Entre a panaceia e a fobia, os olhos fixos na fogueira e os
minutos que se vão para nunca mais voltar. “Águas que movem moinhos”, pensou.
Queria levantar e fazer tantas coisas... A lenha queima na fogueira para nunca
mais ser útil para nada, só a cinza que vai fertilizar a terra da horta. A
cabeça faz planos, mas o corpo já queimou toda energia disponível. Águas
passadas não movem moinhos.
A lenha é
madeira de reflorestamento, os filhos cresceram e levam vida binária. Entre o
zero e o um, programas do computador vão guiando a vida. No reflorestamento a
vida é limitada e seletiva. O filho mais novo, goza o prazer de cada pelo que
aparece e namora a garota virtual do Bradesco. Trabalhou a vida inteira na
Caixa, não gosta do Bradesco nem de nenhum outro banco. O filho gosta, namora a
Bia.
No quarto
ano de medicina desistiu da faculdade, acreditava em Panaceia, mas se deparou
com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, passou a considerar hipocrisia
fazer o juramento de Hipócrates. A madeira é de reflorestamento, a vida é
seletiva, o fogo arde, a cinza vai para a horta e a fumaça é levada pelo vento.
Hígia ainda faz sentido.
Anda
assustado com as notícias, o apocalipse, o fim dos recursos naturais, falta
água na torneira em São Paulo, o último reservatório foi privatizado, remédio
no posto de saúde, não tem dinheiro para a pesquisa nas universidades públicas,
falta comida, a greve dos caminhoneiros, acabou o gás, agora só resta Virgílio:
"Feliz aquele que conseguiu compreender a causa das coisas."
Elairton Paulo Gehlen (Paulo Sarandi)
Nenhum comentário:
Postar um comentário