Estava eu andando pela vida, cabisbaixo,
meio soturno, borocoxô, quando, de repente, não mais que de repente, eis que
estava namorando. Que felicidades! A cabeça ergueu-se, os olhos brilharam e o
dia dos namorados passou a ter uma certa importância emocional. E não era o dia
12 de junho, era algum dia entre janeiro e abril. Por mais que seja uma data
que acontece assim, meio repentinamente, ela pode acontecer num momento
qualquer enquanto o nada vai se transformando em vida, enquanto o fogo se
acende em meio as geleiras do coração, enquanto a lua emite seus raios
refletidos do sol e clareia os sentimentos e aquece a alma. Enquanto o amor,
que nasce platônico, rompe as correntes da amargura e abraça forte o desejo
irresistível de um abraço de mil quilômetros de distância. Vai se fazendo o amor.
E este é o dia, o dia dos namorados!
Dia dos namorados, agora eu tinha um.
Ainda que incerto, era certo que namorava, e precisava de presente, de
presença, essa força misteriosa que atrai desde uma distância muito longa para
aquecer dias de praia em Bombinhas, no Sul do Brasil, em pleno inverno, dois
corações fragilizados pelo amor. É assim o amor, não tem nenhuma lógica e é
lindo! Lindo de morrer, como morre às vezes o amor em meio à sua própria
beleza.
E o amor morreu! Está morto e agora
me vem esse dia de celebrar o amor, o dia dos namorados. Pensei em fazer
campanha de oração, dessas poderosas, que curam paralíticos, para ver se o amor
se levanta e vem ao meu encontro com júbilos de alegria. Pensei na cartomante,
uma carta, se for boa, bem feita, convincente, pode trazer o amor de volta.
Pensei numa curandeira, benzedeira, mágico. Pensei na Fênix, se o amor morreu,
talvez tenha sido cremado e virou cinzas. Fênix renasceu das cinzas.
Pensei em mandar um presente. Uma
caixa de bombom, perfume, uma caneca personalizada com uma poesia que fizemos
juntos, um porta-retratos, uma garrafa de champanhe para lembrar nosso primeiro
encontro. Pensei em tudo, até em fazer uma serenata e cantar: Stand by me! Dizem que quem canta reza
duas vezes!
Rezei, orei, fiz promessa de me
cuidar, cuidar de mim mesmo. Descobri que posso me namorar. Sou bastante
compreensivo e tolerante comigo mesmo e até já perdoei todas minhas falhas do
passado. Me perdoei até por ter amado mais aos outros do que a mim mesmo. Agora
sei que me amo, e quero me namorar a cada dia porque eu sou o melhor que eu
tenho para mim.
Não tenho mais saudades do dia dos
namorados, porque quem ama o dia dos namorados é o dono da loja. O comerciante é
o dono do amor, e ele o vende pelo valor de uns poucos dígitos até alguns milhares
de reais. O comerciante se deleita com o amor, e o presente que se compra para
dar nem sempre é o que ela ou ele queria. O que ela, ou ele, queria, era só o
teu amor. Stand by me!