O mundo cristão comemora esta semana o evento mais importante do mundo religioso. Tem gente que ama peixe e não vê a hora do jejum da sexta-feira santa para cometer o pecado da gula, depois é só esperar a quarta-feira de cinzas e confessar, o padre manda rezar três ave-marias e, pronto: tá perdoado!
Este ano o caso está bem complicado. A maioria dos prefeitos e
governadores resolveu fechar o comércio e as igrejas, justamente nesta época em
que há um forte apelo em ambos os setores. O comércio sempre conta com datas especiais
como essa para faturar alto e não são poucos os que protestam contra as medidas
de prevenção contra COVID-19. Já as igrejas, com raras exceções, estão de boa
com a prevenção. Nem é muito difícil de entender, comerciantes entendem que o Capital
é mais importante que a vida e o lucro vêm do fortalecimento do capitalismo. Já
as igrejas aumentam suas receitas se os fiéis continuarem vivos.
Não sou comerciante, então está até um pouco mais fácil fazer a
crítica. Mas, Páscoa, que no original hebraico é pesach, e significa passagem parece uma boa metáfora para os dias
atuais. A praga, que hoje chamamos de Corona Virus e vai ceifando vidas por
todos os cantos, os Hebreus conheceram com outro nome, chamavam de morte mesmo.
Enquanto os Egípcios protestavam contra a prevenção e viram seus primogênitos
morrerem pela praga, os Hebreus vacinaram suas casas com o sangue do cordeiro.
Também não quero fazer nenhuma comparação maldosa, mas o Faraó
também não aceitava nem um tipo de prevenção contra as pragas até que a morte
ceifou pelo menos um dos filhos de cada família egípcia para só então tomar uma
atitude mais prática e libertar o povo Hebreu da escravidão. Por esses dias em
que no Brasil se chegou a mais de três mil mortes num único dia, parece que o
Faraó vai libertar o povo comprando vacinas.
Esta semana levei minha mãe para tomar a segunda dose da Corovac,
a vacina comunista que o Bolsonaro disse que jamais compraria. Comprou. É meio
como que passar o sangue do cordeiro no umbral da porta. Este ano vamos
comemorar a Páscoa! Entre o lucro que alimenta o capitalismo e o fiel que
permanece vivo, fico com o último. Minha mãe foi Ministra da igreja por
décadas. Jesus Cristo, uns diazinhos antes de celebrar a Páscoa passou pelo
templo e expulsou os comerciantes e banqueiros gananciosos!