Aproveito as duas datas para publicar esta crônica, já que a escrevo no último dia de março e será publicada no primeiro de abril, ambas datas com celebrações e troças. Sei que meus textos não agradam a todos que os leem, assim como a ditadura imposta às vésperas do dia da mentira, em 1964, não agrada aos que defendiam e ainda defendem a democracia, então aproveito que ainda temos democracia para celebrar as lutas sociais que advieram em oposição à fatídica madrugada daquele dia da mentira, primeiro de abril de 64.
Para ser sincero, prefiro mil vezes as loucuras de amor em
tempos de paz! Fui jovem na década de setenta e oitenta quando o Brasil era
governado pelo séquito de militares que prometiam um novo país ordeiro e
seguro. Os bailes de salão embalados pela banda Os Wikins de Marechal Cândido Rondon faziam rodopiar os sonhos mais
lindos e as garotas mais encantadoras, até que, em algum momento, para
desespero da juventude, cantavam: Ai, ai,
ai, está chegando a hora...
O líder da banda, o cantor Walter Basso, ainda faz sucesso com
suas músicas e até hoje apesenta programa de rádio. O Brasil dos militares
também fez sucesso. Obras como a transamazônica, a ponte Rio-Niterói e usina de
Itaipu são obras de vulto. A Petrobrás se tornou a mais importante petrolífera
do mundo e todo setor estratégico como riquezas minerais, telecomunicações,
energia e navegação de cabotagem eram estatais e a indústria produzia seus
próprios bens de capital! Tudo alimentado por captação de divisas externas
abundantes, enquanto o povo encantava as
praias do Brasil ensolaradas e cantava eu
te amo meu Brasil! Mas, ai,ai,ai...
Quando voltei do Colégio Agrícola, em 1977, encontrei o grande
amor da minha vida! Uma garota maravilhosa de quem tenho saudades até hoje. Me
apaixonei pelos livros e fiz descobertas incríveis: Eles não usam black-tie, Cabra marcado para morrer, O que é isso,
companheiro?, Zuzu Angel, Batismo de Sangue, Lamarca, Chuva sobre Santiago,
Tortura nunca mais e outras obras que iluminavam a sangueira das Veias Abertas da América Latina.
Sinto saudades da minha garota como muita gente sene saudades da
ditadura militar, uma ilusão sobre algo que não conhecemos bem. Conheci outras
garotas e tive outros amores, a literatura engajada de Jorge Amado e o
romantismo compromissado do Neruda me levaram ao altar da justiça social onde
firmei compromisso eterno com a democracia e a igualdade de oportunidades,
Leonardo Boff me levou direto à opção preferencial pelos pobres e Frei Beto ao
socialismo cristão.
Afinal, foi 31 de março ou 1º de abril? Era tudo mentira?
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