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sábado, 15 de novembro de 2025

RENOVAÇÃO

 



Esta semana eu estava andando a pé por uma rua da cidade quando, num cruzamento, um ciclista quase foi atropelado por um automóvel; o motorista brecou o carro, buzinou fortemente, daí abaixou o vidro da janela e xingou o coitado do ciclista assustado que caíra da bicicleta. “Isso é mesmo o fim do mundo!” Exclamou uma senhora que andava quase ao meu lado na calçada. Sim, isso é o fim! O mundo não resiste mais à tanta ignorância.

Esse motorista é uma bela metáfora da sociedade. O mundo está cheio de ‘motoristas’ de carro atropelando ciclistas e se achando na razão, afinal, eles estão andando num carro que custa pelo menos umas cem vezes mais que uma bicicleta. Como pode um ciclista reivindicar qualquer direito diante de tamanha discrepância financeira?

Por séculos motoristas brancos atropelaram ciclistas negros e ainda hoje se prendem os pretos pelo simples fato de serem pretos e pobres. Não só pretos, mas pobres em geral são atropelados socialmente porque os que tem, ou pensam ter, dinheiro se acham nesse direito.

É certo que os pobres lutam, mas a luta parece ser inglória; é bíblico, até Jesus teria dito: ‘Os pobres sempre os tereis’. Desde que a sociedade se ‘organizou’, os mais pobres sempre foram atropelados porque o poder não está na moral e nem na ética, mas no dinheiro e no capital.

Bem na minha cara, na parede acima do meu computador, está um quadro do saudoso Sebastião Salgado mostrando o momento exato da ocupação de uma fazenda pelo Movimento Sem Terra. O MST é o maior produtor de alimentos orgânicos do Brasil, ainda assim é tido, por muitos, como um grupo terrorista!

Mais de setenta por cento dos alimentos são produzidos em áreas de agricultura familiar, mas o glamour é dado aos grandes produtores de commodities cheias de veneno e que vão diretamente para os portos de exportação. O grande capital vive atropelando os trabalhadores nas esquinas e ainda os xingando de vagabundos e baderneiros.

Talvez tenhamos que voltar ao texto bíblico de Romanos 12:2, que diz: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vossa mente, ...”

terça-feira, 4 de novembro de 2025

SEM SENTIDO

 



Em física, quando se estuda vetores, aprende-se que eles têm módulo, direção e sentido. O módulo e a direção não me interessam, mas o sentido é para onde aponta a seta do vetor, é para onde ele vai, para onde a vida vai. E quando ela vai para lugar nenhum, qual é mesmo o sentido?

Eu poderia ficar por horas discorrendo sobre o módulo, que é a medida da vida. Quantos ano? 80, 90, 1.300? De que vale isso se a parte que interessa é o presente e o momento presente é um módulo que tende a zero; o resto é tudo passado ou futuro e a vida só tem sentido no exato momento em que a estamos vivendo, ou seja, no momento presente que não passa de uma fração ínfima de tempo.

Também poderia ficar outro tanto de horas falando de direção: horizontal, vertical, diagonal. Parece que o vetor está sempre sobre o plano ou espaço. Assim é a vida, morna e sem graça se muito planejada; arriscada e emocionante se sai do plano. A vida só tem sentido quando perde o controle.

Um vetor é física, é matemática, é biologia, mas a vida só tem sentido quando não se dá um sentido para ela. Se a vida só vai para a direita, para a esquerda ou para a vertical então ela é um vetor, e vetor é uma doença. Epidemiologistas estudam vetores!

A vida só tem sentido se for livre dos sistemas, das crenças limitantes, das ideologias, dos dogmatismos. Uma vida com sentido é extremamente perigosa para qualquer sistema. Arrisca-se a viver aquele que sai da caixinha modular onde se vai acrescentando módulos à cada fase da vida até que esteja cheia e então seja substituída por outra mais moderna.

Sentido também pode ser sinônimo de bom-senso. E o bom-senso me diz que não faz o menor sentido a maior parte das coisas que a sociedade chama de bom-senso. Nós nascemos livres de ‘bom-senso’ e a vida não tem a menor necessidade dele; o sistema sim!

sábado, 1 de novembro de 2025

REVOLTADOS

 



Eu tenho um blog, este mesmo, é meu domínio, e nele eu publico o que eu quiser, sem censura e sem restrições, por isso que o blog se chama: Literatura Para a Liberdade. A única restrição para minha liberdade é a legal, se bem que às vezes o que é legítimo tem mais valor.

Em geral a lei diz, e depois desdiz, que todos somos livres e iguais. Livres para obedecer e iguais para participar dos processos legais. É tudo muito bonito! E é bom que tenhamos uma referência de direitos e obrigações. Pelo menos teoricamente isso nos faz iguais na sociedade, mas...

Mas, tem um treco na constituição que nos faz diferentes perante a lei. É um direito fundamental, artigo 5º: o direito à vida à liberdade, igualdade e à segurança. Todos devemos respeitar esses direitos.

A constituição também tem outros direitos, chamados sociais, artigo 6º: todos os cidadãos têm direito à educação, saúde, alimentação e moradia. E, sendo direitos constitucionais, é dever do estado garantir esses direitos ao cidadão.

Eu acho que eu consigo preservar esses direitos. Sou um cidadão brasileiro, tenho casa própria, um carro e um salário que supre essas necessidades. Com minha renda eu consigo comprar aquilo que se chama constitucionalmente ‘direitos sociais’. Todavia, se eu tenho que ‘comprar’, já não me é um direito!

Já houve um tempo em que eu não tinha nem se quer o direito de comprar porque simplesmente eu não tinha dinheiro suficiente para isso. Estima-se que no Brasil mais de 50 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da miséria. Isso quer dizer que eles não têm o direito de sequer se alimentar; essa situação elimina não só o artigo 6° como também o 5°. Para que serve mesmo a constituição?

Por outro lado, dez por cento da população detêm mais de quarenta por cento da riqueza enquanto que outros 40 por cento ficam com renda em torno de 14 vezes menos que o primeiro grupo. O sistema que proporciona tamanha injustiça social se chama capitalismo.

Entre os mais ricos e os mais pobres tem uma tal de classe média, cuja única função é doutrinas os de baixo com a ideologia dos de cima.

Ah, eu sou revoltado? Sim, eu sou.

NA ESTRADA – DE KOMBI

  Estou viajando de Kombi, viajando na vida, à procura de um ser estranho chamado: Mim...