Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamente, quando me aproximei, já que meus passos estavam um pouco mais acelerados que os deles, pude perceber que a conversa era sobre política. Esse assunto perdeu, para mim, a importância que tinha há alguns anos, mas não havia como não escutar a conversa mais ou menos apaixonada que andava a passos ritmados um pouco à frente.
- Mas nenhum deles mora em Cuba. - Escutei
um deles dizer, aparentando uns setenta anos de idade, cálculo que faço única e
exclusivamente comparando ele comigo, que tenho sessenta e cinco. Ele parecia
ter alguns anos mais que eu.
Não sei se ele já morou em Cuba ou
se, pelo menos, já visitou aquele país caribenho. Eu estive lá em 1997, quando
eles, os cubanos, ainda sofriam muito com o bloqueio econômico imposto pelos
Estados Unidos. Passei vinte e oito dias na Ilha, andei livremente pelas ruas
de Havana e até tomei banho nas praias de Varadero, um lugar lindíssimo que
atrai turistas do mundo todo. Mas, voltemos aos caminhantes do Parque Alvorada.
- Ainda tem gente que defende o
comunismo! – Respondeu o outro caminhante, quase ao meu lado, pois meus passos
já os alcançavam. Dei boa tarde e eles me responderam alegremente.
- Isso aí, esses que defendem o
comunismo, são gente que não tem religião. – Ouvi isso claramente quando estava
a uns três passos adiante, segui minha caminhada, estávamos passando em frente
da igreja católica que fica localizada do outro lado da rua.
Eu sou um escritor, e parece que
escritores quando escutam conversas como essas logo buscam algum contexto em
que elas se encaixam. Quando falavam de Cuba e do comunismo, fiquei me
perguntando se eles tinham conhecimento real sobre a vida naquele país ou se
suas opiniões eram deles mesmos, ou só repetiam o que viram na imprensa que
reproduz seus próprios interesses ou de classe.
Mas, quando falaram de religião,
olhei para o prédio da igreja e me lembrei do texto bíblico que descreve a
atuação dos apóstolos quando iniciaram o trabalho de pregação do cristianismo
de forma organizada. Tudo está escrito no livro de Atos dos Apóstolos, do qual
transcrevo fielmente um trecho: “Os que criam mantinham-se unidos e tinham
tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um
conforme a sua necessidade” (Atos 2; 44-45). Não sei porquê, mas esse texto
me parece um tanto quanto... digamos... comunista!
Continuei caminhando e me afastei dos
camaradas, à minha frente caminhava
uma jovem senhora, ela não sabia nada sobre comunismo e nem se importava com
religião. Ela era uma mulher bonita!