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terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A ILHA

 



Como se sabe, ilha é uma porção de pensamentos cercados de um mar de possibilidades! Eu sou uma ilha. Eu estou numa ilha. Ilha do Mel é uma infinidade de possibilidades cercada por um mar ilusões. Eu amo mel! Amei estar na Ilha por três dias e conhecer a Dona Preta, nativa do local e que pouco sai de lá e não vê graça nenhuma no continente onde seu filho morreu trabalhando de soldador de navio no porto de Paranaguá.

Fiquei encantado em Encantadas. A praia de Encantadas é o cartão de chegada da Ilha. Tem um cheirinho de esgoto pelo ar, mas não tem quem não se encante com Encantadas. A praia é uma maravilha, muitos barcos ancorados no trapiche e gente chegando e partindo a todo tempo, gente que passa a vida inteira achando que os carros modernos são a maravilha da humanidade e quando chegam na Ilha se encantam com o silêncio dos motores que não existem porque na Ilha não tem carros e em algumas praias não tem nem sinal de telefone.

Ilha do Mel tem esse nome porque produzia mel. Muito mel! E ainda produz. Não mais de abelhas, mas o mel que está na essência da poesia. Tem quem se case na Ilha e aprecia o mel de Encantadas. O amor na Ilha não precisa de uma cerimônia religiosa, a Ilha é uma religião. O misticismo é quase regra geral. Nesse lugar não há quem não acredite no sobrenatural, ainda que seja o amor. Amor à natureza parece ser o maior ato de fé de quem se aventura por um barquinho até o trapiche de Encantadas. Amar pessoas diferentes é um dogma do local, ali se pode ver de tudo em relação ao comportamento humano... quase tudo... . Algumas coisas não se veem porque estão tão distraidamente esparramadas pelas trilhas da Ilha que até se confundem com a natureza. É natural que se faça coisas proibidas num lugar onde o proibido é o deus do Continente.

Na toca do Raul se toda Raul: Metamorfose Ambulante, Sociedade Alternativa, Ouro de Tolo, A Maçã... . Se você não entendeu, não tem problema: Tente Outra Vez! Eu não Nasci Há Dez Mil Anos Atrás, mas já comi da Maçã e Perdi o Medo da Chuva. Na Ilha tem sempre alguém vivendo numa Sociedade Alternativa e a polícia, que anda num carrinho elétrico em baixíssima velocidade, parece que entendeu que não há risco algum. E todos vivem em paz.

Trilhei pelas trilhas da Ilha e até me perdi. São muitos caminhos que levam ao paraíso de praias paradisíacas. Basta se perder para encontrar seu pertencimento na natureza. A natureza não tem placas de trânsito e nem barulho de motores, tem vegetação, animais, repteis, aves, insetos, mas só um grupo de seres tem necessidade de regras muito específicas e força policial: os humanos.

Três dias na Ilha e o barulho do motor do barco que vai me levar de volta ao continente é um recado sobre o que me espera do outro lado do mar! Ando pelo trapiche e me lembro de Dona Preta que nasceu na Ilha, fez amor na Ilha, criou os filhos na Ilha. O continente veio buscar um deles, levou ele num barco com um motor barulhento, despejou o jovem num estaleiro barulhento, empurrou ele para um lugar muito alto e ofereceu as maravilhas do capitalismo, daí o jogou para baixo. Dona Preta nuca mais verá seu filho, o continente o tragou! Estou prestes a entrar no barco. Que será que o continente tem para mim depois desses três dias na Ilha?

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