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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019
AS COISAS
Às vezes não sei bem o que significam as coisas.
Às vezes as coisas simplesmente significam.
às vezes bastam as coisas...
Às vezes bastam os significados...
Tem coisas que levo anos para ter,
Tem coisas que levo anos para entender,
Tem coisas que levo anos para encontrar,
Tem coisas que levo anos para amar.
Faço coisas que nada significam
Faço coisas que me complicam
Faço coisas que simplificam
Faço coisas que me edificam.
Sempre procuro coisas para fazer
Sempre procuro coisas para ter
Sempre procuro coisas para amar
Sempre procuro coisas para me ocupar.
Às vezes tem coisas que faço sempre,
Às vezes tem coisas que nunca faço,
Às vezes tem coisas que me entristecem,
Às vezes tem coisas que me enternecem.
Às vezes...
São tantas coisas...
Elairton Paulo Gehlen
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019
MORTE E VIDA
Quando a morte veio avisar que seu avô fora levado ele não
acreditou. A morte pode mesmo tirar a vida de uma pessoa? Perguntou. Pode viver
uma pessoa que está morta? Ouviu de resposta. Tinha doze anos quando pela
primeira vez experimentou a dúvida da morte e a incerteza da vida. Apesar do
reverbério, mantinha sempre em vida o avô. Ia para a escola em sua bicicleta e
passava em frente da casa com as mãos soltas do guidão. Olha vô! Cuidado,
menino, eitaa!
A morte pode mesmo ser a única coisa absolutamente certa nesta
vida. Dizem que é o sinal de igualdade, com ela ninguém é mais rico ou mais
pobre, tudo igual. Isso para quem acredita na morte, claro. Não acreditava. A
lei da gravidade quem descreveu? Isaac Newton, que viveu entre 1642 e 1727. Se
tivesse morrido mesmo em 1727, jamais teríamos sua memória até os dias de hoje.
Quando se morre, morre também a memória. A memória do avô está absolutamente
viva, cada palavra de ensinamento, cada risada, cada ‘eitaa!’ que ainda escuta
quando passa em frente da casa com as mãos soltas do guidão.
Mas a vida, sim a vida pode muito bem ser levada
pela morte. Nisso eu acredito, dizia. Tem muitos que estão mortos andando por
aí, sem vida, sem memória, falando coisa sem coisa. O Juca mesmo, até já
dividiu a herança e comprou terra no cemitério, só falta entrar no caixão e desaparecer
para nunca mais ser lembrado. E Jacinta, acha defeito em tudo que vê e até no
que não vê. Não tem uma palavra que se possa aproveitar. Já morreu!
Estava
vivo? Está vivo. Há uma vida que a morte não é capaz de matar. A plenitude da
vida! Quando se casou, confidenciou à esposa o desejo de ser avô. Ele é a
pessoa com quem mais me relaciono na vida! Mas, ele não morreu? As pessoas só
morrem de tanto falarem que ela morreu. Se você não der importância para a
morte, ela será incapaz de tirar a vida de quem quer que seja. Conheço gente
que anda por aí ansioso pela hora da morte, fazendo planos de como será a
herança, alguns fazem até testamento, documentando em cartório a certeza de que
já morreram. Outros continuam vivos eternamente. Meu avô nunca morrerá. Todos
os dias eu percebo que tem algo a me ensinar. Suas poesias são vida para nosso
casamento. Lembra do verso das coisas e dos coisos? Claro: ‘Coisas são coisas
porque os coisos coisam elas’. Coisas viram gente na poesia do vô.
Abriu o livro para ler, e
leu: Quem crê em mim terá vida eterna!
Elairton Paulo Gehlen
terça-feira, 12 de fevereiro de 2019
POR UM NOVO TEMPO
Por um novo tempo
Faço os planos
Escrevo poesia
Declamo.
Cuido da estrofe
Vivo todos os anos
Aprendo cada dia
Para um novo tempo
Vivo a minha velha vida
Preciso de algo novo
Nem que seja um pedido de socorro
Que ecoe pelo mundo velho
Onde sigo na mesma parelha
Renovar é preciso, mas
Não sei ainda se consigo.
Para um tempo que seja novo
Vou renovar as ideias
Viver a metanóia
Cansei dessa vida estoica
Vou respirar ares de liberdade
Viver a vida de verdade
Romper com todos os meus anos
E renascer para a irrealidade!
Elairton Paulo Gehlen
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019
O DIA DO AMANHÃ
Hoje nem é direito ainda e eu fico pensando se amanhã vai ser
melhor, porque ontem nem deveria ter existido. Me lembrei a noite inteirinha
que Deus me deu da meia noite do ano novo quando todos estavam lá na festa
olhando para os fogos que brilhavam bonito no céu refulgindo em cores de
prisma, não aquele carro da Chevrolet, mas o sólido de seção triangular que tem
a propriedade de decompor a luz branca no espectro de cores. Não tinha
um sólido de cristal no céu, só as luzes coloridas enchendo os olhos de brilho
e o coração de esperança: Feliz ano novo! E os abraços de solidariedade. O
rosto derretido em sorrisos sem fim. Fartura de comida e conversa como se todo
mundo fosse gentil.
Fevereiro já vai terminando o terço dos dias e eu estou aqui,
acordando o dia de uma noite sem dormir, lembrando da alegria. Abri dez vezes o
face book, dez vez fechei. Só tinha gente alegre e vitoriosa para me fazer
inveja e uns raivosos para aumentar a meinha tristeza. Eu devo ser o único no
mundo que só quer o bem, mas vive sem ninguém! Se o ano novo fosse amanhã eu
aguentava mais um dia, nem que fosse do jeito de hoje.
Agora que o dia já é, deu de me dar o sono, atrasado igual que
nem o salário que o patrão só paga depois do dia quinze e ainda desconta um
tanto de coisa que no fim mal dá para pagar o fiado do mercadinho. Aí começo a
contar os dias para saber quando vou poder comprar fiado de novo. Só que ontem
acabou o prazo desse mês e falta de um tudo aqui em casa! Benção esse meu
vizinho que não desliga o wi-fi da internet nunca.
E eu que nunca perdia a esperança, esperava que agora o salário
ia aumentar, mas o home fez foi diminuir um pouco até do pouco que já ia ser. Já
falei para o dono do mercadinho, se os preços continuar aumentando eu vou fazer
greve de fome e aí ele vai ver!
Elairton Paulo Gehlen
terça-feira, 5 de fevereiro de 2019
ENQUANTO A CHUVA NÃO VEM
Sei que o tempo
Tem um tempo
Que não é meu.
Por mais que eu faça
O tempo só passa
E eu vivo como Bartimeu.
Faço a minha parte
Trabalho com arte
Mas o futuro é um breu.
Sulquei a terra
Corrigi os erros
Desvendei segredos
Obedeci como fariseu.
Tenho a semente
Tenho tudo em mente
Estou disposto e contente
Estou no apogeu.
Mas a terra é seca
Não há acordo nem treta
A indiferença é certa
Até agora não choveu!
Elairton Paulo Gehlen
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
O MAR DE BRUMADINHO
Hoje eu não tenho uma história para contar. A história que eu
tinha acabou, assim num de repente daqueles que vem sem nenhuma explicação e
vai findando quase de um tudo como se um tudo fosse mesmo um quase nada! E o
dia ainda estava no meio do dia e esse lugar que é belo, Belo Horizonte, ia
ganhando mais um almoço na mina do feijão.
As riquezas continuam ricas, os ricos, ricos e os minérios ainda
fazem os ricos ricos. Eu anotava o último almoço no meu diário quando pedi
feijão. A mina do feijão jogou molho no meu prato. Achei um desacato, veio mais
do que eu pedi, levou meu prato, a mesa, os amigos, e eu. E eu! Comi o molho da
mina do feijão até minha alma separar do corpo, enlameado, perdido para nunca
mais ser achado, para nunca mais ser lembrado, só mais um número, até agora
acharam noventa e seis!
Não sei vocês, mas eu só vejo meus colegas de trabalho da mina,
mina do feijão. Mortos, isso: mortos! Acharam noventa e seis, mas eu não estou
nessa conta. Me encontro no rio, no meio da poluição, contaminando tudo, já
passei pela cidade, destruí casas e ruas, destruí praças e matei mais gente
inocente. Saí da cidade e destruí lavouras e fazendas, sítios e gado. Fui eu!
Eu meus amigos e tudo que vinha junto com a lama da barragem malfeita da mina,
mina do feijão.
Minha alma voa para longe! Tem promessa de Salvação. Tem uma
revoada de almas sobre Brumadinho, mais que noventa e seis. Dá para ver os helicópteros
sobrevoando o mar de lama, só uma alma pode ver o tanto de lama que tem dentro
do helicóptero, é outro mar, mas de lama, não é lama da barragem da mina do
feijão, é lama que vem do inferno e tem cheiro de enxofre! É onde está o seu
coração.
Elairton Paulo Gehlen
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