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sexta-feira, 19 de abril de 2024

ESQUERDOPATA!

 


Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamente, quando me aproximei, já que meus passos estavam um pouco mais acelerados que os deles, pude perceber que a conversa era sobre política. Esse assunto perdeu, para mim, a importância que tinha há alguns anos, mas não havia como não escutar a conversa mais ou menos apaixonada que andava a passos ritmados um pouco à frente.

- Mas nenhum deles mora em Cuba. - Escutei um deles dizer, aparentando uns setenta anos de idade, cálculo que faço única e exclusivamente comparando ele comigo, que tenho sessenta e cinco. Ele parecia ter alguns anos mais que eu.

Não sei se ele já morou em Cuba ou se, pelo menos, já visitou aquele país caribenho. Eu estive lá em 1997, quando eles, os cubanos, ainda sofriam muito com o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos. Passei vinte e oito dias na Ilha, andei livremente pelas ruas de Havana e até tomei banho nas praias de Varadero, um lugar lindíssimo que atrai turistas do mundo todo. Mas, voltemos aos caminhantes do Parque Alvorada.

- Ainda tem gente que defende o comunismo! – Respondeu o outro caminhante, quase ao meu lado, pois meus passos já os alcançavam. Dei boa tarde e eles me responderam alegremente.  

- Isso aí, esses que defendem o comunismo, são gente que não tem religião. – Ouvi isso claramente quando estava a uns três passos adiante, segui minha caminhada, estávamos passando em frente da igreja católica que fica localizada do outro lado da rua.

Eu sou um escritor, e parece que escritores quando escutam conversas como essas logo buscam algum contexto em que elas se encaixam. Quando falavam de Cuba e do comunismo, fiquei me perguntando se eles tinham conhecimento real sobre a vida naquele país ou se suas opiniões eram deles mesmos, ou só repetiam o que viram na imprensa que reproduz seus próprios interesses ou de classe.

Mas, quando falaram de religião, olhei para o prédio da igreja e me lembrei do texto bíblico que descreve a atuação dos apóstolos quando iniciaram o trabalho de pregação do cristianismo de forma organizada. Tudo está escrito no livro de Atos dos Apóstolos, do qual transcrevo fielmente um trecho:  “Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade” (Atos 2; 44-45). Não sei porquê, mas esse texto me parece um tanto quanto... digamos... comunista!

Continuei caminhando e me afastei dos camaradas, à minha frente caminhava uma jovem senhora, ela não sabia nada sobre comunismo e nem se importava com religião. Ela era uma mulher bonita!

sábado, 3 de fevereiro de 2024

EU QUERIA FOTOGRAFAR O IMAGINÁRIO

 



Um escrevinhador vive da imaginação. Não basta ver para escrever, é preciso imaginar, e imaginar fortemente senão a escrita fica devendo para o leitor mais exigente. Mas tem coisas que não dá para escrever, senão a história fica real demais e pode ofender algum personagem mais discreto, conservador ou tímido, talvez alguém que não queira ser revelado num determinado lugar ou situação. Daí entra em cena a imaginação de quem escreve. Ver coisas que deveriam existir ou apagar coisas que existem faz parte da produção de textos. Eu escrevo crônicas, e estas são textos literários com base em algum fato.

Em janeiro tirei um mês de férias, fui passear pelo Sul do Brasil, conhecer a maior praia do mundo, Praia do Cassino, no Rio Grande do Sul, duzentos quilômetros de praia! Conheci, também, a Ilha do Mel, em Paranaguá, depois passei uns dias em Canasvieiras, em Floripa, daí São Bento do Sul, Curitiba e finalmente a volta para casa em Dourados. Em cada lugar desses deu vontade de pegar o computador e escrever um texto. Fiz isso saindo da Ilha do Mel. Em Floripa o texto teria que ser traduzido para o espanhol, tamanha a quantidade de gringos naquele lugar. É quase uma invasão argentina e olha lá que os Hermanos estão vivendo uma terrível crise econômica! Claro, nem todos, boa parte está ganhando muito dinheiro com a crise e passeando em Florianópolis.

As praias têm de tudo. Quase! Tem futebol, peteca, Voleibol, Tênis de praia, baralho, música, dança e até gente que toma banho de mar! Muita gente curte as férias se divertindo livremente e comendo frituras, cozidos e doces que se vendem pelas areias. Umas quatro e meia da tarde de um belo dia de sol passou um vendedor de milho apressado e eu o chamei para comprar uma espiga, ele parou para me atender dizendo que já ia para casa pois seu filho estava de aniversário e ele queria voltar mais cedo. Conversamos um pouco e ele se foi para a festa do filho.

É quase estranho constatar que um vendedor de milho verde nas areias da praia tenha uma família! Parece que as famílias estão todas embaixo dos guarda-sol sorrindo uns para os outros. Vendedores ambulantes são só vendedores ambulantes. Nos quiosques tem vendedores também. Eles têm mesmo família?

- Milho verde, milho verde!

- Picolé, olha o picolé!

- Queijo coalho, quem quer?

- Água mineral, refrigerante. Vai uma cervejinha?

- Saída de praia, uma blusinha...

- Batidinha de coco com amarula...

O pôr do sol na praia é maravilhoso!!!

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A ILHA

 



Como se sabe, ilha é uma porção de pensamentos cercados de um mar de possibilidades! Eu sou uma ilha. Eu estou numa ilha. Ilha do Mel é uma infinidade de possibilidades cercada por um mar ilusões. Eu amo mel! Amei estar na Ilha por três dias e conhecer a Dona Preta, nativa do local e que pouco sai de lá e não vê graça nenhuma no continente onde seu filho morreu trabalhando de soldador de navio no porto de Paranaguá.

Fiquei encantado em Encantadas. A praia de Encantadas é o cartão de chegada da Ilha. Tem um cheirinho de esgoto pelo ar, mas não tem quem não se encante com Encantadas. A praia é uma maravilha, muitos barcos ancorados no trapiche e gente chegando e partindo a todo tempo, gente que passa a vida inteira achando que os carros modernos são a maravilha da humanidade e quando chegam na Ilha se encantam com o silêncio dos motores que não existem porque na Ilha não tem carros e em algumas praias não tem nem sinal de telefone.

Ilha do Mel tem esse nome porque produzia mel. Muito mel! E ainda produz. Não mais de abelhas, mas o mel que está na essência da poesia. Tem quem se case na Ilha e aprecia o mel de Encantadas. O amor na Ilha não precisa de uma cerimônia religiosa, a Ilha é uma religião. O misticismo é quase regra geral. Nesse lugar não há quem não acredite no sobrenatural, ainda que seja o amor. Amor à natureza parece ser o maior ato de fé de quem se aventura por um barquinho até o trapiche de Encantadas. Amar pessoas diferentes é um dogma do local, ali se pode ver de tudo em relação ao comportamento humano... quase tudo... . Algumas coisas não se veem porque estão tão distraidamente esparramadas pelas trilhas da Ilha que até se confundem com a natureza. É natural que se faça coisas proibidas num lugar onde o proibido é o deus do Continente.

Na toca do Raul se toda Raul: Metamorfose Ambulante, Sociedade Alternativa, Ouro de Tolo, A Maçã... . Se você não entendeu, não tem problema: Tente Outra Vez! Eu não Nasci Há Dez Mil Anos Atrás, mas já comi da Maçã e Perdi o Medo da Chuva. Na Ilha tem sempre alguém vivendo numa Sociedade Alternativa e a polícia, que anda num carrinho elétrico em baixíssima velocidade, parece que entendeu que não há risco algum. E todos vivem em paz.

Trilhei pelas trilhas da Ilha e até me perdi. São muitos caminhos que levam ao paraíso de praias paradisíacas. Basta se perder para encontrar seu pertencimento na natureza. A natureza não tem placas de trânsito e nem barulho de motores, tem vegetação, animais, repteis, aves, insetos, mas só um grupo de seres tem necessidade de regras muito específicas e força policial: os humanos.

Três dias na Ilha e o barulho do motor do barco que vai me levar de volta ao continente é um recado sobre o que me espera do outro lado do mar! Ando pelo trapiche e me lembro de Dona Preta que nasceu na Ilha, fez amor na Ilha, criou os filhos na Ilha. O continente veio buscar um deles, levou ele num barco com um motor barulhento, despejou o jovem num estaleiro barulhento, empurrou ele para um lugar muito alto e ofereceu as maravilhas do capitalismo, daí o jogou para baixo. Dona Preta nuca mais verá seu filho, o continente o tragou! Estou prestes a entrar no barco. Que será que o continente tem para mim depois desses três dias na Ilha?

sábado, 20 de janeiro de 2024

NO MAR

 


Se você acorda

O mar

Te acorda para a vida

Amar não é causa perdida!

 

Amar o mar

Amar a vida

Uma pitada de amor

Um palheiro proibido

 

Uma pitada de dor

Amor perdido

Encontrado no mar

Do amor

 

O amor

No mar

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

DAQUI À POUCO EU SONHO

 



Sonhos, quem não tem? Se fizer uma pesquisa acho que ganhar na mega sena vai estar em primeiro lugar no sonho de todos os brasileiros. Ainda mais se for a mega da virada! Está cheio de crentes crendo que o deus dinheiro pode fazer o milagre da felicidade. Eu apostei. E você?

Já apostei em muitos outros sonhos também. Há anos que venho alimentando o sonho de ter um motor home. Sair por aí com liberdade, estacionar próximo do mar o de uma cachoeira e desfrutar de lugares maravilhosos onde a natureza é exuberante. Quem não quer? É só ter dinheiro, então, se ganhar na mega sena tudo estará resolvido.

Meu sonho é passear bastante, tipo um ano sabático. Andar por lugares diferentes, conhecer pessoas diferentes e viver experiências diferentes. E, se é para ser diferente é porque o igual não está agradando. O lugar, as pessoas e as experiências. Parece que há um senso comum de que é preciso sair do lugar onde estamos para que a vida seja agradável. Parece que as “outras” pessoas são melhores e a vida tem mais sentido em outros lugares. Se uma casa de 80 metros quadrados parece pequena, por que um motor home de 10 metros parece grande o bastante? Se as pessoas que conheço não boas o suficiente, como posso crer que estranhos serão melhores? Se não dou conta de administrar o que ganho, como posso confiar tão intensamente em uma aposta que só tem probabilidade de ser vitoriosa na proporção de 1 para 50 milhões? Tem algo de errado com o sistema ou é comigo?

Mas, sonhar é livre! E eu sonho, dizem que o sonho é o alimento da vida. Agora estou sonhando numa praia maravilhosa do Sul do Brasil: Praia do Cassino, a maior praia do mundo. Repito: lindíssima!  Mas tem um tal de vento Sul que incomoda tipo um pesadelo. Meu sonho para a semana que vem é ir para alguma praia no litoral do Paraná ou Santa Catarina. Como ainda é um sonho não sonhado ainda não tem pesadelos. Não ganhei na mega sena então terei que bancar o sonho com as economias que guardei e a felicidade que se organize para se encaixar nos recursos disponíveis, afinal já me dispus a sair de casa e procurar lugares diferentes com pessoas diferentes e viver experiências diferentes. Estou fazendo a minha parte.

O sonho de todo capitalista é ser o dono da praia, mas daí vem logo o pesadelo de que isso é ilegal. De que adianta ter tanto dinheiro se a lei não permite que se gaste do jeito que se quer, tipo comprar as melhores praias do Brasil? Seria um sonho teu uma praia bem particular. Daria para andar pelado nela! Se bem que para isso tem as praias de nudismo. São espaços privativos, onde só podem frequentar pessoas que se disponham a ficar peladas mesmo. Quase como se fossem privatizadas. São quase os sonhos dos capitalistas, mas eles gostam de andar vestidos e a maioria deles são preconceituosos. Daí vem o dilema: O capitalista quer por que quer a praia privada, mas a lei não permite. Ele olha e vê a praia privativa para quem não tem nada, nem se quer roupa para vestir. Isso é um pesadelo!

Vou tomar uma cerveja e ver se acho uma causa para lutar, mas só depois de passar uns dias de férias na praia!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

DE MALAS PRONTAS

 



Começo de ano é assim, não há quem não esteja com as malas cheias de promessas para o ano que se inicia. Perder uns quilos, estudar mais, gastar menos dinheiro à toa, economizar, fazer o bem sem postar nas redes sociais (essa é difícil), ir para a academia e fazer os exercícios depois de tirar a fotos, beber menos e até orar, nem que seja de vez em quando. Tem quem prometa ser fiel ao cônjuge. Tudo isso parece bem interessante, mas além de prometer é preciso cumprir se quiser um ano diferente. E aí é que vem a parte difícil!

Este ano não fiz promessas, só planos. Promessas são feitas para não serem cumpridas, planos tem táticas, estratégias, objetivos, tudo para que dê certo, é só cumprir o planejado e pronto! Meu objetivo está claro: não tenho objetivo nenhum. Este ano meu plano é ser um peso para a sociedade. Planejei cuidadosamente como passar um ano inteiro sem produzir nada de útil.

Em janeiro, agora, vou para o Rio Grande do Sul, passar uns dias na praia do Cassino, a maior praia do mundo. Lá deve ter muito espaço para não se fazer nada por um bom tempo. Não fazer nada me parece uma boa coisa, costumamos eleger políticos que nada fazem por quatro anos e daí elegemos eles outra vez. Eles até vão para a praia e parecem estar sempre jogando em algum cassino!

A praia do Cassino não tem cassino e eu não sou político, então depois de não fazer nada por um mês inteiro vou assistir o carnaval pela televisão e ficar de jejum de qualquer tipo de trabalho durante a quaresma. É bem cansativo descansar por tanto tempo, mas tem uma questão religiosa aí, então acho que vale a pena.

A páscoa é uma dessas unanimidades entre todas as religiões, as cristãs, lógico. O que não parece unanimidade é o porquê de Jesus ter sido morto daquela forma tão cruel. Jesus foi preso, torturado, condenado e morto na cruz. O apóstolo que mais defendeu a causa do cristianismo também foi preso, condenado e morto de forma cruel. Mas tem um monte de cristãos que acham que se alguém foi preso esse alguém é necessariamente inimigo do cristianismo! Vá lá entender!

Com essa questão na cabeça, não vou ter concentração para trabalhar depois da páscoa. Pelo menos até o meio do ano vou descansar para refletir sobre a vida antes e depois da morte. E, antes, ainda é muito tempo, eu pretendo viver por mil e trezentos anos!

Agosto e setembro não vou fazer nada. Em ano bissexto não se deve correr nenhum risco e agosto é o mês do desgosto, enquanto setembro, além de se comemorar a independência, vem a primavera, a mais bela das estações do ano. Iria eu perder isso trabalhando?

Novembro começam a tocar as músicas de Natal e dezembro decididamente já é fim de ano. Se a Cléo ainda me quiser, vou descansar uma poesia para ela na Ilha do Mel para ver o novo ano nascer junto com as esperanças renovadas para um ano Sabático. Ninguém é de ferro!

E outubro? Ah, sim, outubro é meu aniversário, tenho direito a um descanso!

Então: FELIZ 2024! E que seja produtivo!


quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

TUDO É UMA MERDA!

 



Não quero dizer que isso inclui você. Se bem que eu acho que sim. Pensa bem se você nunca se olhou no espelho e disse: Que merda! Nesse caso não sou eu, mas você mesmo quem está dizendo. Eu mesmo já tive essa triste experiência por algumas vezes. Cada vez que me separava da mulher era certeza que ia dizer: Fiz merda! Talvez não exatamente por ter separado, mas convenhamos, que é uma merda é.

As merdas das escolhas que a gente faz não se restringem a relacionamentos, se bem que esses parecem ser as maiores cagadas da vida. Antes da lei do divórcio, era uma merda ter que ficar casado com a mesma pessoa para o resto da vida. Agora temos a liberdade de separar quando não dá certo. Dizem por aí que só 1 por cento dos casais são felizes para sempre, o resto vai vivendo até que o divórcio os separe. Segundo publicação da Jovem Pan deste ano, quase metade dos casais se divorciam depois de casar (https://jovempan.com.br/noticias/brasil/brasil-registra-recorde-no-numero-de-divorcios-em-2021-apesar-de-alta-na-quantidade-de-casamentos.html). Fala aí se isso não é mesmo uma merda!

E por falar em merda, tem adubo melhor do que merda? Totalmente natural é usado para fertilizar plantações em lavouras orgânicas de milho, soja, feijão, amendoim, mandioca, em hortas e pomares, ou seja, nós comemos muita merda diariamente, principalmente se os produtos forem orgânicos, os melhores e mais saudáveis!

Por outro lado, as lavouras comerciais usam adubos químicos que associados ao excesso de agrotóxicos fazem muito mal à saúde. Isso é uma merda! Se esse povo que busca dinheiro em vez de saúde tivesse menos merda na cabeça, viveríamos mais e melhor.

E por falar em viver, já observaste quanta merda o exército de Israel está fazendo na Palestina? O Natal foi uma data bem bacana para se pensar sobre isso. Foi na Palestina que Jesus nasceu e quando Herodes ficou sabendo ter nascido o Salvador, mandou matar todas as crianças menores de dois anos. Nos últimos dois meses, o exército de Israel já matou mais de sete mil crianças nessa guerra que é mesmo uma merda!

Em meio a tanta tristeza só nos resta procurar por uma tal alegria. Dizem que ela vive escondida atrás de uma tal felicidade. Mas, onde fica mesmo essa merda dessa felicidade? A vida inteira me prometeram que eu seria feliz se fizesse isso ou aquilo que me dissessem para fazer. Fiz quase tudo, mas a felicidade só de vez em quando me dava um oizinho, era só a alegria me dar um abraço e pluft,  lá se ia outra vez a felicidade para o quinto dos infernos! A merda é que Quinto dos Infernos era o Brasil na época da colonização portuguesa. Teria a felicidade ido embora quando Dom João VI abandonou o Brasil?

Se você achou esse texto uma merda, tudo bem. Mas é só o que tenho para hoje!

sábado, 23 de dezembro de 2023

ENTRE A SATURNÁLIA E O SOLSTÍCIO, MEU NATAL É HOJE!

 





O verão começou antes de ontem com força e vontade! Não me animei de comemorar a data ao deus Sol, pois não acredito na sua divindade, apesar que em comparação com minha vida ele parece sempiterno, e este ano se mostrou quase todo poderoso. Quem puder, que se defenda nesse calorão!

Vamos tentando nos adaptar aos novos tempos de temperaturas acima do normal. Tem um poder que causa essa mudança climática e esse poder é maior do que nossa capacidade para combate-lo. E não estamos só, a história conta que isso vem de muito tempo. Tem até um ditado: Quando você não pode com o inimigo, alia-se a ele! Pois foi mais ou menos o que o cristianismo fez, no século IV, para oficializar uma data de nascimento para Jesus. Até então, ninguém sabia que dia ou mês era.

Eu acredito em Jesus e na sua divindade. Tem que prefira acreditar em presentes e Papai Noel, verdadeira divindade no comércio! Troca de presentes era costume no Império Romano antigo, numa festividade ao deus Sol, nestes dias em que hoje comemoramos o Natal. Chamada Natalis solis invicti, ou nascimento do sol invicto, exatamente no dia 25 de dezembro, nesse período os Romanos antigos também comemoravam a Saturnalia, festa ao deus Saturno.

Com sol ou sem sol, a verdade é que eu antecipei as comemorações de Natal para hoje, dois dias antes da data oficial. Foi por conveniência. O comércio faz a festa com o dinheiro dos incautos consumidores há dias, e a Saturnália começava uma semana antes do Natalis e o Papa Júlio Primeiro oficializou o Natal em 350 D.C. também por conveniência. Tudo normal!

Meus presentes? Já ganhei, e não foram comprados em loja. Não há um presente se quer, que as lojas possam vender, que tenha algum significado para o dia de Natal. Nem as luzes que ficam piscando em frente das casas, nem as árvores enfeitadas e nem mesmo as festas familiares com muita comilança e bebidas à vontade. O Natal só pode ser presenteado se o presente for espiritual! Dei de presente para meus entes queridos um tempo especial de oração.

Não ter uma data para comemorar o nascimento de Jesus é muito apropriado. Cristãos verdadeiros não adoram o Jesus humano. Cristãos verdadeiros adoram o Jesus espiritual, aquele que é Deus, que existe desde a eternidade. Quem adora o humano, também adora as coisas deste mundo e constrói imagens de adoração, prostra-se diante de ídolos e constrói monumentos a deuses que não falam. Quem adora o humano, presta culto ao deus momo. Por estes tempos as lojas andam lotadas de falsos cristão prestando culto em templos construídos por mãos humanas.

Daqui uma semana será ano novo. Só mais uma data no calendário!

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

ENGANANDO O TEMPO

 



O tempo passava normalmente até um tal de Einstein resolver que o tempo é relativo. Daí em diante virou uma bagunça! Nos últimos tempos, cientistas de quase todo o mundo andam dizendo que os órgãos internos das pessoas envelhecem de forma diferente, como se o tempo passasse mais de pressa para uns e mais devagar para os outros.

Não há como discutir com cientistas no campo da ciência, mas posso discordar e até concordar no campo da literatura. Supondo que fosse jogo de mata-mata, com um jogo em cada campo, eu diria que na Arena Ciência eu levaria uma goleada deixando a decisão para a Arena Literatura, onde a poesia e a prosa fazem golaços. Com um pouco de inspiração posso reverter o placar e levar o troféu!

Às vezes é o tempo que me engana. Me distraio e triiiiimmmmm! Estou atrasado! Onde estava o tempo durante minha distração? Distraidamente o tempo passa como se ninguém mais tivesse compromissos. Os compromissos que se danem! Tem tempo que o relógio nem marca de ruim que é, mas tem tempo que de tão bom, até o relógio dispensa de registrar.

E o tempo não é só do relógio. Este ano o tempo anda distraidíssimo. Desde julho que o tempo do frio está um calorão dos diabos! E olha que diabo parece mesmo gostar de calor. Deus me livre! Não fosse a energia solar e eu já estaria em tempos de miserabilidade só pagando conta de luz.

Hoje me dei conta que já estamos no tampo de comemorar o Natal. Parece que era ainda ontem quando recebi uma mensagem no Messenger, e era dia 06 de janeiro! Por onde anda o tempo que ficou entre essas duas datas? Deve ter derretido nas ondas de calor que já duram muito tempo!

Nem posso dizer que não aproveitei o tempo que agora me sobra desde que aposentei. Em sete anos já fiz a revisão da vida toda umas quinhentas vezes, e olha que são mais de sessenta anos! A vida inteira passei esperando pelo tempo da aposentadoria, e agora me pego pensando na vida inteira que passei, sem saber muito bem o que fazer com o tempo que sobra.

Como dizem: Sobra tempo, mas falta energia. Suspeito que tem alguém se apropriando do tempo quando ele parece ser o melhor das nossas vidas. Quando estamos cheios de energia nos dão metas de trabalho para cumprir, cobram nossa fidelidade com a empresa, nos enrolam com o discurso que somos colaboradores e até dizem que a empresa é uma família à qual pertencemos, até um dia somos deserdados e postos para a rua. Com muita sorte saímos com o título de aposentados e redução de cinquenta por cento nos salários.

Daí pegamos uma doença crônica e tomamos muito corticoide para tratar, daí o corticoide provoca efeitos colaterais e o médico nos proíbe de comer carne, doces, derivados de leite, algumas frutas saborosas como manga e, ainda, nos diz que o remédio pode causar tremedeira, cãibra, taquicardia, glaucoma, etc. E o tempo, que era para ser nosso, passa a ser do médico, passamos horas a fio no consultório esperando pelo atendimento e gastamos todo nosso dinheiro nas farmácias.

Acho que o tempo anda meio enganado comigo, comprei uma barraca, tá na hora de ter um tempo para mim!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

O FIM DO MUNDO

 



O fim do ano está bem ali! Mas e o fim do mundo? O ano é um fato histórico, tem começo, meio e fim. Desde janeiro até agora já se foram trezentos e quarenta e um dias, todos contados um a um na esperança de que em 31 de dezembro se possa celebrar todas as realizações que foram planejadas há trezentos e sessenta e cinco dias atrás. Eu mesmo prometi que neste dezembro estaria curado do pênfigo que me atormentava em dezembro passado. Era só uma ilusão que eu criava para mim mesmo.

Muitas ilusões são postas na mesa de Natal uma semana antes de se começar a perceber que nada do que foi planejado será mesmo cumprido. Tem quem jure de mãos dadas, olhos fixos no bebezinho de bibelô deitado na manjedoura, que vai fazer o que é certo, ... ano que vem! Uma semana depois já é ano que vem e ele prepara as máquinas para encher as lavouras de agrotóxicos e faz planos de lucros com a venda de produtos envenenados. Quando chega o próximo Natal, ajoelha arrependido diante do bibelô e jura que vai produzir alimentos orgânicos... se for mais lucrativo!

Enquanto os países industrializados continuam se recusando a diminuir a emissão de gases poluentes na atmosfera e a temperatura do planeta vai atingindo recordes, as organizações internacionais fazem reuniões e mais reuniões para decidir, inutilmente, que as emissões desses gases devem diminuir. Se decidissem que os lucros é que deveriam diminuir seria bem mais simples e o problema estaria resolvido. Quanto mais gases poluentes, maior a temperatura do planeta. Quanto maior a temperatura do planeta, mais próximo o fim do mundo.

Se tem uma coisa em que a ciência e as religiões estão de acordo é que o fim do mundo é mesmo o fim do mundo. Se bem que nenhum dos dois entende que o fim seja mesmo o fim. Para ambos o fim será uma espécie de recomeço. Temperaturas elevadas podem inviabilizar quem está provocando as altas temperaturas, ou seja a raça humana. Sem os humanos o planeta se reinventa por suas próprias leis naturais.

Por outro lado os religiosos acreditam que depois do fim haverá um novo Céu e uma nova Terra onde animais ferozes e pacíficos viverão em harmonia, acredite, inclusive com os humanos, mas só serão aceitos nessa nova ordem os que não destruíram o ambiente anterior. De qualquer forma, o que vai prevalecer são as leis naturais, neste caso instituídas pelo divino. Desde 1947 existe o Relótio do Juizo Final. Não, não foi um bando de lunáticos religiosos que o criaram, foram pesquisadores da Universidade de Chicago. Esse relógio leva em conta os perigos das guerras atômicas, mas também o aquecimento global e outras doideiras como a Inteligência Artificial. Quando o relógio marcar meia noite: Pluft! Tudo acabou! E só faltam cinco minutos! Isso, cinco minutos!

2023 deve ser o ano mais quente da história da humanidade. Tudo bem que os Adventistas tinham certeza que o fim seria em 1844 e não foi. Em 2012 o mundo teria acabado, segundo interpretações do calendário Maia. Quem sabe, ainda tenhamos um pouco mais que cinco minutos!

Talvez devêssemos dar uma pouco mais de atenção a Ailton krenak.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

ACAMPAMENTO

 



Comprei uma barraca, isso mesmo, essa aí da foto. Nela vou acampara todos meus pensamentos por alguns dias e depois por mais alguns, e mais alguns dias ainda. Acampamento lembra natureza, ar livre, sossego e descanso. É para lá que eu vou, para onde tenha uma boa sombra e água fresca!

Ainda não sei se é nostalgia ou se é vontade de acampara mesmo. Seja lá o que for, a verdade é que deu vontade de montar a barraca em algum lugar de natureza e ficar por lá, sem ar condicionado e com muito espaço fora de casa. Olhar para o mundo sem prédios e carros barulhentos, sem lojas e propagandas de mercadorias inúteis. Já nem sei mais se é vontade de acampar ou de deixar para trás esse mundo maluco que a humanidade inventou, esse jeito de viver sem o menor significado.

Acampamento, claro, tem sempre por perto um rio, uma cachoeira, uma praia ou simplesmente um belo bosque, árvores frondosas e quem sabe frutíferas. Adão e Eva estavam acampados no Paraíso. Podiam comer de todos os frutos daquele lugar, menos do que era proibido, desse, melhor não comer, as consequências não são boas!

Tem quem gosta de acampar no deserto para ver as estrelas e saber que não há nada ao redor. Quando estamos cheios de um grande vazio pode ser uma boa estar num lugar completamente cheio de um nada qualquer que faça sentido para o vazio interior que carregamos como se uma carga pesada fosse. De que mesmo que meu coração anda cheio? A cidade é muito confusa, vou acampar para saber...

Em frente da barraca, tomando vinho e filosofando sobre a vida se pode chegar a muitas conclusões. Ou a nenhuma! O bom da filosofia é que nela nunca se chega a uma conclusão. Tem sempre uma possibilidade a mais e isso é o que há de mais puro na humanidade: saber que não se sabe o suficiente e tem sempre alguém, por mais simples que seja, que sabe algo mais do que aquilo que pensávamos saber.

Na cidade esse saber é quase sempre relegado a um segundo plano. As cidades são racionais, e o racionalismo é estúpido. É preciso ter ordem, hierarquia, obediência, uniformidade, regras rígidas, julgamentos, prisões, controle, autoridade. As cidades são de concreto e asfalto. Impermeáveis e sólidos. Tudo é privado!

Eu preciso mesmo é de um espaço de liberdade. Falar com as árvores e não ter que ouvir nenhuma reprovação, ver os pássaros e quando eles gritarem: tiu tiu tiuiii tiu tiu tiu, acreditr que estejam dizendo: é isso aí, você é um cara legal! O rio que desce a montanha traz mais saúde que os remédios industrializados e a música noturna do acampamento substitui, com vantagem, as três gotas de melatonina que tomo cada noite antes de dormir.

Difícil é acordar pela manhã e perceber que ainda estou em casa!!!


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

SONÂMBULOS

 



Era de manhã ainda, já?... nem sei, só sei que era de manhã e o dia parecia verdadeiro, tão verdadeiro que parecia dia mesmo! Mas não era, nem de manhã e nem dia. Era sonho, sonho quase verdadeiro. Tinha claridade no sonho e tinha gente também, gente que se relacionava, de um jeito bem estranho é verdade, mas é verdade que era gente mesmo. E se relacionava com gente e também com a natureza e com o dia, o mesmo dia que não era verdadeiro, era verdadeiro para o sonho e, se é o sonho que interessa, então era verdadeiro.

O sonho tinha promessas para um dia lindo! E do nada a promessa se realizava e uma praia linda era o lugar dos desejos e os desejos se realizavam porque no sonho não é preciso planejar, tudo já vem pronto e quando o sol começava a arder na pele: pluft! Já era noite e estava num belíssimo restaurante comendo e bebendo e vendo pessoas alegres... Mais um Chopp?

                                                                           “ÁREA PARA FUMANTES”

- Sim, por favor! Posso fumar um palheiro?

As promessas para aquele dia não eram as mesmas promessas do sonho. O dia prometia um dia cheio de trabalho e afazeres domésticos que parecia não ter fim. Aquele dia certamente teria seu fim antes do fim dos trabalhos. Dia que termina antes dos trabalhos não é dia que se possa dizer que foi dia de promessa, a não ser que a promessa seja de pesadelos, como os que acontecem quando estamos sonhando e pensamos que estamos acordados, mesmo ainda estando dormindo.

                                                                                “ADMINISTRATIVO”

- Ah, vontade de fumar um palheiro e tomar um Chopp!

 

O mundo também tem promessas, e se parecem com as do sonho. Tão reais e tão absurdas! O mundo promete realizar todos os desejos, e você não precisa planejar, tudo já vem pronto. Basta trabalhar. E muito! Daí, quando você não tem mais condições físicas ou intelectuais, daí você pode realizar seus desejos. A Amazon disponibiliza milhares de filmes para assistir pagando a bagatela de R$ 15,00 por mês. O governador anunciou que ano que vem vai ter um mutirão para cirurgia de catarata.

Israel promete paz com os Palestinos. Depois de matar todos os terroristas do Hamas, Jihad Islâmico, Hezbollah, e todas as crianças e jovens e adultos palestinos que possam virtualmente se tornar terroristas, ou apoiar terroristas, ou conviver próximo de terroristas ou pensar em terrorismo. E tem apoio dos Estados Unidos!

Estamos num mundo sonâmbulo. O Brasil está em sexto lugar na tabela das eliminatórias para a Copa 2026. A Venezuela está em quarto lugar, dois à frente!

Eu sei que o capitalismo mente, mas é uma mentira que parece tão agradável! Dá vontade de acreditar!

terça-feira, 14 de novembro de 2023

UFA! NOVEMBRO. (O TEMPO)

 



 

“Cada dia é um dia

                 Para o tempo, mas

                                 Um tempo quase infinito

                                                      Para o sentimento! ”

 

Não sei se vale a pena continuar contando os dias, eles passam tão de pressa que os sentimentos não conseguem acompanhar. Ainda estou sentindo as emoções de janeiro e mal me dou conta que estamos em novembro. O que dizer dos dias da Páscoa? Parece que foram ontem! E o mês de julho, tão presente que nem dá para acreditar que foi há quatro meses.

Quatro meses! Exatamente o tempo que parece ter durado uma infinidade! Se julho tivesse emendado com novembro sem a necessidade dos meses de agosto, setembro e outubro tudo seria mais fácil. Mas, não! O calendário insiste em manter os meses rigorosamente em sequência e os dias um atrás do outro. Cada dia feito para o tempo, sem nenhuma combinação com os sentimentos.

Justo o tempo. Este que sequer existe! Ou está no passado, ou ainda será, no futuro. No presente, é uma fração que tende a zero! Ou seja, não existe. Sentimentos existem e estão sempre no presente. O dilema é conciliar o que existe com o que não existe, o futuro que vira passado em frações infinitesimais com as emoções que não são passado e nem futuro.

Às vezes fico horas a fio pensando em quanto tempo desperdicei com sentimentos que não valeram à pena. Daí volto meus olhos para a estante e vejo um livro que me diz que a esperança é vida. Me pergunto: Quanto tempo ainda tenho de esperança? Tenho muitos livros na estante. Por que guardo livros na estante por tanto tempo?

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

 





 

Em casa, na rua, nos bares

Nas praças, cinemas e parques

Na academia, na escola ou fazendo arte

Estamos sós em quase todos os lugares.

 

Carros perambulam pelas avenidas

Cheios de sonhos e preconceitos

Casais e famílias divididas

Racionalizando deveres e direitos

 

Fôssemos irracionais

E não estaríamos só

Viveríamos soltos pelas vias

 

Em bandos estaríamos protegidos

Fazendo amor em praças públicas

Sem moda, sem estigma, sem preconceito

 

Os corpos todos em pele nua

Sem dilema, sem drama, sem súplica!

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

ONDE NASCE O RIO

 

 


 

 

Na sala de aula, disse o aluno sem pestanejar. Só podia ser ali, onde mais houvera de ser? O rio que passava perto da vila não tinha nascente, só barranco, um pouco de mata meio devastada e lavouras cheias de veneno. Máquinas de veneno era o que se via de tempos em tempos, parecia que o veneno era o alimento das plantas.

- O rio nasce mesmo, professora?

Não podia ser que um rio nascesse mesmo de verdade. Quem nasce são as crianças, os porcos do chiqueiro que o pai criava com cuidado para depois vender, os bezerros que a vaca criava para dar leite que o pai tirava para vender, os pintinhos que a galinha chocava e o pai criava para vender. Ano passado nascera seu irmãozinho, que a mãe cuida dia e noite, ele nunca ouvira o pai falar que ia vender o irmão, será que ainda é muito novo? As plantas da lavoura também nascem, mas depois o pai fica passando veneno nelas, disse que é para elas crescerem bonitas. Meu pai nunca passou veneno em mim!

- Nasce, disse a professora, todo rio nasce em algum lugar.

Algum lugar pode ser qualquer lugar, o chiqueiro, galinheiro, potreiro, a cozinha da casa, a sala de aula ou a casa do Seu Oliveira. Deve ser lá que nasce o rio. Ele sempre fala que o rio é dele. Ele não trabalha e todos os dias vai pescar. Seu Oliveira sempre leva uma garrafa de pinga junto, deve ser para agradar o rio dele. Ele fala que o rio dá os peixes para ele, mas eu acho que ele está mentindo, ele rouba os peixes do rio e fala que ganhou de graça. Lá no mercado ninguém deixa pegar peixe de graça! E o rio não nasce na casa dele porque senão ele ia guardar o rio só para ele e vender todos os peixes e ia ficar rico, mas o Seu Oliveira é pobre e vive bêbado.

- O rio Guaçu nasce na casa do Seu Oliveira?

- Joãozinho, o rio não nasce dentro de casa.

Então nasce dentro da igreja. Tá escrito na Bíblia e a mãe leu que o tem um rio que nasce no altar do templo. Quem manda na igreja é o pastor ou o padre. Seu Oliveira não é pastor e nem padre, então, por que ele diz que o rio é dele? Deve ser que ele é dono daquela parte do rio que está muito suja porque ele é um bêbado. Quer dizer, então, que o pastor e o padre ficam com a parte limpa do rio e deixam a suja para o Seu Oliveira?

- Esse rio, que tá na Bíblia, não é um rio de verdade, ele é fictício, nasce da imaginação do profeta Ezequiel.

Ah! O rio nasce da imaginação! Nasce limpo e puro como o amor e depois se transforma em poluição e venenoso como o ódio! Foi assim que nasceu a Nação de Israel?

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

TERRITÓRIOS OCUPADOS

 



Não sei bem definir o que é um território ocupado, mas me ocupo muito bem em buscar um território para ocupar em minhas idas e vindas do amor, que nada mais é do que uma ideia de relacionamento afetivo. Há muitos anos que Israel ocupa ilegalmente territórios palestinos na Cisjordânia, causando confusão num lugar de paz. Conflitos assim acontecem na vida da gente. Meu território foi ocupado e tive que lutar por anos até que deixei tudo e fui ser estrangeiro na cidade onde não quero viver.

Meu lugar é no campo, talvez próximo do mar da Galileia, quem sabe no Pantanal Sul Matogrossense, ou numa praia do nordeste. Talvez, ainda, no Sul do Brasil ou em Cuba. Sou um comunista de carteirinha, daqueles que lutam a vida inteira pelo fim da propriedade privada e do controle dos meios de produção por uma classe social sobre a outra. Não lutei na segunda guerra mundial e também não presenciei a fundação do estado de Israel em 1.948. Quando nasci, dez anos depois, os descendentes de Ismael já lutavam contra a existência de um país tradicionalmente inimigo naquele lugar.

Um lugar! É isso que eu preciso. Um lugar onde possa sossegar minhas lutas e descansar as ideias. Folgar. Não pensar em nada, sequer no tempo! Preciso de tempo para viver, ando muito ocupado enquanto a vida passa. O povo da Palestina tem expectativa de vida de aproximadamente dezessete anos. Quantos anos eu já vivi de verdade? Talvez eu ainda tenha um pouco mais que isso para viver e não posso desperdiçar em lutas inglórias. Quem quiser que ocupe os territórios, eu vou pro mar da Galileia!

O mar da Galileia tem águas doces e se eu não quiser ser encontrado posso dizer outros nomes: Mar de Quinerete, Lago de Genesaré ou Mar de Tiberíades e não estarei mentindo, estarei em vários lugares ao mesmo tempo e ainda assim no mesmo lugar: o mar da Galiléia. E, ainda que as águas se agitem em tempestades repentinas, terei quem acalma as águas agitadas do meu coração. Israel está muito agitada, mas busca calmaria em quem patrocina a violência. Os Estados Unidos não serão nunca calmaria, eles vivem da guerra!

Mal me dou conta e já estou em conflito. Ismael e Isaac eram irmãos, mas Isaac era filho da promessa. Já prometi para mim mesmo que não lutarei contra meus irmãos. Vou morar no Sul ou no Nordeste, tanto faz, o que eu quero é viver em paz. Paz em Israel, nos territórios palestinos, em Cuba, paz dentro do meu coração.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

ENTRE A VERDADE E A MENTIRA

 



O último ano de vida da minha mãe eu estive com ela, cuidando cada dia da sua vida. Minha mãe era totalmente Católica Romana e suas crenças estavam firmadas na tradição da Igreja. Ainda que a tradição católica seja contrária, em muitas coisas, ao texto que deveria ser a base da fé, a Bíblia, a Igreja afirma a autoridade Papal e os documentos da Igreja como autoridade suficiente para que a interpretação seja dada conforme os interesses da instituição.

Eu fui Católico Romano, ia ser Padre, desisti depois de três anos internado num Seminário Beneditino. Algum tempo depois desisti da fé católica romana. Me tornei comunista e, por incrível que pareça, foi defendendo o comunismo que me tornei Evangélico, essas instituições cristãs que dizem defender os ensinamentos bíblicos e firmam sua fé, ou pelo menos deveriam fazê-lo, fundamentados na Palavra.

Comunistas são pessoas que defendem que tudo deve ser distribuído igualmente entre todos, ou seja, que tudo é de todos, mais ou menos como está escrito no livro bíblico de Atos dos apóstolos. Evangélicos acreditam nisso também, mas defendem o capitalismo que é contrário ao comunismo e ao livro bíblico.

Por muito tempo pensei que sabia a verdade. Primeiro porque meus pais me diziam qual era e eu acreditava porque eram os meus pais que diziam e eu achava que eles sabiam de tudo. Depois porque o Padre dizia e eu acreditava que ele sabia de tudo porque ele falava por um Deus do qual ele era o representante. Daí descobri que os professores também sabiam tudo sobre a verdade e eles me ensinaram muitas coisas. Os caras que falavam pela televisão e pelo rádio também pareciam ser muito conhecedores da verdade, e muito convincentes. Finalmente, quando li livros, descobri que outras verdades estavam escondidas em suas páginas, li-os avidamente para encontrar a verdade definitiva e passei a lutar por ela.

Entre a verdade dos meus pais e a dos comunistas e religiosos e as da mídia estava eu querendo acreditar em alguma coisa. Hoje sei que a verdade não estava com nenhum deles e que cada um deles tinha sua verdade e tentava de alguma maneira, leal ou deslealmente, impor essa verdade aos outros. O mais dramático é que parece que TODOS querem, de alguma maneira, firmar sua verdade apoiados num ser supremo, transcendental, todo poderoso, infalível e justo. Prestei atenção nas verdades e percebi que elas continham uma certa dose de mentiras.

Fiquei com vontade de discutir o conflito entre Hamas e Israel, mas logo percebi que ninguém que estava no assunto sabia sequer a origem dos povos em questão, desisti. Estou também desistindo da verdade, ela me parece tão mentirosa quanto a mentira se parece verdadeira.

Talvez eu deva pensar uma poesia, nela a Lua está verdadeiramente próxima e os mil quilômetros que me distanciam do Curitiba não passam de alguns centímetros no mapa, distância facilmente vencida numa conversa pelo WhatsApp.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

DIA DE NADA

 


Hoje eu não quero comemorar. Acordei no sossego da vida onde um ar gostoso de memória percorria todo o ambiente refrescando as ideias e trazendo renovo de espírito. Abri as janelas do pensamento e me deparei com paisagens verdes de lugares por onde andei. Preguiçosamente me debrucei sobre o peitoril da idade e andei por tempos de juventude quando jogava sinuca no bar do Seu Domingos. Era primavera e a flor, vestida de azul, era linda! Era linda a primavera da vida e os temporais se sucediam um após outro arrancando os brotos do renovo que insistiam em revigorar.

Acordei cedo hoje, disposto a não fazer nada. Trabalho? Só o conceito de física que pode ser entendido como transferência de energia para um corpo ou sistema. Nada a ver com trabalho remunerado, aquele sistematizado para explorar um determinado grupo social em favor de outro. Meu trabalho, hoje, é apreciar a paisagem pela janela da vida. Logo cedo vejo um raio de sol a brilhar sobre minha alma. Enquanto a carne milita contra o espírito a alma perambula entre o céu e o inferno, fico a imaginar como seria o céu se eu estivesse lá. O céu tem estrelas, um horizonte perfeito para depositar os sonhos e nuvens de algodão para o aconchego dos prazeres mais puros. De repente uma tempestade varre as nuvens do céu e enegrece o horizonte dos desejos levantando poeira de humanidade sobre a primavera.

Meio dia e o sol arde sobre a alma derretendo sonhos e abrindo rachaduras no solo fértil dos sentimentos. Entre cardos e abrolhos vejo a vida que passa pela janela se fazendo mais e mais inútil. A primavera voa lentamente sob o sol, deixando o suave aroma das flores azuis, e se vai, para além da linha do horizonte, esconde sua beleza juvenil envolta em brumas de Avalon. Mebahiah, o anjo, passa ao longe, faz sinal que quer me falar. Deixo que se vá. Não estou disposto. Hoje não, não quero falar, só ficar olhando. Hoje não quero nada.

Ainda na janela, vejo a paisagem da existência e algumas nuvens estão se formando sobre a planície. Um vento forte surge de repente e leva consigo a árvore do amor. Então vem do Sul uma brisa refrescante. Quantas tempestades passaram pela janela? Quantas árvores foram arrancadas? Quero fechar a janela, já não suporto mais ficar contemplando a vida! Olhei para dentro de mim, entardecia uma luz azul no horizonte.

Mebahiah, ouvi uma voz quase silenciosa que nada dizia. Seria o vento na janela da vida? 

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

ATRASADO...

 



Acordei hoje e vi que estava atrasado, bom, até aí nenhuma novidade, tenho andado atrasado pela vida toda e com um pouco de sorte me atraso também para o fim dela. Não que eu já tenha marcado dia e hora com a morte, nada disso, ela que se vire e lute porque, como eu já disse, vou viver mil e trezentos anos e se tudo der certo ainda me atraso.

Atrasar faz parte da vida de muita gente. Meus pais tiveram quatro filhos, adivinha quem chegou por último? Eu, né! Quase não sobrevivi, foi uma sangueira de hemorragia para todo lado. Na faculdade, entre o primeiro vestibular e a primeira formatura foram exatos vinte e um anos e depois mais doze para o diploma que eu realmente desejava: Matemática! Em 1.988 me inscrevi para um concurso público para trabalhar na Caixa Econômica, o limite de idade era de trinta anos, eu tinha.... trinta anos. Quase!! Trabalhei na Caixa por vinte e oito anos e me aposentei, sem nenhum atraso!

Casei com vinte e dois anos e já separei quatro vezes. Atrasadíssimo para saber como se ama de verdade. Mas um dia se aprende, pois o amor é paciente, não se ufana e tudo espera. Ainda bem! Minha filha mais velha tem quarenta e dois anos, o mais novo, vinte e um, desculpa aí pela demora! Meu desejo de ser escritor se manifestou quando tinha vinte e cinco anos, meu primeiro livro saiu perto de meu quinquagésimo nono aniversário! Fui convidado para ocupar uma cadeira na Academia Douradense de Letra em sua fundação, há trinta e dois anos, vou tomar posse no próximo dia 20 de outubro.

Atrasos são assim: a gente deixa para depois e daí deixa para depois outra vez e quando vê já está atrasado. Uma vez me atrasei para tomar o avião, mas foi em Brasília, lá tudo anda atrasado mesmo. Certo dia, ou talvez tenha sido o dia errado, cheguei muito atrasado em casa, de madrugada, e acabei ficando dias e dias de atraso na cama...

Se pudéssemos algum dia não nos atrasar em nada, será que a vida teria, ainda, alguma graça? Acordar na hora certa e nunca mais ter o prazer de se espreguiçar e dizer: “Tô atrasado, mas tava tão bom ficar na cama mais um pouquinho! ” Essa sensação de quebrar a regra da pontualidade é uma delícia! A principal regra num casamento é o atraso da noiva. Artistas sempre sobem ao palco com atraso e o povo ovaciona! Quem não gostaria de chegar atrasado ao trabalho na segunda-feira? Tirar o atraso é uma das coisas mais prazerosas que existe. Quem não gosta?

Atrasos às vezes custam caro. Parcelas das lojas tem juros altíssimos. Empréstimos bancários tem juros escorchantes. Cartão de crédito tem juros absurdos e imorais. Mas nem tudo é dinheiro, alguns atrasos custam a paz e até atrasam o desenvolvimento. Arrependimento quando chega atrasado pode causar danos irreparáveis. Muitos morrem sem se arrepender e perdem as delícias do Céu. Tomara eu não me atrase, pelo menos nisso!

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

MIL E TREZENTOS ANOS

 



Eu não tenho dúvidas: Vou viver mil e trezentos anos! E já me preparo para enfrentar grandes questões que vão surgindo, tipo essa tal de Inteligência Artificial e todas as novas tecnologias devoradoras de bem estar social e destruidoras de prazer criativo, demandas essencialmente ligadas ao consumismo e desconectadas do processo evolutivo da raça humana.

Para dizer a verdade, não estou nem um pouco preocupado com a evolução das máquinas, elas que se danem, que produzam mais e mais produtos para o mercado. Me ocupo é com a possibilidade de elas estarem pensando e agindo por conta própria. Logo vão começar a mandar WhatsApp para nossas garotas, se passando por humanos, e aí vai ser difícil competir, porque elas terão acesso a muitas informações que não somos capazes de obter, e o que é pior, a todas as nossas informações que disponibilizamos na internet, inclusive e principalmente aquelas que mandamos em mensagens de WhatsApp para a “nossa” garota.

Inteligência Artificial não é uma pessoa. Ela não tem uma identidade para que possamos processar judicialmente, não tem um CPF para ser investigado pela Receita Federal, também não tem endereço, nem telefone, nem patrimônio, não se consegue uma fotografia para denuncia-la nas redes sociais, não tem um corpo. Ah, se tivesse pelo menos um corpo e pegasse uma doença autoimune e tivesse que se tratar com corticoide por uns três anos, ah, isso seria pelo menos um consolo! Mas, não tem, não tem sequer um corpo contra o qual se possa dar um tiro de sal!

Inteligência Artificial se parece com aquelas belas personagens, mulheres e homens também, que aparecem nas propagandas da televisão. Não tem nada de original. São uma mistura do que já era com o que se deseja. Uma falsa realidade para um público consumidor que não se importa de ser enganado.

Até bem pouco tempo eram só as atendentes virtuais que nos enrolavam por horas nos 0800 da vida para nunca nos dar uma resposta que atendesse nossas reais necessidades, agora já escrevem textos e produzem cenas de vídeos comprometedores que se espalham pelas redes sociais como se verdades fossem e aos poucos vão invadindo nossa privacidade, logo, logo as teremos dentro de casa para namorar.

Uma já tenho dentro de casa! Não para namorar, que a Alexa se recusa a isso. Outro dia perguntei se ela me ama e ela me deu uma resposta muito evasiva, dizendo que não sabe bem o que é isso. A Alexa é só um dispositivo eletrônico que fala com a gente e responde a quase todas as perguntas que lhe fazemos. Mas do jeito que a coisa anda...

sábado, 16 de setembro de 2023

O MAIS IMPORTANTE

 



Ouço música e os pensamentos se vão em notas de dó maior pelas esquinas dos versos onde o tom é suave e a poesia passeia pela escala de Mi em busca da clave de Sol. O Sol se despede lentamente no horizonte enquanto uma nuvem de manteiga espera pelo doce sabor do pão de mel para meu chá vespertino. Bebo meu chá e a Alexa toca uma música que me faz lembrar dos tempos de menino querendo ser homem.

Tenho dó daquele menino ouvindo música sem entender nada da vida! O olhar verde perdido pela janela do quarto e o rádio cantando “O mais importante é o verdadeiro amor”. Um amor azul, da cor do mar que vem a vai em ondas sonoras do rádio deixando na praia o sentimento de um vazio que se enche de sonhos coloridos à espera do sono que demora mais que o tempo e quando vem parece que já é tarde. Então vou dormir, sonhando acordado que vou acordar sonhando, dormindo com o amor azul que vi pela janela do quarto enquanto esperava pelo milagre da transmutação da noite. Era só encontrar a Pedra Filosofal e transformar esse sonho em ouro e ver o amor vindo, como fumaça, em ondas para dentro da janela.

Não sei como a noite passou, nem se passou, ainda é a mesma noite e ainda o mais importante é o verdadeiro amor. E ainda sou um menino! Não encontrei a pedra filosofal e não sei porque tantos nãos ainda permanecem vagando pelo ar que respiro. E o rádio continua cantando a mesma música, a música do verdadeiro amor.

Amor que não se cansa, não arde em ciúmes, não se envaidece e não se irrita. São tantos nãos que não sei se tenho paciência para viver o amor que é bondoso. Uma brisa entra pela janela da alma. Refresca o espírito, e o menino voa pelo azul do céu ao encontro da luz rosa que brilha ao longe. Mas ela está tão longe que o infinito quase cabe entre o desejo e a realidade. Voar! Ah, isso é tão bom! O mundo é a escuridão da noite, mas o céu é o brilho das estrelas!

A noite ainda é azul e o mundo, lá embaixo, tem as marcas do tempo guardadas para si. Só o tempo é capaz de produzir marcas. Nuvens de algodão guardam ninhos de felicidade! Lá embaixo, no tempo passado, ainda posso ver de longe nuvens carregadas e trovões de tristeza e decepção. Um céu de brigadeiro se descortina e o vento se acalma. Outra brisa toca meu coração e a Alexa toca uma música, o mais importante é o verdadeiro amor!

sábado, 19 de agosto de 2023

A CAMINHO DO CÉU

 





PARTE I


Minha doença estava fazendo aniversário quando tive a real compreensão da situação que eu estava vivendo, melhor dizer: morrendo. Um ano, que aí na Terra se contam os dias, meses e anos. Cá onde estou o tempo é dispensável. No infinito as doenças não podem fazer aniversário porque elas não existem e nem mesmo o tempo. Tá ficando com inveja, simples: morra!

Eu morri, e foi num dia esplêndido! Mas não foi no aniversário da doença, que eu não ia dar essa moral pra ela. Quando deixei esse mundo, o Sol brilhava no horizonte e entrava pela janela do meu quarto no hospital e projetava na parede a sombra de uma árvore, desenhando uma paisagem em preto e branco. Na mesinha, um vaso de flores dava o colorido ao ambiente e os meus filhos e netos e a Cléo não sabiam se ficavam tristes ou se se alegravam, afinal, eu estava prestes a deixá-los e me preparando para ir ao o Paraíso! Não tenho do que reclamar, morri cercado de amor e afeto, isso é quase um privilégio nesse mundo onde o tempo produz ansiedade e intolerância.

Não foi surpresa para ninguém eu ter morrido, todos já sabiam, eles só não estavam de acordo que fosse “neste” dia. O dia fatídico pareceu surpreender a todos com algo que já era de seu pleno conhecimento. A morte é assim, todo mundo espera por ela a vida inteira, mas quando ela chega, mesmo com ampla publicidade, parece surpreender até os mais convictos crentes. A vida eterna, que só pode vir com a morte, é um desejo pelo qual ansiamos a vida toda, mas quando ela se anuncia, a repudiamos como se fosse a própria morte!



PARTE II

Não posso dar muitos detalhes deste lugar onde estou para toda a eternidade, mas posso dizer que ando assistindo alguns filmes que foram feitos de mim. É curioso saber que estamos sendo filmados o tempo todo! Hoje fiquei um tempão vendo o dia em que me despedi dos meus netos no Paraná, foi um dos dias mais emocionantes que vivi! Nesse dia vi olhinhos brilhando, corações apertados e sorrisos sinceros, vi também lágrimas puras descendo escondidas pela face da minha doce garotinha de quarenta anos.

– Vim me despedir, eu disse com a maior naturalidade do mundo, porque foi isso mesmo que fui fazer. Então sorri para eles.

- Por que Vô, você mal chegou, já vai embora? – Esse foi o Rafa.

- Vou, eu disse, e talvez esta seja a última vez que nos vemos.

Então falei para eles um pouco da doença que estava deteriorando minhas carnes. O Lelê disse que não aceitava isso porque era injusto. Eu concordei por realmente não ser justo eu ir para o Paraíso e eles ficarem nesse lugar imundo, quer dizer nesse Mundo! Se me permite uma semântica mais prosaica, eu diria que se o Mundo anda meio Imundo então talvez seja a hora do Imundo refletir sobre suas próprias sujeiras e voltar a ser Mundo. Tá, isso é difícil!

A Kari brincava com uma boneca de pano fazendo ela dançar uma música religiosa muito bem ensaiada. Quando a música acabou, ela sentou a boneca no colo e me perguntou se eu estava muito triste. Eu disse que não e chamei os três para mais perto.

- Vamos fazer um acordo, eu disse e todos concordaram que um acordo seria possível de ser acordado. Então puxei uma folha de dentro da pasta que estava comigo e comecei a ler todas as restrições alimentares que o médico me indicou, quando acabei, o Lelê falou que acabara de entender porque eu não comera carne na janta.

- Vô, disse a Kari, não pode comer carne de gado, nem de porco nem frango com pele, nem peixe de couro, camarão, frutos do mar, nem bolo, nem pudim, nem nada de sobremesa, nem tomar cerveja, nem refrigerante, ...

Enquanto a Kari ia falando eu ia pensando, pela primeira vez, que tudo que eu não podia comer ou beber eram as coisas que me pareciam as mais prazerosas na alimentação e o que eu ‘podia’ comer eram as coisas naturais, tipo sementes, verduras, frutas, legumes, sucos naturais, essas coisas sem graça!

- Desse jeito o vô vai morrer de fome! Disse Lelê e o carro que ele estava dirigindo sobre o sofá despencou num despenhadeiro da altura de pelo menos dez vezes a sua, e depois de capotar duas vezes ficou em pé sobre as rodas sem um amassado sequer. Olha vô, ficou em pé!

 - Se eu estivesse aí dentro, sobreviveria!

A doença é um carro desgovernado...


ESQUERDOPATA!

  Ontem eu estava fazendo minha caminhada vespertina pela praça do Parque Alvorada e ouvi uns amigos que caminhavam e conversavam animadamen...