Lá,
ou cá, se vão os dias dessa quarentena. Muitas coisas se descobrem nesses
tempos, tipo, um monte de gente que nem era tão bonzinho quanto parecia. Foi só
dizer que tinha que ficar em casa e a vontade de ficar em casa sumiu! O Zé, é o
José mesmo! Ele agora deu de querer ir trabalhar de qualquer jeito. E o jeito
que o Zé deu, foi o de dizer que esse viruszinho era só um viruszinho e ele ia
era ganhar dinheiro enquanto todo mundo estava perdendo. Ganhou. Um viruszinho.
Tá no hospital e a cabeça tá doendo que nem de um jeito que nunca sentiu, então
não sabe de que jeito é.
O Mané,
isso mesmo, o Manoel, aquele que tem uma lojinha e ela cresceu porque o Mané
investiu e fez uma loja novinha, ele tá desesperado porque os empregados dele
não podem trabalhar, quer dizer, porque ele não pode abrir a loja porque a
prefeitura disse que não pode. O Mané acha que é mais forte que o vírus e faz
campanha contra a quarentena. Disse que vai proteger os clientes que pelo amor
de Deus venham comprar. Os empregados também, dentro da loja, serão protegidos.
Aqui o vírus não entra! Quem estiver na rua antes de chegar na loja ou depois
que sair que se vire, o que interessa é que aqui dentro o lucro seja protegido
contra o vírus!
O
Véio, ele mesmo, o Luciano, ele tem certeza, por dito e repetido, que o
dinheiro vale mais que qualquer quarentena! Depois que comprou um jatinho por,
não vou afirmar, só sei que dizem que foi, por R$ 250 milhões! Ele está
desesperado com essa ideia de salvar vidas em vez de salvar a economia.
Economia, bem entendido, o dinheiro para pagar o jatinho ‘dele’!
Se
eu for contar todas as histórias que já vi nesses poucos dias da quarentena ia
ficar aqui contanto tanta história que não ia sobrar tempo para saber se a
quarentena é boa ou ruim. Pelo não, ou pelo sim, eu já tenho o meu quinhão e
vou levando cada dia. Se você ainda não tem, cuidado para que o teu não esteja
te esperando na conversa fiada de quem não se importa com o teu próximo dia!
Elairton
Paulo Gehlen