Eu gosto de umas férias, quem não
gosta? Trabalhei, de Carteira Assinada por trinta e cinco anos e cada ano me
dava direito a umas férias, e cada férias era planejada e ansiosamente esperada
durante cada ano inteiro que a precedia, trezentos e trinta e cinco dias de
ansiedade para trinta dias de férias e, quando chegava a hora de “curtir”,
vendia dez dias das férias para ter dinheiro para gastar nos restantes vinte
dias. Assim, durante trinta e cinco anos de ansiedade, a Carteira Assinada me
prometia férias permanentes, uma tal de aposentadoria.
Aposentadoria é férias que a gente
tem direito por ter trabalhado de Carteira Assinada, mas quando a gente
aposenta começa a trabalhar em casa fazendo horta, plantando frutíferas,
limpando o quintal, ... Daí separa da mulher e aprende cozinhar, lavar roupa,
limpar a casa, ... e economizar dinheiro que salário de aposentado é menor e
quando resolve tirar férias não tem ninguém a quem vender dez dias para custear
os outros vinte das férias.
Depois de economizar um tempão fiz
planos de tirar férias e fui para a praia no inverno que daí tudo é mais
barato! Durante dez dias, aqueles que eu iria vender se o INSS, que agora é o
meu patrão, resolvesse comprar, fiquei me divertindo em Mariscal e Bombinhas. Foram
dias maravilhosos e quando cheguei de volta, no último sábado, lembrei que
tinha consulta marcada para segunda-feira, no Hospital do Pênfigo.
Estou no Hospital do Pênfigo porque
tenho pênfigo. Tá, esta é uma frase que faz sentido neste texto! Pênfigo é uma
doença autoimune que destrói a pele provocando feridas “em carne viva”. Essas
feridas dão uma sensação de estarem permanentemente queimando, por isso essa
doença é, também, conhecida por Fogo Selvagem. Em dezembro, quando o
bolsonarismo botava fogo na eleição do Lula, o Fogo Selvagem queimava meu corpo
do topo da cabeça até a cintura e eu queimava de agonia porque tinha planejado
uma bela viagem de férias para o Sul do Brasil.
Se você leu até aqui, já sabe que não
viajei em janeiro, fiquei em casa tomando corticoide que é o único remédio
plausível contra o Pênfigo. Mas, corticoide é quase tão ruim quanto o Fogo Selvagem,
retém gordura pelo corpo, atrapalha o sono, tira a concentração, causa tremedeira
nas mãos, cãibras, cansaço, aumenta o açúcar no sangue, colesterol, triglicerídeos,
glaucoma. Tem hora que eu fico em dúvida de qual dos dois é pior!
Na Páscoa viajei tomando corticoide,
em julho viajei com o Pênfigo. Hoje vim consultar com o Doutor Gerson e ele
determinou que eu tivesse dois dias de férias num apartamento do Hospital, tudo
pago pelo SUS. É bem divertido aqui! Logo na chegada um bando de moças muito simpáticas
recebem os visitantes com treinamento de hotel cinco estrelas, a consulta é
quase um passeio com guia turístico, o médico sabe tudo e dá as informações
adequadas. Depois de ver minhas feridas, o Doutor resolveu que uma delas
deveria ser removida para ser analisada em laboratório, e o fez às três e meia
da tarde devidamente assistido pela competente instrumentadora Sônia.
De volta ao meu apartamento, veio a Maju,
a Valdenice e a Simone, da equipe de enfermagem para assegurar que nenhum mal
me atrapalhe nesses dias. A Rosana garante que tudo está limpo e higienizado, e
está mesmo! No turno da noite uma nova equipe assumiu o plantão e na enfermagem
ficaram a Zenilda, a Lélia, a Maria e a Roseli, elas não dormem para eu poder
dormir tranquilo que nem um remédio faltará na hora certa e mesmo que eu não
goste, elas furam a ponta do meu dedo para tirar sangue e verificar o nível de açúcar.
O Pênfigo é uma desgraça, o
corticoide é outra, mas o atendimento no Hospital do Pênfigo é de excelência. Não
é sempre, mas às vezes a gente vê o cristianismo na prática!
Escrever este texto foi a melhor
coisa que fiz neste primeiro dia!