- Você está muito linda... me dá um abraço?
E ela estava!... Linda!... Cabelos pretos, lisos, bem penteados
para o lado direito, caindo sobre os ombros e encobrindo metade da sobrancelha,
deixavam disponível os olhos esperançosos por um sinal de reconhecimento, um
sorriso que fosse. Os lábios prontos para uma palavra que queria, mas não podia
sair, quase uma súplica: diga se gostou da minha blusa nova! Sim, era de um
belíssimo azul claro e revelava o segredo ainda escondido em duas saliências
firmes sobre o peito, tinha botões e, ai,
estavam abotoados, menos o último, embaixo, onde já havia um zíper fechando
outro segredo, mas deixando à mostra os tesouros da moda que não se faz de
rogada e põe em evidência as linhas curvas e atraentes do corpo jovem, esbelto
e atraente da bela Sofia!
-Claro...
As palavras não eram audíveis, quase um sussurro, mas quem
esperava entendimento gramatical? Os braços subiram arcados para o pescoço e
cercaram o coração num afeto quase infantil, desnudo, irracional. Outro abraço
veio quase pela cintura e foi subindo até desaparecer sob os cabelos pretos
alisados na chapinha e caprichosamente penteados até o meio das costas. A mão
direita foi pesquisar o que estava encoberto e chegou à raiz dos cabelos
causando um calafrio enquanto a esquerda se contentava em apertar firmemente a
última costela, como a lembrar que seu corpo todo fora feito de uma costela, da
sua costela. Puxou-a para si, como a querer tomar de volta a parte que lhe fora
tirada, o corpo todo.
Entre os olhares que se encontraram e o abraço, havia o espaço
de quinze passos e uma decisão a ser tomada. Nenhum segundo de tempo estava
disponível, os olhos que miravam o taco de sinuca para derrubar a bola cinco e
já antecipavam a jogada final na bola oito, de repente fizeram as mão se
abrirem, o taco solto sobre a mesa informando a desistência da jogada e os
passos inseguros levando os olhos para um jogo mais arriscado, o primeiro
abraço, o desejo irresistível de primeiro abraço, um jogo, uma possibilidade de
ganhar. O taco abandonado sobre a mesa, os passos inseguros e o murmúrio do
adversário: Vai correr? Se pudesse correria...
- Eu quero namorar com você!
O coração cercado pelo abraço e o sussurro no ouvido: Eu quero
namorar com você!
- Então me beija...
Eu, eu... eu deveria ter feito isso em vez de continuar o jogo
de sinuca!
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