De manhã, os dias são sempre os mesmos, tão mesmos que parece
que são sempre o mesmo dia. Fazemos tantas coisas, mas as coisas não nos
pertencem, apenas fazemos. As coisas nos ensinam, elas lidam conosco porque o
seu jeito é o jeito certo e nós praticamos para aprender e aprendemos o máximo
das coisas porque não questionamos. As coisas são as coisas certas e isso
basta.
De tarde são os anos o nosso terror! Um século inteiro se passa,
mas nunca chegamos aso dezoito anos. Lidamos com as coisas como se elas
tivessem que nos obedecer, elas até que tentam, mas somos tão indesejáveis para
as coisas que acabamos sendo deixados de lado. Ficamos sempre procurando
pessoas para substituir as coisas, mas as pessoas nunca estão certas, então
acabamos olhando para frente como se além da nossa visão estivesse nos
esperando alguma coisa que nos preencha o vazio. E quando o ano finalmente
passa e nós não passamos de ano parece que nenhuma coisa se encaixa na nossa
existência.
Ao entardecer, lidamos com tantas coisas que parece que as
coisas que lidavam conosco de manhã se multiplicaram. Ensinamos as coisas e
competimos com as pessoas. No meio das coisas selecionamos uma delas para ser o
nosso deus. Esse deus ocupa toda a nossa mente e o nosso coração, damos
adoração a ele e nos prostramos diante dele. Acumulamos o máximo de objetos
sagrados na esperança de que nos valham na dificuldade e nos rendemos ao
espírito do capitalismo. E os dias passam mais rápido do que conseguimos ver.
Quando a noite chega, gostaríamos de voltar para a manhã e
refazer tudo de um jeito diferente. Não dá mais, as coisas já não nos querem
mais e não nos aceitam como ao amanhecer. Ainda que a cabeça esteja na hora do
almoço, os dias estão mais lentos do que as pessoas que passam pela rua. Já não
há mais coisas e a noite virá e nós ficaremos com o deus ou o Deus que
escolhemos quando nos foi dado o direito de escolher.
A noite vem....
E então....
É NATAL!
Elairton Paulo Gehlen