- A Joana enlouqueceu!
Precisava de uma resposta mais esclarecedora? Precisava, talvez
uma menos enlouquecida! Joana não podia estar assim, fora das suas faculdades
mentais. Sempre fora tão disponível na comunidade. Não tinha um pobre que
batesse à sua porta e de lá não saísse sem uma ajuda. Agora estava assim:
Enlouquecida?
Estava. Estava que estava! O marido teve que mudar de casa. De
um mês para cá Joana deu de imaginar que ele ia matá-la de noite. Reuniu os
filhos para falar-lhes dos planos do pai deles para a sua morte, seria cruel,
ela sabia, cuidara de observar seu comportamento suspeito. Não podia mais
dormir, a qualquer hora ele daria a ordem e os capangas viriam para matá-la,
morte cruel, mal pegava no sono e vinha o pesadelo. Uma noite, quando o marido
a abraçou, querendo um querer de intimidade e ela estava quase dormindo, que já
não dormia desde muitos dias, sentiu o
braço do marido no pescoço e, de um pulo empurrou o marido com tanta força que
ele caiu fora da cama e quebrou o braço que ficou preso em baixo do corpo e
teve que ser levado ao hospital de onde voltou engessado.
- Bem feito! Quem mandou tentar me estrangular?
- Ninguém enlouquece assim, do nada!
O Padre andava de um lado para o outro dentro da Sacristia.
Beata Severina andava atrás, de mãos juntas jurando que sim, Joana estava
louca! Padre Amâncio, queira chamar José, o marido, para uma confissão que
pudesse esclarecer tudo. Não adianta padre, confissão é para Deus, padre não
pode fazer juízo de valor e nem julgamento! Então deixa, melhor nem
confessar... E os vizinhos o que dizem? Não dizem..., dizem..., quer dizer,
dizem, mas dizem que não disseram, porque ela anda de um jeito que não dá para
saber se não vai quebrar o braço de outro alguém, então é melhor não dizer, ou
pelo menos dizer que não disse, caso tenha já dito alguma coisa.
- E o delegado?
Não pode fazer nada, ainda ninguém denunciou. Que mal ela fez? Quebrou
o braço do José! Quem disse que ele não merecia? Homem é tudo igual! Dona
Jaqueline sempre se colocava ao lado dos acusados achando neles alguma
inocência que fosse. E Joana? Coitada, não seria difícil arregimentar um
exército de pobres que formariam fileiras em sua defesa!
Enquanto a igreja se ocupava de racionalizar o sobrenatural, na Vila,
a casa da Joana virou atração turística. Da janela ela alertava para o perigo
que eram os padrastos e as madrastas. Não deixem seus filhos em casa, ela
gritava a pleno pulmões. Parte do público ria das peripécias, parte se
indignava, especialmente quando Joana aparecia seminua invocando Afrodite, a
deusa do amor! “Mais, mais...” gritava uma galera que há uma semana programara
o hapy hour para a esquina próxima da
casa.
- Mas, o que afinal pode ter afetado a mente da Joana?
- Não sei, Padre, disse a beata Severina, só sei que pelas
informações dos vizinhos, a Joana assistia sempre o Datena! E com o volume cada
vez mais alto!
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