Como se sabe, ilha é uma porção de
pensamentos cercados de um mar de possibilidades! Eu sou uma ilha. Eu estou
numa ilha. Ilha do Mel é uma infinidade de possibilidades cercada por um mar
ilusões. Eu amo mel! Amei estar na Ilha por três dias e conhecer a Dona Preta,
nativa do local e que pouco sai de lá e não vê graça nenhuma no continente onde
seu filho morreu trabalhando de soldador de navio no porto de Paranaguá.
Fiquei encantado em Encantadas. A
praia de Encantadas é o cartão de chegada da Ilha. Tem um cheirinho de esgoto
pelo ar, mas não tem quem não se encante com Encantadas. A praia é uma
maravilha, muitos barcos ancorados no trapiche e gente chegando e partindo a
todo tempo, gente que passa a vida inteira achando que os carros modernos são a
maravilha da humanidade e quando chegam na Ilha se encantam com o silêncio dos
motores que não existem porque na Ilha não tem carros e em algumas praias não
tem nem sinal de telefone.
Ilha do Mel tem esse nome porque
produzia mel. Muito mel! E ainda produz. Não mais de abelhas, mas o mel que
está na essência da poesia. Tem quem se case na Ilha e aprecia o mel de
Encantadas. O amor na Ilha não precisa de uma cerimônia religiosa, a Ilha é uma
religião. O misticismo é quase regra geral. Nesse lugar não há quem não
acredite no sobrenatural, ainda que seja o amor. Amor à natureza parece ser o
maior ato de fé de quem se aventura por um barquinho até o trapiche de
Encantadas. Amar pessoas diferentes é um dogma do local, ali se pode ver de
tudo em relação ao comportamento humano... quase tudo... . Algumas coisas não
se veem porque estão tão distraidamente esparramadas pelas trilhas da Ilha que
até se confundem com a natureza. É natural que se faça coisas proibidas num
lugar onde o proibido é o deus do Continente.
Na toca do Raul se toda Raul: Metamorfose
Ambulante, Sociedade Alternativa, Ouro de Tolo, A Maçã... . Se você não
entendeu, não tem problema: Tente Outra Vez! Eu não Nasci Há Dez Mil Anos
Atrás, mas já comi da Maçã e Perdi o Medo da Chuva. Na Ilha tem sempre alguém
vivendo numa Sociedade Alternativa e a polícia, que anda num carrinho elétrico
em baixíssima velocidade, parece que entendeu que não há risco algum. E todos
vivem em paz.
Trilhei pelas trilhas da Ilha e até
me perdi. São muitos caminhos que levam ao paraíso de praias paradisíacas. Basta
se perder para encontrar seu pertencimento na natureza. A natureza não tem placas
de trânsito e nem barulho de motores, tem vegetação, animais, repteis, aves,
insetos, mas só um grupo de seres tem necessidade de regras muito específicas e
força policial: os humanos.
Três dias na Ilha e o barulho do
motor do barco que vai me levar de volta ao continente é um recado sobre o que
me espera do outro lado do mar! Ando pelo trapiche e me lembro de Dona Preta
que nasceu na Ilha, fez amor na Ilha, criou os filhos na Ilha. O continente
veio buscar um deles, levou ele num barco com um motor barulhento, despejou o
jovem num estaleiro barulhento, empurrou ele para um lugar muito alto e
ofereceu as maravilhas do capitalismo, daí o jogou para baixo. Dona Preta nuca
mais verá seu filho, o continente o tragou! Estou prestes a entrar no barco. Que
será que o continente tem para mim depois desses três dias na Ilha?
Amor novo.
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