Estou viajando de Kombi, viajando na vida, à procura de um ser estranho chamado: Mim Mesmo! A viagem está apenas começando e eu já sou diferente; atravessei quase um estado, passei por diversos estados emocionais; não sabia que o Rio Grande do Sul tinha as belezas que têm, e olha que eu só vi um pouquinho. Dentro de mim têm tantas vidas que nem sei encontrar o significado de cada uma. Também não sei onde estão as ‘cada uma’ das vidas que tenho dentro de mim.
Dois dias passei na Praia do Cassino, a maior praia do mundo; tão grande quanto fria. Foram os primeiros dois dias de solidão na Kombi; o frio dentro de mim parecia tão grande quanto a praia: 240 quilômetros! Não me arrisquei entrar nas águas geladas do mar, achei melhor não me afogar em pensamentos frios e quase estranhos, ainda que à vista das emoções. A Praia do Cassino tem uma história interessantíssima, foi o primeiro balneário em mar aberto do Brasil, tem um navio argentino afundado que virou atração turística e um hotel abandonado nas areias da praia. Eu tenho uma história, interessantíssima? Costumava ser o último em quase tudo e andei afundado em tristeza e acanhamento por uma vida inteira, meu hotel costumava estar abandonado.
A segunda viagem da Kombi foi para
ver cachoeiras. São lindas as quedas d’água por sobre as rochas duríssimas e
persistentes, lá embaixo formam um poço profundo onde se pode nadar e apreciar
a água que lava o corpo e a alma. Parece que a alma desce junto com a água da
cachoeira; água geladíssima e que se espalha por vários caminhos até chegar no
remanso e daí seguir por entre as pedras, do mesmo jeitinho que a vida. Eu me
vi ali naquela queda livre, o choque contra as durezas da vida, o remanso e
milhares de pedras. Mas tinha uma beleza! A alma tem um atrativo, mesmo nas
quedas ou entre as pedras, mas é no remanso que as pessoas se acomodam, basta
outra pedreira e, pronto! Só restam os olhares e os comentários, no máximo umas
pisadas.