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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

E SEREMOS A GERAÇÃO QUE CANTA E CELEBRA A TUA MISEIRICÓRDIA Ó DEUS




 Eu vejo uma escola: salas de aula, salas de aula, salas de aula, gabinete da direção, secretaria, cozinha, banheiros, cantina, quadra de esportes, gramado com árvores boas para sombra e, agora, muitos jovens que não são os alunos da escola secular que funciona neste local durante o ano letivo, mas jovens que hoje tomaram a escola para afirmar uma geração que canta e celebra a tua misericórdia ó Deus.

            São jovens como os da escola do ano letivo, cantam, dançam, riem, jogam futebol, vôlei, pingue-pongue, tomam tereré. Tem uma banda e estão tocando e cantando, riem das piadas contadas e vão prestar atenção ao ensino ministrado.

            São iguais aos alunos do ano letivo. São diferentes. Tão iguais que vejo os olhos de uns e outros se encontrando num compromisso tácito de um relacionamento eterno ainda não oficializado, mas que irá durar para todo o sempre. Claro que é preciso combinar com todas as adversidades para não interferirem nesse sonho sempiterno de um namoro que sequer existe mas tem compromisso firmado nos corações, alimentado pelos hormônios e selado por uma mente ainda pura e desejosa de um relacionamento tão lindo como este pode ser...

            Tão iguais no vigor da juventude, na alegria das brincadeiras descompromissadas, tão iguais nos sonhos de uma vida que para ser boa ainda não precisa de um plano muito preciso. Tão iguais na certeza que os pais vão mesmo concordar em bancar seus desejos de consumo. Tão iguais em tantas coisas, mas tão diferentes... . Diferentes em que?

 

ESTRELA DA MANHÃ, QUE BRILHA COMO O SOL, CORROI A ESCURIDÃO, JESUS É O MEU FAROL.

            Agora os jovens são alunos assistindo aula no pátio da escola. As salas estão tomadas pelos colchões e roupas de cama. Foram transformadas em dormitórios. Os jovens estão assistindo aula, então são alunos como os do ano letivo, mas fora da sala de aula, num lugar improvisado no pátio interno da escola. Será que é para serem diferentes? Então que seja, isso os faz mesmo diferentes! O professor é igual, ministra o ensino com conhecimento do conteúdo e boa didática e isso de certa forma torna os alunos iguais aos demais.

            Os alunos do ano letivo estudam o conhecimento gerado por uma sociedade que evolui graças ao progresso da ciência e da filosofia humana que organiza a sociedade para atender interesses do comércio e da indústria que criam bens de consumo e necessidades para o cidadão que os adquirem graças ao dinheiro disponibilizado pelo sistema financeiro.

            E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejam vós também” ensina o professor sobre o que teria dito uma tal de Jesus. O professor deve admirar muito esse Jesus, pois disse que deveriam seguir o que ele disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” e continuou: “Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ..., se não tiver amor, nada serei”. Acho que esse professor tomou o livro didático errado, ou se enganou na ministração ou está tentando enganar os alunos ou, ou, ou..., ou ele é diferente dos demais mestres desta escola. E se ele é diferente isso vai acabar fazendo com que os alunos, os tais dos jovens que tomaram a escola para afirmar uma geração que canta e celebra, também sejam diferentes.

            Os alunos do ano letivo aprendem que o conhecimento de toda a ciência os torna forte o bastante para serem bem-sucedidos e alcançarem o sucesso sendo melhores e mais reconhecidos que os outros.

            Os jovens da geração que canta e celebra a tua misericórdia ó Deus, aprendem que é preciso amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esse é o grande mandamento e, ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, a grande comissão.

            E o professor continua falando sobre a importância do amor. Os donos dos olhos brilhantes e aliançados tacitamente por juras de amor eterno nunca ditas, logo se entusiasmaram com a certeza de que esse é o amor verdadeiro que deve ser praticado e construído e fidelizado por todos os dias de uma vida cor-de-rosa que une duas pessoas que se tornam uma só carne a viverem felizes para sempre, se nenhum inconveniente do tipo incompatibilidade de gênio interferir separando o inseparável. O professor chamou esse amor de romântico ou Eros, mas que o amor que está acima de toda a ciência ou de todos os outros dons espirituais é um tal de amor ágape. Uma espécie de transição ou transladação ou evolução, sei lá, do amor sentimental para o amor que tem atitude. Amar é verbo e requer ação do amante.

            Esse amor, disse o professor, é capaz de construir um reino sempiterno.

                        Esse amor que o professor disse que é capaz de construir um reino sempiterno não está muito bem compreendido por pelo menos um dos alunos. Incluído entre os excluídos por uma vida inteira, agora está excluído mesmo da inclusão dos excluídos.

            Trabalhou toda uma vida útil junto com seu pai na lavoura, onde não estava empregado, mas ajudava na produção de alimentos transformados em mercadorias pelo dono, comercializados pelo atravessador, vendido para ter valor agregado na indústria e transformados em moeda corrente no caixa do supermercado para finalmente servir de alimento para o povo da cidade. “Agora vem um cidadão da cidade me dizer que eu sou vagabundo e devo arrumar um emprego”, ele diz.

            Até sofrer o acidente, quando foi atropelado e não pode mais trabalhar na roça com o pai, estava incluído no trabalho, mas excluído do sistema que deveria considerar seu trabalho. Depois do acidente, foi incluído entre os excluídos do trabalho, vivendo com apoio do trabalho do pai. Com a morte do pai, foi incluído entre os excluídos da fazenda.

            Na cidade é excluído do sistema e agora vem o professor falar desse amor Ágape. Muito fácil para quem não tem nada, amar a Deus sobre todas as coisas. Qualquer amor que esteja acima de 0,1 positivo já é amor a Deus sobre todas as coisas, mas amar ao próximo como a mim mesmo... Quem é o próximo a ser amado? O dono da fazenda que o despediu sem nenhum tipo de garantia nem mesmo pelo trabalho do pai? O governante que não deu proteção? O responsável pela casa de abrigo que o devolveu para a rua sem nenhuma perspectiva? Os desocupados que estão bebendo nos bares e lhe chamam vagabundo quando estende a mão pedindo uns trocados? Os donos de comércio que lhe negam qualquer ajuda? Quem é o próximo?

            Eu, de minha parte, estou entendendo que devo estar disposto a amar a Deus sobre todas as coisas. Entendi que esse professor é mesmo diferente e está fazendo jovens serem mais diferentes ainda do que já eram quando chegaram aqui.

           

            UAU! LUAU!

            A aula acabou de acabar na sala improvisada no pátio interno da escola. Incrível como esses alunos tão jovens e conscientes da programação festiva que os esperava ficaram atentos aos ensinamentos até o último instante. Oraram com fé e se prostraram diante da banda que tocava, mas não era diante da banda que estavam prostrados, era diante de um Deus que segundo diziam estava presente naquele lugar que eles chamavam de altar do Senhor.

Do altar, ensinava o professor, emana poder! Até eu quero um pouco desse poder! Então me acheguei para perto do altar. Tem algo diferente mesmo! Não sei explicar muito bem o que é, mas tem um poder meio assim sobrenatural que me tocou, foi queimando por dentro de mim, fiquei meio estranho, os pensamentos meio fora da casinha e ao meu redor todos aqueles jovens prostrados na presença desse Deus invisível que vai tomando conta das pessoas. Aí veio aquele professor para perto de mim. Pensei: ‘Vai mandar eu sair, não estou matriculado nesse curso’. O professor chegou perto, eu tremia, queria sair para não atrapalhar, mas não conseguia me mexer. Então ele pôs a mão sobre minha cabeça e começou a falar umas coisas que eu não estendi. Acho era em outra língua. Eu queria sair dali, estava tudo confuso. O professor pôs a mão sobre o meu peito e continuou falando. Eu senti algo muito estranho, mas profundamente bom, então não senti mais nada, só me lembro de estar deitado no chão. Alguém me ajudou a levantar, eu olhei para ele e pensei, ‘puxa, parece meu irmão’. Ele me deu um abraço e disse que Deus era comigo e eu não precisava mais temer nada. Foi assim mesmo que me senti naquela hora.

Logo começou uma música alegre e todos pulavam de alegria, até eu que não estava matriculado fui arrastado para o meio. Também pulei e cantei, afinal eu estava alegre mesmo. Pensei: Isso é o luau que falaram que ia ser hoje. Não era. Quando todo mundo tinha celebrado com cântico e júbilo, avisaram que em quinze minutos ia começar o luau.

Não me chamaram para o luau. Também não tinham me chamado para as aulas. Eu assisti todas elas porque estava ali mesmo. Agora vou assistir ao luau, quero ver como que isso é. Dizem que é uma festa.

É uma festa! Tem até uma rádio instalada, rádio cabeceira 77,2 fm, para apresentar os programas e tem dois locutores muito engraçados fazendo brincadeiras. Logo começaram a deixar os jovens darem recadinhos de amor. Eu te amo daqui. Você é demais. Essas coisas. Então me lembrei dos olhos de uns e outros que se encontraram já no primeiro dia e fizeram certamente juras de amor eterno para viverem felizes para toda a vida num relacionamento açucarado e meloso que engorda só os sentimentos, deixando o corpo sempre em forma conforme determina o censo comum ditado pela mídia patrocinada pelo capitalista que adora o rei mamom.

Aí eu pensei, é agora que uns e outros vão se encontrar e ficar juntinhos. Ficar ficando nesse luau preparado para o romantismo aflorar entre os crentes. Esperei, meus olhos estavam mais atentos aos apaixonados do que ao evento em si. Os alunos do ano letivo sempre contam das garotas que pegaram para ficar um tempo. É próprio da natureza, então não tem problema, mas esses crentes, eles se encontram trocam olhares, riem, brincam, se abraçam, mas ficar, nada.

A noite virou, o Luau acabou e todos estavam muito alegres. Foram dormir. De manhã, antes de a última aula iniciar eu não aguentei a curiosidade e fui perguntar para um daqueles olhinhos brilhantes por que eles não ficaram juntinhos do outro par de olhos. Ele me disse que tinha decidido participar de uma geração que decidiu esperar. Eu decidi esperar, ele disse. Esperar o que? Perguntei. Esperar em Deus, ele disse. Se eu esperar em Deus meu casamento não vai correr o risco da incompatibilidade de gênio, nem vou achar que a vida será sempre cor-de-rosa e também não precisarei atender os desejos de consumos instigados pelo mundo, pois Deus irá me sustentar.

Até aí eu não tinha entendido muito bem. Então ele, que estava empolgado, continuou falando:

- Você acha que isso não funciona? Pois eu te digo, entendi que o amor Eros, esse que atrai as pessoas para ficarem perto umas das outras é como um fogo de palha, se não for alimentado, acaba muito rapidamente. Precisa ser sustentado por um outro tipo de amor, o amor Ágape. E o amor Ágape está firmado na vontade das pessoas, daí que se eu alimentar o amor Ágape eu não vou correr o risco do amor Eros ficar sem alimento.

Estava eu ainda tentando traduzir para meu entendimento esse negócio de amor Ágape alimentar o amor Eros quando iniciou a última aula, que eles chamam de ministração. O professor, que é meio brincalhão e faz todo mundo cair na gargalhada de vez em quando, animou aquele povo sonolento do Luau e continuou falando desse tal de amor Ágape. Prestei mais atenção. Queria saber como é que esse amor alimenta o outro, mas em vez disso percebi que havia outro problema a ser resolvido. Quem é o próximo a ser amado.

Para o que fora excluído, mesmo da inclusão dos excluídos, poderia mesmo ser que o que o incluiu é o próximo a ser amado, ou seja, a igreja que o acolheu, amou e apoiou. Mas o professor foi dando a entender que o entre os próximos a serem amados estariam o dono da terra, o governante e todos os outros que o rejeitaram, até os do bar que o chamava de vagabundo.

De pronto rejeitei essa ideia. Como posso amara quem me rejeitou, excluiu, me chamou de vagabundo quando o que eu queria era só um prato de comida? Aí eu fui sentindo outra vez aquele calor queimando dentro de mim. Pensei: é raiva desse professor que quer que eu ame pessoas assim. Eu não sentia raiva. Então não era raiva. Sentia pena dessas pessoas. Pensei: se sinto pena, então elas devem ter algum tipo de sofrimento. Aí senti o desejo de amar essas pessoas e isso me fez sentir bem. Isso deve ser o amor Ágape. Bom, agora eu não sei como terminar este texto, então ele vai ficar assim mesmo.

 

(Elairton Paulo Gehlen)

terça-feira, 5 de setembro de 2017

TEATRO














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          Olhei e vi, mas não vi. Vi o que não era para ser visto, mas não vi o que era. Meus olhos estavam tão acostumados a ver só o que era, que não pude entender o que não era. Estavam diante dos meus olhos, tão visíveis e tão invisíveis que eu podia ver, mas não podia ver.

O que chegava aos meus olhos era tão revelador de uma realidade invisível, tanto quanto era invisível a realidade que estava escondida por trás do que eu via. Então fiquei pensando, que eu também tenho o direito de pensar: se essa realidade visível é a representação de algo invisível, então tem que ter algo que está invisível, atrás dessa representação da realidade.

Fui ver. E vi. Eu queria saber como se construía o visível do invisível e o invisível do visível. Encontrei homens jovens, cada um com um sorriso no rosto, gestos compromissados com palavras descompromissadas, falando isso e aquilo desse e daqueloutro. Amizade revelada em camaradagem. Olhei e vi o que eram: Seres humanos, carnais. Um deles soltou um pum. Verdadeiramente humanos! Humanos demais!

Humanos como pais que brincam com seus filhos, como mães que amamentam seus bebês, como irmãos que brigam uns com os outros ou amigos que se querem bem. Humanos que se amam, se relacionam e se divertem com muitos pums, anedotas e milhares de piadas que rolam no WhatsApp.

Seres humanos sendo transformados em personagens. Pessoas que se transformam. Personalidades que se transformam. Então me lembrei da televisão. Seres humanos mascarados de personagens. Mascarados e sem pintura no rosto. Sem máscara, mas vivendo o personagem tão perfeitamente que é difícil até de pensar que aquele personagem tem por trás de si um ser humano que o representa.

Olhei e vi. Pais de família que deixam seus filhos na escola com a esperança de que vão aprender sobre cidadania, depois vão para seu trabalho e se transformam. Enquanto seus filhos estudam todas as possibilidades para tornar o mundo mais humano, ético e justo, os pais servem ao capitalismo na busca desenfreada por lucro a qualquer custo, não importando quão desumano, corrupto e enganosa é a transação comercial.

Olhei e vi. Mães que amamentam seus bebês com o mais precioso alimento disponível na natureza e depois vão ao supermercado comprar produtos industrializados e cheios de conservantes, estabilizantes e sódio.

Olhei e vi. Irmãos que brigam uns com os outros enquanto crianças, que se protegem na idade adulta e que que se matam na hora de repartir a herança que os pais acumularam ao longo de uma vida inteira.

Olhei e vi. Amigos que se querem bem serem assassinados em brigas tolas por puro preconceito ou egoísmo.

Vi professores fazendo pacto de mediocridade com seus alunos, enquanto um faz de conta que ensina outros fazem de conta que aprendem.

Vi médicos que fizeram o Juramento de Hipócrates, no qual juram praticar a medicina honestamente, deixar pessoas morrerem sem atendimento, porque não tinham dinheiro para pagar a consulta.

Vi banqueiros exigindo de bancários a venda de produtos que o cliente não quer e não precisa só para aumentar o lucro do banco.

Vi advogados cobrando valores exorbitantes, muito além do razoável, pelos serviços prestados a pessoas humildes.

Vi pastores cobrando ofertas em troca de promessa enganosa de prosperidade material.

Vi padres abusando de coroinhas porque a igreja não permite que se casem.

Vi uma rede de televisão enganando todo um povo só para manter os interesses de uma classe social.

Vi todas essas pessoas voltando para casa querendo que o mundo seja melhor!

Vi tantas coisas que minha cabeça ficou um pouco confusa se aquilo era real ou imaginário. Levei um choque. Fiquei mesmo confuso. O que é real? O que é imaginário?

Então fui perguntar ao ator. Quando ele representa ele sabe que representa. O teatro de palco é pensado para que as pessoas possam viver o imaginário sabendo que ali é a representação. E o ator me disse:

- Quando eu estou atuando eu devo fazer o papel do personagem e o meu personagem é de alguém que odeia os espectadores. Então, mesmo que eu represente esse personagem e demostre todo o ódio que ele, o personagem, tem por aquelas pessoas, eu não consigo odiar, na verdade eu tenho é muito amor por aquelas pessoas. Então eu não incorporo o personagem, eu represento ele para que as pessoas fiquem impactadas. Enquanto eu estou no personagem eu cumpro o meu papel porque ele é educativo e só sendo bem representado vai alcançar o objetivo que é alcanças a mente das pessoas...

Enquanto ele falava, eu fiquei pensando no palco da vida real.

Olhei e vi. O grande teatro do capitalismo odiando as pessoas, mas cada personagem cumprindo seu papel para alcançar as mentes. E o povo aplaude! E o povo aplaude!

CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO. EXISTE? EXISTE!

  Já botei no título o que poderia ser uma mentira, a ciência diz que cavalos não tem chifre, nem as éguas, mas na fazenda do Romero, que ...