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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

 



Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que fica na fronteira do Brasil com a Bolívia, foi visto uma égua com chifre, um só é verdade, mas era um chifre, e quem viu foi a dona Mineirinha, como era, e ainda é conhecida a mulher do Romero. Só para constar, o nome da Mineirinha é Reinalda Silva Romero. Antes de se casar se chamava Reinalda da Silva Valenzuela, boliviana, filha de pai imigrante fugido da Venezuela quando os militares massacravam o povo pobre que promoveu o Caracazo, em 1989. Juan Valenzuea, o pai da Mineirinha, tinha participado do movimento em repúdio ao governo de Carlos Andrés Pérez, mas se livrou do massacre fugindo para a Bolívia, onde se empregou numa fazenda de gado no município de Puerto Quijarro, casou-se com Josefa de Arenque com quem teve seis filhos, entre eles a belíssima Reinalda.

Puerto Quijarro fica muito perto do Brasil e é comum os moradores de Corumbá atravessarem a fronteira para comprar produtos naquela cidade boliviana onde roupas e calçados são vendidos a preços mais baratos que do lado de cá da fronteira seca. Só oito quilômetros separam a cidade boliviana da brasileira e até a cavalo se percorre essa distância com grande facilidade. Há três anos, Romero fez esse trajeto em seu cavalo Rufino, não era a primeira vez que atravessava para o outro lado da fronteira, mas foi a primeira vez que voltou enamorado, perdidamente enamorado! No balcão da loja de calçados onde fora comprar botinas novas para as festividades de São João, dois olhos lhe sorriram um sorriso encantador, os cabelos negros roçando seus pés enquanto a moça o ajudava a calçar a botinas pareciam prende-lo pelo tornozelo, mas era o coração que já não podia libertar-se daquele corpinho castelhano feiticeiro. “Como te chamas?” Perguntou Romero confessando as emoções no rosto corado, a voz trêmula e sem saber o que fazer com as mãos. “Mi nombre es Reinalda, pero puedes llamarme Reída”. “Eu sou Romero, eu tenho uma fazenda de cavalos”.

Se era mesmo uma fazenda como queria Romero ou apenas um sítio como queiram os vizinhos, isso pouco importa. Interessa saber que Romero criava mesmo os cavalos, e eram de qualidade. O sítio, ou fazenda, como quiser, tinha cinquenta alqueires com uma boa pastagem, piquetes bem definidos por cerca de arame liso, boas instalações para os cavalos e um rio de águas muito limpas fazendo a divisa com a fazenda do Seu Firmino, criador de gado nelore. Romero, agora com 25 anos de idade, mora numa casa grande herdada dos pais falecidos num acidente de carro há menos de um ano, aliás toda a fazenda fora herdada, Romero era filho único, nascera ali e ali pretendia morrer quando a hora chegasse, mas antes de morrer queria se casar e ter filhos, pelo menos quatro. Quatro filhos era também o sonho do Pai, mas depois que o pequeno Romero nasceu, a mãe teve um tumor no útero e teve que o retirar, impossibilitando assim a chegada dos outros três filhos planejados pelo marido. Agora, Romero poderia realizar o sonho do pai, se Reída concordasse.

Reída, que ficara pelo menos uns quinze minutos entre a porta da loja de calçados e a calçada em frente, depois que Romero saíra de sua presença com as botinas no alforje do cavalo Rufino, já não pensava mais em ser gerente da loja, os sonhos viam campos verdes e cavalos, mitos cavalos, Campeiro, Lavradeiro, Campolina, Mangalarga, Mangalarga Marchador, Pampa, Pantaneiro, Pônei... e em todos eles estava montado Romero, menos no Pônei, neste estava uma criança. Seu filho? Estava vendo o destino? Teria um filho com Romero? Se casaria com esse moço que viera comprar um par de botinhas novas para festa de São João? Se Santo Antônio estiver olhando para a Bolívia agora... Quem sabe!

Estava! Santo Antônio estava mesmo olhando para Puerto Quijarro, ou talvez para a fazenda de cavalos em Corumbá, o certo é que um ano depois Reída dobrava cuidadosamente a certidão de casamento com seu novo nome: Reinalda Silva Romero. Mas logo foi apelidada de Mineirinha por causa dos belos queijos que fazia e dos pães de queijo que assava no fogão à lenha. Exatos nove meses após a festa de casamento nasceu João Ricardo que agora está encantado com a irmãzinha Janaina que nasceu dia 13 junho de 2.023, dia de Santo Antônio. Mineirinha continua vendo cavalos, muitos cavalos, principalmente os Mangalarga Marchador que o marido amansa e treina para vender. João Ricardo ganhou um pônei de presente de aniversário, mas só vai andar nele quando estiver mais crescido. No dia do seu aniversário, que foi 17 de abrilo, Romero deu a égua Rina de presente para a esposa e ela sempre arruma um tempinho entre os queijos e pães de queijo para montar nela e dar uns galopes. Semana passada ela viu algo estranho, muito estranho enquanto galopava quase na divisa com as terras do Seu Firmino que ficavam do outro lado do rio.

O marido tinha saído há três dias para fazer negócios de cavalos em Campo Grande, mas chegara da viagem ontem, mesmo dia que Seu Firmino viajara para Dourados, para participar da Expoagro, onde tencionava comprar um lote de bezerros nelore. Sempre que Romero viajava e ficava quatro ou cinco dias fora voltava cansado, mas com vontade de ir outra vez para a cidade, os negócios eram bons e ele ficava feliz cada vez que ia. Homem é pra isso, fazer negócios e ganhar dinheiro, agora com dois filhos era preciso aumentar os lucros porque as despesas aumentavam por conta própria, e se ele quisesse mais dois filhos, então quanto mais negócios, melhor.  Só que tinha uma coisa muito estranha, tinha um cavalo pastando perto da casa do Seu Firmino, Mineirinha reparou com cuidado, era o Rufino, o cavalo do marido. Como poderia estar Rufino nos pastos do vizinho se ele tinha ido com o cavalo para Puerto Quijarro comprar botinas novas para as festas juninas que se aproximavam?

A égua Rina andava devagar para ver se acalmava os pensamentos acelerados da dona. “Se o Firmino tá em Dourados, que será que o Rufino está fazendo com a dona Maria que é a mulher do Firmino?” De volta para casa, Rina, a égua da Mineirinha, foi direto para a porteira do piquete e depois de solta correu pelo pasto, mas de um jeito meio esquisito. Mineirinha ficou a olhá-la enquanto pensava no porquê de Rufino estar com a mulher do Firmino. Lá longe a Rina relinchava, parecia incomodada, Mineirinha notou que tinha alguma coisa diferente na cabeça, Rina deu a volta no piquete e veio se aproximando da dona, andando meio sem jeito, parecendo desconfortável, foi aí que Mineirinha notou alguma coisa diferente na cabeça da égua, ela tinha um chifre bem no meio da cabeça. Como isso podia ser? Tinha isso a ver com o Rufino pastando na fazenda do vizinho com a Maria, mulher do Firmino?

No dia seguinte, os vizinhos queriam tirar uma foto e mandar para o Consultor do Globo Rural, mas Romero disse que não, isso poderia criar caso na fazenda do vizinho do outro lado do rio. Chamou a mulher de lado e disse: “Melhor não, vou mandar matar a Rina e te dou outra égua para ti”. Assim o assunto deu-se por encerrado, ficando só as fofocas e o causo da égua da Mineirinha com um chifre na cabeça que até hoje se conta por verdadeiro. Eu nada sei, só estou contando o causo!

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