Me sento à mesa deste computador para escrever e não entendo
como as palavras, tão disponíveis em outros tempos, de repente se escondem como
se tivessem medo de uma contaminação qualquer desse vírus que anda fazendo as
pessoas se trancarem em casa, para não serem visitadas mesmo depois da segunda
dose da vacina. Dei de procurar na literatura para ver se encontrava caso
parecido, se não, talvez tenha chegado o fim das minhas escritas! Não demorou e
encontrei um Vinicius, penoso numa crônica de desabafo com a dificuldade da escrita,
eventualmente presente na hora de mandar o texto para o jornal, isso lá pela
década de 1960!
É certo que meu álibi vem das ruas. Além dos supermercados que
se enchem nos sábados à tarde e as lojas que se esvaziam de segunda a sexta, só
as igrejas, que agora são virtuais, têm público cativo, sem contar o Bolsonaro
que, por mais que faça loucuras, tem um bando de seguidores insanos e
fidelíssimos, para a vida ou para a morte! As ruas estão cheias de robôs
programados para continuar produzindo e quando se transformam em pessoas ficam
em isolamento dentro de suas casas, quando morrem adquire-se outro na linha de
montagem.
Às vezes falta matéria-prima. Isso não depende da pandemia, a
não ser que o industrial seja escritor e os textos precisem de relacionamentos.
Aí só tem um jeito: seguir o exemplo das igrejas, fazer cultos, quer dizer,
relacionamentos virtuais! Quem nunca teve um? Essa seara, ao contrário do texto
bíblico, tem muitos operários. Ali se cultivam todos os tipos de loucuras.
Andei experimentando, afinal, de onde vem uma boa história?
Histórias, em tempos de pandemia, preferencialmente via internet,
que só tem vírus eletrônicos, desses que destroem o Hard Disk, mais conhecido como HD, podem eventualmente infectar relacionamentos
tidos por absolutamente fieis. Uns chamam a isso de loucuras de amor, outros
uma aventura sem maiores consequências, os padres e os pastores juram que isso
é pecado, mas os poetas, contemplando o infinito criado por Deus, sabem por
sabedoria do sentimento, que o amor, ah, o amor! pode ter lá as suas licenças e
permissões, inda que se tenha que morrer de amor!
Se déssemos atenção à República, de Platão, não teríamos
necessidade de guardar segredos. Para o filósofo, tudo deveria ser comum,
inclusive os homens, as mulheres e os filhos. Nada de propriedade particular!
Pronto. Um grave problema moral estaria resolvido. Mas, não! Enquanto o
moralismo sustenta a ganância de uma sociedade hipócrita, os segredos pululam
pelas redes sociais. Quem ainda não tem um segredo, que atire a primeira pedra!
Bom
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