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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

ENTRE A PANACEIA E A FOBIA







              Entre a panaceia e a fobia, os olhos fixos na fogueira e os minutos que se vão para nunca mais voltar. “Águas que movem moinhos”, pensou. Queria levantar e fazer tantas coisas... A lenha queima na fogueira para nunca mais ser útil para nada, só a cinza que vai fertilizar a terra da horta. A cabeça faz planos, mas o corpo já queimou toda energia disponível. Águas passadas não movem moinhos.


            A lenha é madeira de reflorestamento, os filhos cresceram e levam vida binária. Entre o zero e o um, programas do computador vão guiando a vida. No reflorestamento a vida é limitada e seletiva. O filho mais novo, goza o prazer de cada pelo que aparece e namora a garota virtual do Bradesco. Trabalhou a vida inteira na Caixa, não gosta do Bradesco nem de nenhum outro banco. O filho gosta, namora a Bia.


            No quarto ano de medicina desistiu da faculdade, acreditava em Panaceia, mas se deparou com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, passou a considerar hipocrisia fazer o juramento de Hipócrates. A madeira é de reflorestamento, a vida é seletiva, o fogo arde, a cinza vai para a horta e a fumaça é levada pelo vento. Hígia ainda faz sentido.


            Anda assustado com as notícias, o apocalipse, o fim dos recursos naturais, falta água na torneira em São Paulo, o último reservatório foi privatizado, remédio no posto de saúde, não tem dinheiro para a pesquisa nas universidades públicas, falta comida, a greve dos caminhoneiros, acabou o gás, agora só resta Virgílio: "Feliz aquele que conseguiu compreender a causa das coisas."

Elairton Paulo Gehlen (Paulo Sarandi)

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