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sábado, 6 de julho de 2019

(Do Livro: Histórias de Ana Maria e seu avô. Capítulo 2) - MODELO


(HOJE PUBLICO O SEGUNDO CAPÍTULO DO MEU LIVRO INTITULADO HISTÓRIAS DE ANA MARIA E SEU AVÔ,  QUE SERÁ LANÇADO EM OUTUBRO. 

Ana e o vô Júlio andaram com seus cavalos pelo pasto e o petiço que nunca fora bravo, era manso devido a autoridade da menina no controle absoluto desse animal.
- Tem que ser bom para controlar um cavalo como esse que eu estou, hem vô? – Disse Ana muito segura de si.
- É, minha neta, eu fico tranquilo quando você está por perto. – Disse o vô.
- Deixa que eu vou na frente, é mais seguro. – Disse Ana e conduziu seu cavalo adiante da montaria de Júlio.
Assim foram até o lago onde pararam para tomar água da bica. Ali ficaram descansando e conversando enquanto os cavalos comiam grama.
- Sabe, vô... – Ana começou a falar da escola. Contava detalhes das aulas, dos colegas, dos professores e de como ela era boa nos estudos. Parece que queria falar tudo de uma só vez, emendava um assunto no outro e o vô ia escutando pacientemente. Quando ela parava para respirar, o que era raro, o vô tentava em vão falar alguma coisa. Ana não deixava e já ia falando outra vez. Até que de repente ela parou e ficou olhando para o vô e disse:
- Ué, vô e você não vai falar nada?
Aí o vô aproveitou a deixa e perguntou como estavam as notas.
- Estão ótimas, fiquei de recuperação em cinco matérias, mas passei em todas!
Com o assunto ainda pela metade, resolveram montar seus cavalos pois já estava na hora de recolher o gado para depois ir almoçar. Foram tocando as vacas com os bezerros para o cercado do curral, daí separaram as vacas dos bezerros e orgulhosamente consideraram o serviço concluído para essa manhã que encostava nas 13 horas do dia. Tiraram os arreios dos cavalos e foram se gabar na cozinha onde estavam a mãe e a avó fazendo o almoço.
- Cheguei na hora, vó. Acho que o vô não ia conseguir separar os bezerros das vacas se eu não ajudasse. – Disse Ana orgulhosa da contribuição que dera na labuta do campo.
Depois do almoço o vô e a vó foram dormir que ninguém é de ferro, enquanto que Ana foi assistir televisão que ninguém é de ferro mesmo e a mãe repassou as mensagens do WhatsApp que ninguém é de ferro mesmo, mesmo.
- Como a Aninha está linda! – Disse a vó para a nora enquanto tomavam chimarrão no meio da tarde.
Ana não ouviu esse elogio porque estava com o vô arrumando o cercado das galinhas que se estragou quando um boi fugiu há dois dias e acuado foi de encontro a cerca e derrubou um palanque arrebentando a cerca de bambus.
- Essa minha neta está muito linda! Disse o vô intuitivamente quando terminaram de consertar o cercado. Bonita e eficiente, agora as galinhas não vão mais fugir.
Ana era mesmo bonita. Aos dez anos de idade ainda lembrava que da última vez que passara as férias no sítio a boca tinha uma janelinha que agora estava fechada por dentes bem cuidados. A pele jovial, os olhos azuis e cabelos loiros bem tratados. Dava para confundir com uma boneca bem grande.
- A mãe diz que eu vou ser modelo quando eu crescer. Por isso que eu não gosto de estudar. Para ser modelo a gente não precisa estudar.
- Quem não estuda fica burrinho. – Observou o vô.
- Burrinha, mas bonita e cheia da grana! – Justificou Ana, e emendou: - As modelos... – parou por um instante, ia dizer algo depreciativo sobre as modelos... – as modelos – repetiu - também não são lá muito inteligentes..., mas são ricas... - parou a frase como se fosse prosseguir, mas só riu olhando para o vô com uma expressão de dúvida, os olhos bem abertos e as mãos meio abertas na frente do peito, uma mais próxima do queixo a outra um pouco abaixo.
O vô riu e pegou na mão da neta para irem até onde estavam as modelos, quer dizer as mulheres tomando chimarrão. Ele queria tomar umas cuiadas.

Elairton Paulo Gehlen

segunda-feira, 1 de julho de 2019

FELICIDADE


Sai da murmúria do tempo, o próprio tempo de que se murmura. Tem uma felicidade chegando no horizonte às seis da manhã e traz o raiar do sol num colorido quase indescritível de tantas cores que precedem o dia cheio de oportunidades e possibilidades que até me atrapalho. É balbúrdia nos meus pensamentos e por uns instantes fico a admirar tanta beleza disponível justamente para mim, pobre coitado despido de capacidade para interpreta-la. Me sinto seduzido, por pouco que o horizonte não me abduzia, não fosse a louça suja em cima da pia a despertar a indignação da minha mulher que acaba de entrar na cozinha sem entender porque eu ainda não pusera o leite para ferver e o café no coador.
Ainda ouço as vozes, mas não decifro seu significado. São vozes do tempo que se fez e desfez. O café da manhã estava com jeito de felicidade, farto na mesa, esbanjando sabor no prato e aroma na xícara. O pão caseiro falando aos sentidos sobre relacionamento de um dia inteiro desde o preparo do fermento natural até sair quentinho do forno. O melado traz histórias que remontam ao ano passado quando a cana foi plantada até a semana passada quando foi feito no tacho. A nata é do leite que fui buscar no curral do fornecedor acompanhado de pelo menos meia hora de sonhos de uma vida melhor que vem com o aumento na produção. Essa felicidade me invadia por osmose quando de repente sofro um solavanco nas ideias: ‘Está ouvindo? Depois reclama que eu falo muito, mas você fica aí calado! ’ É uma voz conhecida, mas totalmente estranha aos momentos de felicidade.
Quando dou por mim, o sol está a pino e as garças-boieiras dançam livremente junto aos bois no pasto. Não foi preciso pensar para me escorar no cabo da enxada, num repente minha mente ficou livre, livremente. Os tucanos que logo de manhã pulavam nas árvores exibindo seu enorme bico colorido, agora voam pelos pensamentos caçando insetos e se alimentando de frutas, a fruta proibida da árvore do conhecimento do bem e do mal!
Larguei a enxada e fui pescar. Não foi necessário dar palavra porque a natureza ocupou todos os segundos para mostrar o tanto de felicidade disponível. O lago formado nas nascentes liberou água em cascata entre as pedras com uma música plenamente compreendida pelos sentidos. Seguindo a correnteza fui parar à beira do lago. Ah, o lago! Espelho da natureza refletindo a graça divina. O céu ao meu alcance na lâmina d’água! Joguei o anzol e pesquei uma patinga no meio de uma belíssima nuvem de algodão.
O entardecer descortina no horizonte o privilegio da beleza, trazendo após si um mar de estrelas e a lua nova. Lua nova... vida nova... nova....nova....
- Que foi, homem, acorda. A vida é dura!
Elairton Paulo Gehlen

CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

  Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que ...