tenho saudades de quando tinha fé. Isso mesmo, saudades de ir para o Céu quando morresse! Seria tão lindo morrer e ir subindo através das nuvens vestido em roupas brancas, um sorriso de absoluta felicidade expresso no rosto e olhar para baixo e ver o mundo em trevas ficando para trás, daí erguer o olhar e ver a porta do Céu se abrindo e um coro celestial cantando uma canção na língua dos anjos. A cidade celestial seria de ouro puro e os fundamentos da cidade de pedras preciosas. Eu não morri e as promessas do Céu se misturaram com a ganância mundana e o altar ficou manchado pela idolatria. Minha igreja agora sou eu. Irei para o Céu?

Saudades é a ilusão do amor que ficou quando o sonho se foi. Temos o direito de amar e de sonhar e o destino tem o direito de transformar isso em saudades. Eu sou responsável pela saudade que sinto das coisas que não fiz, mas o destino, ah! Bem que o destino poderia assumir sua responsabilidade e permitir que eu não sinta saudades do amor que ainda sonho ter!


segunda-feira, 12 de agosto de 2024

FELICIDADE

 


Hoje me arrisco a escrever qualquer coisa sobre um assunto que não entendo bem. Já ouvi tanto falar em felicidade que fui buscar na internet o conceito. Apareceram 280 resultados para a pesquisa. Olhei um, outro e mais outro e descobri que cada um tem seu conceito para a felicidade que não alcançou, mas que de alguma forma gostaria que alguém alcançasse para, então, ser feliz com a comprovação do seu próprio conceito. Olhei para o espelho e perguntei para a imagem refletida por detrás do vidro: Você já foi feliz?

Um silêncio brutal me olhou através do espelho e quando eu quis me mover ouvi uma voz absolutamente silenciosa que gritava aos meus pensamentos: “Se o que eu vou te dizer pode, de alguma maneira, trazer-te, ainda que seja uma pequena dose de felicidade, sim, já fomos felizes”. Quando? Eu quis perguntar. Meus lábios tremeram sem balbuciar palavra.

É claro que eu já fui feliz, quer dizer, devo ter sido feliz algum dia. Talvez eu tenha mesmo sido feliz. Se eu fui feliz, então eu quero me lembrar. Andei pela casa arrastando pensamentos idosos de uma infância infeliz e fui até o portão que se abriu e fechou estalando contra a parede. A rua me levou até a praça onde as crianças brincavam felizes no parquinho que eu nunca tive. Talvez eu tenha sido feliz na infância, não me lembro.

Um vento repentino levou meus pensamentos para um lugar florido. Era a primavera cheia de música em discotecas. Corpos balançando de um lado para outro ao som das guitarras e baterias, a cabeça jogando a bola da felicidade para os lados. Uma cuba livre e o sonho de rebeldia, isso era a felicidade! Dancei todos os Rock And Roll que pude e acordei ralado num tombo de motocicleta. O mundo real não perdoa quem quer ser feliz.

Um carro estacionou no meio fio e tinha música tocando. Não dá para negar, o som era de boa qualidade, amplificava para se ouvir a uma grande distância. Seu Jorge cantava dentro do carro para dizer que a felicidade é viver na sua companhia e estar junto todo dia. Lá, dentro do carro, Seu Jorge se calou e um modão balançou o carro com uma bebedeira, uma multidão gritava a felicidade pelos alto-falantes.

Fiz um filme da minha vida estrelando Júlia Roberts, ela é uma mulher linda. Por mais que eu estivesse apaixonado por mim mesmo, era necessário que eu amasse uma mulher. Mulheres lindas trazem felicidade. Depositei meu tesouro em vasos carnosos enquanto o amor dormia e o desejo vigiava. O maior desejo era trabalhar para conquistar todas as alegrias do mundo e transforma-las em um único instante de felicidade. Quem tem um instante de felicidade tem todas as alegrias porque a felicidade é para onde tendem todas as alegrias.

O amor é a felicidade, quem ama é feliz! Tá lá na internet, é o centésimo octogésimo terceiro resultado da pesquisa. E o amor tem pernas roliças, corpo de academia, cabelos de salão, cheiro de boticário, é cliente do JPMorgan Chase Bank N.A. e anda de Rolls-Royce Limited. Eu queria me banhar na piscina olímpica do amor. Entre as pernas roliças e o cheiro de perfume me casei quatro vezes. O amor ainda estava no futuro, era preciso trabalhar. Trinta e cinco anos de carteira assinada, 420 holerites com promessa de felicidade e quando me aposentei e pensei que seria feliz percebi que a felicidade tinha ficado no passado.

Onde mesmo?

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

AS MARIAS

 





O inverno de Santa Catarina é frio e a cidade de São Joaquim é uma espécie de símbolo desse inverno, é considerada a cidade mais fria do Brasil e onde tem a maior ocorrência de neve. Por lá se diz que o frio é cortante! Sim o frio de São Joaquim é muito intenso e o vento que corre livremente pelo planalto a uma altitude de 1.360 metros acima do nível do mar, é congelante, especialmente em dias de baixa temperatura, que pedem chegar a negativos 10°C, e alta umidade como nos dias 12 e 13 de julho, quando estive por lá e havia previsão de neve que, infelizmente não deu o ar da graça.

São Joaquim é uma cidade pequena, sua população mal passa dos 27 mil habitantes, um décimo da população de Dourados e a economia não tem nada a ver com nossos campos de soja e milho cheios de agrotóxicos. Por lá se produz muita maçã, do qual é o primeiro produtor do estado e do  Brasil, outro produto regional com forte impacto econômico são os vinhos finos de altitude preparados por pessoas apaixonadas pelo que fazem em suas lindas vinícolas, cada uma com um estilo e história particular.  Se produz, também, cachaça artesanal e é com ela que as Marias juntam pinhão ou maçã e temos uma bebida deliciosa que as Marias preparam artesanalmente em seu apartamento, onde alugam quartos para turistas que, eventualmente, se perdem ou se acham por São Joaquim. Me perdi na cidade e me achei no apartamento delas, experimentei a mistura e fomos apresentados à outra receita com vinho e pinhão. Delícias das Marias, e tinha mais.

São Joaquim é um belo lugar de se visitar. Muita natureza, montanhas, na safra da maçã se pode colher a fruta direto do pé e consumir no local. O turismo se profissionalizou nas vinícolas onde, pela bagatela de uns R$ 130,00 por pessoa se pode degustar uma carta de até cinco ou seis vinhos ou comprar uma garrafa que custa entre R$ 70,00 e R$ 300,00, ou até mais se o vinho foi um dos premiados em concursos internacionais. Nos supermercados, em cidades próximas dali se compra vinho chileno ou argentino de boa qualidade pela metade do preço, mas quem gasta quase uma fortuna para ir até o planalto catarinense não vai deixar de degustar um D’alture ou um Vivalti. 

Não se pode esperar uma vida cultural muito intensa num dia frio e úmido de uma cidade pequena. Quando chegamos, fomos direto para a praça da cidade, o que foi, claro, fácil de achar, basta seguir a rua que dá acesso ao centro e pronto. Lá, na praça, tem um centro de informações ao turista, bonecos que se protegem contra o frio e logo do outro lado da rua um dos atrativos, a Igreja Católica, construída em pedra ferro pelos primeiros moradores da cidade, onde as pedras eram carregadas em couros de boi e puxadas por homens ou até mesmo por bois, uma construção muito bonita que estava em reforma, deve ficar ainda mais bela quando terminarem as obras.

Tínhamos reservado uma casa pelo Airbnb, mas ao final da tarde descobrimos que a tal da casa não estava mesmo disponível, então fomos procurar alternativa urgente pois o dia já anoitecia e o frio, que marcava 6 graus às quatro da tarde já devia estar perto dos três ou quatro. Encontramos As Marias, que ofereciam o aluguel em quarto compartilhado dentro do apartamento onde moram. Pelo sim, pelo não, fizemos a reserva e fomos ao endereço.

O viajante perdido que se acha numa reserva desse apartamento com certeza vai sair de lá considerando que esse, ou melhor, essas, As Marias, são também, digamos, um ponto turístico da cidade. A recepção é direto para a cozinha. Com as malas ainda no corredor, nos aconchegamos próximo do fogão à lenha para um cafezinho com muita, muita, muita conversa. Há uma empolgação das Marias em receber pessoas que nem conhecem, em menos de um minuto já parecia que éramos amigos de longa data. Elas fazem questão de contar a história da cidade e suas próprias vivências.

Uma das Marias se chama mesmo Maria, é a mãe. Nascida e criada em São Joaquim, mora no mesmo apartamento há mais de quarenta anos, onde criou a filha e, agora viúva, compartilha o lugar com ela e com todos os viajantes que quiserem se hospedar nesse lugar, tomar café cozinha perto do fogão à lenha e comer das gostosuras que elas varam a noite preparando para oferecer e vender.



A outra Maria não se chama Maria, mas Thais. Formada em Nutrição, Thais trabalha em pelo menos dois empregos antes de cumprir outra jornada com a mãe. A cozinha é uma verdadeira indústria de gostosuras. Ali se preparam bebidas como as que citei acima com vinho e pinhão ou maçã, bolos, tortas, palitos de queijo, pão de queijo, rosca de coalhada, compotas, ... , mas tudo para imediatamente por horas quando chegam hóspedes totalmente estranhos que entram pela porta, largam as malas no corredor e adentram para a cozinha para um ‘cafezinho’.

Eu sou um cronista, gosto de escrever sobre experiências que vivo, especialmente se são boas! Ultimamente quase não tenho publicado, por circunstância ligadas aos remédios que ando carregando por onde vou, mas estou voltando e As Marias parecem ser um bom motivo para essa volta. Quando voltar à São Joaquim, ainda voltarei a ver As Marias, tomar café na cozinha aquecida pelo fogão à lenha e aquecer a alma com histórias riquíssimas das Marias.

domingo, 4 de agosto de 2024

SOMOS TODOS LOUCOS

 


Depois que li o Elogio da Loucura, do Erasmo de Rotterdam, me convenci de duas coisas, a primeira é de que somos todos anormais e a segunda é que ser louco é que é normal. Deste modo, se somos anormais para a sociedade, somos loucos. Por outro lado, se somos normais para a sociedade, somos loucos para a natureza, portanto loucos mesmo! Daí que somos todos loucos.

A loucura é uma coisa bacana! Einstein é considerado o louco mais genial das ciências exatas, exatamente nesse lugar onde se precisa ser racional, isto é, normal. Se o universo, para Einstein, é infinito, por que eu deveria me restringir a este mundinho pequeno, do tamanho de um nada em comparação ao infinito do universo?  Se a Terra é um nada em comparação ao universo, então, quem sou eu? Nada mais que 1 divido por 8.000.000 de uma parte de um nada do universo.

Espero que ninguém conte para meu médico que estou escrevendo isso tomando cerveja. O médico está tentando me libertar do Pênfigo e eu estou tentando me libertar do racionalismo. O remédio para o pênfigo é o corticoide, o imunossupressor, dapsona, restrições na alimentação e bebidas alcoólicas. O remédio para a racionalidade é cerveja, vinho, whisky, e outras alternativas que não dá para descrever aqui porque são consideradas ilegais, mas que são úteis, ah, isso são! Eu não vou deixar de viver, o médico que lute para me curar, ele ganha muito bem para isso.

Tem umas coisas que são meio loucas na vida da gente, tipo encontrar um amor a mil quilômetros de distância e pensar que vale a pena estar apaixonado. Melhor seria racionalizar que num raio de cinco ou dez quilômetros existem centenas de possibilidades mais, digamos, adequadas, para uma vida amorosa. Mas, isso é racional, o amor não! A irracionalidade tem razões que nem a razão pode explicar.

A loucura é uma delícia! Dizem que os poetas são loucos. Eu concordo. A poesia tem a capacidade de fazer com que o poeta saída da realidade para viver a loucura. A poesia e a filosofia andam de mãos dadas e formam um par perfeito. A filosofia pensa as possibilidades e a poesia faz rimas e versos transformando as possibilidades em sonhos. Eu sou um poeta que ama a filosofia.

Você não gosta de filosofia? Tudo bem, então olha para o teu lado e veja se o que a sociedade te oferece é útil e bom. Se é, seja feliz, você é um sujeito racional. Se não, melhor tomar uma cerveja e filosofar pelas madrugadas. Pode, também, tomar um porre de Vinicius, Drummond, Neruda, Ferreira Gulard. Faça uma revolução! E não deixe de ler Erasmo de Rotterdam.

CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

  Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que ...