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terça-feira, 28 de agosto de 2018

MAÇUDO


MAÇUDO

 

O dia acorda lentamente no horizonte e vai apresentando um colorido belíssimo no céu. Ah, o Céu, ela disse, deve mesmo existir? Tinha dúvidas se seria necessário a existência de um lugar melhor do que aqui na terra e onde só se pode ir privando-se de um montão de coisas. A porta da cozinha abre espaço para o jardim, uma bola vai transformando o colorido em amarelo e o brilho aumenta até não ser mais possível olha-lo fixamente. O galo canta, a galinha cacareja, e relógio da parece que nunca para. Mãe, cadê a mesa do café? Ai meu Deus, estou sempre atrás do serviço! Já vou.

           

            Cinquenta e cinco anos de vida! Desde que se casou, há vinte e oito anos, só faz trabalhar. Cada dia que amanhece traz consigo o amolante abodegado com todo direito de cada significado que tem a expressão. Café da manhã, tá já vou. Depois vai olhar o quarto da filha, quinze anos de idade, abodegado!  Quantas vezes te pedi para arrumar? Tô sem tempo, mãe, tchau. Trabalha sem sessar, fadigoso, quando pensa que está vencendo, olha para frente e lá está o serviço em grande vantagem! Tomara que exista mesmo o Céu.

 

            Mal termina de limpar a casa, o sol a pino e o almoço anseia por ser fecundado. Se pudesse abortava! Não pode. O marido vai chegar logo, circuncisfláutico, esperando que a mesa esteja posta e a filha entra pela casa berrando que tudo sumiu do quarto. Está no lugar, é difícil de achar. Por que não deixa onde estava? Abodegado. Se Deus quiser eu morro logo e vou para o Céu.

 

            O pôr do sol é lindo! Mas o corpo está tão cansado e as pálpebras pesam sobre os olhos que mal dá para ver o chão. Mais um pouco e a louça vai para o escorredor e posso dormir. Que foi mulher, está cansada? Depois reclama se o homem tem amante! O Céu existe, melhor acreditar, lá é um lugar de PAZ e eu não preciso me privar de um montão de coisas para ir.

Elairton Paulo Gehlen (Paulo Sarandi)

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

ENTRE A PANACEIA E A FOBIA







              Entre a panaceia e a fobia, os olhos fixos na fogueira e os minutos que se vão para nunca mais voltar. “Águas que movem moinhos”, pensou. Queria levantar e fazer tantas coisas... A lenha queima na fogueira para nunca mais ser útil para nada, só a cinza que vai fertilizar a terra da horta. A cabeça faz planos, mas o corpo já queimou toda energia disponível. Águas passadas não movem moinhos.


            A lenha é madeira de reflorestamento, os filhos cresceram e levam vida binária. Entre o zero e o um, programas do computador vão guiando a vida. No reflorestamento a vida é limitada e seletiva. O filho mais novo, goza o prazer de cada pelo que aparece e namora a garota virtual do Bradesco. Trabalhou a vida inteira na Caixa, não gosta do Bradesco nem de nenhum outro banco. O filho gosta, namora a Bia.


            No quarto ano de medicina desistiu da faculdade, acreditava em Panaceia, mas se deparou com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, passou a considerar hipocrisia fazer o juramento de Hipócrates. A madeira é de reflorestamento, a vida é seletiva, o fogo arde, a cinza vai para a horta e a fumaça é levada pelo vento. Hígia ainda faz sentido.


            Anda assustado com as notícias, o apocalipse, o fim dos recursos naturais, falta água na torneira em São Paulo, o último reservatório foi privatizado, remédio no posto de saúde, não tem dinheiro para a pesquisa nas universidades públicas, falta comida, a greve dos caminhoneiros, acabou o gás, agora só resta Virgílio: "Feliz aquele que conseguiu compreender a causa das coisas."

Elairton Paulo Gehlen (Paulo Sarandi)

CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

  Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que ...