- Boa noite senhor!
O garçom cumprimentou o cliente que
estava à porta. Tinha ainda a bandeja na mão, pois acabara de atender uma mesa
próxima, pôs a toalha sobre o ombro e se dispôs ao recém-chegado oferecendo um
lugar para que pudesse sentar-se.
- Eu estou procurando por uma mulher
bonita, de uns cinquenta anos, ela já deve ter chegado.
- Como é o nome dela?
- Ela tem cabelos castanho-claro,
compridos até os ombros...
- Por favor, me acompanhe.
Pode-se dizer que o bar estava
lotado, diz-se lotado quando todas as mesas estão ocupadas. No caso, havia
ainda algumas poucas mesas disponíveis, para uma delas o garçom ia encaminhar o
cliente antes dele perguntar pela ‘mulher bonita de uns cinquenta anos”. Enquanto
andavam por entre as mesas, José dos Santos, o cliente, pensava em que situação
estava se metendo, tinha mesmo uma ‘mulher bonita de uns cinquenta anos’ sozinha
numa mesa à sua espera? Bem, à sua espera já era querer demais, dissera-o ao
garçom sem muito pensar, simplesmente disse, era o que desejava, encontrar uma ‘mulher
bonita de uns cinquenta anos’, conhece-la, fazer amizade, talvez iniciar um
namoro...
- Aqui, senhor!
José teve um sobressalto, como se
acordasse atrasado com o despertador tocando ao ouvido. O coração acelerou, as
mãos tremeram. Olhou para o garçom e queria se desculpar, mas ele já estava
atendendo outra mesa que o chamara. José estava atônito, estacado diante da
mesa ocupada pela ‘mulher bonita de uns cinquenta anos’, ela tinha cabelos
castanho-claros, parecia simpática e era muito, muito atraente.
- Sim?
A ‘mulher bonita de uns cinquenta
anos’ disse “sim?”, então era uma pergunta. José queria responder, mas como
responder uma pergunta que diz simplesmente: Sim?
- Ugh... eu, eu...
- O garçom disse que o senhor estava
me procurando.
- É, desculpe, acho que eu fiz uma besteira.
José não teve coragem de prosseguir
com seu plano mirabolante. Nem dá para afirmar que era um plano, enquanto
dirigia seu Ford Ka pelas ruas da cidade pensava que seria legal encontrar uma ‘mulher
bonita de uns cinquenta anos’ hoje. Tem um ditado que diz que o pecado é como um
pássaro que voa sobre a cabeça, não há nenhum problema em o pássaro voar sobre
tua cabeça, mas deixa-lo fazer ninho, aí já é o mal. Não que fosse pecado
deixar uma mulher bonita de uns cinquenta anos voar sobre a cabeça de José, mas
pedir ao garçom para fazer ninho na mesa dessa mulher...
- Senhor?
José sentiu uma mão delicada a
segurar seu braço.
- Vem, sente-se. Acho que o senhor
precisa de um pouco de água. Garçom, um copo de água, por favor.
José tomou a água num gole, a mulher
bonita de uns cinquenta anos tomou um copo de cerveja, ela esboçou um sorriso,
era o sorriso mais lindo que José já vira na vida, era o sorriso que desejava
enquanto dirigia seu Ford Ka.
- Diga, como é teu nome? Por que
estava me procurando?
- Meu nome é José, José dos Santos.
Essa parte não é difícil, mas, por que eu estava te procurando... isso é bem
difícil... isso foi uma loucura minha...
- Uma loucura? Eu estava precisando
mesmo de uma...
Ela estava também precisando de uma
loucura. Que loucura! O bar estava lotado agora, nenhuma mesa estava disponível
e havia clientes aguardando na porta. Em cada mesa parecia ter alguma loucura
acontecendo. José desviou os olhos à esquerda da mulher bonita à sua frente e
olhou para a mesas diante de si, na mesa mais próxima todos bebiam um brinde a
alguém ou a alguma coisa, na outra tinha dois casais e o marido de uma colocava
disfarçadamente um dos pés por debaixo da mesa, entre as pernas da mulher do
outro enquanto conversava animadamente com o marido dela. O pássaro estava
fazendo seu ninho! Se olhasse cada mesa
tinha lá um pássaro querendo fazer ninho... sim tinha lá suas exceções! José
era uma exceção. Era?
- Qual foi a tua loucura? Me conte.
- É que, na verdade, eu não estava
procurando você, quer dizer, estava, mas não era você, não era você, mas era
você.
- Daí você me achou.
- Sim, daí o garçom me trouxe até aqui.
- Então vamos brindar a tua loucura,
garçom um copo, não precisa, toma nesse da água mesmo.
Então brindaram à loucura, depois
brindaram ao seu primeiro encontro, daí brindaram alguém ter feito uma loucura
por uma mulher bonita de uns cinquenta anos, brindaram à vida, ao amor, aos
desejos sexuais dos idosos, à filosofia, à literatura e ao marido da mulher
bonita de uns cinquenta anos.
- Marido?
- Sim, olha ele aí, ele é escritor, vai
amar essa história, certamente amanhã estará publicada na Folha de Dourados.
publica,
ResponderExcluir