Tomou emprestado a Joel, a roupa de água estendida no varal,
para trazer à vida a morte. A roupa do Joel estendida no varal não era a morte,
nem foi a roupa que veio à vida, só a metáfora. De tão bonita que era, fez lembrar
de Manuela estendo roupas para secar ao sol. Estendidas as roupas, secava-se também
espraiada numa cadeira de balanço, daquelas que regula o encosto das costas e
quase se deita como numa esteira de praia. Manuela estendia todas as roupas,
era tão ‘todas’, que ficava estendida ao sol usando somente uma única e tão
pequena peça de roupa que parecida mesmo não estar usando nenhuma.
Casado a pouco, os olhos armados até os dentes percorriam as
muralhas do varal atentos a qualquer movimento suspeito. Depois vinham as
noites de festa e os filhos aumentando as roupas do varal, que agora ocupavam o
lugar da cadeira.
Chovia e as ‘roupas de água’ estendidas no varal lembravam
Manuela. Os filhos se foram comprar roupas para seus próprios varais. Manuela
nunca mais secou-se ao sol. Horas inteiras ficavam na varanda tomando chimarrão
e falando dos netos: Tão bonitos eles estão!
A cadeira da varanda agora fala insistentemente da morte que
levou para o infinito aquela que usara a minúscula peça de roupa ao sol. Mas a
morte, sentada na cadeira da varanda, consolando a infinita dor da perda, em
todo o tempo lembrava da solidão, ainda mais cruel que a morte.
Elairton Paulo Gehlen