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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

AS RUAS DE DOURDOS

 



Dourados é considerada uma cidade modelo por ter uma excelente qualidade de vida, infraestrutura completa e uma vasta oferta de lazer e entretenimento. Essa é a visão geral criada por IA, a tal da inteligência artificial. Essa visão da IA é bem animadora porque eu moro em Dourados há quase quarenta anos e ainda não tinha percebido que era isso tudo! De qualquer forma, fiquei feliz de saber que eu moro há tanto tempo numa cidade tão boa, fiquei feliz e fui curtir todas as possibilidades que a cidade oferece, segundo a IA.

Logo de cara fui para a avenida mais importante da cidade, a Marcelino Pires. Dizem que esse Marcelino teria doado partes de suas terras para a fundação da cidade de Dourados, lá pelos idos de mil e novecentos. Dizem também que ele não doou coisíssima nenhuma, porque as terras que ele teria ocupado eram públicas, as tais terras devolutas, e por tanto pertenciam ao estado que, aí sim, pelo Decreto nº 402, de 3 de setembro de 1915, fez a reserva das terras públicas para a criação do patrimônio de Dourados, foram 3.600 hectares, segundo o historiador Carlos M. Amarilha, publicadas no jornal Campo Grande News.

A avenida Marcelino Pires foi uma das primeiras ruas que conheci quando vim para Dourados nos idos de 1.985. É uma bela avenida! Quando desci do ônibus, na rodoviária, e meus pés pisaram pela primeira vez na Marcelino, meus sonhos encheram esse lugar com os mais lindos desejos de uma vida nova, próspera e feliz! Neste tempo, a cidade já era Modelo, reconhecida pelo Governador de Mato Grosso, Fernando Correia da Costa, através da Portaria nº 314, de 27 de dezembro de 1.965. Vinte anos depois, eu pisava este chão para estudar na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e trabalhar para sobreviver e quem sabe até viver um pouco se o dinheiro fosse suficiente.

A avenida Marcelino Pires corta a cidade de Oeste a Leste, dividindo-a praticamente ao meio. A metade ao Norte é mais aburguesada, onde se encontram conjuntos residenciais com casas maiores e mais luxuosas, cercadas por muros altíssimos e cheias de câmeras de segurança e empresas de vigilância atuando vinte e quatro horas por dia com medo de que os residentes em outros bairros lhes possas causar algum mal enquanto nadam em suas piscinas olímpicas ou praticam esportes ou, ainda, fazem suas festas em grande estilo.

No lado Sul, tradicionalmente se localizam bairros mais populares e algumas áreas de ocupação e, de vez em quando, algum princípio de favelização, um horror para os do Norte, uma ponta de esperança para os do Sul. Mas, uma avenida não é um muro. Por mais que se queira construir muros ideológicos e sociais, não se pode fazer leis que impeçam a ocupação geográfica urbana, assim, já não se pode afirmar que as classes sociais estão dividas pela Marcelino Pires. Antes que esta se prolongasse até o rodovia BR 163, bairros populares já tinham atravessado a linha imaginária da divisão e, hoje, a burguesia luta para se esconder atrás de muros e cercas elétricas, o pobres já se aproximam demasiadamente dos condomínios!

Deixei a Avenida e fui até onde onde ela termina, ou começa, e adentrei num enorme parque semiabandonado pelo poder público. É o Parque Antenor Martins. O Parque homenageia o pecuarista do mesmo nome, que foi também vereador por três mandatos. Um homem de posses, representante da burguesia douradense. Curiosamente (?) a burguesia que esse nome representa não frequenta o Parque. O local é apreciado por pessoas da classe trabalhadora que residem em bairros populares próximos. Andei pela borda do belo lago, por entre as árvores que sombreiam parte do gramado e fui me refrescar na pequena reserva de mata num canto do Parque, próximo de um posto de polícia da guarda municipal.

Andando tão silenciosamente quanto é possível numa trilha, entre árvores e arbustos, ouvi uma conversa animada. Um grupo de pessoas pareciam estar se divertindo, eu reconheci algumas das vozes, eram pessoas amigas, aproximei-me e eles, ao me verem, nem tentaram disfarçar o que faziam, estavam fumando tranquilamente seu cigarro de maconha. Me chamaram para a roda e perguntaram se eu queria ‘dar um tapa”... Eu... disse... que sim.

Um comentário:

CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

  Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que ...