Estou pensando em tirar umas férias e
já comprei as passagens e até fiz a reserva do hotel. Disse isso a um amigo e
ele me perguntou, com uma certa cara de espanto, se eu estava trabalhando,
disse que não, não formalmente, mesmo assim quero tirar férias. Férias de quê?
Perguntou. Ora, férias é exatamente quando não se precisa ter um “que”, “de quê”,
“por quê”, ou seja lá o que for. Em vez de ficar me questionando sobre
trabalho, por que não pergunta por que não vou levar uma mala que caiba pelo
menos o skate?
Da última vez que viajei com meu
filho, fomos para Aracajú, em Sergipe. Lá tem, na orla da praia, um conjunto de
quadras de esporte e uma belíssima pista de skate, tive que comprar um para meu
filho e quando chegamos no aeroporto, para embarcar de volta, ninguém sabia o
que fazer com o brinquedinho, na mala não cabia, estava cheia, na mão não podia
levar, mas como não tinha essa bobagem de limite de dez quilos, o atendente do
guichê achou por bem amarrar o skate sobre a mala com alguns metros de fita
adesiva, ficou uma graça, mas o brinquedo chegou são e salvo.
Quero ir para Natal, no Rio Grande do
Norte, e a operadora do pacote de viagem foi logo avisando que a bagagem tem
regras que devem ser lidas no site da empresa aérea. Fui ver, diz que posso
levar uma mala de mão com não sei quantos centímetros de comprimento, largura e
altura e pesar no máximo dez quilos, com mala e tudo que tiver dentro. O skate
não cabe na tal mala e se coubesse eu ficava sem roupas para usar durante o
passeio. Pensei em pagar para despachar uma mala maior, fui pesquisar e vi que
posso, é só pagar a passagem da mala e tudo bem, só que não tem assento para ela.
Mas daí achei outro problema, o pacote de viagem inclui transfer do aeroporto
até o hotel. Mandaram ler as regras e eu vi que se despachasse a mala, ela não
seria levada do aeroporto para o hotel, nesse trecho, nem pagando passagem para
a mala, eu teria que ir para o hotel com a mala de mão, depois contratar um Uber
para levar a mala, ou deixar ela no aeroporto até a volta.
Não sei que pensamento é esse que vai
sempre dando um jeito de tirar o conforto dos passageiros. Quando comecei a viajar
de avião, e não era nem de férias, era a trabalho, podia despachar malas enormes
sem nenhum incômodo e era até divertido esperar para pega-las no destino. As
refeições eram servidas em bandejas enormes com tigelas de porcelana e talheres
de metal, devo ter algumas comigo que peguei de lembrança. Servia-se bebidas a
vontade, bebidas sim, uísque, cerveja, vinho, refrigerante, etc. e não era
primeira classe que trabalhador não anda nisso. Agora, a moça passa e pergunta
se a gente quer um salgadinho ou uma bolacha.
Não estou trabalhando, mas me dei ao
trabalho de fazer uma pesquisa sobre isso. Queria saber o motivo desse
comportamento nas empresas aéreas. A resposta foi animadora: tirando as
refeições, as bebidas e as malas dos passageiros, as passagens ficariam mais
baratas e o consumidor teria então a vantagem de viajar mais. Fiz os cálculos:
Bebidas e refeição durante uma viagem, uns trinta reais, a passagem da mala, uns
cinquenta reais, o que dá de economia oitenta reais. Uma passagem para o
nordeste custa uns dois mil reais. Então, se eu economizar oitenta reais em
cada viagem, para eu poder viajar “mais”, pelo menos uma vez, eu teria que
primeiro, ter viajado umas vinte e cinco vezes! Sem mala, nem refeição e nem
bebidas.
Sério, eu prefiro as malas!