JUVITA BALLARINI
Já passei um pouco daquela idade em que a gente corre atrás dos neologismos, especialmente esses do internetês que deixam a gente meio sem saber o que se quis dizer. Esse novo jeito de falar que os jovens inventam a cada dia para se comunicar pelas redes sociais parece um pouco com taquigrafia, aquela forma de escrever que os jornalistas tinham para escrever rápido, usando sinais que simbolizavam quase que somente os sons das consoantes. Estudei taquigrafia quando tinha vinte e poucos anos e copiava as matérias das aulas no caderno com esse monte de rabiscos depois traduzia para a língua formal e assim eu fazia duas coisas: Era admirado por conseguir escrever e depois traduzir e, fazendo isso, estudava duas vezes, daí minhas notas eram sempre boas! Eu queria ser jornalista...
O máximo que consegui como jornalista foram dois dias de redação
no Jornal O Panfleto. Fui sumariamente demitido. Daí a Caixa me chamou e eu
virei bancário e continuei minha carreira de professor por mais alguns anos. Mas
nunca parei de escrever, agora me vem essa dificuldade de comunicação pela
internet. Fds pode significar muitas coisas, inclusive ‘fim de semana’, pqp não precisa tradução e todxs é um novo jeito de
falar assexuadamente. Fico no meu deboismo
com certos exageros.
Meu espírito jornalista encontrou hoje o foco das atenções: Dona
Juvita! Eu me chamo Juvita, ela disse, sou a irmã da Lorita. Disse ‘irmã da
Lorita’ como se essa informação fosse muito importante. Dona Juvita veio
visitar minha mãe. Sentou-se na cadeira de fios que lhe ofereci, pôs o saco que
carregava, ao lado da cadeira e disse que queria saber como estava a vozinha. Aproveitei para saber um pouco
mais dessa figura folclórica desse lugarejo onde moro agora.
Juvita, a irmã da Lorita, não sabe quantos anos tem. Precisa ver
no registro. Ela diz ‘ver no registro’ com a maior naturalidade do mundo! Não
sabe ler nem escrever e isso parece não ser importante para essa mulher que
passou a vida alheia ao sistema que organiza as pessoas num modelo de produção
de bens de capital. Nenhuma importância ela dá a quem se proponha a
incorpora-la a uma lógica social racional.
Católica, parece ser uma
das poucas fieis a compreender o cristianismo. “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”.
É quase incompreensível a simplicidade com que vive e se relaciona com as
pessoas. O Sermão da Montanha é uma dura advertência aos ‘cidadãos de bem’. “Bem-aventurados os mansos, porque eles
herdarão a terra”. Pessoas como Juvita, a irmã da Lorita, herdará a o Céu e
a Terra!!!!
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