Andei metido numa enrascada bem particular por estes dias quando chamei de “Negrinha” a uma pessoa querida. O enrosco se deu porque ela considerou essa expressão racista e revidou dizendo que eu não era mesmo comunista, que comunistas não se comportam dessa maneira, e tal, e coisa... Talvez eu deva rever meu comportamento, ou pelo menos o vocabulário, pois não é a primeira vez que alguém, por não gostar de alguma fala minha, questiona meu ‘comunismo”!
Ser negra deveria ser motivo de
orgulho, como o é ser comunista, pois ela, a Negrinha, é mesmo uma pessoa muito bonita e, com certeza, sua
beleza, e ela sabe disso muito bem, tem origem exatamente em sua negritude. Mas
a história dos negros em nosso país é tão cruel, que o simples fato de se usar
a expressão: negro, remete a anos de exclusão em um sistema branquelo injusto, onde
‘negro’ era quase sinônimo de cidadão
de segunda classe ou ainda pior. A expressão ‘Comunista’, parece um pouco com isso; a mesma elite que tachou
negros de cidadãos de segunda classe, é a mesma que quer os comunistas
execrados.
Ano passado comprei, na Amazon, o
livro: Contos Completos de Lima Barreto
e o li com grande satisfação. Esse cidadão, negro, nascido no dia 13 de maio de
1.881, na mesma data em que seria assinada a Lei Áurea sete anos depois,
tornou-se um dos mais importantes intelectuais brasileiros do século passado,
mas só teve reconhecimento na metade do século, pelo menos trinta anos após a
morte. Em setecentas páginas de contos, deu bem para sentir vergonha de ser
branco num país racista como o nosso, que fez de conta que libertava os
escravos para, na verdade, atender interesses do capitalismo que precisava
exportar o excesso de mão-de-obra europeia gerado pelo desenvolvimento
industrial e colocar trabalhadores brancos, europeus, assalariados no lugar dos
negros, para fomentar o mercado consumidor dos produtos da nova indústria. Nem
mesmo na Academia Lima Barreto teve
uma vaga, por lá tinha muita ‘Farda,
Fardão, Camisola de Dormir’.
‘Minha’ negrinha está em paz, eu
acho. Não mais me dirigi a ela com essa expressão. Ela continua negra e
continua bonita e autêntica como deve ser qualquer ser humano, negro, branco,
seja lá qual for a cor da pele. Há os que lutam pelas Cotas Sociais, como há os
que defendem uma coisa meio esquisita que eles chamam de Meritocracia. Esquecem-se estes que Meritocracia significa
exatamente: Ser digno, ser merecedor por
ter se esforçado. Convenhamos, é indigno quem disputa uma vaga pública
depois de ter frequentado escolas particulares que foram pagas com o resultado
do trabalho daqueles que foram impedidos de nelas entrar exatamente porque o
dinheiro necessário foi apropriado por estes.
A Negrinha é formada em Letras, ano
passado formou-se Doutora. Você sabe o que significa isso? Não, se você é um
branquelo como eu, você não sabe! Mas, se algum dia você já passou fome porque
não tinha dinheiro nem para o café da manhã, então talvez você possa ter alguma
ideia. E os comunistas, o que tem a ver com isso? Os Cristãos podem ler o Livro
de Atos dos Apóstolos, os Economistas podem ler Marx, os Filósofos vão se divertir
com A República de Platão e os
branquelos europeus, os que ainda conseguem ler um livro inteiro, eu recomendo Utopia de Thomas More. Quanto aos que inconvenientemente
se acham da Elite, deixemo-los gritar: meritocracia,
sem que saibam o que isso significa.
Grande mano, essa é a verdade das verdades.
ResponderExcluirVerdade..gostei
ResponderExcluirtoda leitura edifica., essa é a grande verdade.
ResponderExcluirE eu tô fudido, pois nasci: Pobre, branco, étero e de direita. Também tô reivindicando uma "minoria" pra mim, incluindo as cotas.
ResponderExcluirHétero.
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