Translate
domingo, 27 de julho de 2025
quarta-feira, 23 de julho de 2025
O QUE PABLO NERUDA DIRIA SE ESTIVESSE AQUI?
Há poucos dias eu assisti, de novo, o belíssimo filme O Carteiro e o Poeta, história ficcional que narra a amizade entre o poeta chileno Pablo Neruda e o carteiro Mario Jimenez durante um eventual exílio do poeta em uma vila de pescadores da Itália. A vida romântica no exílio, a amizade com o carteiro semianalfabeto, a admiração do povo e o ambiente litorâneo são um prato cheio para quem gosta de poesia.
Eu gosto do Neruda, da sua poesia,
seu compromisso social e até do Stalinismo e do espanto com as denúncias do XX Congresso do PCUS. É um desses caras fáceis de se gostar, você o
encontra por inteiro em Confesso que
Vivi, rejuvenesce em Rio Invisível,
viaja com o poeta em sua Antologia
Poética e desvenda toda sua vida e obra na tese de doutorado da estudante
de letras Vera Lígia Mojaes Migliano Gonzaga, pela UNESP (https://repositorio.unesp.br/server/api/core/bitstreams/ecee3236-2417-4394-820c-cc1ac2cc775b/content).
Quando vi o filme pela primeira vez,
em 1994, eu ainda estudava matemática na UFMS e tinha lançado minhas primeiras
dez páginas de poesia em um livro com outros autores locais, também já tinha
pago alguns alugueres com meu jornalzinho Poesia
Verde, de 1988 e conquistado pelo menos um coração fazendo poesia na rua
durante o trote cultural com os calouros daquele ano. Agora vejo outra vez o
filme, já aposentado e viajando de férias em Imbituba, Santa Catarina, junto da
bela Cléo que só me chama de Poeta!
Sentado na varanda do primeiro andar
do nosso airbnb, tomando meu
chimarrão e olhando a paisagem ao redor me perguntei inocentemente: O que diria
Pablo Neruda se estivesse aqui? Antes de dizer qualquer coisa que fosse, ele
apreciaria o lago que enchia nossos olhos por sobre a copa das árvores. Pelo
outro lado da varanda, ainda o lago e depois um vilarejo e mais adiante o mar.
Se ele aceitasse uma cuia do chimarrão, do meio da prosa descobriria meus
tempos de luta social, de militância comunista, as milhares de publicações em
jornais e panfletos, talvez até se interessasse por uma poesia do livro de
1993: Mais Uma Casa Que Nasce. Se o
Neruda estivesse em nossa casa, tomando chimarrão nesse dia, um dia depois de
assistirmos O Carteiro e o Poeta,
certamente se riria ao me ver ligar uma música na caixinha JBL e tirar a Cléo para dançar. Então se levantaria e, olhando a
paisagem, usaria de tantas metáforas quanto fossem necessárias e, com os olhos
verdes das copas das árvores, cheios das águas dos lagos e encantados com as
ondas do mar, faria uma linda poesia para sua Matilde.
Neruda nos deixou em 1973, poucos
meses depois que os Estados Unidos patrocinaram um golpe militar que assassinou
o presidente do Chile, Salvador Allende, e instaurou naquele país uma ditadura
militar comandada pelo famigerado General Augusto Pinochet. A truculência dos
militares não foi capaz de matar a poesia desse comunista. Ainda que, em nossa
viagem, o Neruda tenha sido só uma miragem, viajar para Imbituba e rever esse
filme foi um belo poema!
sábado, 12 de julho de 2025
GAZETEANDO
Desde o ano passado que estou estudando espanhol no curso oferecido pela UNAMI-Universidade da Melhor Idade, um curso de extensão da UEMS-Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, mesma instituição onde tirei um dez no processo seletivo do curso de especialização em educação matemática e depois desisti no meio para me arrepender eternamente. Mas agora estou decidido a não desistir, a não ser que seja por uma boa causa, e é por uma dessas ‘boas causas’ que estou gazeteando, ou gazeando, como queira, as aulas deste finalzinho de semestre.
Já estou com saudades dos colegas de
classe, esse povo divertido que demora uns quinze minutos para se aquietar para
que a professora, Santa Vânia de Dourados, possa iniciar as aulas, e ainda
assim tem uns que tem aquela fofoca urgente e a aula ainda demora mais uns
minutos para começar. Daí, quando a aula embala, já é hora do lanche. Hummm!
tem bolo, bolacha, salgados, suco de alguma coisa e café. Quando é a minha vez
de levar o lanche, daí tem pudim!!
Eu amo as aulas de espanhol! Até no
dia que a professora disse que não ia ter aula por causa do frio, eu fui. Fui
porque eu queria ir, lógico, mas também porque não vi o aviso no grupo do
watts. O grupo do watts é para os avisos importantes sobre o curso, mas todos
os dias tem umas mil publicações de bom
dia e boa noite! E aquelas mensagens motivadoras que todos precisamos ver
para tornar a vida mais agradável. Isso quando lemos as mensagens, claro! Mas
tem também os vídeos do paraguaio Wil cantando em espanhol e até em português,
que é para ele provar que já aprendeu a nossa língua. Eu ainda não me arrisco a
provar que já aprendi espanhol por dois motivos: Porque não aprendi, mesmo, o
suficiente para postar um vídeo e porque não sei cantar, nem em português,
menos ainda em espanhol!
Agora estou em Imbituba, gazeteando a
aula desta semana e lembrando da Márcia, enquanto o Will canta, e ele canta em
TODAS as aulas, e a Márcia filma todas as músicas que ele canta e dá para ver
que os olhos dela ficam mais brilhosos enquanto ele canta e quando ele olha
para ela, cantando, tem uma ligação inexplicável do amor entre eles. Na última
aula eu perguntei para o Will como foi que eles se conheceram e ele me disse
que foi pela internet, ele ainda morava em Asunción, no Paraguai, tipo uns
seiscentos quilômetros de distância. Dois anos depois ele estava cantando e nós
todos estávamos aplaudindo, mas ele cantava era só para a Márcia dele.
Como eu ia dizendo, agora eu estou em
Imbituba gazeteando a aula de espanhol e não vi o Will cantando para a Márcia,
mas tem uma coisa especial que justifica, e ela se parece com a história do
Will. Há pouco mais de dois anos eu conheci, acredite, pela internet, a minha Márcia, que se chama Cléo, e vim para
Imbituba cantar para ela e ela filma com os olhos cada música que eu canto e
quando eu a vejo me filmando os olhos brilham. Será o amor? Certamente que o
Will canta em espanhol melhor que eu, mas tem um quê de não sei o que que nos
iguala, mesmo que a distância que eu tenha que percorrer seja maior que
seiscentos quilômetros.
Imbituba é só um pretexto, nos
últimos dois anos já andamos por muitos lugares maravilhosos e descobrimos que
não são os lugares, mas nós mesmo é que somos capazes de fazer cada lugar ser
especial. Agora estamos em Imbituba. Eu amo aulas de espanhol! Em agosto
estarei de volta para a UNAMI, já com saudades. Das aulas de espanhol?
quarta-feira, 2 de julho de 2025
POVO ELEITO
Olá, boa noite! Sim, neste momento em
que escrevo estas mal traçadas linhas é noite, e do dia dois de julho e está
frio aqui na cidade de Dourados. O frio é bom porque me faz pensar em como é
bom ter uma usina de energia solar no telhado da casa e com a energia produzida
poder ligar o condicionador de ar para esquentar e ficar de boa aqui escrevendo
qualquer coisa no teclado do computador. Foi necessário que o frio viesse para
eu perceber como é bom o calor, desse jeitinho, na temperatura que eu quiser
que ela esteja.
Ah, sim, o título diz que eu deveria
escrever sobre Povo Eleito e eu estou
aqui pensando no meu conforto, em meio a uma dificuldade com o frio. Tudo bem,
falemos de eleição, e esse é um assunto bem amplo, tem povo eleito pra tudo quanto é lado. Eu mesmo já fui eleito muitas
vezes, Centro Acadêmico, Diretório Estudantil, Associação de moradores,
Sindicato dos bancários, CUT, CNB, Partido Político, Produtores Rurais da
Agricultura Familiar, etc. Nunca ninguém pagou salário para eu cumprir meus mandatos!
Às vezes povo eleito não significa
privilégios, mas trabalho, muito trabalho.
Mas, tem um povo eleito que gosta mesmo é de privilégios, e dos grandes. E só
foram eleitos graças à Democracia, mesmo assim tens alguns deles que odeiam a
Democracia, mesmo sendo eleitos graças a ela! E até que faz sentido ela ser
odiada, ela merece. A Democracia é uma prostituta, ela sorri para todos, mas se
entrega de corpo e alma aos endinheirados! A Democracia ama o poder e o
dinheiro! Ela é a intercessora entre seus eleitos
e Mamom. A arena política esta cheia
de prostitutas cultuais adoradoras do
deus Mamom. Mas, fique tranquilo, não
vamos dar toda a culpa à Democracia, genuinamente ela é quase uma santa, o
problema á o povo eleito, eles
transformaram a Democracia, que era perfeita, em algo esdrúxulo, tal qual os
próprios.
Então, por que alguns eleitos odeiam a Democracia? Simples,
porque, mesmo sendo eleitos pela Democracia e adorando ao deus Mamom, esses eleitos adoram a Baal e a Moloque. Baal é
o deus da tempestade, e esses eleitos
adoram uma tempestade no campo político, mas Baal também é o deus da fertilidade e da agricultura. Nada mais a
dizer! Quanto à Moloque, esse é o
deus ao qual se sacrificam as crianças, os inocentes. Num sentido político mais
amplo, os mais pobres, dos quais se deve tirar todos os direitos. Os adoradores
de Moloque são os que festejam a
matança que Israel está fazendo na Palestina, onde já assassinou mais de 50 mil
pessoas, a maioria mulheres e crianças.
Às vezes os eleitos pela Democracia, também se consideram eleitos por Deus e, contraditoriamente, dizem que os eleitos pela divindade são somente os Judeus.
E aí vale tudo, até defender o assassinato de mais de cinquenta mil inocentes!
Mas, sim, os Hebreus eram o povo eleito
de Deus e os Judeus são descendentes dos Hebreus, no entanto, porém, contudo, o
povo Judeu se deserdou quando não
reconheceu a Jesus como Filho de Deus, e teve seu mandato cassado. Desde o
surgimento do cristianismo, o Judeu não é mais um povo eleito!
A eleição
alcançou os Ímpios e a Democracia genuína permite aos pobres o acesso ao poder,
e é por essa Democracia que eu lutei em cada mandato que cumpri.
quarta-feira, 25 de junho de 2025
REVISÃO DA VIDA INTEIRA
Mesmo com a decisão do Supremo
Tribunal Federal-STF, de 2.024 de não reconhecer o direito dos trabalhadores à
Revisão da Vida Toda para benefícios de aposentadoria, eu decidi por conta
própria, fazer minha revisão da vida inteira agora em 2.025 e estou determinado
a acrescentar à minha vida os benefícios que calculo sejam maiores que aqueles
que eu adquiri em todo o tempo de vida, e vou incluir na revisão o tempo em que
não contribui diretamente ao INSS.
Não é fácil rever os arquivos do
passado, muitas das contribuições, talvez a maioria, foi de baixíssima
qualidade e pouco valor. Houve um tempo, muito longo, em que eu não tinha nenhum valor aparente e,
não tendo valor, a vida passou sem nenhuma contribuição que tivesse algum
proveito, pelo contrário, grande parte da minha primeira existência foi,
digamos, improdutiva. Pensei imediatamente em deixar de lado esse período, mas
logo percebi que os demais períodos eram consequência do anterior e fiquei
temeroso de o Juiz pedir a inclusão de
todos os períodos de vida para serem avaliados, então passei a analisar os
próximos para ver se isso pode impactar na vida atual.
Acho que os biólogos não concordam em
que haja primeira, segunda, terceira existência, mas a minha vida foi tão
claramente fracionada que até essa categoria profissional há de concordar que,
pelo menos no meu caso específico, essa classificação seja admissível. E, admitindo
que a primeira existência foi completamente inútil, concentrei esforços de
memória nos arquivos da vida para definir duas coisas: primeiro, o tempo da
segunda existência, esforço completamente desperdiçado, porque o que estava
claro para a primeira, estava, digamos, escuro na segunda. Outra coisa
importante: se a segunda existência teve valores significativos para a vida
toda. Outra perda de tempo!
Juízes de
primeira instância hão de reconhecer, e os demais togados de outras instâncias
superiores não irão contestar, que só o fato de eu ter ido às escolas já é um
mérito a ser reconhecido. Ainda que os resultados tenham sido medíocres, o fato
de eu ter sobrevivido à primeira existência e me esforçado na segunda já merece
um acréscimo ao valor atual da vida.
Se bem fundamentadas as argumentações
sobre os danos recebidos nas primeiras existências e, tendo claro que o meio
influencia o indivíduo, o que é comprovado cientificamente, há que se
considerar que o meio é de responsabilidade do estado que deve proteger o
indivíduo e garantir o bem-estar de todos. Desse modo, é forçoso inferir que a
terceira existência foi prejudicada por omissão do poder público que
privilegiou políticas sociais de valorização do capital em detrimento dos seres
humanos, permitindo que os capitalistas estabelecessem critérios de valorização
das pessoas produtivas por méritos de valores econômicos em detrimento das
questões sociais e humanas, o que certamente ocasionou a exclusão de pessoas
como eu, que sofreram danos por
deficiência dos órgãos de estado.
Depois de me convencer de que o
estado é o grande culpado pela minha
atual condição de aposentadoria, passei a dedicar horas preparando a petição
inicial do processo de revisão da vida toda. Mas, na busca por provas que
condenassem o estado acabei por me deparar comigo mesmo num processo doloroso
de crescimento e, observando as decisões que tomei ao longo da vida, percebi
que grande parte delas, talvez a maioria, foram decisões equivocadas e que
comprometeram consideravelmente o meu futuro. No caso, o futuro é o tempo atual.
Foram tantas as decisões equivocadas,
que me senti culpado antes mesmo de iniciar a petição. Um dilema se apossou de
mim: As decisões que tomei influenciaram o meio onde me desenvolvi, ou foi o
meio onde me desenvolvi que me fizeram tomar as decisões que tomei? O meu copo
de cerveja está pelo meio, eu não sei dizer se está meio cheio ou meio vazio! Talvez
seja mais fácil culpar o mundo e o sistema capitalista, mas daí entro em outro dilema:
Eu só terei paz se perdoar e eu sei que jamais serei capaz de perdoar quem
promove a miséria social por onde fiz um grande estágio na minha vida.
Revendo minha vida toda, encontrei
coisas muito ruins, para as quais eu mesmo me instituí Juiz e as condenei ao mar do esquecimento eterno. Mas também
encontrei muitas coisas boas e julguei por bem usufruir de tudo que a vida me
disponibilizou. O estado e os capitalistas? Que queimem no fogo que nunca se
apaga!
Estou acrescentando valor à minha
aposentadoria, e não é valor monetário!
Feliz dia do aposentado!!!
- Hã! Foi em janeiro? Tudo bem, feliz
dia mesmo assim!
terça-feira, 10 de junho de 2025
LISTA DE DESEJOS
Uma lista de desejos, quem não tem?
Um carro novo, sim esse é o primeiro da lista dos desejos de qualquer que não
tenha a menor condição de comprar um carro novo! Uma casa com uma bela garagem
para o carro novo também entra na lista, e daí logo pensamos na Caixa Econômica
Federal e imediatamente nos lembramos do Lula e do Minha Casa Minha Vida e
sonhamos com uma dívida que durará trinta anos e só vai acabar quando
realizamos outro sonho da lista dos desejos: aposentadoria. Mas, daí nos
lembramos do Temer e da reforma da previdência que nos tirou o direito de
aposentadoria em vida e vamos trabalhar até morrer. Não posso dizer que morrer
seja um item da lista dos desejos, mas que possamos viver dignamente até morrer,
isso é seguro, está em todas as listas, ainda que os liberais façam de tudo para
que não nos lembremos nunca deste item.
Essa lista desesperadora de desejos
simples e impossíveis às vezes nos faz desistir de ter uma lista de desejos,
pelo simples fato de o impossível ser impossível. Semana passada eu estava conversando
com um amigo meu chamado Júlio, ele é um desses desistentes, disse ter feito a
lista e depois de muito chorar achou por bem jogar a lista no fogo que não se
apaga e, de joelhos em terra, levantou as mãos para o Céu e clamou ao Supremo
pelo impossível, e foi nesse exato momento que eu cheguei. “Você ganhou na
loteria e veio me dar um carro novo!” Ele olhava para mim e eu pude perceber
uma auréola luminosa ao redor da sua cabeça. Foi nessa hora que eu percebi o
quanto a fé é capaz de mover montanhas, e a realidade que é mais dura que as
rochas que seguram a montanha, é capaz de mover a fé!
Eu disse que sim e ele imediatamente
confirmou o milagre e ajoelhado outra vez pediu que o Supremo fosse benévolo o
bastante para completar a lista que agora ardia no fogo eterno. Daí eu me
obriguei à mais dura tarefa que um homem sem condições de dar um carro novo de
presente pode se obrigar e disse-lhe que não, eu não ganhei na loteria e não
vim para dar-lhe um carro de presente. “DROGA”, ele disse, “Eu mandei a lista
dos desejos para o inferno e as minhas orações para o Céu, agora já não tenho
nada”.
Não posso dizer que a minha visita ao
amigo Júlio foi aprazível, não pude consolá-lo em sua aflição, também não fui
irresponsável de dar-lhe a esperança de milagres dessa natureza. Por pouco que
não o mandei dar uma oferta vultosa à uma dessas igrejas que prometem o milagre
da prosperidade, mas achei melhor me calar, ele já tinha se decepcionado o
bastante, não precisava de mais uma decepção.
Em casa, depois de estacionar meu
carro usado, na garagem da casa financiada pela CAIXA, inevitavelmente fiz a
minha lista dos desejos. Considerei os três primeiros itens cumpridos e tomei a
primeira cerveja para comemorar que já tenho um carro, uma casa e estou
aposentado. Pensei corajosamente em acrescentar MORRER na lista e me dar por
satisfeito, mas daí lembrei-me que antes, talvez eu pudesse ainda realizar
alguma coisa útil, pensei de novo, e de novo e, depois de pegar a segunda cerveja
escrevi: “Ter sempre cerveja em casa”. “Ótimo”,
pensei, “agora só falta... não, morrer ainda não, se eu vou ter sempre cerveja
em casa, então melhor viver bastante”.
Escrevi na lista: “Férias”, mas pensei: como pode um
aposentado que não trabalha tirar férias? Não me dei por vencido e pensei em o
que contém as férias, logo me veio à mente uma viagem, e esta contém passeios,
e estes contêm praia e trilhas, estes contêm companhia, esta contém amizade e
esta finalmente contém o desejo das férias: Amor!
Sim, mesmo sendo aposentado eu desejo tirar umas férias!
Grifei cuidadosamente esse item da
lista e me lembrei do Júlio, ele á professor, certamente estará de férias em julho.
Liguei para ele, minha voz estava meio embargada depois da quinta cerveja,
mesmo assim acho que me fiz entender, pois ele disse: “Agora entendi, todos os
itens da lista parecem conter subitens que sempre levam ao amor. Vou ligar para
a Mariele e convidá-la para viajar comigo em julho, daí vou pedir ela em
casamento. O que eu boto na lista: Férias, viagem ou casamento?”
Não sei o que ele fez, eu por mim deixei
só férias, por enquanto.
sábado, 17 de maio de 2025
MUNDOS PARALELOS
Tem pelo menos um louco que é lúcido neste nosso universo, mas que fala umas coisas que parecem umas loucuras, todavia, essas coisas que parecem loucura talvez tenham algum fundamento científico, que é o que ele diz, só que não havendo comprovação, são apenas teorias especulativas da ciência que, por não ter outra atribuição para os cientistas, deixa-os fazer elucubrações acerca de universos paralelos.
O cara se chama: Max Tegmark, ele é um cosmólogo sueco e desconfia, confiando muito,
que existam pelo menos quatro níveis de universos paralelos onde a realidade pode
ter diferentes formas de existência. Tem um outro carinha que também
desconfiava confiando isso, ele se chamava Stephen
Hawking. Quem sou eu para duvidar?
Para dizer bem a verdade, eu acredito
piamente na existência desses mundos paralelos. E eles são bem visíveis aqui no
Brasil, veja o caso da CBF-Confederação Brasileira de Futebol, que acabou de
contratar um treinador pelo salário de R$ 5.000.000,00 de reais por mês, mais
alguns penduricalhos como uma mansão no Rio de Janeiro, diversas passagens
aéreas para a família ir o voltar da Europa, e outras coisas mais. O futebol
brasileiro é mesmo um universo paralelo, aqui as casas de apostas são as
patrocinadoras dos times de futebol e pagam prêmios para quem acertar o
resultado do jogo. Para mim, isso não tem o menor sentido!
Supondo que futebol seja só uma tese,
então seria bom outro caso parecido para confirmar ou negar a tese. Vamos pensar
na política, é ou não é um universo paralelo? O Lula governa o Brasil no terceiro
mandato e jura que o Partido a que pertence é socialista, mas foi nos governos
petistas que os bancos registraram os maiores lucros da história do sistema
financeiro nacional! Os bolsonaristas juram pelo deus do Malafaia que a Terra é
plana e os Deputados da estrema direita estão propondo uma Lei que garanta, por
via legal, que os criminosos que invadiram e destruíram o patrimônio público,
são inocentes, tornando a ilegalidade legal. O que seria um absurdo, se não
existissem universos paralelos!
Às vezes eu penso que estou vivendo
em um desses universos paralelos. Tenho sentimento tão diferentes e percebo a
vida de uma forma tão estranha que parece que a realidade à minha volta não faz
nenhum sentido. Daí lembro-me dos existencialistas, mas o existencialismo de Sartre,
Camus, ou ainda, Heidegger, Kierkegaard ou até mesmo Nietzsche não dão
respostas, porque o não-sentido da vida é para a realidade do meio onde vivo,
mas não para o meio onde existo, esse paralelismo da existência da vida e da
alma.
Hoje é sábado, um dia comum, e o meu
universo é Dourados. Fazer o quê?
domingo, 11 de maio de 2025
TEM VALOR O ESCRITOR LOCAL?
Parte da minha pequena biblioteca é
dedicada aos escritores locais, e quando digo ‘locais’ isto inclui os de outras
cidades ou estados, desde que sejam meus amigos, irmãos, netos, etc. Esses
escritores estão próximos demais para que eu os imagine como super-heróis ou de
uma inteligência inalcançável. São, também, humanos demais, eu os vejo de
tempos em tempos, e isso os torna reais demais para que eu os imagine como
sobrenaturais, dotados de poderes divinos ou donos de uma cultura só acessível
aos deuses do olimpo.
Escritores assim costumam ser
relegados a um segundo plano quando pensamos em adquiri um bom livro para ler
ou até mesmo para deixar sobre a mesa da sala como propaganda de nossa cultura
inexistente. O imaginário popular parece considerar mais importante o que foi
escrito na Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Rússia ou em algum estado
brasileiro onde os famosos publicaram suas obras e a indústria fez o papel de
as divulgar e distribuir. Esse processo industrial é parecido com o que nos faz
comprar Bombril, Brahma, vinho do porto. As grandes editoras lançam e
comercializam poucos autores para faturar muito, é o mesmo processo dos
supermercados onde um pouco mais de uma dezena de conglomerados controlam o comércio
de quase todos os produtos, e nós na maioria da vezes, os preferimos aos dos micro
produtores locais.
É certo que às vezes, nós mesmos, os
escritores, decepcionamos o nosso público. Esquecemos que eles não têm nenhuma
obrigação de saber que o que estamos produzindo é diferente daquilo que eles
imaginam que vamos escrever, e eles não tem nenhuma obrigação de saber que nós
temos a liberdade de escrever sobre o que estamos pensando. Essa liberdade de
produzir um texto é para os deuses da literatura que estão escondidos atrás das
mídias, não para as pessoas reais que encontramos nas ruas e que nos
cumprimentam com um bom dia. Para eles temos que ser como Vinícius que bebia
cerveja no Bar Veloso, em Ipanema, no Rio de Janeiro, quando escreveu Garota de Ipanema vendo Helô Pinheiro
passar pela rua em direção à praia.
Todos que conheciam Vinícius
compravam seus livros porque sabiam que ele iria escrever poesias falando de
amor. As suas poesias e as suas crônicas estavam estampadas nos jornais. O que
publicam as mídias hoje? Fake News,
sensacionalismo, publicidade enganosa, notícias comerciais, matérias pagas,
jogos de azar e, de vez em quando, literatura! “Ah, mas eu vejo muita
literatura!” Sim, de autores estrangeiros ou nacionais vinculados a empresas de
marketing.
Escrevi esse texto porque estou
revoltado ou por que bebi muita cerveja? Às vezes quando tomo umas a mais os
pensamentos voam direto para o futuro ou para o passado ou ambos ao mesmo tempo
e eu fico sem controle. Me apaixono e desapaixono em uma fração de segundos.
Penso na vida e na morte e nos autores locais que se esforçam inutilmente por
vender suas obras e, por fim, faço planos de passar as férias de inverno na
praia com as minhas reticências.
Aproveito a deixa do autor deste
texto, que sou eu mesmo, para fazer a minha autocrítica. Mesmo tendo lido com
frequência os autores locais, que são meus amigos, quando faço referência a
algum autor em meus textos, tenho dado preferência aos ‘estrangeiros’. Mas,
agora, não tenho outra opção que não seja confessar: Dourados tem grandes
escritores. A começar pelo Nicanor Coelho, que pessoalmente eu não gostava, mas
‘Vida Cachoeirinha’ é uma obra a ser
lida! As poesias da Heleninha de Oliveira, da Odila Lange e do Marcos Coelho,
só para citar alguns, não podem passar em branco. Em junho tem a quinta FELIT-
Feira da Literatura de Dourados e umas dezenas de autores locais estarão por lá
para provar que nossa literatura é tão ou mais agradável que os produtos
industrializados pelas grandes editoras.
Eu fico feliz que o computador tem um
ícone que salva o que já se escreveu, assim eu posso deixar para continuar o
texto amanhã. Agora estou tomado por muitas reticências, meus pensamentos estão
em Bombinhas e eu vou abrir mais uma cerveja.
sexta-feira, 9 de maio de 2025
É POP!
O Papa é um leão, o décimo quarto da história da Igreja Católica e eu estou aqui preocupado com o Ronaldo, o gatinho que sumiu daqui de casa há uns três dias, menos tempo que isso foi necessário para que os Cardeais trancados à chave escolhessem o Leão que os guiará até que a morte os separe. O Ronaldo só comia, bebia e dormia, agora sumiu. Morreu?
Tem coisas, ou pessoas, que somem
porque morrem, como o Papa Francisco, outras simplesmente somem, como o
Ronaldo, mas também tem aquelas que deixam de falar com a gente como se a vida tivesse
pedido um intervalo de tempo para o descanso. Há uma semana que a saudades é uma
reticência em minha vida.
Os Papas são todos POP! Até o Bento
XVI, aquele que comandou uma igreja manchada pela corrupção e pedofilia e não
foi capaz de tomar providências para confissão dos pecados, sim, até Bento XVI
era ovacionado na Praça São Pedro em cada suntuosa aparição dominical. O
Ronaldo, nosso gatinho, não é castrado e de vez em quando some daqui de casa,
certamente para comer umas gatinhas no cio, depois ele volta como se nada tivesse
acontecido, come a ração, toma água e dorme o dia todo com a mesma cara de
santo que uma leva de padres católicos faziam depois de comer os coroinhas. Até
quando a Igreja Católica vai proibir os Padre de se casarem? Pedro, que a
Igreja tem orgulho de apresentar como o primeiro e mais exemplar Papa, era casado.
Enquanto escrevo esta crônica, a saudades, em forma de reticência, grita um silêncio
ensurdecedor no meu WattsApp.
A eleição de um Papa é um show! Parece Copa do Mundo. Transmissão ao vivo, expectativa pelo gol,
quer dizer, pela fumaça da chaminé da Capela Sistina, torcida organizada em várias
partes do mundo, banca de apostas e, claro, o jogo, este sem a presença da
torcida e nem da imprensa. É no Conclave, com chave, em total segredo e com votos
de confidencialidade, que os cardeais, cento e trinta e três juízes, decidem o
resultado do jogo não jogado. É tudo no tapetão! Não tem Superior Tribunal do
Papado para julgar o processo eleitoral, não tem fiscais de urna, não tem imprensa
para denunciar casos de corrupção, as cédulas são todas queimadas, não sobra
nada. A torcida fica sabendo que o jogo acabou quando a fumaça branca sai da
chaminé. Acho que o Ronaldo ainda não sabe quem é o Papa porque ele está sumido
há três dias e eu estou aqui escrevendo esta crônica pensando nas reticências
que a saudades vem deixando desde domingo passado.
À minha frente, na parede, está um
Drummond que comprei na Feria de Literatura de Dourados ano passado. O quadro
foi pintado ao vivo durante a feira, pela artista venezuelana Sthefhanny, e eu
fico aqui me perguntando: O que o Drummond escreveria sobre o sumiço do Ronaldo,
exatamente durante o Conclave que elegeu um Leão para o Papado? E a minha
cabeça só pensa nas reticências que a saudades produz desde domingo passado. Eu
não sei quais são os planos do Leão para a Igreja Católica, só sei que eu tenho
planos para as férias de julho, eu quero ir para Bombinhas, em Santa Catarina,
mas tudo depende das reticências...
quarta-feira, 7 de maio de 2025
RAQUEL DE BOA E A SANTA COMPADECIDA
Quando cheguei na Praça o dia se
vestia de noite e o céu espionava o palco de concreto com os olhos de lua. Os olhos
brilhavam as luzes e o palco estava iluminado de arte em potencial. A negritude
se vestia de muitas cores anunciando espetáculo de fé! Uma pequena multidão já
bebia a negritude musical e o relógio dizia que sim, daqui a pouco vai ter
teatro.
Era teatro aquela história contada
por verdade ou era verdade aquela história contada num teatro? Era arte! Se a
história era verdadeira não sei, falava de morrer e viver, de coroar a Santa.
Nem todo mundo acredita que Santa é Santa mesmo. Tem quem garanta que a Santa
que já morreu voltou a viver, mas ninguém garante que depois de morrer já viu a
Santa lá do outro lado da vida. Ah, desculpe! Tem alguém sim, a Raquel de Boa, ela morreu e viveu e viu
a Santa, eu vi, ela morreu na peça de teatro e foi coroar a Santa lá do outro
lado da vida.
Pensei em morrer também quando a Raquel de Boa reviveu, mas daí lembrei-me
que já morri algumas vezes no teatro da vida real. Quatro dias depois da peça
ainda faço as contas de quantas vezes morri e ressuscitei. Quase morro só de
pensar em cada morte! Melhor não fazer as contas. Corro com a coroa corroída em
busca da morte definitiva esperando os aplausos de quem sempre me
ridicularizou.
Fechei os olhos por um instante, o
suficiente para ver uma multidão de Santos: homens, mulheres e crianças sendo
assassinadas na Terra Santa! Mais de cinquenta mil, mortos por um povo que se
diz Povo de Deus: Israel! O inferno acrescentou combustível às suas labaredas
de um fogo que não se apaga na Palestina. Uma fábrica de Beatos! Quis perguntar
para a Raquel de Boa, ela que já
morreu e foi pro Céu coroar a Santa, o que ela acha que seria se todos os
assassinados por Israel revivessem no Céu, como ela, e fossem diante da Santa
contar o acontecido, mas não pude porque já faz quatro dias que ela voltou
para São Paulo. Então, alguém me ajuda, por favor: Se mais de cinquenta mil
pessoas assassinadas no genocídio promovido por Israel se apresentassem diante
da Santa, o que ela diria?
Cansei de pensar, agora vou dormir e
sonhar com a Raquel de Boa coroando a
Santa Compadecida!
quarta-feira, 23 de abril de 2025
AIRBNB .......
Estou de férias, ah, que delícia! Não
estou em um resort, mas ando assim, de airb
em bnb, matando saudades e
construindo sonhos. Viagens eternas que duram o quanto que tem que durar, que
eternidade não é a infinitude do tempo, mas o tempo infinito do momento onde se
quer estar. E vão-se os passados, cada vez mais distantes, afundando-se nos
buracos escuros da alma. Em seu lugar fazemos um novo caminho, cheio de vida e
calor, deixamos rastros de felicidades onde sonhos buscam alimentos futuros e o
presente se espelha no olhar quase distraído que repousa confortavelmente sobre
a beleza do amor.
Choquei filhotes de filhota em São
Bento do Sul onde se construiu um ninho acolhedor de patinhos feios, todos
muito lindos e queridos. Ah, quisera o Supremo que eu pudesse ficar chocando uma
eternidade a mais que a eternidade chocada! Mas era preciso que os sonhos
continuassem se alimentando dos rastros deixados no asfalto, então buscamos
refúgio na belíssima Curitiba. Quatro dias sedimentando caminhos e regando
sonhos de família e Chopp em dobro e terapia do medo. Não tenho mais medo a não
ser do medo do medo. Ainda tenho medo de ter medo outra vez de algo que agora
não tenho, medo de criar novas cicatrizes na alma. Mas tudo se acalma quando um
abraço se enlaça em meus pesadelos e faz o coração derreter saudades.
O tempo e o espaço já não existem, o
presente é uma fração infinitesimal tendendo a zero, não há passado, não há
futuro, é a eternidade em infinitas frações de bilionésimos de segundos, e o
espaço, quem pode explicar que mil quilômetros agora são uma distância
absolutamente inexistente? Sim, milagres existem, um abraço anula o tempo e o
espaço para se tornar eterno enquanto dure. No nada da existência racional, o
sonho ocupa todos os espaços e faz do tempo a eternidade que quiser.
O sonho enche as malas porque amanhã
tem alimento em rastros de saudades, mais um bnb. Em Morretes tem uma árvore da vida plantada há exatos dois
anos, a primeira de muitas esparramadas pelo Sul do Brasil. Agora vamos colher
os frutos, certamente seus galhos se estendem até o Chalé que alugamos para
acomodar sentimentos e sonhos. Não vamos levar os medos, não há lugar para
eles, nem no bagageiro, nem no banco do passageiro, o medo que espere até que a
eternidade o consuma no fogo que não se apaga.
Quatro dias para uma eternidade. Mas,
e depois? Depois? Não há nada depois da eternidade! A vida é uma eterna fração
infinitesimal.
sábado, 12 de abril de 2025
Eu..................
Nasci
num dia de outubro
Nem
sei se era noite ou se era dia
Nasci
e já quase morria
Era
de dia? estava tudo escuro.
Nasci
de novo quando mal sabia
Que
a vida podia ser de verdade
Naquela
tenra e inocente idade
Não
tinha lugar, nem tempo, que a vida valia
Nasci
outra vez quando me escondia
Os
grandes me davam muito medo
E
os pequenos eram grandes demais
Para
conhecer os meus segredos
Queria
ser gente quando nasci terceira vez
Mas
gente tem identidade e eu não tinha
O
mundo me via, mas não enxergava
Eu
via o mundo, mas nele eu não estava
Nascer
e renascer parece o destino
Nele
a gente sonha que vai ser feliz
Mas
a felicidade passa quase por um triz
E o
sonho vira um longo e lento desatino!
domingo, 6 de abril de 2025
NÃO ERA LIBERDADE?
Nos meus tempos de estudante
universitário (faz tempo, hem!), eu queria escrever uma tese sobre liberdade, e
eu tinha algumas referências bem importantes para isso, uma delas era a
experiência de Summerhill da Inglaterra descrita no livro de A. S. Neill, Liberdade Sem Medo. Outra foi o filme Sociedade dos Poetas Mortos. Eu já era
professor nessa época, e também militante do Partido Comunista Brasileiro,
alguns anos depois me tornei sindicalista, em todos esses ambientes lutávamos
por uma única causa: Justiça Social. Para nós, liberdade viria como
consequência da justiça social e da igualdade de oportunidades para todos.
Na década de noventa eu fiz muitas
palestras onde analisava a conjuntura política e econômica do nosso país, para
isso tinha como referência, além dos dados oficiais da economia e da política,
o estudo dos clássicos de economia. Um deles, talvez o mais importante livro
sobre esse assunto, escrito ainda no século dezoito (1776), foi A Riqueza das Nações, de Adam Smith.
Para Smith, o mercado deveria funcionar sem a intervenção do Estado, pois era
guiado por leis naturais dadas pela livre concorrência que estabilizaria os
preços pelo equilíbrio entre a oferta e a procura dos produtos disponíveis no
mercado. Foi dali que surgiu o termo Liberalismo.
Agora estou aposentado e já quase não
leio mais os clássicos de economia, prefiro literatura e poesia, e troquei a
luta política partidária e sindical por relacionamentos mais fraternos. Não me
importo mais se meus amigos são de direita ou de esquerda, eu os quero como
amigos, aos poucos vamos compreendendo que nem direita e nem esquerda foram
capazes de promover a justiça social e a igualdade de oportunidades pela qual
lutávamos. Pela televisão assistimos, ambos embasbacados, os “liberais”,
liderados pelo presidente dos Estados Unidos, afrontar o liberalismo com a mais
bruta intervenção do Estado na economia que já se viu desde a quebra da Bolsa
Internacional de Mercadorias de Nova York em 1929.
Eu diria que nestes tempos atuais eu
sou livre. Faço escolhas para minha vida como faziam os jovens de Summerhill,
posso ver o mundo como via o professor John Keating (Robin Williams) e seus
alunos quando ficavam em pé sobre as carteiras ou quando recitavam poesias nas
cavernas. “Carpe Diem. Aproveitem o dia
garotos. Façam suas vidas extraordinárias.”
O capitalismo nunca foi o que jura ser!
Talvez Albert Camus estivesse certo!
A existência não tem nenhum sentido. Os Hippies
já nos deram a mais bela lição de vida, mas nós somos mesmo homens de dura cerviz!
Buscamos no capitalismo uma estabilidade
financeira que nunca vem, acreditamos numa meritocracia que dá vantagem aos
ricos e seguimos fielmente a cartilha dos liberais que nos sufocam com
protecionismo quando lhes convêm. E, para finalizar, somos capazes de odiar
aqueles que lutam por nossos direitos enquanto declaramos amor aos que nos
exploram e nos excluem.
Estou assistindo uma série na amazona
intitulada The Chosen (Os
Escolhidos). Faz algum sentido?
quinta-feira, 27 de março de 2025
O COMBUSTÍVEL QUE QUEIMA O DESTINO
Quando minha mãe era ainda uma
adolescente, uma Cigana leu o seu destino e vaticinou que ela morreria antes de
completar setenta e oito anos de idade. Quando Dona Helga celebrou o
septuagésimo oitavo aniversário e a morte não veio, pensou que talvez tivesse
se enganado e, invertendo os algarismos, em vez de setenta e oito, a data
fatídica seria, então, oitenta e sete. Por mais de setenta anos o fogo desse
vaticínio queimou a vida de uma mulher religiosa. Como pode uma superstição ser
mais ardente que uma fé em um Deus todo poderoso? Isso eu não sei, o que eu sei
é que no dia 18 de novembro de 2021 nós celebramos como bolo e cerveja a
vitória da vida sobre a estupidez.
A vida sempre vence, até que a morte
lacra o destino final. Até lá, há sempre um fogo queimando o combustível do
destino. E não importa por quanto tempo ou quão rápido queima o combustível,
importa mesmo é quanto de combustível temos e, principalmente quanto dele vamos
queimar até descobrir uma nova fonte de energia que nos mova para uma nova
direção. O Sol que nos queima a pele a cada dia está a aproximadamente 150
bilhões de quilômetros de distância, queima
tão forte que a luz solar demora menos de dez minutos para percorrer essa
distância e iluminar nossos passos em rumo ao destino que nos espera enquanto
queimamos uma energia que não sabemos muito bem de onde vem.
Às vezes o combustível é feito de
esperança. Enquanto temos combustível,
vemos aquilo que esperamos ou desejamos. Esperança é um combustível poderoso
que nos leva a distâncias incríveis, mas às vezes acaba antes de alcançarmos o
ponto de chegada e ficamos derrotados pelo meio do caminho estorvando outros
que desejam correr a mesma corrida e ora um ora outro se enrosca em nossa
desfortuna e desperdiça, por nossa conta, o precioso elemento impulsionador da
vida.
Às vezes é a fé que enche o tanque da alma,
delineando caminhos de salvação ou perdição. Movidos pela fé podemos mover montanhas
ou alimentar demônios. Pela fé ouvimos a voz do Senhor num cicio do vento ou a
do pastor ganancioso em ensurdecedores alto-falantes. Lá nos postos de combustíveis
dizemos que o combustível batizado gera lucros para os donos e atemoriza os
consumidores, em muitas instituições os fiéis são batizados para gerar lucros
pelo terror do inferno, em outras são abastecidos do mais precioso combustível
que leva ao Céu.
Que vasta variedade de combustíveis
nos abastecem a cada dia! Amor, ódio, poder, ganância, humildade, desejos,
paixões, medos, ansiedade, ... . Em 66 anos me abasteci de quase todos esses
tipos de substâncias que queimamos para produzir calor emocional, cada um me conduzia
para um destino e eu acabei no meio do caminho olhando para os lados na esperança
de achar um atalho que possa me levar a um porto seguro. Que tamanha multidão
se encontra comigo!
Um minuto-luz é a distância que a luz
do Sol percorre em 60 segundos e equivale a aproximadamente 18 milhões de
quilômetros. Já não tenho mais muito tempo, mas se eu tiver pelo menos um
minuto-luz do combustível da fé verdadeira eu posso chegar ao Céu da minha
existência. Quem vem comigo?
quarta-feira, 19 de março de 2025
SEM VONTADE DE ESCREVER
Às vezes perco totalmente a vontade
de escrever. Para que servem as palavras? Elas são ditas ao vento e colhidas de
um modo esdrúxulo, quase incompreensíveis e transformadas em textos
supostamente bíblicos nas bocas de um sacerdócio estapafúrdio.
As palavras tinham valor quando eram
seletivas e dominadas por intelectuais que se davam ao respeito. Mas, desde os
tempos Pré-Socráticos elas se degeneram em falsas composições textuais a
serviço de uma galera prostituta em busca de poder, riqueza e reconhecimento.
Bastou à Sócrates questionar os Sofistas, os Teólogos e os valores gregos e
darem-lhe uma dose mortal de Cicuta. O maior filósofo da história da humanidade
não escreveu uma única palavra que fosse editada em um livro, tudo que se tem
são as anotações do seu pupilo Platão.
A religiosidade que mata por causa da
palavra já existia, como se vê, há cinco séculos antes de outro filósofo ser
morto cruelmente pela interpretação distorcida da palavra que deveria salvar.
Só o que se tem das suas palavras são referência a alguns rabiscos que fazia na
areia da praia quando intercedeu pela vida de uma prostituta que talvez nem soubesse
ler e seria apedrejada pelos conhecedores das falsas interpretações do texto
bíblico. O filósofo da paz e do amor ao próximo tornou-se presidiário e foi
torturado até a morte, morte de cruz, numa condenação pública patrocinada pelos
líderes religiosos.
Daqui a pouco vamos celebrar a Páscoa
e as ruas estão cheias de líderes religiosos gritando por anistia para um Barrabás
tupiniquim. Sim, Barrabás, o original, era um salteador, ladrão e assassino, em
seu favor gritaram os religiosos, aqueles que tinham conhecimento da palavra
escrita. Há mais de quatrocentos anos antes de Cristo, um jovem ‘corropmpido’ pelas ideias do mestre Sócrates
fundou a Academia mais importante de estudos universais, a Academia Platônica,
considerada a primeira universidade ocidental. O pensamento mais famoso de
Platão refere-se ao Mito da Caverna’, nela,
as pessoas acreditavam que a sombra projetada na parede era a realidade da vida
delas. Essas mesmas sombras são as Fake
News atuais.
Para que servem as palavras? O Trump
acabou de apresentar um projeto maravilhoso de construção de um RESORT na orla do mar mediterrâneo, um
lugar paradisíaco para os milionários terem laser e luxúria à custa dos
miseráveis. E por falar em miseráveis, para viabilizar o projeto é preciso expulsar
daquele lugar todo um povo a quem se recusa historicamente o direito a uma
pátria. Fundamentado na palavra de que Jerusalém será restaurada sob o domínio
de Israel, acredita-se que não há nenhum problema como o genocídio promovido
sobre um povo miserável e indefeso. Mas, tem só um problema, a Palavra diz que
Jerusalém não será a mesma, a nova Jerusalém, descrita na Palavra, será
realmente nova e descerá do Céu. O propósito
dessa guerra esdrúxula é destruir o povo palestino e dar lugar à construção de
um Resort para milionários e
bilionários que nada tem a ver com as profecias bíblicas.
Mas, para que servem essas palavras
que escrevo? Nada! São completamente inúteis.
domingo, 12 de janeiro de 2025
ACAMPAMENTO É UMA DOIDEIRA!!!
A ideia de acampar, por si só já é
uma coisa boa, montar a barraca num lugar bonito, entre árvores frondosas,
perto de uma grande represa com vista para uma praia tranquila, curtir o pôr do
sol e esperar o amanhecer tomando uma cervejinha em boa companhia...
... Um verdadeiro Paraíso! Damos
nomes a todos os animais que circulam pelo bosque ou se banhando nas águas
mornas do lago de Itaipu. Os animais são domesticados, as aves são cantoras e
as árvores fazem a harmonia das músicas toda vez que o vento balança os galhos
e derruba as folhas num eterno desfile de papel picado imaginário. De manhã,
quando se bota a cara amassada pela porta da barraca os olhos brilham com as
mangas que caíram madurinhas durante a madrugada, vêm como vinha o maná dos
hebreus, a cada dia, e não adianta guardar para o dia seguinte porque elas caem
com data de validade para o mesmo dia, no dia seguinte só servem para atrair as
moscas varejeiras. Senão guardar, tudo bem, o maná amanhece em frente da
barraca outra vez!
Enquanto o chá espera o desjejum de
frutas e cereais, a porta da barraca se abre para o bom dia que vem descabelado
e sorrindo. Não tem nenhuma necessidade de pentear os cabelos, é a natureza me
devolvendo o que era meu há pouco quando não tínhamos nenhuma necessidade das
coisas comerciais, nem mesmo das roupas ou calçados, a natureza nos bastava e,
agora que temos necessidade de roupas por causa dos vizinhos de acampamento,
nos olhamos agradecidos por mais um dia feito só para nós dois. Ainda que os
outros insistam em nos ver, eles não têm a menor importância, convivemos com
eles como convivemos pacificamente com os pássaros e os outros animais que
usufruem da natureza maravilhosa da Praia de Porto Mendes.
Desejamos estar no Paraíso e ali
permanecer para toda a eternidade, mas é só procurar pelas coisas compradas
nalgum comércio e que consideramos necessário para o dia que se nos apresenta
gratuitamente pela providência divina, que começa o perrengue. Acampamento não
é uma casa organizada, por mais que cuidemos para deixar tudo em algum lugar
conhecido, ao procura-lo não encontramos nem por nada deste mundo, daí viramos
todas as malas e caixas desarrumando ainda mais o que já era, digamos, uma
bagunça organizada. No Jardim do Edem não havia nenhuma necessidade de malas e
caixas e as coisas nunca estavam desorganizadas, simplesmente porque não havia
coisas, só a natureza. Ah, quem dera o Jardim não estivesse fechado e o anjo
que guarda a entrada nos permitisse ficar por lá por uma temporada eterna!
Nem só de manga vive o homem, então
vamos almoçar num restaurante onde encontramos frutas e verduras produzidas com
uma abundância de agrotóxicos, e uma grande variedade de comida gordurosa e
frituras em óleo de soja reutilizado. Uma delícia de comida temperada! Faz mal,
mas é muito bom!!! De lanche comemos deliciosos pães de queijo feitos sem
nenhuma grama de queijo e bebemos cervejas feitas com milho em vez de cevada.
Mas não reclamamos, decidimos que, se estamos acampados em meio à natureza,
então todos os produtos são naturais, inclusive as verduras e os demais
alimentos, tudo absolutamente orgânicos e, se algum mal nos sobrevier, vamos ao
médico e ele que lute para nos curar, ele ganha bem para isso.
As águas da praia do lago estão
aquecidas pelo sol escaldante do dia e mergulhamos nela como se usássemos
óculos de realidade virtual, as nuvens refletidas na água nos fazem flutuar no
espaço, nadamos de costas em nuvens de algodão e rodamos nossos corpos num
espaço sem gravidade. Quando os pés tocam as pedras no fundo do rio, percebemos
o lago e olhamos para o horizonte infinito onde o sol se põe, daí saímos
apressados para fazer pose e guardar para posteridade esse sentimento de
pertencimento às belezas incomparáveis da natureza. As imagens no celular nos
fazem perceber que estamos entre dois mundos, basta uma mordida no fruto da
árvore do conhecimento do bem e do mal e seremos expulsos do paraíso.
Voltamos felizes para nossa barraca e
percebemos uns carros estacionando por perto, uma fogueira foi acessa
anunciando churrasco e o capô se abriu para a música sertaneja universitária
que nada tem de sertaneja e muito menos de universitária, o timbre da voz nunca
muda e as notas parecem gotas torturadas saindo do alto falante. Pegamos nossas
cervejas geladas, duas cadeiras de praia e fomos apreciar o anoitecer na beira
do lago. Duas horas de sofrência e eles se foram satisfeitos de tanta carne e
cerveja temperados com a mais triste música do universo! A natureza agradecida
nos recebeu de volta para mais uma noite de paz. Quando amanheceu, um maná de
mangas amarelas com data de validade de um dia forrava o chão do nosso pátio.
Três dias vivendo as maravilhas do
paraíso e já não sabíamos onde encontrar as mais simples coisas sem ter que
revirar o acampamento. Foi nesse terceiro dia que descobrimos que o pior ainda
estava por ser encontrado no meio dessa bagunça de vida. Tinha algo que nos
incomodava e não era o carregador do celular que se escondera embaixo da mala
na caçamba da saveiro, também não era a cantoria da galera do churrasco, menos
ainda as moscas varejeiras que se deliciavam com os restos das mangas com prazo
de validade vencidos. Não era chuva e nem tempestade. Haveria algo pior num acampamento
à beira lago de Itaipu?
Pois havia, inacreditavelmente
fatídico, o destino nos fez permanecer isolados no paraíso por mais uma semana.
Os alimentos cultivados com agrotóxicos e gordurosos que comemos estavam aos
nossos olhos e podíamos ter evitado, a triste música sertanoja estava aos
nossos ouvidos e podíamos ter evitado, as mangas com data de validade podíamos
jogar para longe, mas o que não se vê, não se ouve, não se sente, como evitar?
Em algum lugar entre Dourados, Ponta Porã e Porto Mendes fomos contaminados com
o vírus da COVID. Pois, no terceiro dia de acampamento sentimos um leve, mas
persistente, sintoma de gripe, fizemos os exames e: POSITIVO!
Agora estamos condenados a viver no
paraíso por mais uma semana, graças a Deus com sintomas muito suaves o que nos
dá condições de fazer aquilo que lá no fundo do coração mais desejávamos: Ter
um tempo só para nós!