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quarta-feira, 10 de março de 2021

SOFIA

             - Você está muito linda...  me dá um abraço?

E ela estava!... Linda!... Cabelos pretos, lisos, bem penteados para o lado direito, caindo sobre os ombros e encobrindo metade da sobrancelha, deixavam disponível os olhos esperançosos por um sinal de reconhecimento, um sorriso que fosse. Os lábios prontos para uma palavra que queria, mas não podia sair, quase uma súplica: diga se gostou da minha blusa nova! Sim, era de um belíssimo azul claro e revelava o segredo ainda escondido em duas saliências firmes sobre o peito, tinha botões e, ai, estavam abotoados, menos o último, embaixo, onde já havia um zíper fechando outro segredo, mas deixando à mostra os tesouros da moda que não se faz de rogada e põe em evidência as linhas curvas e atraentes do corpo jovem, esbelto e atraente da bela Sofia!

-Claro...

As palavras não eram audíveis, quase um sussurro, mas quem esperava entendimento gramatical? Os braços subiram arcados para o pescoço e cercaram o coração num afeto quase infantil, desnudo, irracional. Outro abraço veio quase pela cintura e foi subindo até desaparecer sob os cabelos pretos alisados na chapinha e caprichosamente penteados até o meio das costas. A mão direita foi pesquisar o que estava encoberto e chegou à raiz dos cabelos causando um calafrio enquanto a esquerda se contentava em apertar firmemente a última costela, como a lembrar que seu corpo todo fora feito de uma costela, da sua costela. Puxou-a para si, como a querer tomar de volta a parte que lhe fora tirada, o corpo todo.

Entre os olhares que se encontraram e o abraço, havia o espaço de quinze passos e uma decisão a ser tomada. Nenhum segundo de tempo estava disponível, os olhos que miravam o taco de sinuca para derrubar a bola cinco e já antecipavam a jogada final na bola oito, de repente fizeram as mão se abrirem, o taco solto sobre a mesa informando a desistência da jogada e os passos inseguros levando os olhos para um jogo mais arriscado, o primeiro abraço, o desejo irresistível de primeiro abraço, um jogo, uma possibilidade de ganhar. O taco abandonado sobre a mesa, os passos inseguros e o murmúrio do adversário: Vai correr? Se pudesse correria...

- Eu quero namorar com você!

O coração cercado pelo abraço e o sussurro no ouvido: Eu quero namorar com você!

- Então me beija...

Eu, eu... eu deveria ter feito isso em vez de continuar o jogo de sinuca!

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