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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

DIA DE NADA

 


Hoje eu não quero comemorar. Acordei no sossego da vida onde um ar gostoso de memória percorria todo o ambiente refrescando as ideias e trazendo renovo de espírito. Abri as janelas do pensamento e me deparei com paisagens verdes de lugares por onde andei. Preguiçosamente me debrucei sobre o peitoril da idade e andei por tempos de juventude quando jogava sinuca no bar do Seu Domingos. Era primavera e a flor, vestida de azul, era linda! Era linda a primavera da vida e os temporais se sucediam um após outro arrancando os brotos do renovo que insistiam em revigorar.

Acordei cedo hoje, disposto a não fazer nada. Trabalho? Só o conceito de física que pode ser entendido como transferência de energia para um corpo ou sistema. Nada a ver com trabalho remunerado, aquele sistematizado para explorar um determinado grupo social em favor de outro. Meu trabalho, hoje, é apreciar a paisagem pela janela da vida. Logo cedo vejo um raio de sol a brilhar sobre minha alma. Enquanto a carne milita contra o espírito a alma perambula entre o céu e o inferno, fico a imaginar como seria o céu se eu estivesse lá. O céu tem estrelas, um horizonte perfeito para depositar os sonhos e nuvens de algodão para o aconchego dos prazeres mais puros. De repente uma tempestade varre as nuvens do céu e enegrece o horizonte dos desejos levantando poeira de humanidade sobre a primavera.

Meio dia e o sol arde sobre a alma derretendo sonhos e abrindo rachaduras no solo fértil dos sentimentos. Entre cardos e abrolhos vejo a vida que passa pela janela se fazendo mais e mais inútil. A primavera voa lentamente sob o sol, deixando o suave aroma das flores azuis, e se vai, para além da linha do horizonte, esconde sua beleza juvenil envolta em brumas de Avalon. Mebahiah, o anjo, passa ao longe, faz sinal que quer me falar. Deixo que se vá. Não estou disposto. Hoje não, não quero falar, só ficar olhando. Hoje não quero nada.

Ainda na janela, vejo a paisagem da existência e algumas nuvens estão se formando sobre a planície. Um vento forte surge de repente e leva consigo a árvore do amor. Então vem do Sul uma brisa refrescante. Quantas tempestades passaram pela janela? Quantas árvores foram arrancadas? Quero fechar a janela, já não suporto mais ficar contemplando a vida! Olhei para dentro de mim, entardecia uma luz azul no horizonte.

Mebahiah, ouvi uma voz quase silenciosa que nada dizia. Seria o vento na janela da vida? 

Um comentário:

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